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Em 1963, perante o tribunal da Rivônia, Nelson Mandela proferiu seu último discurso em liberdade, oportunidade que usou para expressar sua disposição de chegar às últimas consequências para lutar contra a dominação branca ou negra e em defesa da realização do ideal democrático136. Mandela foi preso político por 27 anos seguidos, em

pleno vigor de um dos mais simbólicos regimes racistas da história recente, o Apartheid137

e se tornou o presidente que encerrou politicamente o regime segregacionista. A África do Sul foi um território colonizado por britânicos e holandeses até o ano de 1994, sedimentado na concepção de supremacia branca.

Desde a construção da República na África do Sul, vigoravam dispositivos constitucionais que garantiam a reserva dos melhores empregos para pessoas brancas138,

assim como disposições que proibiam a circulação de pessoas negras em áreas específicas da cidade, entre um incontável conjunto de leis que expressavam a posição racista do Estado. Esse regime, conhecido por sua violência contra a população negra e que continua a ter seus efeitos sentidos, convivia no mesmo tempo histórico de uma Inglaterra democrata, e ainda vigiam quando o movimento pelos direitos civis para os afroamericanos já havia derrotado o Jim Crow139. Entre os aspectos mais importantes da

136 “I have fought against white domination, and I have fought against black domination. I have cherished

the ideal of a democratic and free society in which all persons will live together in harmony and with equal opportunities. It is an ideal for which I hope to live for and to see realised. But, if it needs be, it is an ideal for which I am prepared to die” Mandela, 1963 in STENGEL, Richard Os caminhos de Mandela: lições de vida, amor e coragem. Tradução Douglas Kim. São Paulo: Globo, 2010.

137 “Foi a partir de 1948 que, efetivamente, o Apartheid foi implantado, e a fusão estabelecida em 1934 pelo

Partido Unido – reunindo o Partido Nacional e o Partido Sul-Africano (o qual conta com o apoio da população de origem inglesa e de uma parcela menos significativa dos afrikaaners) – chegou a seu fim. Com os nacionalistas novamente no poder de forma “independente”, a União Sul-Africana entrou em uma fase muito mais complexa, quando foram produzidas mudanças políticas, econômicas e sociais que forjaram um país, de certa forma, na “contramão da História”. O que caracterizou o novo período foi a dissociação entre poder político e poder econômico; a população de origem inglesa manteve o poder econômico, enquanto os afrikaaners passaram a deter o poder político. Assim, a institucionalização do Apartheid tornou-se um dos pilares do novo surto de desenvolvimento” (PEREIRA, 2008, p.142).

138 “O regime do apartheid foi um passo a frente neste sistema. Foi uma forma de tornar legal o regime

racista que foi herdado pelos afrikaners de sua origem bôer. Durante o regime este sistema foi ampliado com leis que separavam áreas residenciais para brancos e para negros, leis que impediam o casamento entre pessoas de raças diferentes, e ainda várias outras leis” (PASSOS, 2004, p.13)

139 “Jim Crow (sul, 1865-1965). A divisão racial foi conseqüência, e não precondição, da escravidão norte-

americana, mas depois de instituída isolou-se de sua função inicial e adquiriu força social própria. Assim, a emancipação criou um dilema duplo para a sociedade sulista branca: como voltar a garantir a mão-de- obra dos ex-escravos, sem a qual a economia da região entraria em colapso, e como manter a distinção fundamental entre o status dos brancos e o das “pessoas de cor”, ou seja, a distância social e simbólica necessária para impedir o estigma da “amalgamação” com um grupo considerado inferior, sem raízes e vil. Depois de um prolongado interregno que durou até a década de 1890, durante o qual a histeria branca inicial deu lugar a um certo relaxamento, embora inconstante, das restrições etno-raciais, quando os negros tiveram permissão de votar, ocupar cargos públicos e misturar-se até certo ponto com os brancos, mantendo a

existência do regime segregacionista africano, para o presente estudo, está a demonstração de que a lógica da democracia representativa não só pode comportar posições abertamente racistas, como referendá-las.

O ideal democrático britânico não chegava aos territórios onde a posição colonialista dessa nação promovia dominação. Tal qual o processo revolucionário Haitiano de 1804140, que se inspirou nos ideais da França revolucionária, a população

negra escravizada rompeu com o poder vigente, declarando a independência do país e sua própria liberdade, e foi duramente reprimida pela mesma nação que havia se levantado em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

Assim, a limitação para o exercício democrático depende, diretamente, de quem são os sujeitos que a reivindicam. Essa posição, constatada com os exemplos históricos – recentes ou distantes – demonstram a expressão do pensamento elitista da democracia. Como informa Miguel141 o debate elitista da democracia nasce em contraposição ao

socialismo, como modelo alternativo ao modo de produção capitalista, e tem como premissa que é impossível haver igualdade material; defende-se que sempre haverá uma elite dirigente, e uma maioria a ser dirigida. De acordo com Brasil142:

Diretamente associada aos governos autoritários que assolaram o mundo nas primeiras décadas do século passado, a teoria elitista clássica, tornou-se base de contraposição acadêmica, de identificação positiva – nunca de proposta normativa – no período de democratização ou redemocratização dos Estados (BRASIL, 2013, p.98).

