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Conforme acima, o presente estudo de casos múltiplos analisa as medidas adotadas pela Petrobras e pela Eletrobras no sentido de remediar as deficiências nos controles internos e as respectivas alterações que as empresas realizaram em seus sistemas de governança, como resposta aos desvios de recursos evidenciados a partir da OLJ. Os dados do estudo são levantados a partir de três pesquisas, já detalhadas acima, os quais, serão analisados mediante a aplicação da técnica da triangulação, de forma a proporcionar maior coerência para os resultados alcançados.

Ao se referir sobre a técnica da triangulação, Silva (2006, p. 70) afirma que “Essa técnica tem como objetivo essencial a amplitude da descrição, explicação e compreensão de um foco de estudo”.

Para Yin (2015, p. 245) a triangulação é importante porque representa “a convergência de dados coletados de diferentes fontes para determinar a coerência de uma descoberta”. Dessa forma, o rigor das conclusões é reforçado com a técnica da triangulação.

Silva (2006, p. 70) afirma, ainda, que “Com a triangulação, pode-se dedicar ao problema em potencial da validade do constructo, uma vez que várias fontes de evidências fornecem essencialmente várias avaliações do mesmo fenômeno”.

Considerando o exposto acima, a técnica da triangulação é aplicada para a análise dos dados e apresentada no Capítulo 6. O referido capítulo é dividido em dois temas: Análise das Remediações na Gestão de Riscos e nos Controles Internos e Análise das Adequações nas Estruturas de Governança, sendo cada um subdividido por empresa, para maior clareza da situação de cada uma.

Na triangulação para das remediações da gestão de riscos e nos controles internos, parte-se, em geral, da análise sobre as remediações das deficiências e realiza a verificação de como os fatos ocorreram, de modo a buscar a correlação entre as duas bases de dados. Em seguida, é feito o confronto com o referencial teórico para comparar a remediação proposta para o problema ocorrido, com o que reza a teoria. Para as adequações nas estruturas de governança, é seguido o mesmo procedimento metodológico.

4 CONTEXTO ECONÔMICO E LEGAL E A OPERAÇÃO LAVA JATO

O programa de obras que orientou o crescimento brasileiro, a partir da segunda metade da década de 2000, contou com a determinação para a construção de todas as Plataformas de Petróleo da Petrobras, mediante a exigência da utilização de um “conteúdo nacional” mínimo, variando entre 40% a 60%, inicialmente. Tal exigência estava fundamentada na expectativa de desenvolver a indústria naval brasileira, mediante o crescimento dos estaleiros nacionais e a atração de investimentos de capital por parte de estaleiros estrangeiros, interessados na construção das referidas plataformas. Com base nesse contexto, as primeiras plataformas construídas foram P-51 e P-52.

Em 2007, houve o anúncio por parte da Petrobras da descoberta do Pré-sal, uma das maiores descobertas de reservas de petróleo das últimas décadas, no mundo inteiro. A partir dessa descoberta, a Petrobras formulou um agressivo plano de investimentos, visando não somente explorar o petróleo, mas refiná-lo sob a justificativa de agregar valor aos produtos a serem exportados, além de deixar de importar produtos com alto valor agregado, como o diesel e a gasolina.

Paralelamente às obras da Petrobras, o Governo Federal anunciou a criação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em 2007, através do qual teve início o planejamento e execução de grandes obras de cunho social, urbano, energético, logístico nos diversos estados brasileiros, fundamentado na necessidade de criação de emprego e a melhoria da renda dos brasileiros e na contribuição para a melhoria da infraestrutura necessária ao desenvolvimento do país. Além das obras do PAC, o Governo Brasileiro procurou trazer para o Brasil a realização de grandes eventos esportivos mundiais, como a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016. Para a realização dos referidos eventos esportivos, havia a necessidade de realização de importantes obras de construção de estádios, revitalizações de espaços urbanos, obras de mobilidade urbana, construção e ampliação de aeroportos, dentre outras obras, cujos idealizadores e defensores chamam de Legado das Copas e Legado das Olimpíadas, sob a justificativa de que as construções permanecerão beneficiando as comunidades locais.

Neste processo de realização de grandes obras, coube à Petrobras e à Eletrobras a realização das maiores obras, como a construção de plataformas de petróleo, exploração e

desenvolvimento de campos de petróleo, ampliação do parque de refino brasileiro, construção de centrais hidrelétricas, construção de usina nuclear, dentre outras. Assim, conforme o site16 oficial do PAC, a Petrobras e Eletrobras participam total ou parcialmente em 9 das 10 maiores obras do programa.

De acordo com os dados de suas Demonstrações Contábeis Consolidadas relativas ao exercício findo em 31/12/2015, divulgados em seus sites, a Petrobras17 e a Eletrobras18 tiveram Receitas Líquidas de R$ 321.638 milhões e R$ 32.589 milhões, respectivamente e, no mesmo período, o volume de investimentos realizados foi de R$ 73.315 milhões e R$ 10.400 milhões, respectivamente.

Dada a importância estratégica das referidas estatais para o Brasil e da participação dessas empresas no mercado de capitais do Brasil e do exterior, foi necessário que as mesmas possuíssem certificações nos mais rigorosos sistemas de GRC utilizados internacionalmente. Vale ressaltar que ambas as empresas possuem certificação SOX, sendo que a Petrobras19 obteve sua primeira certificação em 2006 e a Eletrobras20 em 2008.

Mesmo tendo certificação SOX, os sistemas de controles internos não foram suficientes para impedir que as empresas fossem vítimas do esquema de corrupção revelado pela OLJ. Assim, este capítulo apresenta uma análise das alterações nos referidos sistemas, de forma comparativa entre as duas empresas, buscando identificar as diferenças em cada empresa, de acordo com as reações apresentadas pelas mesmas.