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2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.3 Aprendizagem organizacional

2.3.3 Teorias sobre a aprendizagem

Para entender as relações entre a aprendizagem individual e a aprendizagem organizacional é necessário recuperar o pensamento de alguns autores sobre a aprendizagem.

Inicia-se pela teoria da Gestalt. Ela tem por objetivo pesquisar o processo de aprendizagem por insights (estalo mental ou inspiração), na qual o indivíduo que tem um insight vê uma situação de uma nova maneira, maneira esta que inclui compreensão das relaç ões lógicas ou percepção das conexões entre meios e fins; o insight caracteriza-se como um processo que, quando completado, dá à pessoa a impressão de ter subitamente compreendido alguma coisa ou chegado à solução de um problema (Fleury, 1995).

Ao tratar da aprendizagem, Garden (apud Fleury, 1995) argumenta que os estudiosos organizacionais baseiam suas propostas no modelo mecanicista, que vê a pessoa como uma máquina, com postura passiva e reativa, sujeito apenas às forças exteriores. Ele argumenta que há um outro modelo, denominado organicista: vê o ser humano como um ser que interage com o ambiente, sendo uma fonte de ações. O modelo destaca as atribuições de interesses, esforço e motivação no processo de aprendizagem, não somente reação e estímulo.

Estudiosos da aprendizagem organizacional, como Fleury (1995), dizem que há duas vertentes teóricas que sustentam os principais modelos de aprendizagem, que são o modelo behaviorista (comportamental) e o modelo cognitivo. O modelo behaviorista tem como foco pr incipal o comportamento dos indivíduos, por ser observável e mensurável; implica o estudo das relações entre eventos estimuladores, respostas e conseqüências; planejar o processo de aprendizagem implica definir todo o processo de forma a ser observado, medido e replicado cientificamente. O modelo cognitivo pretende ser mais abrangente que o behaviorista, por explicar melhor os fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitos e solução de problemas. Procura utilizar dados objetivos, comportamentais e dados subjetivos; leva em consideração as crenças e percepções dos indivíduos que influenciam seu processo de apreensão da realidade (Fleury, 1995).

É importante ressaltar a contribuição dos estudos da neurociência, que trazem contribuições para o entendimento do processo de aprendizagem e para a construção de propostas sobre ela. Nesse campo destacam -se as descobertas e as pesquisas sobre a plasticidade do cérebro humano, que contribuem para o entendimento do processo cognitivo e para a construção de propostas sobre a aprendizagem. Os estudos sobre o funcionamento do cérebro humano destacam a sua ambigüidade, uma vez que, ao mesmo tempo em que é capaz de levar a pessoa a transcender, pode levar a comportamentos autolimitados. Os estudos realizados por Ferguson (apud Menegasso, 1998) descrevem que o lado direito do cérebro possui as características de não-verbal, sintético, concreto, espacial, intuitivo e holístico Pressupõe o desenvolvimento de atividades que satisfaçam as pessoas, flexibilidade e criatividade, enfatizando a autonomia, auto-realização, a participação das pessoas no processo de aprender, democratização e consenso, desejo de criar e inovar. Essas características do cérebro são interessantes à luz da tendência atual da aprendizagem organizacional que enfatiza o processo participativo e a disseminação democrática das informações e do conhecimento.

Outra teoria que merece destaque é a teoria da Cognição. Na obra "Teia da Vida", Capra (1996) afirma que na teoria dos sistemas vivos, a mente não é uma coisa, mas um processo. A cognição é o processo de conhecer, sendo identificado com o processo da própria vida. O autor destaca que essa é a essência da teoria de cognição de Santiago, apresentada por Humberto Maturana e Francisco Varela. Essa teoria da cognição tem suas origens na cibernética. Esta proporcionou à ciência cognitiva o primeiro modelo de cognição sob a premissa de que a inteligência humana assemelhava-se ao computador, de tal forma que a cognição podia ser definida como um processamento de informações. Nesse modelo, segundo Capra (1996), o processo de cognição envolve uma "representação mental". Assim como num computador pensava-se que a mente operasse manipulando símbolos,. Essa teoria parecia tão convincente que dominou todas as pesquisas em ciências cognitivas por mais de trinta anos.

Essa idéia de se imaginar o cérebro como um dispositivo de processamento de informações perdurou da década de 40 até a de 70, quando surgiu a concepção de auto-organização, questionando essa visão computac ional (Menegasso, 1998). As razões eram de que o processamento computacional é feito de forma seqüencial e, que qualquer dano em uma parte do sistema causa problemas no todo. Isso entra em conflito com as pesquisas de elasticidade do cérebro humano, que demonstram que ele pode sofrer lesões sem que isso implique no comprometimento de todas as suas funções.