Em essência, tal leitura se contrapõe ao que há de mais fundamental no debate democrático: a participação popular na tomada de decisões. A “naturalização” das desigualdades empurra a concepção de cidadania ao mero ato de participar dos processos de escolha institucionais e escolher entre os “escolhidos”. Outras maneiras de se organizar coletivamente para intervir nas escolhas do Estado são vistas como perigosas à ordem e prontamente suplantadas, deslegitimadas e criminalizadas143.

intimidade entre os grupos promovida pela escravidão –, a solução veio na forma do regime “Jim Crow”. Consistia em um conjunto de códigos sociais e legais que determinava a separação completa das “raças” e limitava acentuadamente as oportunidades de vida dos afro-americanos, ao mesmo tempo em que os prendia aos brancos numa relação de submissão generalizada sustentada pela coação legal e pela violência terrorista” (WACQUANT, 2002, p.16)

140 Cf. FONTELLA, Leandro Goya; MEDEIROS, Elisabeth Weber. Revolução haitiana: o medo negro

assombra a América. Disc. Scientia. Série: Ciências Humanas, Santa Maria, v. 8, n. 1, p. 59-70, 2007.

141 Cf. MIGUEL, 2014, p.48.

142 BRASIL, F. Teoria Elitista Clássica, Democracia Elitista e o papel das Eleições: Uma questão de

definição dos termos. Primeiros Estudos, n. 5, p. 98-119, 10 nov. 2013.

143 Inúmeras são as tentativas de explicar a formação dessas elites, tratando-as ora como intrínsecas as

qualidades de cada ser humano, outras que caminham num sentido do controle social para a manutenção da ordem, mas o que as une é a defesa contra a igualdade.

Assim, a teoria das elites continua não só a produzir efeitos no campo dos discursos como na prática política. O gap de representação entre a maioria da população brasileira – que é negra e feminina – e os espaços de poder pode ser explicado ao se assumir que a postura de excluir esses sujeitos pode ser entendida também uma política de Estado. Como os exemplos citados anteriormente, o exercício das igualdades, liberdades, fraternidades e adiante, da democracia, não estava aberto a todos.

Em nossa interpretação, o pensamento sobre a democracia racial brasileira144,

poderia ser lido como uma manifestação da lógica elitista de pensar o fenômeno democrático. Segundo Abdias do Nascimento145:

O conceito da democracia racial refletiria determinada relação concreta na dinâmica da sociedade brasileira: que pretos e brancos convivem harmoniosamente, desfrutando iguais oportunidades de existência, sem nenhuma interferência nesse jogo de paridade social, das respectivas origens raciais ou étnicas (NASCIMENTO, 1978, p.41).

É precisamente na negação do racismo, a partir de uma leitura do fenômeno da miscigenação, que as elites brasileiras continuam a exercer sua hegemonia nos espaços representativos. Ao afirmar que vivemos em uma paridade social e de que não haveria como precisar os sujeitos negros e não negros, esse campo teórico146 contribui para

minimizar os impactos que o racismo estrutural produz. Há poucos séculos, pessoas negras eram consideradas, dentro da ordem jurídica brasileira, mercadorias destituídas de humanidade147. De acordo com Prudente148:

Sob a óptica jurídica, a problemática vivida pelos afrobrasileiros, nos aponta um a questão dual, que diz respeito às importantíssimas posições ocupadas pelo elemento negro na ordem jurídica brasileira: 1530 a 1888 - a) objeto de direito e ou sujeito de direito; após 1888 - b) sujeito de direito (PRUDENTE,1988, p. 152).

144 FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala, 50ª edição. Global Editora. 2005

145 NASCIMENTO, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado.

Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1978.

146 Nesse sentido Costa (2014, p. 832) “Freyre tampouco tem um projeto político definido que possa

transformar o Brasil em uma sociedade menos assimétrica. Segundo sua concepção, a alegada mistura harmônica de etnias já seria por si só justa, como se um povo que vivencia diariamente as virtudes desta alegre mistura racial pudesse prescindir da democracia política e da redistribuição material. Na obra de Holanda, os problemas políticos e sociais do Brasil são atribuídos à colonização portuguesa. Portanto, Buarque de Holanda rejeita radicalmente a concepção dos portugueses como bons soberanos, bem como a exaltação da “mestiçagem” como alternativa à democracia: Holanda quer superar as distâncias políticas e busca consistentemente o sujeito político que possa personificar os interesses dispersos da maioria“.

