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Neste capítulo, os conteúdos para a tecnologia de projeto são elaborados, por meio do ajustamento do conjunto de soluções arquitetônicas obtido na análise realizada no capítulo 6. Em particular, os desenhos-síntese dos elementos centrais da edificação penal e a caracterização do espaço arquitetônico de segurança máxima são apresentados. A tecnologia de projeto desenvolvida se encontra no Apêndice F, e o material técnico dos desenhos-síntese se encontra no Apêndice G, desta tese.

A análise das características da edificação penal realizada resultou em um conjunto de soluções arquitetônicas de caráter predominantemente formal, voltadas para o modelo prisional e para a maximização da segurança (ver Apêndice E). Ao mesmo tempo, este resultado foi acompanhado de ressalvas para o melhor ajustamento das soluções apontadas, por meio do atendimento das demandas da realidade prisional. O atendimento da realidade prisional é previsto no estudo do paradigma tecnológico da edificação penal que embasou a lógica analítica desta pesquisa (ver introdução). O ajustamento do conjunto de soluções arquitetônicas obtido consiste em um reequilíbrio entre o formalismo encontrado e as demandas realísticas, o que implicou em uma revisão dos padrões de segurança inicialmente fixados para a tecnologia de projeto objetivada. A revisão destes padrões remete às soluções espaciais tipicamente mais brandas que a realidade prisional apresenta, conforme o verificado na análise da equivalência das características da edificação penal, procedida no capítulo 6 (seção 6.6.1).

A revisão do conjunto de soluções arquitetônicas obtido adquire uma natureza geral que remete ao ajustamento dos quesitos externos ou de planejamento do programa arquitetônico elaborado. Estes quesitos tratam diretamente do nível de segurança e a adequação dos mesmos tem impacto sobre todo o programa arquitetônico, conforme a hierarquia estabelecida na estrutura do programa arquitetônico. Deste modo, o ajuste do conjunto tratou inicialmente dos quesitos externos para, em seguida, abordar os desdobramentos deste na composição arquitetônica da prisão, pertinente aos quesitos internos e quesitos dos elementos centrais da edificação penal.

7.1 Revisão dos quesitos externos

O atendimento da realidade prisional no ajustamento do conjunto de soluções arquitetônicas obtido diz respeito à compatibilidade entre o nível de segurança máximo e o perfil da população prisional a ser abrigada - previsto no primeiro requisito funcional do programa arquitetônico elaborado. Neste sentido, o caráter formal do conjunto obtido corresponde a presos considerados da mais alta periculosidade (UNOPS, 2016, p. 42), ao enfatizar os princípios de isolamento e controle dos presos. No Brasil, este perfil é destinado ao sistema penitenciário federal ou ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), numericamente inferior a um por cento da população prisional brasileira. Então, trata-se uma excepcionalidade.

A demanda realística remete a um perfil de grande periculosidade, mas que dispensa a totalização dos processos disciplinares e viabiliza um incremento dos programas de reinserção social dos presos. Segundo dados de Morana (apud AZEVEDO, 2009), cerca de oitenta por cento dos presos brasileiros se enquadram em um perfil de segurança média, o que determina a proporção de vinte por cento da população prisional compatível com a segurança máxima. Esta proporção é encontrada na estatística criminológica do Ministério da Justiça, ao indicar a predominância de crimes menos ofensivos no perfil dos presos (BRASIL, 2014).

Arquitetonicamente, o conjunto de soluções arquitetônicas obtido remete ao modelo espacial norte- americano supermax e ao projeto brasileiro da penitenciária federal, por exemplo, na individualização dos presos (ver Apêndice A). Já a demanda realística é descrita pela hibridização dos projetos de referência adotados nesta pesquisa (idem) que apresentam características de menor segurança, como a valorização das atividades laboreducativas dos presos (ver capítulo 1). Estes projetos de referência representam uma adequação à realidade prisional, em resposta às demandas de geração de vagas e redução dos recursos financeiros na ampliação do sistema penitenciário, porém de modo indistinto entre arquiteturas de segurança máxima e média, o que reflete a indefinição técnico-normativa e a massificação da população prisional, principalmente.

