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A teoria que dá sustentação ao desenvolvimento dessa pesquisa científica, para realizar as análises e discussões dos dados, nos impõe o caminho da epistemologia e da história sustentado pela concepção materialista e dialética da história, pois, somente essa teoria nos possibilita a apropriação dos nexos e contradições materiais que determinam as condições nas quais a produção do conhecimento – teses – dos professores do curso de Educação Física da UFBA foi elaborada. Ademais, para que possamos conhecer, compreender e explicar os resultados extraídos das análises das produções (teses) na conjuntura, partiremos de elementos da realidade, tendo a contradição como categoria central para o desenvolvimento do nosso pensamento, e assim realizar uma análise rigorosa sustentada pela correlação entre o lógico- histórico.

Conforme aponta Kopnin (1978), a correlação entre o histórico e o lógico permite ao pesquisador apreender no movimento do pensamento a verdade objetiva do fenômeno pelo processo de abstração do real, e os define da seguinte forma:

Por histórico subtende-se o processo de mudança do objeto, as etapas de seu surgimento e desenvolvimento. O histórico atua como objeto no pensamento, o reflexo do histórico, como conteúdo. O pensamento visa a reprodução do processo histórico real em toda a sua objetividade, complexidade e contrariedade. O lógico é o meio através do qual o pensamento realiza essa tarefa, mas é o reflexo do histórico em forma teórica, vale dizer, é a reprodução da essência e da história do seu desenvolvimento no sistema de abstrações. O histórico é primário ao lógico, a lógica reflete os principais períodos da história. A lógica do movimento do pensamento tem como umas de suas leis principais a ascensão do simples ao complexo, do inferior para o superior, e esse movimento do pensamento expressa a lei do desenvolvimento do fenômeno do mundo objetivo. A lógica fornece a forma de desenvolvimento em aspecto puro, que, literalmente, em a sua pureza, não se realiza em nenhum processo histórico. No entanto a forma lógica de desenvolvimento reflete o processo histórico, daí ser ela necessária para interpretá-lo (KOPNIN, 1978, p. 183-184).

Assim, para não ficarmos na abstração especulativa de analisar apenas os dados coletados logicamente sem estabelecermos a relação entre o que determina externa e internamente a produção do conhecimento, é preciso pôr no movimento da história os fatos que geram as diferentes formas de produção das ideias desde seu surgimento até sua forma atual. Dessa forma, para análise do nosso objeto de pesquisa partimos da compreensão de Kopnin (1978) ao sinalizar que:

Os estudiosos devem o estudo do objeto pelo fim a partir da sua forma mais madura, do estádio de desenvolvimento em que aspectos essenciais estão

suficientemente desenvolvidos e não estão disfarçados por causalidade que não relação direta com ela. À base do estudo da fase superior, madura de desenvolvimento do objeto fazem-se as definições primárias de suas essências. Essas distinções tem o caráter abstrato, são insuficientemente profundas mais indispensáveis como linha no estudo do processo histórico de desenvolvimento do objeto; elas atuam com ponto de partida no estudo do objeto, porquanto reflete em certa medida o processo de afirmação e desenvolvimento do objeto. [...] Isso significa que a reprodução da essência desse ou daquele fenômeno no pensamento constitui ao mesmo a descoberta da história desse fenômeno, que a teoria de qualquer não pode deixar de ser também a sua história (KOPNIN, 1978, p. 184).

Considerando a produção do conhecimento da Educação Física enquanto produto da atividade humana que vem sendo acumulado, modificado e transmitido das gerações precedentes as gerações subsequentes, tendo como categoria central no seu desenvolvimento o trabalho, somos obrigados a reconhecer como esse conhecimento foi e continua sendo produzido e reproduzido pela humanidade. De acordo com Frigotto (2008):

Os homens na busca incessante de satisfazer suas múltiplas e sempre históricas necessidades de natureza biológica, intelectual, cultural, afetiva e estética, estabelecem as mais diversas relações sociais. A produção do conhecimento e sua socialização ou negação para determinados grupos ou classes não é alheia ao conjunto de práticas e relações que produzem os homens num determinado tempo e espaço. Pelo contrário nelas encontra a sua efetiva materialidade histórica (FRIGOTTO, 2008, p. 3).

