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O tema Dinâmica Interna da Terra no currículo de Ciências Naturais no ensino

CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA

2.4. O tema Dinâmica da Terra na educação em Ciências em Portugal

2.4.1. O tema Dinâmica Interna da Terra no currículo de Ciências Naturais no ensino

De acordo com o CNEB (DEB, 2001a), documento oficial regulador do processo de ensino e aprendizagem que estive em vigor até Dezembro de 2011, as Ciências Físicas e Naturais organizavam- se em torno de quatro grandes temas organizadores, a saber: Terra no espaço; Terra em transformação; Sustentabilidade da Terra; e Viver melhor na Terra. Em 2012/2013, o processo de ensino e aprendizagem de disciplinas de Ciências passou a ser regulado pelo documento oficial Metas de Aprendizagem do Ensino Básico Ciências Naturais 5.º, 6.º, 7.º e 8º anos (MEC, 2013), que vai passar a ser designado pela sigla MAEBCN. Este documento foi construído com base nos documentos revogados em 2011, centrando-se em aspetos concetuais e continuando a privilegiar os quatro temas organizadores, anteriormente referidos. Nas MAEBCN são apresentados objetivos de aprendizagem, agrupados em sete áreas aglutinadoras de conteúdos, designados por Domínios. Estes encontram-se distribuídos pelos diferentes anos de escolaridade, a saber: no 5º ano incluem-se três Domínios, A Água, o Ar, as Rochas e o Solo – Materiais Terrestres, Diversidade de Seres Vivos e suas Interações com o Meio e Unidade na Diversidade de Seres Vivos; no 6º ano estão incluídos dois Domínios, Processos Vitais Comuns aos Seres Vivos e Agressões do Meio e Integridade do Organismo; no 7.º apenas se encontra um Domínio, Terra Em Transformação, e no 8º ano estão incluídos dois Domínios, Terra – um Planeta com Vida e Sustentabilidade na Terra. Cada Domínio divide-se em agrupamentos

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de menor inclusão, designados de Subdomínios a que correspondem uma unidade temática.

Os assuntos relacionados com o tema Dinâmica Interna da Terra a serem abordados na disciplina de Ciências Naturais, tanto segundo os antigos, como segundo o atual documento regulador dos processos de ensino e de aprendizagem, encontram-se incluídos, respetivamente, no (antigo) tema organizador e no (atual) Domínio Terra em Transformação.

Segundo o CNEB (DEB, 2001a) que esteve em vigor até Dezembro de 2011, no tema organizador Terra em Transformação pretendia-se que os alunos desenvolvessem competências concetuais relacionadas com os elementos constituintes da Terra e com os fenómenos que nela ocorrem. Este tema estava distribuído ao longo dos três ciclos do ensino básico, de acordo com o esquema que se apresenta na figura 1.

Figura 1: Esquema organizador do tema Terra em transformação (extraído de CNEB - DEB, 2001a, p. 138)

Aquando da apresentação de propostas de abordagem dos vários assuntos a tratar dentro deste tema, o referido documento oficial dizia ser essencial que as experiências de aprendizagem proporcionadas possibilitassem, aos alunos, o desenvolvimento de diferentes competências gerais (DEB, 2001a). Para cada um dos ciclos de ensino, o CNEB (DEB, 2001a) enumerava uma série de competências específicas (designadamente, concetuais e procedimentais) a serem desenvolvidas pelos alunos e apresentava, também, diferentes sugestões de estratégias e de atividades a serem realizadas. Relativamente às sugestões de atividades ou estratégias para abordar o tema organizador Terra em Transformação, no CNEB (DEB, 2001a) era sugerido que os conteúdos científicos deviam de ser abordados a partir de um contexto familiar aos alunos, designadamente, devendo, para o efeito, recorrer-se a situações do quotidiano e aos conhecimentos prévios que os alunos possuem sobre fenómenos relativos à transformação de materiais e relações energéticas. No mesmo documento regulador, também se afirmava que os assuntos tratados no âmbito deste tema proporcionavam uma oportunidade para se realizarem atividades experimentais que, potencialmente, poderiam contribuir

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para o desenvolvimento de competências procedimentais, tais como: capacidades manipulativas; capacidades técnicas; capacidades de pesquisa e de análise crítica de informação. Sugeria-se, também, a discussão de conceitos e teorias científicas e a realização de atividades que promovessem a compreensão sobre a natureza das Ciências, através da resolução de problemas. Outras sugestões, contidas no referido documento, propunham a realização de atividades que promovessem: a discussão e o confronto de teorias e explicações científicas para explicar fenómenos relacionados com a Dinâmica Interna da Terra; a análise de informação científica; e a realização de pequenas investigações e de projetos.

