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TEMA: CONFLITOS PSICOSSOCIAIS

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III. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.12. TEMA: CONFLITOS PSICOSSOCIAIS

No décimo segundo encontro, sendo o último dessa pesquisa, com o grupo operativo, realizado em 16 de dezembro de 2003 com um total de 13 adolescentes, tivemos a presença de 7 moças e 6 rapazes. A consigna foi uma avaliação verbal e individual sobre conflitos psicossociais, e o que foi mais significativo de todos os encontros; os disparadores temáticos foram: inibição, introversão, angústia, conflito, libido e outros significantes dos encontros.

Descreveremos as avaliações de acordo com a ordem de espontaneidade. Para Gayotto (2001, p.32) se trata da comunicação verbal, um diz para o outro e expressa o que entendeu, sendo esta comunicação um dos conceitos de grupo operativo.

Fala de um rapaz: Um ponto positivo foi saber que a excitação na adolescência é normal, pois relacionava a pecado.

Para Yoshida (1998, p.217):

“Adolescentes mais críticos de sua própria formação podem

buscar por algo que lhes seja superior e buscam nos estudos sobre religiões o que lhes convença intelectual ou emocionalmente e que responda a suas dúvidas existenciais.”

Confirma Roudinesco e Plon (1997, p.473) que:

“A libido, dimensão fundamental para a pulsão, fixa-se em

objetos: essa libido objetal pode deslocar-se em seus investimentos, mudando de objeto e de objetivo. É sublimada, ou seja, derivada para um objetivo não sexual, onde investe objetos socialmente valorizados: a arte, a literatura, o intelectualismo, a atividade passional.”

Tratamos a excitação como normalidade, desde as suas primeiras ocorrências, e fizemos a diferenciação do impulso sexual animal e o humano: sendo o primeiro livre escolha ou controle, e o segundo como uma escolha de parceria e controlável. O exemplo usado foi o do cachorro perseguindo uma cadela no cio, não importando se ela é feia e com sarna, o que importa é o instinto, e o rapaz excitado por uma moça: ele faz uma escolha de sua preferência e também pode controlar suas excitações, pois necessariamente não terá que ejacular toda vez que se excita.

Fala de uma moça: É uma crítica à sociedade. As mulheres sempre são culpadas de tudo: gravidez, uso de preservativo (dependendo da vontade do homem), camisinha masculina mais usada que a feminina.

Diz Levisky (1998, p.61) que “Hoje, a mulher reivindica igualdade de

direitos perante o homem e a sociedade como um todo.”

Em Osório (1989, p.47) vemos que:

“Sem rebeldia e sem contestação não há adolescência normal.

Em todas as épocas e em todas as latitudes o adolescente sempre foi um contestador, um buscador de novas identidades, testando diferentes formas de relacionar-se e ensaiando novas posturas éticas.”

Quando ouvimos os adolescentes, faz parte de seu cotidiano as críticas e contestações, sendo a qualquer segmento de suas vidas: sociedade, família, escola, entre outros. E o nosso papel (coordenadora e observadora) é de ser facilitador do desenvolvimento do grupo, desvendando inquietações e necessidades, para a sua operatividade.

Fala de um rapaz: Ficou a dúvida sobre a questão das quatro calcinhas, ejaculação em cima da roupa engravida?

Para Osório (1989, p.43):

“No tocante à questão das concepções não desejadas em

adolescentes, há que se mencionar ainda o desejo, consciente ou não, dos jovens em geral de testar suas condições de fertilidade.”

Tratamos de uma questão real, quando temos espermatozóide e óvulo há fecundação e conseqüente gravidez, vimos também a facilitação de um período fértil da mulher (a lubrificação vaginal) associada a uma ejaculação pode-se correr o risco de uma fertilização, ou seja, gravidez.

Fala de um rapaz: Para mim ficou esclarecida a dúvida, quanto à possibilidade de se engravidar mesmo sem uma relação completa. Gostaria que o grupo continuasse mais tempo, não só um ano (como foi o nosso).