Nesse sentido, é fundamental para nossa pesquisa a compreensão da produção do conhecimento – teses – dos professores do curso de Educação Física UFBA localizada no seio do sistema produtivo, que nega o trabalho enquanto categoria ontológica pela subsunção do capital. Assim, buscaremos os nexos e o movimento para entender, no processo contraditório do modo como homens produzem a existência, como as ideias de um tempo estão diretamente ligadas as condições materiais.

Para consubstanciar a análise da pesquisa, compreendendo que as ideias são representações da realidade, tomamos como tese central a síntese apresentada por Marx (2008) no prefácio A Crítica da Economia Política, que ao se deparar com um problema concreto na realidade sobre o roubo de lenha do Vale do Mozela realizou uma investigação crítica da filosofia do direito de Hegel, chegando a seguinte conclusão, essa que serviu de fio condutor para seus estudos:

[...] na produção social da sua existência que os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independente as suas vontades, relações de produção que corresponde a um determinado grau de desenvolvimento

das forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações constitui uma estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica, política e a qual corresponde determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política, e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, determina sua consciência. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existente, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seis das quais ela se haviam desenvolvido até então. De forças produtivas que eram essas relações se convertem em entraves. Abre-se então uma nova etapa de revolução social. A transformação que se produziu na base econômica transforma mais ou menos lenta e rapidamente toda a colossal superestrutura. Quando se consideram tais transformações, convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção – que pode ser verificadas fielmente com ajuda das ciências físicas e naturais – e as formas jurídicas, políticas, religiosa, artríticas ou filosóficas, em resumo as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até o fim. Do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia que de si mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal época de transformação pela consciência que ela tem de si mesma. É preciso, ao contrário explicar essa consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as foças produtivas sociais e as relações de produção (MARX, 2008, p. 47-48).

Esta citação nos sinaliza a primordialidade de não tratarmos a produção do conhecimento de forma isolada, como mera abstração, mas compreendendo-as num determinado período histórico. Essa necessidade vem sendo apontada no âmbito da Educação Física por Peixoto (2007), a partir da apropriação das obras Marx e Engels, em sua Tese de doutorado: Estudos do lazer no Brasil apropriação da obra de Marx e Engels. Para a autora:

Trata-se de compreender as condições nas quais os homens reais estão

produzindo as suas representações, as suas ideias. Trata-se de procurar

explicações para a produção dos estudos do lazer no Brasil no modo de

produção e reprodução da existência, materializado no estágio de desenvolvimento das forças produtivas e nas relações de produção que lhe correspondem. Trata-se, em última instância, da tentativa de compreensão

do movimento da produção do conhecimento referente aos estudos do lazer no Brasil no movimento mais amplo do modo de produção baseado no capital monopolista e imperialista, que empurra todo o mundo subordinando- o às suas injunções. Um movimento marcado por conflitos violentos de interesses entre classes de homens que ocupam posições diametralmente opostas. Trata-se de compreender as repercussões e as características destes conflitos no Brasil e, em última instância, de buscar as explicações e conexões entre este movimento mais amplo e a produção do conhecimento referente aos estudos do lazer (PEIXOTO, 2007, p. 5-6).

A sinalização de Peixoto nos coloca a tarefa de reconhecer nos formuladores da concepção materialista e dialética da história a forma como estes estabelecem a relação entre

as formulações das ideias e a inter-relação com as condições materiais da existência humana. Desse modo, é possível reconhecer que a produção do conhecimento não está diretamente ligada à vontade dos pesquisadores, mas advém das relações sociais de produção que por eles são estabelecidas.

Nesse sentido Politzer (1969) explicita que a luta das ideias é expressão da posição que os indivíduos assumem dentro do modo de produção no qual estas são produzidas. Assim, vivendo numa conjuntura pós-revolucionária na União Russa Socialista Soviética, o autor sistematiza no livro Princípios fundamentais de filosofia, a partir de um curso que ministrou para a formação de quadros políticos: trabalhadores, estudantes, professores, pesquisadores e domésticos, que frequentavam a Universidade Nova – universidade socialista para manutenção de um projeto histórico socialista que estava em instalação –, os elementos centrais da filosofia marxista e aponta que:

A cada momento da história e em todas as sociedades coexistem ideias diferentes, ideias opostas, que são reflexo das contradições objetivas da sociedade. Essas ideias, contudo não tem todas, o mesmo valor: umas tendem a manter a sociedade nos velhos trilhos; outras tende a dar-lhe um novo caminho. Nas sociedades em que existe a luta de classes antagônicas, o movimento das ideias contrárias é um reflexo da luta de classe10: a luta das ideias pode assumir uma forma violenta e repressiva. Os homens tomam consciência dos problemas que se colocam na sua época através da luta das ideias, que preparam o caminho para as descobertas de soluções que captam a própria realidade (POLITZER, 1969, p. 271).

