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Tamanho da firma e seu impacto na inovação

1 INTRODUÇÃO

2.2 Fatores internos à firma para a Inovação Disruptiva

2.2.2 Tamanho da firma e seu impacto na inovação

Nesta seção identificam-se três abordagens para a influência do tamanho da firma na ocorrência de ID por parte das empresas. Tamanho pode ser entendido como uma extensão ou ampliação dos recursos da firma. A corrente principal de

pensadores considera que as inovações descontínuas normalmente são introduzidas pelas firmas mais recentes, ditas novas entrantes no mercado (YU & HANG, 2010). Uma segunda corrente avalia que as características particulares da firma podem alterar essa relação. Por exemplo, quando se trata de uma empresa relativamente pequena, mas tradicional e especializada no alto segmento, as empresas maiores levam vantagem (SANDSTRÖM et al., 2009). A terceira e última abordagem, trazida por Bergek (2013), mostra-se em oposição direta à corrente principal. Assim, em vez de reconhecer a vantagem das novas entrantes, ela denuncia uma superestimação do potencial disruptor dessas novatas, bem como um descaso para com a capacidade de as firmas estabelecidas integrarem as novas tecnologias através de um processo de acumulação criadora, ou seja, de construção da inovação sobre as competências anteriores, em especial nas indústrias de produtos complexos como os automóveis e as turbinas.

A literatura empírica em geral percebe que as inovações descontínuas são desenvolvidas e comercializadas por novos entrantes. A pesquisa sobre ID reforça que os novos entrantes têm mais chances por ser menores, ter menor dependência em padrões históricos e em paradigmas tecnológicos e redes de valor (YU & HANG, 2010).

O tamanho da organização, medido pelo número de empregados e pelas vendas anuais, mostrou ser um impedimento para a capacidade de resposta na adoção antecipada de tecnologia disruptiva, a despeito de isso aumentar a capacidade de sentir a tecnologia mais cedo do que as empresas menores, conforme uma survey realizada com 73 executivos seniores das mil maiores indústrias arroladas pela revista Fortune (GARRISON, 2009).

Os padrões de comportamento que inibem a inovação surgem naturalmente em organizações maduras. Primeiro, como firmas maduras, elas tendem a se tornar confortáveis demais fazendo o que elas normalmente fazem. Esse conforto leva à miopia e também desencoraja o enfrentamento de risco fora da zona de conforto delas. Segundo, os valores centrais e as estruturas em vigor tornam-se rígidos ao longo do tempo, daí encorajando apenas um foco estreito sobre operações e missão. Isso resulta em inovações incrementais compatíveis com as estruturas existentes. Terceiro, as firmas perdem a medida de como elas chegaram onde

estão, ou seja, elas perdem a energia criativa, a abertura ao risco e aos experimentos que lhes permitiram cavar um nicho e disruptar as firmas estabelecidas quando elas entraram no mercado (BRAGANZA et al., 2009).

A força do sucesso passado direciona as organizações a buscarem tecnologias que reforçam o que elas já conhecem, enquanto deixam passar o potencial das tecnologias disruptivas que levam para fora de suas esferas de conhecimento (BRAGANZA et al., 2009).

As competências centrais, embora muito úteis no passado, podem tornar-se “rigidez central” ou “paradoxos da capacidade-rigidez” para a inovação radical futura. Conhecer velhas competências e usá-las inibe os esforços para mudar as capacidades. No geral, à maioria das grandes corporações falta capacidade de gerenciamento para adaptar as habilidades necessárias para se engajar e lucrar com a nova tecnologia e para gerir os desafios que acolherão as oportunidades de negócio que se encontram na tecnologia disruptiva. Em adição, a falta de quantidade adequada de indivíduos altamente educados é outra causa de preocupação, além da indisposição para canibalizar seus próprios investimentos e ativos (ASSINK, 2006).

Diferente da visão exposta até aqui, tem-se que o porte empresarial pode ter efeito contrário em situações específicas em que a empresa tenha se especializado no alto segmento. A despeito de reconhecer a importância futura da tecnologia digital desde o início, a Hasselblad encontrou grandes dificuldades na adaptação dessa tecnologia. A teoria da dependência de recursos parece fornecer uma explicação para isso ter acontecido. A demanda contínua dos investidores por lucratividade e o downsizing das iniciativas disruptivas daí decorrente podem ser considerados como um exemplo disto. Além disso, as características particulares da Hasselblad afetaram o modo como a firma lidou com a ameaça disruptiva da imagem digital. A companhia era relativamente pequena e possuía uma base de clientes limitada e exigente (SANDSTRÖM et al., 2009).

