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2.ª PARTE : ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO

2. Técnicas e instrumentos de recolha de dados

A escolha das técnicas e dos instrumentos a utilizar na investigação não é uma decisão autónoma e independente da questão formulada, isto é, da própria natureza da investigação. Cabe ao docente-investigador refletir sobre as diferentes opções para selecionar as técnicas e os intrumentos mais adequados à sua investigação.

De entre as ténicas e os intrumentos de recolha de dados existentes, importa aqui realçar os que foram utilizados na presente investigação: a observação participante, e para registar as observações realizadas as notas de campo, os diários e as fotografias; a análise documental e a análise de conteúdo e as entrevistas em profundidade.

2.1. Observação participante

O ato de observar é uma faculdade natural do ser humano; no entanto, esta não é uma tarefa fácil para o investigador. É, na verdade, algo que requer treino e disciplina, pois a própria observação é um problema inerente a qualquer investigação (Máximo- Esteves, 2008). Segundo Barañano (2004), observar consiste na “focalização atenta dos sentidos num objeto para dela adquirir um conhecimento claro e preciso [...], onde o facto é observado como ele é e não como o observador gostaria que ele fosse” (p. 23). Por esta razão, a observação exige um certo distanciamento do investigador perante aquilo que observa. Por outro lado, a observação participante implica proximidade e inserção no contexto da população estudada (Lapassade, 2001) sem que, no entanto, os outros participantes percebam que o investigador ocupa uma posição diferente (Freixo,

2009). Neste sentido, de forma sucinta, a observação participante ergue-se como uma técnica que permite recolher dados de forma sistemática, onde os observados e o próprio investigador atuam num mesmo contexto, embora desempenhem papéis diferentes (Bodgan & Taylor, 1996).

Enquanto investigadora, uma das técnicas e intrumentos privilegiados durante a prática pedagógica foi, de facto, a observação participante. Consciente de que um dos objetivos era fazer parte da vida do grupo e aproximar-me da “perspetiva dos participantes”, abstraí-me de ideias pré-formadas e procurei integrar-me no contexto para dele recolher os dados, com a maior precisão possível, consoante os fenómenos observados. Em termos concretos, durante a semana de auscultação procurei observar o grupo com o devido distanciamento para que fosse possível uma descrição comportamental detalhada e cuidada. No período seguinte, já no papel de educadora estagiária, acompanhei as crianças e participei na vida diária do grupo, sem esquecer, no entanto, que, para além de ser uma participante, era também a observadora. Desta forma, foi possível recolher dados sobre o grupo, sobre os seus interesses e necessidades e sobre as suas descobertas e aprendizagens sucessivas em torno do robô Roamer.

Para efetuar o registo dos dados da observação optei por utilizar os instrumentos utilizados pelos educadores/professores com mais frequência (Máximo-Esteves, 2008): as notas de campo e os diários.

As notas de campo foram registadas num bloco de notas durante as atividades para evitar perder qualquer facto observado. Ao longo da prática pedagógica, a informação recolhida foi realizada de forma cada vez mais seletiva para evitar saturação de dados irrelevantes, na tentativa de dar resposta à questão da investigação. Desta forma, durante as atividades, procurei anotar tudo o que fosse relevante para descrever densamente a realidade observada.

Da informação recolhida através das notas de campo, elaborei diários que, para além de descrever acontecimentos e incidentes, serviram para registar reações, sentimentos e emoções sentidas durante a prática pedagógica. Pelo seu caráter reflexivo, o diário é considerado uma mais-valia não só para a análise da ação como também para a análise do próprio pensamento do educador-professor-investigador sobre a sua prática pedagógica, aproximando-se da metodologia investigação-ação e, consequentemente, da melhoria das suas práticas pedagógicas (Máximo-Esteves, 2008; Serrazina & Oliveira, 2001; Zabalza, 1994).

Utilizei os diários para reproduzir a minha experiência, para registar as minhas observações, impressões diárias, e insights e para refletir sobre as reações, as necessidades e aprendizagens das crianças, procurando descrever, com a maior exatidão possível, as experiências pelas quais todos os participantes passaram (Máximo-Esteves, 2008). Neste sentido, os diários foram encarados como um instrumento facilitador do pensamento reflexivo - sobre o que foi realizado, o que foi visto, o que foi ouvido, enfim, o que foi vivenciado - e, portanto, foi encarado como algo muito além de uma simples coleção de memórias e artefactos.

Elaborados segundo uma metodologia crítico-reflexiva, os diários exigiram uma constante reconstrução da informação e permitiram ter uma visão consciente e pormenorizada do meu próprio desempenho.

As fotografias e os vídeos foram as outras duas formas utilizadas para registar os dados recolhidos das observações. Os registos fotográficos, considerados uma fonte rica de informação visual (Máximo-Esteves, 2008), serviram essencialmente para ilustrar as situações destacadas como exemplo das aprendizagens e dos acontecimentos selecionados. Quanto aos vídeos serviram para analisar e refletir detalhadamente sobre as interações das crianças em grupo, sobre o contacto criança-robô e sobre as discussões que surgiram durante as atividades. Durante a prática pedagógica, uma vez que optei por acompanhar as explorações dos diferentes grupos, as filmagens foram realizadas utilizando um telemóvel, minimizando o inconveniente por vezes causado por esta opção.