Vemos em Levisky (1998, p.26,27) que:

“Torna-se necessário aprender a lidar com seu corpo, seus

desejos e, principalmente, ter consciência das repercussões objetivas e subjetivas em sua vida.Freqüentemente, o que ocorre em nossa cultura é se tomar consciência após os fatos estarem consumados. ... Tais níveis de envolvimento emocional e cognitivo requerem maturidade e disponibilidade para funcionar dentro do princípio de realidade individual e social. Elementos que, por sua vez, vão sendo adquiridos a partir de vivencias que contêm níveis de contradições e conflitos que o adolescente necessita atravessar e aprender a enfrentar.”

Pudemos discutir algumas questões com clareza, por exemplo relação completa (pênis penetrado na vagina) e as possibilidades de se encontrar espermatozóides já nas primeiras secreções expelidas pelo pênis. Tratando todas as questões, sem restrições e com os nomes científicos.

Fala de uma moça: O que eu mais gostei foi a discussão sobre a amizade, aquela que falava, se contaria para sua amiga, que gostava do namorado da outra.

Fala de outra moça: Também gostei da discussão sobre contar ou não para sua amiga que gosta da mesma pessoa que ela e, se ela começasse a namorar a pessoa, como ficaríamos? Gostaria que continuasse o grupo no próximo ano, também com outros temas.

Fala de outro rapaz: Gostei do debate sobre a amizade, quando dois amigos gostam da mesma garota.

Para Bock (1988, p.226,227):

“O amigo é um objeto onde investimos libido ... e ao investir a

libido no outro , há um importante processo de identificação, através do qual enriquecemos e formamos nossa personalidade.”

Acrescenta Gikovate (1993, p.52):

“A escolha dos amigos se faz com a cabeça. Gostamos de nos sentir

aconchegados, de compartilhar intimidades da alma, mas não com qualquer um.Gostamos de fazer isso com pessoas que nossa razão considera certas para nós.”

Confirmamos nesse momento, o quanto eles gostam dessas polêmicas em que se instala a rivalidade entre os sexos, os rapazes confiando e confidenciando aos seus amigos, e as moças dizendo que não contariam. Evidenciando a rebeldia e a contestação com relação à opinião do outro. Inferimos no sentido de esclarecer que as verdades, em alguns aspectos, tendem ser individuais e não coletivas.

Fala de uma moça: O que mais gostou foi sobre a repressão. Vemos em Chauí (1984, p.77) que:

“Apesar das contribuições da psicanálise e da antropologia

acerca do caráter inconsciente da repressão sexual mais intensa, costuma-se falar de repressão sexual tendo-se como referência conjuntos de regras proibidoras que são explícitas e conscientemente conhecidas por todos os membros de uma sociedade.”

Tivemos a preocupação de nos fazer entender, com relação ao conceito repressão, e fizemos o uso do dicionário comum e de psicanálise. Bem como a participação dos adolescentes, escrevendo uma suposta repressão sua ou não. Com essa troca de informações foi possível operacionalizar do que se tratava a repressão.

Fala de uma moça: O mais significativo foi a discussão sobre homossexualidade.

Peres et al (S/D, p.49) descreve que:

“Na sociedade algumas pessoas são tratadas de forma

negativa e desigual. Às vezes, elas são discriminadas por suas preferências sexuais, sexo, raça, aparência, arranjos familiares e de vida. A discriminação pode levar à baixa auto-estima, oportunidades desiguais, problemas físicos e emocionais que marcam os jovens por muito tempo na vida adulta. As pessoas deveriam tentar entender, aprender, valorizar e conviver na diversidade.”

Vimos que a contestação e a discriminação são evidenciadas nessa polêmica sobre a homossexualidade, e a nossa função de operacionalizar essas inquietações foi desenvolver o tema: respeito às diferenças, inclusive esclarecendo que a homossexualidade não é considerada doença ( como havia sido perguntado).

