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Foto 05 – Local das Atividades (corredor de um salão paroquial

3 ENVELHECIMENTO E IDOSO: TEORIAS, IMAGENS E CONCEPÇÕES

3.2 TEORIAS PSICOLÓGICAS DO ENVELHECIMENTO

Essas teorias, assim como as demais anteriormente explicitadas, surgem da tentativa de se entender porque envelhecemos e que mudanças estão associadas a esse processo. Utilizam abordagens interdisciplinares e defendem uma perspectiva de desenvolvimento ao longo da vida. Para tanto, compreendem o envelhecimento e a velhice como eventos naturais do ciclo de vida, gerando subsídios tanto para uma melhor compreensão dos eventos que circundam esse processo, quanto para a preparação dos indivíduos e da sociedade frente a essa etapa do ciclo de vida, a velhice.

Segundo Neri (2013), depois da medicina, a psicologia é a área que mais vem se dedicando e dando contribuições para a gerontologia no concernente ao estudo do envelhecimento e da velhice. Essa autora nos aponta que existem alguns paradigmas que fomentam a discussão sobre os aspectos psicológicos, dentre eles, o paradigma22 mecanicista, o organicista, o dialético, o de curso de vida e o de desenvolvimento ao longo da vida ou o mais comumente chamado de life- spam.

Acredita-se que as teorias psicológicas do envelhecimento possam contribuir para a descrição e explicação de algumas mudanças comportamentais ao longo do envelhecimento. Para tanto, deveriam valorizar a heterogeneidade dos indivíduos e do processo, entendendo que povos diferentes em sociedades diferentes envelhecem de forma diferente. Que o contexto sócio-histórico influencia fortemente a história pessoal e de envelhecimento e, por fim, que possam trazer subsídios para o entendimento das relações de alguns processos psicológicos (motivação e cognição) com o envelhecimento.

Considerando os conteúdos acima expostos e fomentados nos estudos de Neri (1995; 2013), apresentamos as teorias psicológicas do envelhecimento.

22 Muito embora Bernadete Gatti faça advertência e fale sobre a vulgarização no uso do termo paradigma, a autora Neri (2003) utiliza-o, considerando ser este um modelo a ser seguido.

3.2.1 Paradigma mecanicista

Traz como ideia central o ser humano como máquina, que funciona e se desenvolve a partir de forças externas. Toda evolução e funcionamento das ações intelectuais, fisiológicas e motoras é resultado de uma relação de estímulos e respostas advindos do meio. Para os seus idealizadores, o avanço da idade acarreta diminuição das capacidades intelectuais dos indivíduos, sendo o desenvolvimento cessado após a adolescência, negando a possibilidade de qualquer tipo de desenvolvimento durante o envelhecimento e a velhice.

3.2.2 Paradigma organicista

Na visão organicista, o desenvolvimento é “uma sucessão de estágios regulados por princípios intrínsecos de mudança, para cuja manifestação os determinantes sociais, históricos e culturais oferecem as condições.” (NERI, 2013, p. 35). Ainda segundo a autora citada, esse paradigma pode ser resumido em seis noções norteadoras: (1) sequencialidade das transformações; (2) unidirecionalidade; (3) orientação à meta; (4) universalidade; (5) natureza estrutural-qualitativa das transformações; (6) universalidade dos processos de mudança.

Com o paradigma organicista inicia-se o desenvolvimento dos estudos que acreditam na capacidade que o ser humano tem de se desenvolver, mesmo diante das inúmeras alterações circundantes do processo de envelhecimento e da velhice. O teórico e psicanalista Erik Erikson foi um pioneiro na consideração do desenvolvimento como um processo que perdura a vida toda. Entendia o desenvolvimento como uma sequência de crises psicossociais e de tarefas evolutivas que se desdobram ao longo de toda a vida.

O grande intento dessa teoria é explicar e comprovar, que o desenvolvimento está presente no indivíduo desde o nascimento até o fim da vida, cabendo ao ambiente dar oportunidade e condições para que esse potencial se manifeste. Dessa forma, a velhice faz parte do ciclo de vida, sendo um momento de perdas e de ganhos. Perde-se em termos biológicos e fisiológicos, mas se ganha em sabedoria e experiência para lidar com as adversidades advindas dessa etapa da vida e da própria vida. Na verdade, a de Erik Erikson se destacou na época e se destaca até os dias atuais na gerontologia social, pela reflexão que nos faz tecer sobre a totalidade do ser humano e sua capacidade de desenvolvimento permanente.

3.2.3 Paradigma dialético

Percebe o desenvolvimento como processo permanente de conciliação entre determinantes inatos-biológicos, individuais-psicológicos, culturais-psicológicos e naturais- ecológicos. Baseia-se nas noções de mudança e contradição. Valoriza e focaliza a interação dinâmica do indivíduo com os processos ontogenéticos (individuais) e histórico- culturais (coletivo-evolutivo) e a relação entre esses processos na determinação de novos comportamentos e do desenvolvimento.