As considerações sobre a correspondência da arquitetura com a realidade prisional apontam para uma lacuna na classificação penitenciária que é preenchida no sistema penitenciário, mas de maneira imprecisa de ponto de vista penitenciário e arquitetônico. Deste modo, o ajustamento do conjunto obtido partiu de uma categorização do nível de segurança máximo e dos respectivos princípios arquitetônicos para a edificação penal. Para tanto, uma classificação penitenciária é proposta para o regime fechado, com as seguintes categorias:

a) Segurança máxima especial: corresponde às características formais levantadas, similares às encontradas nas unidades de RDD. A terminologia ‘especial’ retrata a peculiaridade da população prisional atendida, equivalente a uma parcela mínima do sistema penitenciário. Este termo foi utilizado nas Diretrizes do CNPCP de 1994 (CNPCP, 1995) para o estabelecimento dotado exclusivamente de celas individuais (esta categoria foi posteriormente abolida nas revisões destas regras técnicas, por isto não consta das Diretrizes Básicas de 2011).

b) Segurança máxima: conforma uma categoria intermediária, na qual a segurança ainda é prioridade, mas agrega características advindas da humanização da pena, como o observado nas mudanças dos princípios panópticos e na arquitetura híbrida dos projetos de referência desta pesquisa. Por sua vez, a segurança máxima especial é mais fiel aos princípios panópticos originais. A categoria proposta corresponde ao nível 2 descrito no Technical Guidance of Prision Planning (UNOPS, 2016, p. 31).

O acréscimo de um nível de segurança aproxima a classificação nacional da diversidade dos sistemas norte-americano (seis categorias) e inglês (quatro categorias). Em relação ao sistema norte-americano, a segurança máxima especial proposta equivale à administrative prison (ADX), enquanto a segurança máxima adere à hight security, conhecida como United States Penitentiary (USP) (USA, 2017). A USP tem perímetros altamente seguros (muros ou cercas reforçadas), celas individuais e coletivas, alta relação funcionário-preso e grande controle da movimentação dos presos (USA, 2017). Em relação ao sistema inglês, as categorias A e B são análogas às propostas, nesta ordem. A Category B é definida por presos que dispensam o maior nível de segurança, mas para os quais a fuga deve ser muito dificultada (esta categoria está entre uma das quatro tipologias da Training Prison) (RIDEOUT, 2006b).

De imediato, ao incorporar as características informais do espaço arquitetônico, a categoria de segurança máxima proposta reconfigurou os critérios do porte e do custo do estabelecimento penal a ser projetado (Figura 32). O porte se relaciona com a capacidade e a estrutura física do estabelecimento penal, onde um número reduzido de presos favorece tanto a segurança, como a humanização da pena, a depender do objetivo da pena. Com a reconfiguração sugerida, uma gradação foi constituída com a segurança máxima especial assumindo o pequeno porte, a segurança máxima o médio porte, e a segurança média o grande porte. Do ponto de vista da segurança, o pequeno porte é exemplificado pela Penitenciária Federal com 208 vagas, enquanto o grande porte alcança entre oitocentas vagas e mil vagas, segundo as Diretrizes Básicas (CNPCP, 2011a). Do ponto de vista da humanização, uma capacidade de quatrocentas vagas descreve uma unidade de menor segurança, como é verificado nos projetos ingleses Tomorrow’s Prison (MUIR, 2010) e The Creative Prison (RIDEOUT, 2006b).