Isto é, Politzer (1969) defende a livre luta das ideias, por compreender que a classe dominante reprime as novas ideias que se colocam enquanto força contrária a sua manutenção e atua para alteração da ordem vigente, advogando a liberdade de expressão em causa própria. Além disso, o autor afirma que a concepção materialista e dialética da história é uma ferramenta que permite ao pesquisador “[...] saber situar-se na batalha das ideias, não colocando todas no mesmo plano, e, além disso, distinguir os interesses que elas ocultam” (POLITIZER, 1969. p. 272).

Precisamos então entender, ao tratar da produção do conhecimento em Educação Física, que a categoria totalidade não significa analisar tudo da produção, nem tão pouco a unir uma série de fatos, mas, sobretudo, descobrir a natureza da realidade social, partindo da aparência fenomênica, eliminando a sua “pseudoconcreticidade” para chegar ao conhecimento inserido na realidade social como unidade dialética da formação social e da superestrutura,

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estabelecendo assim, a relação com os sujeitos históricos. Portanto, a totalidade nos permitirá no movimento de “ascensão do abstrato ao concreto” buscar a essência do fenômeno pesquisado (KOSIK, 1979, p. 44).

O método de ascensão do abstrato ao concreto é defendido por Marx (2011) na crítica a Hegel no texto O Método da Economia Política. Para Marx o abstrato é objeto descolado das suas determinações internas e externas, que se reduz a uma explicação conceitual simples, representando caoticamente o todo, já o concreto, é o real representado pela abstração que alcança minuciosamente a menor parte determinante do objeto, retornando ao real rico em determinações. Por isso Marx inverte a lógica de pensamento e expõe na forma científica uma abstração pelo concreto, pois:

O concreto é concreto porque é síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade da diversidade. Por essa razão, o concreto aparece como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida efetivo e, em consequência, também o ponto de partida da intuição e representação. [...] as determinações abstratas levam à reprodução do concreto no pensamento. [...] o método de ascender do abstrato ao concreto é somente o modo do pensamento de apropriar-se do concreto, de reproduzi-lo como um concreto mental. Por essa razão, pra a consciência para qual o pensamento conceitualizante é o ser humano efetivo – e a consciência filosófica é assim determinada –, o movimento das categorias aparece, por conseguinte, com ato de produção efetivo – que infelizmente, recebe apenas um estímulo superior –, cujo resultado é o mundo efetivo e isso – que, no entanto é uma tautologia – é correto na medida em que a totalidade concreta como totalidade do pensamento, como um concreto de pensamento, é de fato um produto do pensar, do conceituar; mas e forma alguma é um produto do conceito que pensa fora e acima da intuição e da representação em conceitos o todo com um todo de pensamentos, tal com aparece na cabeça, é um produto da cabeça pensante que se apropria do mundo do único modo que lhe é possível, um modo que é diferente de sua apropriação artística, religiosa e prático-mental. O sujeito real, com antes, continua a existir em sua autonomia forma da cabeça; isso claro, enquanto a cabeça se comportar apenas de forma especulativa, apenas teoricamente. Por isso, também no método teórico o sujeito, a sociedade, tem de estar continuamente presente com pressuposto da representação (MARX, 2011, p. 54-55).

Diante dessa assertiva de Marx (2011), nossa pesquisa está fundamentada numa investigação que parte dos fatos: a produção do conhecimento de professores do curso de Educação Física da UFBA, e as determinações da formação social brasileira, estabelecendo desse modo, a relação entre o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção.