A justo título, Neri (2013) sustenta que “[...] o pensamento dialético implica a aceitação da ideia de que pode haver interação recíproca entre as contradições.” (p. 36). A exemplo disso, essa mesma autora traz as noções de assimilação e acomodação da teoria de Piaget. Essa teoria designa a acomodação como a experiência que muda as estruturas mentais e a assimilação como estruturas mentais que transformam a experiência.

Dessa forma, o paradigma dialético que os elementos gerados para o enfrentamento de novos desafios, caracterizam-se como desenvolvimento, e isso acontece também durante a velhice, quando os idosos precisam constituir elementos de adaptação frente às transformações fisiológicas, físicas, psicológicas e, sobretudo, sociais.

3.2.4 Paradigma do curso de vida

Nesse paradigma, conceitos como interação social e socialização são conceitos básicos. O desenvolvimento é visto como um processo contínuo, em que ambiente e sociedade influenciam diretamente a construção da trajetória de desenvolvimento individual. Contrapõe-se aos que defendem o desenvolvimento como processo balizado pela idade cronológica ou por crise evolutivas, uma vez que acredita que

[...] a sociedade constrói cursos de vida ou trajetórias de desenvolvimento, na medida em que prescreve quais são os comportamentos apropriados para as diferentes faixas etárias, e ensina os indivíduos e instituições a considerar que certas trajetórias são normais e esperadas, como se isso fosse natural, e não criado socialmente (NERI, 2013, p. 38).

A teoria do curso de vida leva em conta algumas variáveis para o desenvolvimento do adulto e do idoso. Dentre elas, o processo de construção social, o papel do “eu” nas funções sociais, e a natureza interpessoal dos indivíduos.

3.2.5 Paradigma de desenvolvimento ao longo da vida (Life-Spam)

Esse paradigma apresenta-se numa perspectiva pluralista, considerando múltiplos níveis e dimensões do desenvolvimento. Compreende que tal processo ocorre pela interação dos eventos individuais, seguidos pela perspectiva organicista, com os aspectos sociais e históricos, expostos pelo paradigma do curso de vida e o dialético.

A perspectiva do desenvolvimento ao longo da vida aponta três classes de influências biopsicosociais para o desenvolvimento. São elas, (1) as graduadas por idade; (2) as graduadas pela história; (3) as não normativas ou idiossincráticas.

É a partir de Neri (2013) que abordaremos cada uma delas, considerando o destaque que essa autora dá para a análise do desenvolvimento e envelhecimento, enquanto uma sequência de mudanças genético-biológicas e mudanças psicossociais determinadas pelos processos de socialização.

3.2.5.1 Influências normativas graduadas por idade

São os eventos que tendem a acontecer com a maioria dos indivíduos na mesma época, dentro de uma sociedade e uma cultura. Esses eventos são, na sua maioria, de natureza biológica, e acontecem pela interação entre organismo e ambiente.

Dentre os eventos chamados normativos é citada a maturação de cada fase da vida (infância, adolescência e velhice). Chama a atenção para algumas mudanças do envelhecimento, como: diminuição da plasticidade comportamental, ou seja, possibilidade de mudar e adaptar-se ao meio; diminuição da resiliência, conceituada como a capacidade de enfrentar e de recuperar-se de grandes estresses (doenças, perdas, traumas).

3.2.5.2 Influências normativas graduadas pela história

Diz respeito aos eventos vividos pelos indivíduos em determinada cultura e sociedade, que vão dar origem a mudanças biossociais. Neri (2013) nos chama a considerar que as influências graduadas pela história não são homogêneas e variam de acordo com classe social, gênero e etnia. Aponta como exemplo as guerras, crises econômicas, fomes, epidemias, movimentos migratórios, intolerância política, violência, movimentos artísticos e reformas educacionais.

Os exemplos supracitados mostram que o desenvolvimento e o envelhecimento, mesmo estando embebidos em processos biológicos, sofrem influência de variáveis sociológicas, sendo afetados por interesses sociais. Para essa perspectiva, tanto crianças quanto adultos e idosos produzem respostas diante das situações de interação social e mais, “os adultos mais velhos beneficiaram-se mais do que as crianças, sugerindo a interveniência de influências sociais acumuladas.” (NERI, 2013, p.39).

3.2.5.3 Influências não normativas ou idiossincráticas

Caracteriza-se opostamente aos eventos normativos que geralmente afetam os indivíduos do mesmo grupo etário.São em sua maioria, de cunho biológico. As influências presentes no processo de desenvolvimento podem ser biológicas ou sociais e não estão claramente ligadas a ontogenia nem ao tempo histórico. Os efeitos das influências não normativas estão relacionados com a forma de enfrentamento dos indivíduos diante de eventos sociais e biológicos, que são imprevisíveis, interrompendo a sequência e o ritmo do curso de vida esperado.

Concluindo, essas três classes da perspectiva do desenvolvimento ao longo da vida, caminha para a construção de regularidades e irregularidades presentes no curso de vida, que vão influenciar o processo de desenvolvimento e envelhecimento, mas que consideram a subjetividade humana.