Figura 32 – Gráfico das estruturas física e operacional das diferentes categorias de segurança e porte O índice da área construída demonstra o incremento do programa, enquanto o índice do pessoal indica uma otimização da mão de obra nos níveis mais brandos de segurança. Dados baseados no projeto da penitenciária

federal, nas médias dos projetos de referência e nos parâmetros das Diretrizes Básicas. 0 5 10 15 20 25 30 35

Seg. Máx. Esp. Seg. Máx. Projetos Seg. Máx. Regras Seg. Média Área construída/ capacidade (m2/vaga) Agentes penitenciários/ capacidade (agente/vaga) Grande porte 800 Médio porte 600 Médio porte 400 Pequeno porte 200

A capacidade adotada para a segurança máxima foi de 500 a 600 vagas, com base nas médias dos projetos de referência (530 vagas) e na manifestação dos funcionários quanto à melhor quantidade de presos (600 vagas) (ver Apêndice C). Corroborada pelos dados de outras referências, como o Prison Design Briefing System (PDBS) que estipula 600 vagas (BOURN, 1994) (Figura 32). A capacidade estimada supera o teto previsto nas Diretrizes Básicas para o estabelecimento de maior segurança (300 vagas), a retomar o parâmetro previsto na versão de 1994 destas regras técnicas (CNPCP, 1994). Para a equipe dirigente, a capacidade do estabelecimento penal pode crescer desde que a população prisional seja fracionada. Esta consideração remete ao padrão arquitetônico modular que oscila entre 400 e 500 vagas. Mesmo nos exemplares de segurança máxima especial a capacidade tende a aumentar com a modulação - o modelo supermax chega a 490 vagas (ADX Florence) (ver Apêndice A). Isto é mais bem tratado à frente, quando a segmentação do grupo de presos é abordada.

As unidades enquadradas na categoria de segurança máxima proposta alcançam valores por vaga menores do que as unidades de segurança máxima especial (28% a menos) (ver Apêndice A). Isto decorre da maior quantidade de presos, enquanto a estrutura física e operacional não acompanha proporcionalmente o aumento da capacidade90. Na estrutura física, se deve levar em consideração que o modelo corrente, representado pelos projetos de referência, apresenta incompletudes. As equipes dirigentes entrevistadas apontaram incompatibilidades pontuais entre o edifício e a operação. A correção deste problema implica em aumento de área construída e de pessoal, com consequente incremento nos custos, interpretada como melhorias dos sistemas de segurança e operação, em particular, em termos da humanização da edificação penal (demandas informais). Na estrutura operacional, se admite a relação de um agente para vinte ou vinte e cinco presos por turno, advinda da realidade prisional, superior ao previsto na Resolução CNPCP n° 9/2011, ou no Technical Guidance of Prision Planning (UNOPS, 2016, p. 50), de um agente para cinco presos91.

Como estratégia de contenção de gastos, se buscou reduzir a área construída e aumentar as capacidades dos locais (otimização da estrutura física), por meio da hibridização de padrões arquitetônicos, associada à compactação espacial e generalização funcional. Em particular, a limitação dos custos operacionais envolve a redução de tarefas e a simplificação de procedimentos. Sobre isto, as equipes dirigentes destacaram a divisão da população prisional, a distribuição das atividades dos presos e o modelo de vigilância como fatores críticos para o custeio. A melhor definição destas características favorece a economia operacional.

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Existe um programa mínimo explícito em unidades de pequeno porte que aumenta em intervalos mais ou menos coincidentes com os portes, mas cujo aumento advém de incremento que aproveita a estrutura inicial.

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O dimensionamento da equipe funcional se baseou nas informações obtidas junto às equipes dirigentes no estudo de campo realizado, quanto à quantidade ótima de agentes de segurança para a operação penitenciária. Foram considerados os regimes implantados de 12/36 horas (Santa Catarina) e 24/72 horas (São Paulo) e o turno de maior demanda (diurno, em dias de visita). Esta proporção encontra ressonância a média apresentada no Relatório Infopen, de um agente para cada vinte e quatro presos (BRASIL, 2014, p. 79 e 80).

