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CULINÁRIA SAÚDE PORTUGUÊS TRADUÇÃO DE LÍNGUAS CULTURA CIÊNCIA ARTE

5.3. Síntese dos resultados e conclusões

5.3.2. Televisão, a fiel amiga

Os adultos estudados passam grande parte dos seus tempos livres a ver televisão. Como já foi referido no capítulo 4, este era um grupo com quem trabalhávamos de perto e que, estando num contexto de Educação e Formação de Adultos, procurava transmitir uma imagem positiva de empenho no seu trabalho. Assim, e embora os questionários fossem anónimos, muitos dos adultos inquiridos nem sempre foram, na nossa opinião, completamente honestos na forma como iam respondendo às questões. Este factor acaba por comprovar uma das nossas convicções iniciais que se prende com a importância do tempo livre para o desenvolvimento humano. Assim, o facto de os adultos não admitirem, por exemplo, que passam mais horas a ver televisão do que aquelas que realmente passam, acaba por ser revelador da importância que estes conferem ao tempo livre. Os adultos entendem o tempo livre não apenas como um tempo liberto das obrigações de trabalho. Olham para este tempo como um tempo em que podem desenvolver-se e crescer enquanto pessoas. O facto de tentarem “esconder” aquelas atividades que consideram menos produtivas, é revelador da consciência que têm de que o tempo livre é um tempo para aprender e não apenas para descansar.

A maioria dos adultos estudados despende, de acordo com os dados do segundo questionário, 1 a 3 horas por dia a ver televisão. Quando relacionamos o número de horas que os adultos veem televisão com o sexo, rapidamente concluímos que os homens veem mais horas de televisão que as mulheres. Grande parte das mulheres acumulavam com os estudos e os seus trabalhos, todas as tarefas domésticas, dispondo assim de muito menos tempo livre para se dedicarem a ver televisão. Tendo em consideração a área geográfica em que se

inserem estas mulheres e todo o contexto social em que vivem, parece claro que o seu tempo livre é assim mais reduzido. Por outro lado, foi possível ouvir, ao longo do tempo em que convivemos com o grupo, muitas adultas referirem que não podiam “falhar em casa” uma vez que os maridos tinham aceite a ideia de estas voltarem a estudar apenas na condição de serem capazes de acumular todas as tarefas sem descurarem nem a educação dos filhos nem a lida da casa.

Também os reformados se inserem no grupo que despende maior número de horas a ver televisão. Relativamente aos canais preferidos dos adultos, verificámos que as mulheres preferem a SIC e os homens escolhem mais frequentemente a TVI. Relativamente à faixa etária, os mais novos selecionam a SIC e os mais velhos a TVI. Os canais estatais, RTP1 e RTP2 nunca aparecem no todo das preferências dos adultos.

Os programas de televisão mais vistos pelos adultos são os programas informativos, seguidos dos filmes e séries. As telenovelas são vistas “às vezes” e “raramente” pelos adultos. Esta resposta é, na nossa opinião, mais uma vez reveladora, da preocupação dos adultos em demonstrarem perante a formadora uma preferência um pouco diferente da realidade. Conscientes da qualidade muitas vezes questionável de algumas das telenovelas, os adultos preferiram indicar que veem telenovelas “às vezes” em vez de optarem por uma resposta mais próxima da realidade. Em vários momentos, em conversas informais, nos foi possível compreender que estes adultos, e principalmente as mulheres, encontravam tempo diariamente para acompanharem as suas “novelas”. Constatamos até que muitas delas consideravam o momento da novela como um momento sagrado, o pedacinho de tempo para elas próprias, durante o qual não aceitavam ser incomodadas.

A séries de televisão merecem-nos uma atenção especial. Estas são um fenómeno relativamente recente na programação e têm vindo a ganhar extrema popularidade entre os espetadores. Encerrando estruturas narrativas complexas, as séries mais populares são seguidas por muitos e constituem-se como um possível instrumento de aprendizagem, nomeadamente no que diz respeito à aprendizagem de línguas estrangeiras. No grupo de adultos estudado, especialmente os mais novos discutiam frequentemente os episódios de séries que viam e traziam aprendizagens de vocabulário para a sala de formação. Foram vários os momentos em que fomos questionadas relativamente ao significado de determinada expressão inglesa, cuja aprendizagem tinha surgido no seguimento do episódio de uma série.

Embora os canais estatais não estejam no topo das preferências dos adultos, grande parte deles está satisfeita com os seus conteúdos, havendo, no entanto, uma percentagem significativa de adultos que está pouco satisfeito com os conteúdos televisivos destes. Mesmo os adultos que se mostram insatisfeito com os conteúdos televisivos não são muito claros quanto ao que deveria mudar na televisão pública. Assim, pressente-se um certo discurso de senso comum, no qual já é natural criticar a televisão e dizer “não dá nada de jeito”. No entanto, esta crítica nem sempre tem fundamentos concretos, sente-se que os adultos compreendem que a televisão poderia tomar opções mais susceptíveis de promover aprendizagens mas por outro lado também frequentemente se ouvia “eu até nem sigo aquela novela mas outro dia vi uma cena em que...”; ou seja, os adultos sabem distinguir uma programação mais voltada para o desenvolvimento humano de uma programação vazia mas isso não significa que não continuem a preferir no seu dia a dia uma programação que não lhes exija reflexão, que lhes permita uma maior passividade.