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Uma visão integradora: a afirmação do humano

O conceito de educação de adultos é encarado como uma noção global, envolvendo várias dimensões que comportam a formação dos adultos e a sua aprendizagem ao longo da vida. Neste contexto, salientam-se os contributos de Edgar Faure com a sua definição de educação permanente, bem como o papel da UNESCO na definição dos pressupostos que devem estar na base de uma educação de adultos de qualidade.

A formação profissional e em contexto de trabalho é uma das vertentes da educação de adultos, e aquela que tem vindo a ser mais desenvolvida. Num mundo em constante mudança e com um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente, o adulto sente-se cada vez mais coagido a acompanhar esse crescimento, atualizando-se e tornando-se cada vez mais capaz de aumentar os seus níveis de empregabilidade. Assim, muitas vezes o pressuposto de aprendizagem ao longo da vida e desenvolvimento pessoal acabam por ser esbatidos, tornando-se a educação ao longo da vida uma escolarização permanente. A preocupação atual do adulto é cada vez mais responder às necessidades do mercado de trabalho, sem se preocupar muitas vezes com a efetiva aprendizagem; as próprias entidades

formadoras acabam por proporcionar uma oferta formativa cada vez mais técnica e menos capaz de ajudar na autoconstrução do adulto. Deste modo, consideramos que a educação de adultos, seja ela formação profissional ou qualquer outra forma de educação, deve partir do adulto que nela se envolve de livre e espontânea vontade, não sendo apenas impulsionada por factores economicistas e de mercado que levam a acreditar que o “deficit de qualificações” do adulto deve ser combatido para que este possa estar à altura do que lhe é exigido, independentemente de existir efetiva aprendizagem e desenvolvimento pessoal.

No contexto nacional, as políticas educativas nem sempre privilegiam a educação de adultos. Após uma breve análise de alguns momentos de importantes para a educação de adultos em Portugal, pode concluir-se que ainda não existe uma verdadeira política de educação de adultos no nosso país. As iniciativas neste âmbito não são suficientes, os financiamentos são reduzidos e o próprio objectivo da educação de adultos tem vindo a ser, nalguns casos, distorcido e até mesmo esquecido. Assim, “é neste quadro profundamente contraditório que a promoção do direito à educação de adultos através das políticas públicas coexiste com outras prioridades, desafios e problemas, alguns de natureza económica e social, deixando-nos dúvidas relativamente ao cumprimento das ideias contidas na Constituição de 1976, mas reservando espaços para outras possibilidades, algumas destas promotoras da emancipação e de uma democracia de melhor qualidade” (Guimarães, P., 2009: 4).

Acreditamos na importância de uma educação de adultos onde se privilegiem contextos distantes da formalidade escolar e em que o adulto possa ser encarado como alguém que procura enriquecimento pessoal e não como aquele que, face a um mercado de trabalho competitivo, procura responder simplesmente às suas exigências. Os pressupostos que regem a verdadeira educação ao longo da vida não podem ser abandonados; aprender porque queremos simplesmente saber mais não deixou de ser importante; apesar de não podermos ficar indiferentes ao mundo que nos rodeia e a todos os problemas económicos e sociais, não podemos deixar que nos transformem em “marionetas” nas mãos do mercado capitalista.

Assumimos assim uma perspectiva integradora de educação que contempla um modelo de educação de adultos centrado na valorização do adulto e numa educação

permanente e ao longo de toda a vida que privilegia os contextos não formais e informais. Assim, a educação de adultos é encarada como “o processo do ser”, o processo que permite ao adulto “aprender a exprimir-se, a comunicar, a interrogar o mundo e a tornar-se mais ele próprio” (Faure, E., 1981: 225). Numa perspetiva de integração e progresso individual quer a nível profissional quer a nível pessoal e social, a Educação de Adultos será “entendida como um projecto global de desenvolvimento, com consequências práticas a nível individual e social” (Barbosa, F., 2004: 15).

Na conferência de Hamburgo, promovida pela UNESCO em 1997, apresentou-se um conceito de educação de adultos que valoriza não só a aprendizagem formal com vista ao desenvolvimento profissional, como também a importância de uma aprendizagem informal que comporta a realização de atividades de lazer em que cada adulto aprende com o outro, numa lógica de constante partilha.

“o conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não, graças ao qual as pessoas consideradas adultos pela sociedade a que pertencem desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos, e melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou as reorientam de modo a satisfazerem as suas próprias necessidades e as da sociedade. A educação de adultos compreende a educação formal e a educação permanente, a educação não formal e toda a gama de oportunidades de educação informal e ocasional existentes numa sociedade educativa multicultural, em que são reconhecidas as abordagens teóricas e baseadas na prática. […] a aprendizagem tem, efectivamente, lugar ao longo de toda a vida” (UNESCO, 1997: 7).

Também no estudo da Associação Europeia para a Educação de Adultos (EAEA) intitulado “Adult Education Trends and Issues in Europe” (2006), está bem patente a valorização da educação de adultos nos seus modos não-formais e informais. De acordo com este estudo, deve existir um progressivo reconhecimento da educação de adultos não-formal e informal. Nas recomendações finais, o estudo reforça a importância destas formas de aprendizagem:

"Deveria ser do conhecimento geral que a expansão e validação não é apenas no interesse do mercado de trabalho e não é sinónimo da degradação da

autoridade das instituições formais e da qualidade da educação e formação, mas é no interesse de todos os intervenientes, especialmente a maioria adulta da sociedade de aprendizagem. O reconhecimento da institucionalização da aprendizagem não-formal é uma ferramenta chave no aumento da motivação, acesso, participação e resultados de aprendizagem” (2006: 65).

A aprendizagem não-formal e informal comporta em si características essenciais para promover a motivação dos adultos, valorizando o aprender pelo aprender. O modo como os adultos vão ocupar os seus tempos livres deverá estar cada vez mais dependente de uma vontade de enriquecimento pessoal que busca a educação não como necessidade mas como fonte de prazer e desenvolvimento, numa verdadeira afirmação do humano.