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Teoria, método e as especificidades da pesquisa social

CAPÍTULO 2 — PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1. Teoria, método e as especificidades da pesquisa social

Destacamos como fundamental o entendimento da ciência enquanto processo realizável por meio de teorias e métodos (MINAYO, 2002). Assim sendo, por um lado, é possível afirmar:

Uma teoria é [...] uma construção científica, por meio da qual o pesquisador se aproxima de um objeto, mesmo que depois a refute e construa outra que considere mais adequada para compreender ou explicar o assunto que investiga. (MINAYO, 2002, p. 17, grifo nosso)

Por outro lado,

[...] o estudioso começa seu trabalho com algumas perguntas. E também com algumas idéias [sic] mais ou menos preconcebidas (hipóteses); analisa os pontos de vista, as teses, as indagações e as proposições de seus pares sobre o assunto (a teoria), e ele próprio vai construir caminhos de aproximação do tema. E estes caminhos de aproximação sempre são estradas por onde passam as linhas teóricas e as abordagens da realidade, seja pela experimentação, seja pela observação: são os métodos. (MINAYO, 2002, p. 17)

Partindo desses princípios, Minayo (2002) compreende — de forma abrangente — a metodologia como: 1. a “[...] discussão epistemológica sobre o ‘caminho do pensamento’ que o tema ou objeto de investigação requer” (MINAYO, 2002, p. 19); 2. a apresentação adequada e justificada das técnicas, métodos e

instrumentos73 utilizados na investigação; e 3. a “criatividade do pesquisador” (MINAYO, 2002, p. 19), ou seja, a maneira específica pela qual cada pesquisador articula “[...] teoria, métodos, achados experimentais, observacionais, ou qualquer outro tipo específico de indagação cientifica.” (MINAYO, 2002, p. 19).74

Os métodos, instrumentos e técnicas — elementos constituintes da metodologia — de coleta e interpretação dos dados utilizados em uma pesquisa visam tornar públicos os resultados do processo científico e, além disso, passíveis de serem submetidos ao julgamento de outros pesquisadores (MINAYO, 2002).75 “Os métodos e os procedimentos são o meio científico de prestação de contas pública com respeito à evidencia” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 29).

No entanto, quando colocamos em foco as especificidades das Ciências Naturais, de uma parte, e das Ciências Sociais, de outra parte, devemos levar em conta que a metodologia de pesquisa adotada não será a mesma, nos dois casos. Isso porque, por um lado, no que se refere às Ciências Naturais, a metodologia é marcada por um distanciamento entre o pesquisador e o seu

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Minayo (2002) reconhece que o conceito de metodologia é um assunto amplamente controverso. “Há quem o iguale a métodos e técnicas [...]. Há quem o coloque no campo da epistemologia, separando-a da operacionalização [...]. Há quem separe teoria e método [...]. Portanto, discutir metodologia é entrar em um debate de idéias [sic], opções e práticas. (MINAYO, 2002, p. 18) A autora compreende que a metodologia está sempre ligada à reflexão teórica, o que significa dizer que diferentes inspirações teóricas contribuirão para diferentes metodologias de pesquisa. “Quando o pesquisador se move da teoria que fundamenta sua investigação para a seleção de métodos, ele passa a trabalhar na atividade de pesquisa propriamente dita, na qual será levado a delinear as técnicas e todos os outros instrumentos operacionais que possam contribuir para a construção e a validação do conhecimento.” (MINAYO, 2002, p. 20). “Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas [...]. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática.” (MINAYO, 2010, p. 15)

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A autora refere-se às experiências, capacidades intelectuais de compreensão e análise da realidade, comprometimento com a pesquisa e raciocínio lógico inerentes a cada pesquisador no momento de investigação de um dado fenômeno. “Esse conjunto de elementos diferencia

os resultados das investigações, ainda quando vários pesquisadores trabalhassem, objetivamente, com os mesmos objetos e as mesmas indagações.” (MINAYO, 2002, p. 20,

grifo nosso)

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Minayo (2004), quanto à utilização de teorias e métodos em uma pesquisa, alerta sobre o “[...] endeusamento e reificação [dos métodos] [que] conduzem ao empirismo tão freqüente [sic] ainda nas ciências sociais [sic]. Mas o contrário, isto é, a excessiva teorização e a pouca disposição de instrumentos para abordar a realidade, provenientes de uma perspectiva pouco heurística, conduzem a divagações abstratas ou pouco precisas em relação ao objeto de estudo.” (MINAYO, 2004, p. 23)

objeto de pesquisa (MINAYO, 2004). Por outro, no que diz respeito à pesquisa social, pode-se afirmar: “A visão de mundo do pesquisador e dos atores sociais estão implicadas em todo o processo de conhecimento, desde a concepção do objeto até o resultado do trabalho.” (MINAYO, 2004, p. 21)

Quanto ao objeto da pesquisa social, esse possui quatro características fundamentais que o diferenciam daquele abordado pelas pesquisas físicas ou biológicas, a saber: 1. seu “caráter histórico”, ou seja, ele é passageiro, transitório, efêmero; 2. é dotado de “consciência histórica”, produto de um processo histórico determinado; 3. mantém “identidade” com o sujeito que o observa, pois pesquisador e pesquisado fazem parte da “mesma” realidade social; e 4. é essencialmente qualitativo (MINAYO, 2004).

Observa Minayo (2004):

A rigor qualquer investigação social deveria contemplar uma característica básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição

social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Implica também considerar

que o objeto das ciências sociais [sic] é complexo, contraditório, inacabado, e em permanente transformação (MINAYO, 2004, p. 22, grifo do autor)

Observações importantes ainda a respeito dos significados que assume uma pesquisa social podem ser extraídas de Bauer, Gaskell e Allum (2002). Para os autores em questão, uma pesquisa desse tipo deve levar em conta “[...] dados sobre o mundo social — que são o resultado, e são construídos nos processos de comunicação” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 20). Os autores distinguem dois tipos de comunicação: a formal e a informal. Além disso, as informações úteis à pesquisa podem ser coletadas em diversos meios — por exemplo: textos, imagens e materiais sonoros (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002). “Dados informais são gerados menos conforme as regras de competência, tais como capacidade de escrever um texto, pintar ou compor uma música, e mais do impulso do momento, ou sob a influência do pesquisador” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 21), contribuindo para uma pesquisa social, cujo objetivo é buscar a “[...] maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e

como elas pensam sobre suas ações e as dos outros” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 21). Já quando se trata da comunicação formal, os meios para tal expressam competências e conhecimento especializado (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002). “As pessoas necessitam de treino para escrever artigos de jornal, para produzir desenhos para um comercial, ou para criar um arranjo para uma banda popular ou para uma orquestra sinfônica” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 21). Os autores entendem, pois, que dados formais tendem a reconstruir “[...] as maneiras pelas quais a realidade social é representada por um grupo social” (BAUER; GASKELL; ALLUM, 2002, p. 22), ou seja, constituem-se em um indicativo de uma visão de mundo.76

2.2. Natureza, dados e fontes da pesquisa que embasa este