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3. cAPÍTULO III: ARTICULAÇÃO DA PEDAGOGIA DA AUTONOMIA COM O

3.6. Técnicas de Psicodrama aplicadas no contexto alfabetizador

A proposta para os educandos de nossa pesquisa, primeiramente, foi utilizar alguns jogos psicodramáticos, em sessões com duração de aproximadamente 2 horas, duas

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vezes por semana, entrepostos por situações de diálogos e observações regulares do grupo em situações cotidianas do contexto alfabetizador. Esses jogos serviriam como introdutores/sensibilizadores dos temas/categorias abordados nos nossos encontros.

Num segundo momento, a proposta foi utilizar-se da técnica “Jornal Vivo” criada por Jacob L. Moreno que possibilita pela dramatização das leituras de jornais, a vivência de situações cotidianas noticiadas e o apontamento de possíveis soluções para os problemas de interesse social abordados.

Nesses encontros foram discutidas categorias emergidas através da aplicação dos jogos psicodramáticos, que serviam de palavras geradoras para a construção de novas palavras, pressupostos do método desenvolvido por Paulo Freire, com base na Educação Popular. Geralmente, tratavam de questões relativas às ideologias que geram a exclusão social e escolar, trazendo assim, para aquele contexto, as possibilidades de compreensão de suas condições, superação e emancipação movidas pela dialogicidade dos temas tratados. Como nos assegura Menegazzo (1994) “É o contexto dramático que ao oferecer as

possibilidades de confronto antagônico e coadjuvante, permite tornar atual na mente humana, aquilo que era desconhecido até o momento” (MENEGAZZO, 1994, p.62).

Tentaremos assim, nesse capítulo, expor os resultados da Pesquisa de forma que possamos evidenciar se o uso do método psicodramático – com os jogos psicodramáticos e a técnica do “Jornal Vivo”– pôde resgatar a espontaneidade desses sujeitos, rompendo com os padrões de comportamento estereotipados que levam à automatização dos educandos em seu processo de ensino e aprendizagem e se são capazes de elevar o nível da consciência crítica dessas pessoas à luz dos pressupostos filosóficos freireanos.

Iniciamos a trajetória empírica da Pesquisa no dia 03 de maio de 2012. Encontramos um grupo constituído de pessoas, cuja maioria, veio para São Paulo, (conforme demonstrado no quadro 3), há mais de 10 anos; com média de idade de 45 anos. Entendemos que esse grupo é representativo da maioria dos grupos de Educação de Jovens e Adultos que frequentam os outros contextos alfabetizadores oferecidos nas comunidades do bairro onde se realizou a pesquisa.

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Quadro 3

Sujeito Idade Sexo Nome (Iniciais) Origem (local de nascimento) Tempo de residência em São Paulo Cidade Estado

01 67 anos masculino F. A. dos S. Serra Talhada PE 51 anos 02 66 anos masculino J. F. Q. O. Canindé CE 19 anos 03 66 anos feminino S. V. da S. Mamanguape PB 25 anos 04 63 anos feminino M. da G. F. Linhares ES 11 anos 05 58 anos masculino C. da J. L. Dourados MT 04 anos 06 55 anos feminino H. R. dos S. Jacobina BA 16 anos 07 49 anos masculino M. J. V. dos S. São Paulo SP 08 44 anos feminino D. P. A. Águas Belas PE 08 anos 09 42 anos feminino B. D. S. da S. Boqueirão PB 22 anos 10 38 anos feminino F. da S. A. Jacobina BA 31 anos 11 36 anos masculino T. R. da S. C. Formoso BA 03 anos 12 35 anos feminino C. E. S. da J. Santa Quitéria CE 19 anos 13 34 anos feminino U. F. dos S. Picos BA 10 anos 14 30 anos feminino G. R. F. da S. Loanda PR 25 anos 15 30 anos masculino B. V. de S. Arcoverde PE 20 anos 16 29 anos feminino S. M. N. A. São Paulo SP 17 28 anos masculino K. V. S. S. São Paulo SP 18 25 anos masculino D. M. da S. Itabira MG 02 anos 19 23 anos masculino S. G. F. dos S. São Paulo SP

Grupo da Comunidade Sagrado Coração de Jesus no Jardim da Conquista

Nesse “movimento” de Educar encontramos professores que se tornaram inesquecíveis para seus educandos pelo comprometimento conferido no processo de desenvolvimento humano desses sujeitos e pela cumplicidade afetiva no decorrer do convívio. A educadora do Grupo de Alfabetização no qual concretizamos nossa pesquisa é uma dessas pessoas.

Os dados analisados foram coletados através de observações em participações de aulas, questionários abertos e pelas gravações dos Comentários (terceira etapa da ação psicodramática) gravados em áudio.

Esperamos que os resultados desta pesquisa evidenciem elementos importantes para que o educador de pessoas adultas possa refletir sobre sua formação e prática, a fim de buscar alternativas para a sua atuação, em sintonia com as mudanças provenientes das necessidades educacionais inclusivas e da integralidade humana. A riqueza das situações vividas é maior do que a nossa capacidade de reprodução, descrita e analisada, no presente

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relatório de pesquisa. Trata-se mesmo da natureza do trabalho investigativo, no qual a

ordem da realidade é bem maior do que a ordem da exposição e da relatoria do que se percebeu nessa realidade.

3.6.1. Técnica de “Jornal Vivo”

O jornal vivo utiliza-se de uma das técnicas de psicodrama que aborda a interioridade e a ação do indivíduo. No drama como expressão teatral, há uma referência à contingência da vida humana como alguma coisa que não é necessariamente definitiva ou imutável como no caso da tragédia. Portanto, o drama consiste em uma situação que se desestabilizou - "saiu dos eixos" - e que pode nos trazer dor e sofrimento, mas que conta

com a possibilidade de ser modificada ou transformada por nossa vontade.

No “Jornal Vivo” as dramatizações são compostas a partir de uma linguagem metafórica que utiliza códigos simbólicos para conferir significados subjetivos a fatos da realidade, aumentando a possibilidade de recriar e de dar outros encaminhamentos aos fatos e provocando novas leituras e compreensões.

O “jornal vivo” ou "jornal dramatizado" criado por Moreno tem como proposta fazer uma síntese entre o teatro e o jornal. Ele retira do jornal as manchetes e as notícias diárias e, a partir da sua leitura, obtém os estímulos necessários para realizar uma dramatização de forma improvisada e espontânea. Trata-se de uma rica forma de assumir para a exposição dos fatos e acontecimentos da vida das pessoas as mesmas legitimadas formas de socialização que se propõe para a sociedade.