O documento oficial que atualmente regula os processos de ensino e de aprendizagem em Portugal, o MAEBCN (MEC, 2013), lista uma série de objetivos gerais a atingir pelos alunos e respetivos descritores, para cada Subdomínio. Esses objetivos gerais dizem respeito à aprendizagem pretendida e apontam uma direção a ser seguida (p.1). Cada objetivo comporta os respetivos descritores (destinados ao professor), que correspondem a desempenhos observáveis que os alunos deverão revelar. O quadro 1, construído com base no referido documento oficial, apresenta os respetivos objetivos de aprendizagem para o 7º ano de escolaridade, para o Domínio Terra em Transformação.

Quadro 1 - Distribuição dos Subdomínios e respetivos objetivos de aprendizagem para o Domínio Terra em Transformação

Subdomínios Objetivos

Dinâmica externa da Terra

Compreender a diversidade das paisagens geológicas Compreender os minerais como unidades básicas das rochas

Analisar os conceitos e os processos relativos à formação das rochas sedimentares Dinâmica interna da

Terra Compreender os fundamentos da estrutura e da dinâmica da Terra Aplicar conceitos relativos à deformação das rochas

Consequências da dinâmica interna da Terra

Compreender a atividade vulcânica como uma manifestação da dinâmica interna da Terra Interpretar a formação das rochas magmáticas

Compreender o metamorfismo como uma consequência da dinâmica interna da Terra Conhecer o ciclo das rochas

Compreender que as formações litológicas em Portugal devem ser exploradas de forma sustentada

Compreender a atividade sísmica como uma consequência da dinâmica interna da Terra Compreender a estrutura interna da Terra

A Terra conta a sua

história Compreender a importância dos fósseis para a reconstituição da história da Terra Compreender as grandes etapas da história da Terra Ciência geológica e

sustentabilidade da vida na Terra

Compreender o contributo do conhecimento geológico para a sustentabilidade da vida na Terra

O Domínio Terra em Transformação inclui cinco Subdomínios que englobam assuntos relacionados com a dinâmica externa e interna da Terra bem como com os respetivos processos. Os

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objetivos gerais de aprendizagem, estabelecidos para cada um dos Subdomínios, estão relacionados com o desenvolvimento de diferentes objetivos de aprendizagem, entre as quais se contam os seguintes: desenvolvimento de conhecimentos concetuais, nomeadamente no que se refere ao desenvolvimento de conceitos e processos que ocorrem devido à dinâmica da Terra, bem como à aplicação desse conhecimento em situações reais; desenvolvimento de conhecimentos procedimentais, relacionados com a compreensão de procedimentos utilizados na investigação científica, que permitem a evolução do conhecimento sobre a história do nosso Planeta e dos fenómenos que nele ocorrem; e desenvolvimento de atitudes, designadamente relacionadas com a apreciação do contributo do conhecimento geológico para a sustentabilidade na Terra.

Uma vez que o estudo levado a cabo nesta dissertação envolveu os subdomínios Dinâmica Interna da Terra e Consequências da Dinâmica Interna da Terra, considerou-se importante que os respetivos descritores, estabelecidos para cada um dos objetivos incluídos nesses dois Subdomínios, também fossem apresentados. No entanto, como estes são vários, apresentam-se os descritores, na sua íntegra, em anexo (ver quadros 2 e 3 no anexo 1), fazendo-se aqui, apenas, uma síntese dos mesmos.

