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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

2.5 Temática Programa Bolsa Família e desdobramentos

Dentre os trabalhos mencionados na introdução deste capítulo destaco as contribuições de Oliveira (2009), que mapeou a proposta do estudo nas dimensões da inclusão social do

Programa Bolsa Família - PBF e suas principais ações na transferência de renda com condicionalidades e instituída pelo governo brasileiro. A autora levantou embates nos pressupostos delimitados pelo referido programa, cujas premissas são o enfrentamento da pobreza, o acesso das famílias à rede de serviços públicos e o desenvolvimento de ações voltadas para a inserção dessa população na esfera produtiva. Entre os anos de 2009 e 2012, a estudiosa publicou vários artigos sobre a temática PBF, pobreza e educação, inclusão social, transferência de renda, entre outros.

Cavalcanti (2013) abordou discussões e reflexões de cunho científico e social. Avaliou os impactos do PBF na renda, na educação, na frequência escolar e no mercado de trabalho das famílias pobres do Brasil. Para a autora o PBF influenciou positivamente a renda familiar per capita e a educação. Mas, quanto ao mercado de trabalho (horas trabalhadas e renda do trabalho) cria um incentivo negativo (em alguns grupos familiares) no sentido de diminuição da disposição ao trabalho pelos beneficiários do programa, expressão usada como efeito-preguiça. Nesse sentido, o objetivo do PBF é aliviar a pobreza e não substituir o trabalho e o rendimento das pessoas.

Para melhor compreensão do leitor informamos que os benefícios do PBF possuem quatro tipos de categorias que variam em valores e também de acordo com a característica da família, conforme os dados no sistema do Cadastro Único, como apresentado abaixo:

Benefício Básico: o valor repassado mensalmente é de R$ 77,00 e é concedido às famílias com renda mensal de até R$ 77,00 per capita, mesmo não tendo crianças, adolescentes, jovens, gestantes ou nutrizes.

Benefício Variável: o valor é de R$ 35,00 (trinta e cinco reais) e é concedido às famílias com renda mensal de até R$ 154,00 per capita, desde que tenham crianças, adolescentes de até 15 anos, gestantes e/ou nutrizes. No caso de Gestantes, o benefício é pago por 9 meses e para as nutrizes será pago por 6 meses14. Cada família poderá receber até, no máximo, cinco benefícios variáveis, ou seja, até R$ 175,00.

Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ): é concedido o valor de R$ 42,00 a todas as famílias que tenham adolescentes de 16 e 17 anos frequentando a escola. Cada família pode receber até dois BVJs (R$ 84,00).

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O objetivo do benefício é garantir melhores condições de nutrição à mãe e ao bebê, auxiliando na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional da criança (Decreto nº 5.209), dada a grande relevância da amamentação nos primeiros seis meses de vida. Entretanto, a família terá direito ao benefício, ainda que a criança não esteja em aleitamento materno devido a alguma situação de vulnerabilidade da criança ou dos responsáveis, como forma de garantir outro tipo de alimentação à criança. Para ler na íntegra acesse o sítio

Como podemos observar, os valores recebidos são para um reforço básico no cotidiano das famílias vulneráveis e não substituem os empregos e salários.

Dalt (2013) publicou artigos sobre as avaliações, políticas públicas (Programa de Transferência de Renda) e analisou o impacto dos programas de transferência no cotidiano da família e PBF, os seus limites e possibilidades para a geração de trabalho e renda entre os beneficiários. Fonseca (2006) reforça a importância desta transferência de renda na vida das pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Oliveira (2009) complementa as afirmações de Fonseca (2006) afirmando:

Como podemos perceber, uma das prioridades do governo federal é o desenvolvimento de ações voltadas para a capacitação profissional dos beneficiários do programa Bolsa Família. Sendo assim, “a proposta é oferecer qualificação profissional nas áreas em que a demanda por mão-de-obra seja significativa para facilitar a inserção no mercado de trabalho das pessoas que receberem treinamento” (OLIVEIRA, 2009, p. 35).

Os estudos de Oliveira (2009), Cavalcante (2013) e Dalt (2013) tratam com maior especificidade o tema do presente trabalho, ou seja, o PBF e suas condicionalidades. As autoras acima expressas, ressaltam que o programa de Transferência de Renda proporciona a diminuição da vulnerabilidade e risco social. No entanto, é preciso refletir sobre a melhoria e a diminuição das exigências para a frequência dos educandos à escola, e, principalmente, na melhoria da educação. Os estudos dessas pesquisadoras apontam alguns entraves para a consolidação dessa política social. Segundo elas, o Brasil precisa avançar nas discussões de políticas de Transferências de Renda que sejam mais igualitárias, voltadas para a construção de cidadania.

Entre todos os textos encontrados durante a pesquisa, não podemos deixar de enfatizar Frota e Zimmermann (2009), que tratam sobre as divergências e embates do programa. Apesar dos debates acirrados sobre o PBF, os autores enfatizam que no Brasil ainda não se consolidou uma rede de proteção social, portanto, não garante, de fato, a efetivação dos direitos humanos. Por outro lado, vários estudos reafirmam a necessidade desses programas como instrumento de proteção social. Assim, o debate em torno das políticas de TR passa a conhecer novas no decorrer do século passado.

A implantação dessas políticas públicas de proteção social voltadas para combater a fome e a pobreza ganha centralidade e passam a concretizar uma nova solidariedade sob a forma de um pacto social entre o Estado e as classes menos favorecidas (ZIMMERMAN; FROTA 2009, p. 04).

O estudo do pesquisador Pellegrina (2011) relaciona as condicionalidades do PBF na educação, enfatiza o ambiente escolar e a Transferência de Renda condicionada e também aponta esta última como importante subsídio à educação. O autor aponta em suas análises de dados que há um impacto significativo no abandono escolar, representando uma redução de 22%. Entretanto, não investigou em querer pesquisar se o PBF ameniza a transmissão intergeracional da pobreza, pois o efeito encontrado do programa parece ser insuficiente para quebrar o ciclo da pobreza por tal via.

Os estudos das pesquisadoras Silva (2010) e Oliveira (2011) também consistem em ações afirmativas sobre a transferência de renda, entretanto questionam sobre o fato de não ter acompanhamento em relação à aprendizagem dos beneficiários junto às escolas, junto às famílias ou até mesmo por parte do Ministério da Educação e Cultura- MEC. Silva (2010) observou que há um índice alto de não cumprimento da frequência escolar pelos beneficiários do BF e, apontou preliminares de que o principal motivo do não cumprimento resulta da falta de controle dos filhos adolescentes pelos pais. Oliveira (2011) ressalta que, considerando a leitura econômica educacional, que afirma que a educação parental é um fator determinante para a educação dos mais jovens, evidencia-se que as possibilidades de crescimento educacional entre jovens e crianças, cujos pais são destituídos de conhecimentos sistematizados, são relativamente menores.