Fala de uma moça: Gostei muito da dinâmica de comparar a sexualidade com os animais.

Trata Roudinesco e Plon (1997, p.704):

“A idéia de sexualidade é de tamanha importância na doutrina psicanalítica que,... como conseqüência, aceita-se de que os psicanalistas dariam uma significação sexual a qualquer ato da vida, a qualquer gesto, qualquer palavra. Na realidade, as coisas não são tão simples assim. A noção de sexualidade estende-se a uma disposição psíquica universal extirpando-a de seu fundamento biológico, anatômico e genital, para fazer dela a própria essência da atividade humana.”

Nesse exercício lúdico da sexualidade pode-se operacionalizar como é vista a sexualidade comparando-se com as características dos animais, e as associações elaboradas pelo grupo foram as seguintes: o gato como o bonito, o grilo como inquieto, a tartaruga como devagar e sempre, a loba como idade da revelação, o tigre como belo e forte, o cachorro como amigo, o coelho como fertilidade, o leão como poderoso e rei e, finalizando, o camaleão como algo instável, que está mudando sempre.

Fala de uma moça: Foi bom saber mais sobe o sexo oposto. Em Levisky (1998, p.60) vemos que:

“O sexo oposto, apesar de desejado, ainda é temido, por ser algo desconhecido.... O estabelecimento de relações heterossexuais evolui para novas experiências e emoções sexuais por meio de atividades sociais, esportivas, escolares, flertes e namoros. Tais atividades permitem uma aproximação mais íntima e protegida dos verdadeiros perigos que representam para o jovem, nessa fase, o ato sexual”.

Vimos no decorrer dos encontros a necessidade de saber sobre o outro, quer seja na parte biológica ou emocional, onde prevaleceu o respeito e o direito de expressão das mais variadas formas de pensar.

Fala de um rapaz: Existiram perguntas engraçadas (por exemplo a das quatro calcinhas) e observei que as meninas não têm coragem de falar e falam muito entre elas, e os meninos comentam bem menos (falam menos).

Para Levisky (1998, p.96):

“Os primeiros novos objetos de investimento amoroso e sexual

são geralmente os amigos do mesmo sexo. São os fiéis companheiros, com os quais mantém as mais íntimas confidências e relações. Tais companheiros(as) representam algo narcísico, mais próximo de um objeto idealizado de si mesmo e projetado no(a) companheiro(a)”. ... e complementa

... “As garotas também elegem narcisicamente seu objeto de

investimento amoroso em alguma companheira, concomitante ao surgimento de momentos agressivos, porém gostem de longas conversas entre si, descobrindo sua sensualidade e vaidade.”

Percebemos que à medida que o sentimento de vergonha diminuía, paralelamente recuperávamos a espontaneidade e a conseqüente confiabilidade no grupo, rompendo as estruturas estereotipadas.

Fala de um rapaz: Gostei do debate entre homens e mulheres. Foi bom para conhecer melhor as pessoas. E senti muita liberdade para fazer qualquer pergunta. Gostaria que continuasse o grupo nos próximos anos.

Relata Osório (1989, p.34,41,42,43) que:

“O adolescente vê confrontadas as expectativas

conservadoras de seu meio familiar com as demandas da sociedade competitiva e em mutação cultural onde irá viver sua condição de adulto.”...”A problemática sexual dos adolescentes de hoje não é diversa em sua essência, daquela das gerações precedentes.”...”O dilema sexual dos jovens de hoje assenta-se na crise de valores da família contemporânea e na falência da instituição do casamento como instrumento para assegurar a estabilidade das relações afetivas e a função procriadora da espécie.”

Pudemos vivenciar junto ao grupo, como coordenadora e observadora, o quanto foi possível atingir o objetivo, na diminuição dos medos básicos por meio das realizações das tarefas, promovendo o esclarecimento das dificuldades de cada componente, bem como a possibilidade de se darem conta de suas fantasias, criando condições de comunicação e expressão dessas estruturas.

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