2.2. Análise documental e Análise de conteúdo

A análise documental é considerada uma técnica valiosa na medida em que possibilita completar as informações recolhidas através da utilização de outras técnicas ou descobrir novos dados importantes para a investigação. Optar por esta técnica “implica uma pesquisa e leitura de documentos escritos que se constituem como uma boa fonte de informação” (Coutinho, Sousa, Dias, Bessa, Ferreira & Vieira, 2009, p. 373).

Durante a prática pedagógica senti necessidade de recorrer à análise documental no sentido de fundamentar o meu trabalho e compreender determinadas situações. Procurei diversos documentos que satisfizessem as exigências causadas pelo próprio tema para que a investigação fosse teoricamente fundamentada. Para além de livros e de sítios online, consultei o Projeto Educativo de Escola (PEE), o Projeto Curricular de

Escola (PCE) e o Plano Anual de Atividades (PAA), para que pudesse compreender como está organizada e como funciona a instituição.

Infelizmente, não foi possível consultar o Projeto Curricular de Grupo (PCG), uma vez que, o documento não estava pronto, o que dificultou a recolha de informação sobre o contexto familiar das crianças, o seu desenvolvimento e ritmo de aprendizagem, as suas necessidades e interesses. Por esta razão, a observação participante e as entrevistas informais foram uma mais-valia para um conhecimento mais detalhado sobre o grupo e sobre cada criança em particular. A informação diariamente recolhida ajudou- me na promoção de estratégias que tinham em vista a minimização dos problemas identificados e a aprendizagem significativa por parte das crianças.

As OCEPE e as MA foram outros documentos consultados, uma vez que apresentam as diretrizes gerais para o planeamento-ação da prática pedagógica em contexto de jardim de infância.

Tal como refere Sousa (2005), é importante não confundir análise documental com análise de conteúdo. Segundo o autor supramencionado, a análise documental “trabalha com documentos, normalmente textos” (p. 262), e tem como objetivo condensar a informação, enquanto que a análise de conteúdo trabalha com mensagens (comunicações) e pretende “analisar o que [o documento] contém para lá do que se vê” (ibidem, p. 264), ou seja, pretende chegar a conclusões sobre a informação recolhida. Sendo assim, a análise de conteúdo está para além da análise documental, pois “estes conteúdos não são os textos ou discursos em si, são o que estes contêm de facto, o que existe na realidade dentro deles e não o que aparentam ser ou conter” (ibidem).

Procurei analisar e refletir sobre as informações presentes nos diferentes documentos e sobre os dados recolhidos nas entrevistas, tendo em vista a elaboração de inferências baseadas no real conteúdo que encaminhavam para o propósito da investigação.

2.3. Entrevistas em profundidade

A entrevista é um das estratégias privilegiadas nas investigações educacionais (Máximo-Esteves, 2008). Nas palavras de Fortin (2009), este “é um modo particular de comunicação verbal entre duas pessoas, um entrevistador que recolhe dados e um respondente que fornece a informação” (p. 375).

As entrevistas são perspetivadas de diferentes formas, consoante diferentes organizadores concetuais. Tendo em conta o que foi realizado durante a investigação,

importa realçar as entrevistas em profundidade, também designadas por informais, etnográficas, não-estruturadas, conversacionais (Máximo-Esteves, 2008).

As entrevistas em profundidade surgem camufladamente durante as conversas diárias entre o entrevistador e os entrevistados; porém, são muito mais do que simples conversas interessantes, pois têm na sua base uma intencionalidade: recolher informações ricas em descrições e comentários sobre a visão dos entrevistados de algo, de si próprios e/ou do contexto em que estão inseridos, na tentativa de completar dados recolhidos na observação sobre a questão da investigação (Máximo-Esteves, 2008).

Por acontecerem de forma informal e espontânea, as questões não são formuladas antecipadamente pelo entrevistador, pelo que é o próprio entrevistado que decide a direção da entrevista, consoante o tema proposto pelo investigador (Fortin, 2009). Assim, durante a entrevista as questões são abertas, permitindo múltiplas respostas e caminhos diferentes consoante as experiências pessoais de cada um.

Por serem uma mais-valia pela riqueza dos dados que os entrevistados disponibilizam ao investigador, utilizei esta estratégia no decorrer da minha prática pedagógica. Neste sentido, procurei atribuir significado ao mundo subjetivo e compreender o modo como cada criança experimentava e interpretava o contexto em que estava inserida, como pensava e como organizava as suas ideias. Para tal, as crianças foram incentivadas a comunicar abertamente, a exprimir as suas ideias e opiniões. Enquanto entrevistadora, estive interessada e atenta às intervenções das crianças e procurei fazer questões que fizessem com que as suas respostas fossem cada vez mais elaboradas e complexas.