No Subdomínio Dinâmica Interna da Terra são estabelecidos oito descritores para o primeiro objetivo de aprendizagem e cinco para o segundo. Nesses descritores apresentam-se desempenhos considerados observáveis e que o aluno deve demonstrar para evidenciar a sua aprendizagem. Incluem-se desempenhos que revelam os conhecimentos sobre conceitos, fenómenos e processos decorrentes da dinâmica interna da Terra. Deles são exemplo os descritores: “Caraterizar placa tectónica e os diferentes tipos de limites existentes”; “Relacionar a expansão e a destruição contínuas dos fundos oceânicos com a constância do volume da Terra”; e “Relacionar a movimentação observada numa falha com o tipo de forças aplicadas que lhe deram origem” (p.14). Incluem-se também descritores que evidenciam o desenvolvimento de atitudes com ênfase no reconhecimento dos contributos das Ciências e da Tecnologia para a evolução do conhecimento científico em assuntos relacionados com a dinâmica interna do nosso planeta. Deles são exemplo os descritores: “Reconhecer o contributo das Ciências, da tecnologia e da sociedade para o conhecimento da expansão dos fundos oceânicos”; e “Identificar os contributos de alguns cientistas associados à Teoria da Deriva Continental e à Teoria da Tectónica de Placas” (p.14).

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que se distribuem de diferente forma pelos sete objetivos de aprendizagem. Da mesma forma, os descritores estabelecidos para cada um dos objetivos de aprendizagem dizem respeito ao desempenho observável a que evidenciará as aprendizagens realizadas pelos alunos. Incluem-se desempenhos relacionados com conhecimentos concetuais, de que são exemplo os descritores: “Explicar o conceito de metamorfismo, associado à dinâmica interna da Terra” (p.15); “Esquematizar a estrutura de um aparelho vulcânico” (p.14); “Explicar a formação de um sismo, associado à dinâmica interna da Terra” (p.15); e “Relacionar a distribuição dos sismos e dos vulcões na Terra com os diferentes limites de placas tectónicas” (p.15). Outros dos descritores dizem respeito ao desenvolvimento de conhecimentos procedimentais, dos quais são exemplo os descritores: ”Distinguir a Escala de Richter da Escala Macrossísmica Europeia” (p.15); e “Enumerar diversos instrumentos tecnológicos que permitem compreender a estrutura interna da Terra” (p.16). São, também, apresentados descritores que dizem respeito ao desenvolvimento de atitudes, designadamente relacionados com o reconhecimento dos contributos das Ciências e da Tecnologia para a evolução do conhecimento sobre o nosso planeta. Deles são exemplo os descritores: “Reconhecer a importância das Ciências e da Tecnologia na previsão sísmica” (p.15); e “Explicar os contributos da planetologia, da sismologia e da vulcanologia para o conhecimento do interior da Terra” (p.16). São ainda incluídos descritores relativos ao desenvolvimento de conhecimentos sobre comportamentos e atitudes a ter face à ocorrência de um fenómeno sísmico ou vulcânico, sendo o descritor “Descrever medidas de proteção de bens e de pessoas, antes, durante e após a ocorrência de um sismo” (p.15) exemplo de um deles.

Salienta-se ainda que, nas MAEBCN (MEC, 2013) não são explicitamente apresentadas sugestões de atividades a serem realizadas durante a abordagem de um Subdomínio. Esta responsabilidade é atribuída ao professor, sendo mesmo afirmado que cabe ao professor “selecionar as estratégias de ensino que lhe parecem mais adequadas à respetiva concretização, incluindo uma adaptação da linguagem aos diferentes níveis de escolaridade” (MEC, 2013, p.1).

Contudo, a leitura atenta dos descritores de aprendizagem permite constatar que estão implícitas em alguns deles algumas sugestões de estratégias, nomeadamente relacionadas: com atividades práticas, como acontece, por exemplo, nos descritores “Explicar a formação de dobras e de falhas, com base numa atividade prática laboratorial” (p.14) e “Estabelecer uma relação entre os diferentes tipos de magmas e os diversos tipos de atividade vulcânica, através de uma atividade prática” (p.14); ou com atividades de pesquisa, como acontece, por exemplo, no descritor “Caraterizar

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alguns episódios sísmicos da história do território nacional, com base em pesquisa orientada” (p.15). De certa forma, também parece estar implícito em alguns descritores a sugestão de utilização de documentos e dados do contexto geológico português para o desenvolvimento da capacidade de interpretação de dados contidos em diferentes fontes. Isso verifica-se, por exemplo, no descritor “Interpretar cartas de isossistas, em contexto nacional” (p.15).

Assim, apesar de ter havido uma alteração curricular importante durante o período de realização deste trabalho, conclui-se que a mesma não foi relevante em termos de conteúdos a abordar, nem de atividades a realizar, nem de objetivos a alcançar.

2.4.2. Constrangimentos do ensino e da aprendizagem de assuntos relacionados com a