Já na discussão epistemológica utilizamos a categoria empírica realidade, considerando o que existe no concreto. Essa categoria é de fundamental importância nas

análises da produção do conhecimento em Educação Física, pois permite reconhecer possibilidades “superadoras” para essas elaborações teóricas, haja vista, que o par dialético da realidade e possibilidade em movimento nos permite a apropriação mais aprofundada sobre as produções, apontando assim, os limites e as possibilidades explicativas superadoras, não pelos nossos desejos, mas pelo reflexo real do objeto em nossa consciência. Para ampliar as reflexões a partir dessas categorias nos fundamentamos em Kosik (1972), Kopnin (1972 e 1978), Politzer (1967) e Marx (1996; 2007).

Para avançar nesse processo de análise epistemológica, utilizamos os estudos desenvolvidos por Sánchez-Gamboa (1998; 2010), Chaves (2005), Silva (1997), Peixoto (2009) e Sá (2009), uma vez que essas posições teóricas apresentam contribuições que nos permitem avançar em novas possibilidades explicativas sobre as análises epistemológicas, considerando a modalidade investigação proposta por esta pesquisa.

Ademais, a análise dos dados da pesquisa precisa estar situada no contexto histórico da luta de classes para compreender como as alterações nas ideias estão conjugadas com as modificações da formação social. Para isso, é preciso partir da concepção de história desenvolvida por Marx e Engels (2014) que consiste em:

[...] em desenvolver o processo real da produção a partir da produção material da vida imediata e em conceber a forma de intercâmbio conectada a esse modo e produção e por ele engendrada, quer dizer, a sociedade civil em seus diferentes estágios, como fundamento de toda história, tanto a apresentando em sua ação como Estado como explicando a partir dela o conjunto das diferentes criações teóricas e formas de consciência- religião, filosofia, moral etc. etc. - e em seguir o seu processo de criação, o que então torna possível, naturalmente, que a coisa seja apresentada em sua totalidade (assim como a ação recíproca entre esses diferentes aspectos). Ela não tem necessidade como na concepção idealista da história, de procurar uma categoria em cada período, mas sim permanecer constantemente sobre o solo da história real; não de explicar a práxis partindo da ideia, mas de explicar a formação das ideias a partir da práxis material e chegar, com isso, ao resultado de que todas as formas [todos os ] produtos da consciência não podem ser desenvolvidos para obra da crítica espiritual, por dissolução na “autoconsciência’ ou sua transformação em “fantasma”, “espectro”, “visões’ etc., mas apenas pela demolição prática das relações sociais reais de onde provêm essa imaginações idealistas; não é a crítica, mas a revolução a força motriz da história e também da religião, da filosofia, e de toda forma de teoria. Essa concepção mostra que a história não termina em dissolver-se com “espírito do espírito” na “autoconsciência”, mas que em cada um do estágio encontra-se um resultado material, uma soma de forças de produção, uma relação historicamente estabelecida com a natureza e que os indivíduos estabelecem uns com os outros; relação que cada geração recebe da geração passada, uma massa de forças produtivas, capitais e circunstâncias que, embora seja por um lado modificada pela nova geração por outro lado prescreve a esta última suas próprias condições de via e lhe confere um

desenvolvimento determinado, um caráter especial- que, portanto, as circunstâncias fazem os homens, assim com os homens fazem as circunstancias (MARX e ENGELS, 2014, p.42-43).

Trata-se, portanto, de estabelecer a relação direta entre a forma como a produção do conhecimento em Educação Física é concebida e o movimento das condições materiais estabelecidas pelo modo de produção capitalista em cada momento histórico, compreendendo o seu caráter social e as suas implicações advindas pela apropriação desse conhecimento pelas gerações posteriores.

Assim, buscamos apreender na formação social o desenvolvimento político- econômico brasileiro nos diferentes períodos até o capitalismo monopolista, considerando o seu movimento mais geral, a partir das elaborações científicas desenvolvidas por Braverman (1987), Hardman e Leonardi (1982), Hobsbawm (2012), Junior e Fernandes (2012), Arruda (2012) e Sodré (1990; 2008), bem como outras referências, que tratam da formação social brasileira.

Posto a base de sustentação teórica da pesquisa, apresentaremos na próxima seção os procedimentos metodológicos da pesquisa, a fim de explicitar o caminho desenvolvido para levantamento, análise, e síntese do nosso objeto de investigação.