Uma outra concepção foi a teoria da autopoiese, desenvolvida por Maturana, no Chile, nas décadas de 60 e 70. Ele identifica o processo de cognição com o processo da própria vida; os seres vivos sendo sistemas cognitivos e a própria vida como um processo de cognição. Essa concepção tem validade para todos os seres vivos, independentemente de terem sistema nervoso. A expressão autopoiese vem do grego, onde auto (si mesmo) refere-se à autonomia dos sistemas organizadores; e poiese (poesia, criação, construção); então autopoiese significa "autocriação". Essa teoria tem muitas implicações para a análise dos sistemas vivos,

de todos os tipos, biológicos, cognitivos ou sociais ao considerar o próprio ato de viver como sendo um processo de cognição.

A partir dessas constatações houve uma mudança de direção, dos símbolos para a conexidade, de regras locais para a coerência global, de processamento de informações para as propriedades das redes neurais (Menegasso, 1998). Na década de 80 os modelos conexionistas de redes neurais tornaram-se muito populares. Tais modelos partem do pressuposto que essas redes são compostas de elementos densamente interconexos, executando milhões de operações simultâneas gerando interessantes propriedades globais ou emergentes. Francisco Varela (apud Capra, 1996) explica que o cérebro é um sistema altamente cooperativo; as densas relações entre os seus componentes requerem que, no final, tudo o que esteja ocorrendo seja função daquilo que todos estes componentes estão fazendo.

Uma outra concepção baseada em habilidades foi desenvolvida por Robert Katz (1986). Ele expõe uma teoria em que um administrador bem sucedido parece apoiar-se em três habilitações básicas, que são: Técnica, Humana e Conceitual. A habilitação técnica envolve métodos, processos, procedimentos e técnicas. É o caso de um cirurgião, um músico, um pintor ou um cirurgião-dentista, que necessitam de conhecimento especializado, aptidão analítica dentro da especialidade e facilidade no uso de instrumentos e técnicas de cada matéria.

A segunda habilitação é a humana, que diz respeito à habilidade das pessoas trabalharem com as outras. A pessoa dotada de grande habilidade humana tem consciência de suas próprias atitudes, opiniões e convicções acerca das outras pessoas, possuindo habilidade para ouvir, perceber e respeitar as opiniões e convicções diferentes das suas; o que elas querem dizer com palavras e ações. Tem habilidade em com unicar, dentro do seu modo de pensar, aquilo que pretende dizer com o seu modo próprio de agir. Cria um clima de boa vontade e participação; tem habilidade para aceitar as melhores sugestões e colocá-las em execução; valoriza o

trabalho e as idéias do grupo. É uma habilidade que deve ser desenvolvida de forma natural, inconsciente e continuamente; deve tornar-se parte integrante do indivíduo. A habilidade humana é vital em tudo o que o administrador faz.

A última habilitação é a conceitual, que considera a empresa como um todo. Entende a organização de forma sistêmica, em que todas as áreas dependem umas das outras, onde qualquer mudança em uma delas, afeta o todo. Leva em consideração o ambiente em que a empresa está inserida, ou seja, comunidade, forças políticas, sociais e econômicas. Tem conhecimento dos stakeholders (entes que afetam ou são afetados pela organização) clientes, fornecedores, governos, concorrentes, etc.

Essas três habilitações, técnica, humana e conceitual são necessárias em diferentes graus, dependendo da posição em que o administrador se situa na estrutura organizacional. Essas posições hierárquicas podem ser divididas em três níveis principais: supervisão, intermediário e superior. No nível de supervisão é necessário que o administrador tenha uma grande habilitação técnica e humana. A habilitação conceitual necessária é muito pequena. No nível intermediário, ou seja o das médias gerências, continua sendo muito importante a habilidade humana; já a habilitação técnica é de menor grau; a habilitação conceitual deve ser bem maior do que a de um supervisor. No nível superior, da alta administração, a habilitação técnica é muito reduzida; a habilitação humana restringe-se aos relacionamentos com diretores e gerentes mais próximos. A habilitação conceitual é enorme, dela dependendo inclusive a sobrevivência da empresa.

Apesar de Katz ter formulado essa teoria com base nas habilidades gerenciais, acredita-se que ela tenha validade também para as pessoas que não são gerentes; os cientistas sociais têm demonstrado que as empresas necessitam cada vez mais das interações entre pessoas, do trabalho de equipe, comunicação em todos os sentidos, para cima com superiores hierárquicos, para baixo com subordinados, e para os lados com os colegas da mesma área ou de outras. Isso significa, que todos na organização necessitam dessas habilidades.

Acredita-se que as habilidades humanas e conceituais, princi-palmente, facilitam o processo de aprendizagem organizacional e a obtenção e disseminação do conhecimento na organização.