7.2 Revisão dos quesitos internos

A proposta de uma categoria de segurança penitenciária, associada às consequentes mudanças no porte e no custo do estabelecimento penal se vincula à totalidade da composição arquitetônica da edificação penal, a produzir adequações para a conformação da edificação. Em particular, estas adequações incorporam as demandas da realidade prisional, em boa parte, advindas das manifestações de funcionários (equipe dirigente) e presos no estudo de campo procedido (ver Apêndice C). Assim como, as características informais da edificação penal são consideradas, tendo sido levantadas dos projetos de referência adotados nesta pesquisa (ver Apêndice A).

7.2.1 Isolamento social do preso

A maximização do fechamento da unidade penal prevista nas características formais é mantida na categoria de segurança máxima proposta, pois garante a segregação social do preso e a viabilidade operacional do estabelecimento penal. As equipes dirigentes consideram a impermeabilidade institucional imprescindível para a prisão. A mesma deve ser conseguida por meio da localização do estabelecimento penal, planialtimetria do terreno, configuração da barreira perimetral e fechamento das edificações (sem locais operacionais ou aberturas de iluminação e ventilação expostas para o exterior da unidade prisional). O padrão arquitetônico modular e o modelo supermax ilustram a impermeabilidade pretendida, em particular, com o uso da cerca como barreira perimetral. Neste caso, a permeabilidade da cerca é compensada pelos afastamentos e pela configuração das edificações. Esta composição é atrativa economicamente para o sistema nacional, já que o muro é comparativamente muito mais caro do que a cerca. O muro se justifica ao compensar a eventual inadequação da localização ou dos terrenos (a proximidade de ocupações, ou terrenos pequenos ou irregulares).

O espaço arquitetônico não deve prever estrutura física para a participação da sociedade na administração prisional, tal como o idealizado por Bentham, porém a previsão de sala de encontro com a sociedade nas Diretrizes Básicas pode ser atendida. Isto diante do desinteresse da própria sociedade em relação à prisão e da precedência da instituição pelo monopólio administrativo e pela impermeabilidade e simplificação da estrutura física e operacional, vistos como mandatórios à implementação dos processos totais (maximização da segurança e possível economia de recursos). No modelo supermax e nas unidades brasileiras, a ocasional participação de grupos assistenciais ocorre nas áreas de atividades (pátios de sol, salas de aula ou biblioteca).

Em contraposição à impermeabilidade prevista, a modalidade arquitetônica proposta incorpora o formato da visita ao preso existente no sistema penitenciário, descrito pelo contato físico, inclusive íntimo. Isto em favor da humanização da pena, apesar do comprometimento da segurança, funcionalidade e economia de recursos. Para tanto, o espaço arquitetônico deve prever locais próprios

para a visitação, dotado de salão e apartamentos de encontro íntimo, o que compensa a permeabilidade e recupera a representação institucional. A criação destes locais é consensual entre a equipe dirigente e os presos, preocupados com a integridade dos visitantes. O contato entre o advogado e o preso permanece proibido.

7.2.2 Isolamento individual do preso

O isolamento individual absoluto foi revisado em relação à categoria penitenciária proposta, onde a caracterização formal cedeu à humanização da pena e às imposições do sistema penitenciário. A cela carrega um ideal de individualização voltado à reforma moral do preso que parece superado diante da evolução da penalogia. O próprio Bentham abandonou o isolamento absoluto no desenvolvimento do seu trabalho, no qual concluiu pela superioridade técnica e humana da cela coletiva. Isto foi ratificado em trabalhos recentes, como a reforma da prisão Koopel (KOOLHAAS, 1998). Além disto, funcionários e presos expressaram a preferência pela cela coletiva nas entrevistas realizadas.

Depreende-se que a recorrência da individualização encontrada nos instrumentos legais e normativos levantados nesta pesquisa se vincula a experiências prisionais excepcionais, pois a individualização depende de condições operacionais, econômicas e políticas. A individualização como meio de humanização depende da redução da permanência dos presos na cela (RIDEOUT, 2006b; UNOPS, 2016, p. 88). A individualização deriva modelos dispendiosos, exemplificados pela penitenciária federal brasileira ou a prisão Halden Fengsel. Ou ainda, a cela individual é atrelada à realização de uma reforma penitenciária, como o verificado nos trabalhos do Tomorrow’s Prison (MUIR, 2010) e The Creative Prison (RIDEOUT, 2006b).

