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3.6 Avaliação para SiCo’s fundamentada na EngSem

3.6.2 Tentativa de extensão do MAC

Um primeiro passo no intuito de estender o Método de Avaliação de Comunicabili- dade para Sistemas Colaborativos foi dado no trabalho de Prates et al. [2001]. Foram propostas novas categorias para o MAC na tentativa de caracterizar rupturas de comu- nicação que são específicas para uma mensagem que está sendo enviada do projetista para um grupo de usuários que utilizará o sistema (com uma variedade de objetivos coletivos), assim como a mensagem que está sendo enviada de um usuário para outro usuário.

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estender o Método de Avaliação de Comunicabilidade para SiCo’s. Foram apresentados níveis de interação em que se observam as rupturas em ambientes colaborativos (níveis individual e de grupo) e as categorias de problemas definidas para o método (Falta de percepção do espaço virtual; Falta de percepção de fenômenos de discurso; Falta de percepção das possibilidades de coordenação e Falta de percepção da tecnologia). Essas categorias foram definidas a partir de rupturas observadas em estudos de caso anterio- res e de outras categorias de problemas já descritas na literatura [Prates et al., 2001]. Além disso, as autoras procuraram definir novas expressões que possibilitassem descre- ver as rupturas que potencialmente podem ocorrer em ambientes de grupo e associá-las às categorias de problemas levantadas. Para formar as novas expressões, foram discu- tidos pontos de extensão das etiquetas em relação às rupturas de comunicabilidade que podem ocorrem em SiCo’s, e apresentado um conjunto de expressões estendido para tratar dessas rupturas, construído a partir do conjunto original de etiquetas do método. Um dos objetivos do MAC para ambientes monousuário era oferecer um con- junto reduzido de expressões que pudesse descrever as rupturas de interação possíveis. Contudo, a proposta de extensão criada pelas autoras acabou não sendo consolidada, porque o número de expressões geradas cresceu muito, impossibilitando, sobretudo, a aplicação do método. No entanto, a avaliação preliminar da metodologia proposta por elas mostrou que o método poderia ser utilizado para analisar testes de usuários e apontou para a necessidade de uma descrição mais precisa das expressões, assim como da confecção de um material mais completo e mais didático sobre o método e os concei- tos envolvidos. Além disso, como o estudo foi feito usando um ambiente colaborativo síncrono, não foi considerado o aspecto temporal da interação que poderia, a princípio, gerar novas rupturas (essas novas expressões aumentariam ainda mais o conjunto de expressões).

A avaliação prévia acabou também identificando questões a serem investigadas mais profundamente para viabilizar a aplicação do método a SiCo’s. Essas questões acabaram servindo de motivação para a realização deste trabalho. Entre elas estava a possibilidade de descrever as expressões de comunicabilidade do método não extensio- nalmente, mas em função das dimensões de caracterização das rupturas que ocorrem durante a interação em ambientes de grupo. Com isso, o avaliador poderia ter acesso às regras de formação das expressões, sem precisar, durante a aplicação do método, procurar em uma tabela muito extensa de etiquetas aquela que melhor caracterizaria determinada ruptura.

Capítulo 4

MAC para SiCo’s

Neste capítulo, apresentamos nossa proposta de extensão do Método de Avaliação de Comunicabilidade para SiCo´s. Em primeiro lugar, discutimos nossas motivações para a escolha de um método aplicado em laboratório, em detrimento de outras metodolo- gias focadas no contexto de utilização dos sistemas durante a avaliação. Em seguida, apresentamos em detalhes as considerações teóricas e as etapas que compõem o método estendido.

4.1

Por que avaliar em ambiente controlado?

Recentemente, Greenberg e Buxton disseram que a maioria dos métodos que estão sendo utilizados para a avaliação de Sistemas Colaborativos é de base etnográfica e tem por objetivo permitir que se leve em consideração o contexto de uso [Greenberg & Buxton, 2008]. Alguns fatores que justificam isso são o fato do contexto e das práticas envolvidas no trabalho das pessoas causarem impacto no projeto desse tipo de sistema, e também em razão da introdução do software impactar o próprio trabalho das pessoas. Em sua discussão sobre ferramentas para suporte à criatividade e à inovação, Shneiderman [2007] explicitamente menciona que métodos como a etnografia podem dar aos pesquisadores e projetistas uma perspectiva mais ampla sobre a tecnologia e assim promover ideias mais valiosas. Em consequência disso, no trabalho de De Souza & Leitão [2009], as autoras discutem se a etnografia seria então um bom método para avaliar os processos de comunicação e significação que constituem o foco da Engenharia Semiótica. Apoiadas por uma passagem do trabalho de Cooper et al. [1995] que diz que “Um longo período de intensa imersão na cultura permite ao etnógrafo experimentar melhor o mundo de seus súditos, e, portanto, compreender o significado de sua lingua- gem e ações para (...) a produção e consumo de artefatos técnicos (p.12)”, as autoras

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concluem que não há dúvida de que a etnografia pode ser usada para analisar aspectos de IHC que são de importância central para a Engenharia Semiótica. No exemplo citado por elas, a etnografia pode, por exemplo, nos ajudar a descobrir como os usuá- rios mudam o propósito da tecnologia projetada para diferentes fins, como fazem ao utilizar o Microsoft Excel (aplicação de planilhas) feito um sistema de banco de dados rudimentar. Contudo, o que as autoras do trabalho destacam é que a etnografia perde o foco persistente nas estruturas semióticas e processos em que projetistas, sistemas e usuários estão envolvidos (o que constitui a unidade de análise da EngSem), uma vez que a etnografia geralmente funciona de baixo para cima, sem modelos a priori de interpretação e esquemas. O etnógrafo não é obrigado a observar, coletar e interpretar dados pré-existentes de acordo com conceitos teóricos, mas sim, a formulação teórica é derivada da pesquisa etnográfica. Focar exclusivamente e especificamente em questões do tipo a priori fornecidas por uma teoria específica de IHC pode fazer contribuições mais direcionadas e ágeis para o processo de design [De Souza & Leitão, 2009].

Além das considerações teóricas discutidas acima, embora o contexto de uso seja fundamental para o sucesso de um SiCo, avaliações que o consideram costumam ser feitas já durante ou após a introdução do sistema nesse contexto. Concordamos que uma avaliação em laboratório, apesar de aumentar a precisão dos dados coletados, di- minui o realismo proporcionado pelo contexto de uso do sistema. Porém, apesar de serem mais realistas, estudos em campo podem perder em precisão e generalização. E apesar do experimento em laboratório ser diferente da análise no contexto real para o qual a aplicação foi projetada, e da dificuldade de se observar questões relacionadas com o efeito da tecnologia nas relações sociais, durante o teste controlado é possível identificar, por exemplo, problemas de comunicabilidade da interface (e.g. se o usuá- rio entende ou não como interagir com o sistema para se comunicar com os demais membros do grupo). Dessa forma, os problemas identificados em avaliações etnográ- ficas podem ser mais difíceis e caros de se corrigir quando comparados aos problemas identificados antes de se iniciar o uso do sistema. Além disso, enquanto alguns pro- blemas em Sistemas Colaborativos são fortemente relacionados a problemas sociais e organizacionais no qual o sistema está inserido, outros são simplesmente resultados de um suporte pobre para as atividades básicas do trabalho colaborativo em ambientes compartilhados [Baker et al., 2001].