Nesse sentido, as câmeras digitais poderiam não satisfazer inicialmente as demandas que o segmento de alta qualidade requeria. Em contraste, os fabricantes maiores de câmeras, como a Canon e a Nikon, podiam desenvolver as capacidades em fotografia digital enquanto eles estavam ainda produzindo as câmeras

tradicionais. Essas firmas possuíam os recursos consideráveis de que elas precisavam, no sentido de comprometer esses tipos de investimento, afora a questão do mercado (SANDSTRÖM et al., 2009).

O tamanho e a estratégia das firmas tradicionais podem claramente não ser os únicos fatores que afetam o modo como as firmas estabelecidas lidam com a ameaça disruptiva. As características particulares de uma empresa tradicional afetam os desafios na troca disruptiva (SANDSTRÖM et al., 2009).

Além dessa variante, existe uma visão diametralmente oposta ao que o mainstream considera na discussão sobre a influência do tamanho da firma para a ID. Bergek et al., (2013) desafiam as explicações para a destruição criadora das indústrias existentes. Eles detalharam análises empíricas sobre as indústrias automotivas e de turbinas de gás para demonstrar que essas explicações superestimam a habilidade dos novos entrantes para destruir e disruptar as indústrias estabelecidas e subestimam a capacidade de as firmas estabelecidas perceberem o potencial das novas tecnologias e integrá-las às capacidades existentes. Além disso, eles mostram como a intensa concorrência, na sequência de descontinuidades tecnológicas, conduzida inteiramente pelas firmas estabelecidas, em vez disso, pode resultar em saídas agitadas de indústrias tardias. Eles desenvolveram e estenderam a noção de “acumulação criadora”, um conceito originalmente cunhado por Pavitt (1986 apud Bergek et al., 2013).

O aspecto da acumulação implica que esse tipo de inovação é construído sobre a competência prévia, em vez de destruí-la. Esse tipo específico de processo de inovação cumulativa também é denominado como “expansão de competência”. Esse desafio é mais pronunciado em indústrias de produtos complexos. Uma sugestão geral para as firmas que precisam lidar com as atividades de exploitação e de exploração simultaneamente é para implementar organizações ambidestras, as quais separam vários tipos de busca e inovação. As análises indicam que, em uma competição caracterizada pela acumulação criadora, as firmas precisam sustentar esforços de integração dinâmica em vez de separação (BERGEK et al., 2013).

A China recentemente tornou-se o maior mercado de carros simples, mas, a despeito desse forte crescimento, não produziu nenhum fabricante maior de automóveis com uma estratégia de inovação distintiva e com presença internacional

- e o mercado chinês continua dominado por fabricantes estrangeiros e suas filiais locais. Além disso, dadas as limitações físicas da tecnologia e os modestos melhoramentos na eficiência durante sua primeira década no mercado, é improvável que a tecnologia de microturbina venha a se tornar “boa o suficiente” em comparação com as grandes turbinas a gás de ciclo combinado (BERGEK et al., 2013).

Embora pareça que as três abordagens citadas para a influência do tamanho na emergência da ID sejam incompatíveis entre si, todas podem ser verificadas. Apenas cada visão se aplicaria ao seu contexto específico. No caso da corrente principal, e que pode se verificar na maioria das vezes, as novas entrantes apresentam potencial disruptivo maior por causa da sua flexibilidade para a inovação. Porém determinadas características particulares da firma mudam essa relação, como no caso de uma empresa relativamente pequena, tradicional e especializada no alto segmento, o que pode colocá-la em desvantagem na concorrência com as maiores, quando surge uma ID que demanda recursos e opção de mercado (SANDSTRÖM et al., 2009). Por último, note-se que, conforme Bergek et al. (2013), as condições que favorecem as grandes firmas estabelecidas na adoção de tecnologias disruptivas podem estar mais restritas aos setores cujos produtos são de maior complexidade, como no caso dos automóveis e das turbinas.