147 Nos termos da Consolidações de Leis Civis de 1858 : “ o escravo, á quem se-tem deixado liberadade

debaixo de condição, emquanto esta pende, só debaixo della póde ser vendido“ (L. 24 § 21) in FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das leis civis. Vol. II.Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003.

148 PRUDENTE, Eunice Aparecida de Jesus. O negro na ordem jurídica brasileira. Revista da Faculdade

Para a autora, a convivência com a condição exclusiva de sujeito de direito para a população negra só teria se realizado com a Constituição de 1988. Acompanhando sua esteira de pensamento, podemos perceber a dimensão da lógica de exclusão desses sujeitos do pleno reconhecimento de sua condição de cidadania149. Com o mesmo

raciocínio, as mulheres tiveram dificuldades de exercerem seus direitos fora do campo do domínio do patriarcado e, conforme Dias150, essas percepções ainda sobrevivem nos

textos legais contemporâneos. A dominação racista e machista, combinada a uma teoria que se põe contrária à igualdade material151 são os ingredientes que estão impregnados na

receita da democracia brasileira.

Sem que seja necessário escrever, na letra jurídica, que mulheres, negros e demais minorias políticas não são iguais, a concretude das relações de hierarquização de poder em nossa sociedade forjam um verdadeiro apartheid representativo. Partimos da leitura de Bobbio sobre o fenômeno para estender a interpretação da lógica de funcionamento desse sistema para a realidade brasileira. Segundo o jurista:

Em termos políticos, Apartheid significa manutenção da supremacia de uma aristocracia branca, baseada numa rígida hierarquia de castas raciais, para as quais existe uma correlação direta entre a cor da pele e as possibilidades de acesso aos direitos e ao poder social e político (BOBBIO, 1988, p.53).

Assim, os dados e as leituras teóricas apresentadas até agora demonstram como o pertencimento racial está diretamente vinculado as condições de realização das garantias e direitos fundamentais no Brasil. A abolição da escravidão negra no Brasil não chegou a completar dois séculos, evento que pode ser considerado recente se apreendido historicamente. Os impactos das relações estabelecidas durante sua vigência repercutem nessa relação de “castas” entre os sujeitos. Como apresentamos, os contornos do

Apartheid representativo brasileiro partem de uma observação prática das relações

estabelecidas entre brancos e negros em nosso país.

149 “Mantinha o Código Civil em elencos distintos os direitos e deveres do marido (arts. 233 a 239) e da

mulher (arts. 240 a 255).1 Permaneceu no texto legal assertivas como essas: art. 233 – o marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher (...). Compete-lhe: inc. I – a representação legal da família; inc. II – a administração dos bens comuns e dos particulares da mulher (...); inc. III – o direito de fixar o domicílio da família (...); inc. IV – prover a manutenção da família (...).“ (DIAS, 2015, p.3)

150 DIAS, Maria Berenice. A mulher no Código Civil. Portal Jurídico Investidura, 2015.

151 Com destaque o racismo científico, que propugnada a hierarquização entre as pessoas de acordo com o

critério racial, continua a produzir efeitos. A lógica de miscigenização da população impacta diretamente as condições objetivas de vivência da população negra até os dias de hoje. Nesse sentito cf. DA SILVEIRA NUNES, Sylvia. Racismo no Brasil: tentativas de disfarce de uma violência explícita. Psicologia USP, v. 17, n. 1, p. 89-98, 2006.

Como destaca Bobbio, o acesso aos direitos está diretamente relacionado ao exercício do poder político. O que, em nossa avaliação, subsidia a defesa que fazemos da centralidade que a efetivação dos direitos políticos possui para desencadear o acesso às demais garantias fundamentais e, no limite, da própria realização da dignidade da pessoa humana dos negros e negras brasileiras. Um dos demonstrativos que a lógica de funcionamento político do Apartheid representativo está na violência simbólica que esse sistema produz. Como traz Bordieu152,

Violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento (BOURDIEU, 2003, p. 7-8).

Essa violência simbólica153 faz com que as características de um parlamentar, não

por acaso sejam aquelas identificadas com o homem branco: competência, inteligência, racionalidade e capacidade. Para Santos,154 esses aspectos fazem com que a figura de

pessoas negras, em especial sendo mulheres, não seja a primeira escolha da maioria dos partidos.

