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A sustentabilidade na mobilidade urbana

SUSTENTÁVEL 31 2.1 Mobilidade urbana sustentável

2 A BICICLETA COMO ALTERNATIVA PARA A MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL

2.1 Mobilidade urbana sustentável

2.1.3 A sustentabilidade na mobilidade urbana

Apesar de não ser tratado diretamente nos principais relatórios sobre o meio ambiente – Relatório Brundtland e Agenda 21, o tema “transportes” está relacionado a alguns dos problemas nele levantados. Hoyer (1999, p. 43) mostra que os transportes estão relacionados a três dos quatro problemas de meio ambiente elencados no Relatório Brundtland: (1) risco da mudança climática pelo aumento da

3 El acceso es la meta final de la transportación (INSTITUTO DE POLÍTICAS PARA EL TRANSPORTE Y DESARROLLO; INTERFACE FOR CYCLING EXPERTISE, 2011a, p. 26).

emissão de CO2; (2) poluição do ar nas cidades e em áreas industriais e

(3) acidificação do meio ambiente. Na Agenda 21 avança no tema, mas apresenta as consequências de longo prazo do desenvolvimento do transporte em um contexto mais amplo dentro do capítulo 10, dedicado à questão do planejamento, da agricultura e o uso da terra.

Godim (2006, p. 21) mostra que:

A Agenda 21 alerta para os problemas decorrentes do aumento da taxa de motorização, principalmente nos países em desenvolvimento e a necessidade de otimizar os escassos recursos utilizados em infra- estrutura viária para benefício equânime de toda a população, evitando privilegiar apenas classes mais favorecidas que fazem uso do automóvel (GODIM, 2006, p. 21).

Ela ainda destaca que a Agenda 21 propõe medidas para a promoção do planejamento sustentável dos transportes: (1) prioridade para o transporte ativo (pedestres e ciclistas); (2) promoção do transporte coletivo; (3) desestímulo ao uso do automóvel e (4) redução do consumo de energia. O modelo de deslocamento nas cidades apresentado pela Agenda 21 contribui com a redução do tráfego de veículos melhorando as condições do meio ambiente.

O Ministério das Cidades apresenta a seguinte definição de mobilidade urbana sustentável:

A mobilidade urbana para a construção de cidades sustentáveis será então o produto de políticas que proporcionem o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizem os modos coletivos e não motorizados de transporte, eliminem ou reduzam a segregação espacial. Contribuam para a inclusão social e favoreçam a sustentabilidade ambiental (BRASIL, 2007a, p. 42).

Analisando a atual situação das cidades brasileiras, Silva (2013, p. 378) fala sobre a necessidade de uma “mudança radical” no planejamento da mobilidade para evitar um “desastre tanto urbanístico como social”. Para ele, o desenvolvimento do modo de deslocamento na cidade deve chegar uma mobilidade mais sustentável, mais equitativa do ponto de vista social e economicamente mais eficiente. Assim, Silva (2013, p. 384) elenca quatro estratégias que precisam se concretizar: (1) promover a intermodalidade na sociedade; (2) favorecer uma repartição mais amiga do ambiente; (3) melhorar as condições de segurança e fluidez do tráfego e (4) articular transportes e uso do solo.

Carvalho (2016, p. 17) resume como devem ser pensadas propostas de planejamento da mobilidade dentro dos conceitos de sustentabilidade:

A satisfação das necessidades humanas implica que os bens e serviços têm de ter oferta disponível e compatível com as demandas da população, e essa oferta tem de apresentar estabilidade e regularidade ao longo do tempo. Tudo isso de forma que o impacto ambiental não comprometa a capacidade futura de satisfação das demandas das próximas gerações (CARVALHO, 2016, p. 17).

Os três aspectos – ambiental, econômico e social – inerentes ao conceito de sustentabilidade devem ser discutidos e considerados para se estabelecer as condicionantes de planejamento. A Figura 1 abaixo resume estas condicionantes. Figura 1 - Dimensões da Mobilidade Urbana Sustentável

Fonte: Carvalho (2016).

Carvalho (2016, p. 18) explica que a dimensão ambiental da mobilidade sustentável deve considerar que uma operação de transporte precisa equilibrar as questões técnicas – tecnologias menos poluentes, compatíveis com a demanda e ao menor custo possível– as questões ligadas à forma e desenvolvimento das cidades para alcançar um deslocamento eficiente e que respeite o meio ambiente. Neste caso, políticas públicas que têm como objetivo aumentar a sustentabilidade do sistema de mobilidade urbana devem adotar duas posturas: (1) aumentar a eficiência da rede e (2) aumentar a eficiência dos veículos automotores.

A relação entre o meio urbano e a mobilidade é demonstrada por Carvalho (2016, p. 18) através do exemplo das cidades espraiadas que, com grandes densidades e grandes vazios urbanos, produzem mais poluição atmosférica e sonora e consomem mais espaço e energia devido à alta dependência do automóvel individual.

A sustentabilidade econômica para Carvalho (2016, p. 20) é a busca do equilíbrio econômico-financeiro do sistema de mobilidade para que este não se degrade ao longo do tempo e do espaço. As políticas de financiamento e custeio dos serviços de transportes devem ser claras e ter como objetivo a equidade de contribuição das diversas classes.

Vasconcellos (2013, p. 132) observa que a adoção de um modelo de mobilidade que priorize o automóvel beneficia principalmente as classes mais altas – principais usuários deste modo de transporte – enquanto os custos sociais deste modelo são transferidos para o conjunto da sociedade. Ele explica que à medida que a renda familiar cresce, também cresce a mobilidade pessoal e, assim o consumo diário de espaço nas vias pelas pessoas de alta renda é muito maior do que aquele das pessoas de renda mais baixa.

Carvalho (2016, p. 23) ainda inclui o tema da justiça social no debate da mobilidade urbana sustentável ao relacionar este tema com os princípios de acessibilidade universal e equidade nas condições de deslocamento. O sistema de transporte de uma cidade tem que ser planejado de forma abrangente e inclusiva – os minoritários que apresentem dificuldades de locomoção e os que são privados da mobilidade em função da renda. Outro modo de abordar esta questão é a proposta de sustentabilidade social apresentada por Ghel (2010, p. 109) como um conceito considerado “amplo e desafiador” por conter uma dimensão democrática importante ao “dar aos vários grupos da sociedade oportunidades iguais de acesso ao espaço público e também de se movimentar pela cidade” (GHEL, 2010, p. 109).