Segundo o Panóptico, o abandono do isolamento absoluto implicaria na redução da eficácia e eficiência da instituição no seu processo de punição e de reinserção social do preso. Como consequência, o custo econômico, político e social da pena aumentariam (ver capítulo 2). Apesar disto, as questões da realidade prisional se tornaram imperativas. A acomodação celular como padrão é impraticável na conjuntura atual do sistema penal brasileiro: a demanda por novas vagas e a carência de recursos financeiros para as obras penitenciárias, associada ao alto custo da vaga individual. Todos os projetos de referência apresentam celas coletivas, mesmo o modelo do Ministério da Justiça. A cela coletiva gera uma economia de recursos (otimização da estrutura) que compensa, em alguma medida, a perda da eficiência panóptica. Esta lógica é defendida no Technical Guidance of Prision Planning (UNOPS, 2016, p. 50), ao relacionar o dimensionamento da equipe com a coletivização da cela. O alojamento celular se tornou uma particularização destinada à separação de presos com problemas de convívio, sob proteção ou em cumprimento de medida disciplinar, como na Penitenciária Federal.

Diante do colocado é possível distinguir o tipo de cela em função do nível de segurança penitenciário. A cela individual favorece a segurança, ao materializar o caráter punitivo da pena, por meio da classificação e a separação integral dos encarcerados (controle absoluto da instituição). A cela coletiva traz traços da humanização da pena, ao permitir o agrupamento dos presos, favorável às interações sociais. Ao mesmo tempo, na cela coletiva há uma complicação dos procedimentos e um aumento da exposição dos funcionários. Deste modo, a cela individual é identificada com a segurança especial, já a cela coletiva caracteriza a segurança máxima.

Sobre a viabilidade técnica da cela coletiva, o Manual Internacional para uma Boa Prática Prisional, da Penal Reform Internacional (PRI), admite uma coletivização da cela “desde que o espaço, a ventilação, a mobília e as instalações sanitárias sejam compatíveis” (apud ROLIM, 2005). As Regras Mínimas (CNPCP, 1994, art. 8) aprovam a coletivização do alojamento em caráter de excepcionalidade, desde que observados os cuidados com a higiene, condicionados pelas dimensões e ventilação. O CNPCP emitiu parecer no ano de 2005: “Na hipótese em que as condições e dimensões físicas o permitam, na cela se poderá, resguardando-se sempre a intimidade, alojar mais de uma pessoa, até o limite de seis, desde que não existam razões impeditivas, de ordem médica ou de segurança”.

A coletivização do espaço carcerário se prolonga até a organização das celas em alas ou blocos, com a tendência de menos partições e mais celas por partição, o que favorece a funcionalidade e a economia de recursos. Isto será mais bem abordado na Organização do Espaço, devido às implicações adjuntas (item 10.04). Além disto, esta coletivização exige a previsão de ala de celas individuais para a separação de presos, em número equivalente a 1,5% da capacidade do estabelecimento penal, segundo os projetos de referência (ver Apêndice A). Este percentual é inferior ao disposto nas regras técnicas do Ministério da Justiça e no Technical Guidance of Prision Planning (UNOPS, 2016) (2%), mas é superior a demanda dos diretores das prisões visitadas (entre 1% e 1,3%).

A capacidade da cela coletiva foi estipulada entre quatro e oito vagas (Figura 33). Este intervalo foi apontado pelas equipes dirigentes e pelos presos entrevistados, considerado mais favorável ao controle institucional e à sociabilização dos internos. A cela com seis vagas foi considerada ótima pelos entrevistados. O número de quatro vagas reforça a segurança penitenciária, enquanto oito vagas favorece significativamente os custos. A capacidade proposta é inferior ao encontrado nos projetos de referência que apresentam uma média de nove vagas, com limites individuais entre quatro e doze vagas. A proposta é tecnicamente respaldada nas Diretrizes Básicas e no Technical Guidance of Prision Planning (este prevê um mínimo de quatro pessoas e um máximo de vinte e cinco).