Na prática, o regime censitário de selecionar quem seriam os eleitores e eleitos persiste com a democracia representativa brasileira. Mesmo com o intenso debate sobre a igualdade racial, que começou a produzir políticas concretas voltadas para esse setor – como a implementação de cotas raciais para o ingresso nas universidades e em concursos públicos – o rechaço de amplos setores da sociedade civil a elas demonstra o quão espesso é o muro que divide pessoas negras e brancas no Brasil. A dificuldade de se enxergar esse

apartheid “abrasileirado” tem como fundamento a substituição da retórica do racismo

científico pela ideologia da democracia racial e da miscigenação, que busca matizar os efeitos do racismo a partir do discurso.

Na prática, são as mulheres negras as que encontram mais resistência para chegar aos espaços representativos. Ao estendermos a análise ao viés étnico, a situação das

152 BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

153 ‘‘Violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias

puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento” (BOURDIEU, 2003, p. 7-8)

154 “Além de desvantagens socioeconômicas, a opressão de gênero e raça produz a violência simbólica. Às

mulheres negras, muitas vezes, são associadas imagens negativas quanto à capacidade intelectual, à aparência física ou ao comportamento. A fixação social destes estereótipos afeta as possibilidades de ocupação de posições políticas que dependem de laços com empregadores e de redes sociais, como são os cargos de confiança. Ademais, torna a figura da mulher negra pouco atraente para os partidos, uma vez que as chances de vitória nas eleições dependem, entre outros fatores, da identificação positiva de eleitora(es) com a(o) candidata(o). Representações afirmativas da competência, inteligência, racionalidade e capacidade são geralmente ligadas ao homem branco” (SANTOS, 2010, p.12).

pessoas indígenas é de completa ausência de representação. Somente em 2018 houve a primeira candidatura de mulher indígena a um cargo de vice-presidente em nosso país155,

dado que por si só já demonstra as limitações de nosso modelo. E esse também foi o ano que marcou a eleição da primeira deputada federal indígena, representante do estado de Roraima, Joenia Wapichana (Rede)156.

Frente a um arquétipo consolidado de verdadeira divisão racial da representação, o que fazer? Ainda que não haja mais impeditivos legais e que a Constituição Federal, em seu art. 5º, XLII, determine, por intermédio de um mandato legislativo específico, a criminalização do racismo, a prática política revela sua insuficiência diante da demanda de real combate ao racismo estrutural junto aos processos seletivos da representatividade parlamentar. Uma alternativa possível é refletir, mais uma vez, sobre as experiências práticas de rupturas com regimes racistas. Na África do Sul de Mandela, as disposições legais que legitimavam a divisão racial foram revogadas, mas até hoje a população negra carrega consigo o peso de séculos de colonialismo agressivo. Baixo desenvolvimento econômico, concentração de riqueza e pouca mobilidade social são os efeitos do findo

Apartheid157.

Obviamente, a ruptura política oficial com um sistema segregador é um primeiro passo no caminho do alargamento das liberdades democráticas, contudo não resolve a persistência das desigualdades que provocou. Assim como no caso da África do Sul, o regime de escravidão está na sedimentação da história política brasileira e aponta para nós que suas reminiscências, estão na base de uma lógica censitária que continua a operar na seleção dos representantes da política institucional.

Ou seja, o desenho da democracia representativa que experimentamos no Brasil favorece os mecanismos de exclusão de minorias, dando sustentação para indicarmos a persistência de uma lógica censitária no campo dos direitos políticos. De forma que, para se combater esse “apartheid representativo”, é necessário combinar elementos de

155 BRASIL. Estatíticas Eleitorais - Candidaturas. Tribunal Superior Eleitoral. Aplicados os filtros

"2018","Vice-Presidente“ . Disponível em <www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais> Acesso em 20 de jan. de 2019.

156 BRASIL. Estatísticas Eleitorais – Resultados consolidados. Tribunal Superior Eleitoral. Aplicados os

filtros "2018","Deputado Federal“ . Disponível em <www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas- eleitorais> Acesso em 20 de jan. de 2019.

157 Nesse sentido cf. VISENTINI, Paulo G. Fagundes et al. África do Sul: História, Estado e Sociedade.

diversas ordens. Seguindo o pensamento de Linera158, é necessário combinar

instrumentos de luta política – auto-organização da população negra em movimentos, partidos, comunidades – com aqueles vinculados à luta institucional – ocupação de espaços de representação e o cumprimento do conteúdo antirracista da Constituição Federal e demais legislações infralegais. A combinação da luta dentro e fora das instâncias estatais não deve levar, contudo, a uma ilusão de que assim será resolvido o problema racial no Brasil, mas sem essas trincheiras pouco se avançará para se “democratizar a democracia representativa” e enfrentar o racismo e o machismo estruturantes.

158 LINERA, Álvaro García. A dimensão multicivilizatória da comunidade política. In Estado

plurinacional: Una propuesta democrática y pluralista para la extinción de la exclusión de las naciones indígenas, Editorial Malatesta (Bolívia), 2004.

3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E A EFETIVAÇÃO DOS

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