Figura33 – Gráfico dos índices físicos e financeiros das capacidades de cela

Os índices indicam duas faixas de economia nas celas de quatro e oito vagas. A primeira precede a ampliação do espaço da cela para a quinta cama (menos econômico) que se mantém até oito vagas (beliches). A cela de seis

vagas perde economicidade na cubagem. Dados baseados nas Diretrizes Básicas. A Mandela Rules apresenta índices maiores que as regras técnicas nacionais após a cela dupla. Valor de referência médio de quatro mil reais

o metro quadrado.

7.2.3 Organização do espaço

Segundo o modelo de segurança máxima proposto, a composição do espaço arquitetônico mantém como prioridade a segurança penitenciária (a segregação social e a administração totalitária), porém com a delegação de incorporar a humanização da pena instituída (a sociabilização e os benefícios aos presos). A disciplina-bloco passa a ditar a concepção da unidade de segurança máxima especial, ao preconizar a maximização da segurança limitada pelo respeito à condição humana na prisão. Enquanto a mesma é flexibilizada no modelo de segurança máxima, mediante a complexidade funcional inerente à redefinição de funções e hierarquias que acompanha a modalidade espacial vislumbrada.

A conjunção das demandas de segurança e humanização é obtida por meio do Princípio de Utilidade, através dos processos de integralização e mecanização, além da disciplina espacial. Estes recursos instituem a simplicidade geométrica e funcional como atributos essenciais da edificação prisional. Esta simplicidade é arranjada através da racionalidade geométrica e da síntese funcional (a redução da quantidade de recintos e de circulações). A síntese funcional é obtida por meio do corte de atividades (redução da quantidade de recintos) e da compactação espacial e funcional (redução de áreas). Por sua vez, esta compactação é incrementada pela coletivização com aumento de capacidade e pela generalização funcional dos locais (otimização dos espaços). Estas medidas favorecem a funcionalidade (redução de tarefas e simplificação de procedimentos) e a economia de recursos (minimização das estruturas física e operacional).

Com a simplicidade geométrica, a geometria da edificação deve atender a disciplina espacial, descrita pela regularidade, adensamento, horizontalidade e continuidade das massas construídas, o que tende a

0 5 10 15 20 25 30 1 2 3 4 5 6 7 8 Área/ Capacidade (m2/vaga) Cubagem/vaga (m3/vaga) Custo/ capacidade (R$/vaga) Área/ capacidade (m2/vaga) - Mandela Rules Custo/ cela (R$ x2) E C O N O M I A E C O N O M I A

minimizar a ocupação do terreno e a quantidade de fachadas. Esta simplicidade está presente nos projetos arquitetônicos de referência, tais como, o distrital e paulista. Estas características favorecem a segurança, enquanto a compactação é delimitada pela funcionalidade e pelo conforto ambiental: a utilidade dos locais e a criação das aberturas de iluminação e ventilação. O projeto deve então compatibilizar o desenho racional e a diversidade funcional inata da prisão.

A geometria tende a gerar um volume entrecortado inscrito em um retângulo, no qual o adensamento e a continuidade das massas construídas aumentam progressivamente do setor externo para o setor interno da unidade prisional. Algo intermediário entre os projetos de referência paulista e privado que sintetiza as tipologias campus, cluster e integrated, ao longo dos setores (UNDOC, 2016, p. 47) (Figura 34). Os parâmetros geométricos foram definidos sobre nas médias dos projetos de referência.

Figura 34 – Desenhos das geometrias dos projetos de referência (sem proporção)

O projeto paulista apresenta a maior compactação (menor relação entre a quantidade de fachadas e a área

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