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Teorizando sobre interpretar: continuação do processo formativo

2 FORMAÇÃO DOCENTE: UM APRENDIZADO NA RELAÇÃO TEORIA E

2.3 A interpretação de textos de história no ensino e na aprendizagem

2.3.1 Teorizando sobre interpretar: continuação do processo formativo

Na continuidade desse processo formativo com a professora partícipe tivemos no dia 30 de março de 2011 o nosso segundo encontro. Nele, estabelecemos uma discussão sobre o texto: A interpretação de textos de história no ensino e na aprendizagem.

Antes de começarmos a discuti-lo, dirigimo-nos à partícipe dizendo:

Da Paz: – Dulce, o que você acha de estudarmos esse texto como fizemos no encontro anterior: com leitura silenciosa e pontuação daquilo que desejarmos discutir com mais afinco? Ou você quer apresentar alguma sugestão?

Dulce: – Pode ser conforme o estudo anterior.

Da Paz: – Então, hoje vamos iniciar nos detendo nos seguintes questionamentos:

• Para você, o que é interpretar?

• Como você vem desenvolvendo a interpretação de textos de história no Ensino Fundamental?

• Você tem alguma necessidade para melhor realizar a interpretação de texto de história com seus alunos?

O docente leu e ficou um pouco em silêncio refletindo; depois, falou acerca da primeira questão:

Dulce: – Interpretar é você compreender aquilo que você leu. Pode ser um texto, um trecho de um texto, uma frase, uma palavra só, apenas... Tem outra definição?

Da Paz: – Neste texto, que estudaremos, há definições de interpretação realizadas por vários autores. Como eles, você tem o seu entendimento e vai poder refletir, um pouco mais, por ocasião da leitura.

Dulce: – É isso, que entendo por interpretar, e estou passando para os alunos. Da Paz: – Neste sentido, de atuar com os alunos, como você tem trabalhado a interpretação de textos de história?

Dulce: – Você pega um livro de História e você vê muitos textos [...]. Então, sempre trabalhei com a interpretação de textos. Gosto de pedir: vamos lendo todo este texto; vão depois fichando aí o que vocês acharem mais importante. Depois, voltamos discutindo essa leitura todinha. Como, também, trabalho dessa forma: coloco um tema lá, que tem subtópicos, e peço para cada aluno ler um subtópico. E os outros, com seus livros, vão acompanhando a leitura do colega. Após a leitura de um subtópico vou discutir: O que foi isso? Como foi? Quem participou? Qual o objetivo? Para ver se eles realmente entenderam. Tenho trabalhado dessa forma porque acho que isso aí é uma forma de interpretar. Se ele terminou de ler e sabe responder alguma das perguntas que eu vou sempre fazendo, dentro daquela leitura, eu entendo isso aí como uma interpretação. Quando não, porque têm muitos que dizem: não entendi nada! Então, vamos ler de novo! Aí, às vezes, eu mesmo faço aquela leitura, até moderadamente, para ver se eles vão compreendendo os pontos. Trabalho assim...

Com o entendimento do que é interpretar, Dulce, demonstra-nos efetuar a interpretação com seus alunos, realizando a leitura individual do texto no seu todo, depois fazendo fichamento e discussão, e ainda, oferecer encaminhamento à leitura em voz alta por subtópicos – realizada por eles e pela professora – acompanhada de questionamentos feitos por esta àqueles.

A leitura, para essa partícipe, aparece como algo relevante, pois quando os alunos demonstram não entender o texto, ela é retomada. Quanto à leitura, por subtópicos, ela nos diz que, assim procede, devido haver resistência dos alunos para lerem textos longos, bem como a ausência de concentração deles, por muito tempo, na leitura desses textos. Isso nos fez refletir mais sobre o que vínhamos pensando: de começarmos as aulas (com a metodologia que utilizaríamos), fazendo uso de textos pequenos para facilitar a compreensão dos alunos.

Referente a essa leitura por subtópicos e, em seguida, uma discussão, consideramos importante lembrar que, dentre as ações constituintes do procedimento da interpretação, é preciso o aluno realizar uma primeira leitura do texto de forma integral para ter uma visão global do todo; fazendo o reconhecimento de alguns aspectos como a data de elaboração do texto e o título. Posteriormente, vêm outras leituras nas quais se vai explicitar o que se encontra manifesto e obscuro e realizar a crítica. O modo como a professora realiza, gera um entendimento fragmentado do conteúdo em estudo. Já quando ela pede que os discentes leiam todo o texto, façam fichamento para, depois, acontecer a discussão, isso pode favorecer o processo interpretativo.

Após nos dizer como trabalhava a interpretação de textos de história, a docente nos falou do seu anseio e necessidade formativa, respondendo ao terceiro questionamento (acima citado), ou seja: Você tem alguma necessidade para melhor realizar a interpretação de texto de história com seus alunos?

Dulce: – Estou ansiosa para ver como são essas atividades porque até hoje, nessa minha experiência de 25 anos de sala de aula, ensinando História, Português, Matemática, Ciências (porque eu já ensinei no Ensino Fundamental – anos iniciais, também) você encontra várias metodologias, estratégias de trabalhar (principalmente em Língua Portuguesa), mas dentro da História eu procuro e não sei. A não ser lendo, discutindo, debatendo essa História, levando o aluno a pensar, a construir suas respostas.

O anseio, a curiosidade e o interesse, expressos nessa fala, foram ao encontro do nosso empenho no atendimento a essa necessidade da docente – de uma metodologia, diferente da que vem usando para melhor desenvolver a interpretação de textos nas aulas de História. Apreendemos, ainda que, com estas palavras ler, discutir, debater, pensar e construir respostas (relacionadas ao aluno), no ensino de História, a partícipe revelava uma preocupação com a aprendizagem e desenvolvimento da expressão oral e do pensamento do discente.

Após esse momento, iniciamos uma leitura silenciosa do texto A interpretação de textos de história no ensino e na aprendizagem. Tal texto, expusemos ao leitor (acima).

Concluída essa modalidade de leitura, continuamos o diálogo com a professora partícipe:

Da Paz: – Dulce, há algo que você gostaria de destacar? Ou algum ponto que lhe chamou atenção ou que mereça questionamento?

Dulce: – Tem um ponto aqui que achei interessante, quando relacionado ao que eu disse: que interpretar é compreender... O ponto é um pensamento de Chladenius, citado por Gadamer, que diz: interpretar significa "acrescentar aqueles conceitos necessários para a compreensão plena de uma passagem”... E a compreensão “é, antes, uma experiência autêntica, isto é, encontro com algo que se impõe como verdade”.

Da Paz: – A interpretação, nesse sentido, contribui para a compreensão. A compreensão, como essa “experiência autêntica”, ocorre no encontro com o texto, por ocasião da realização da interpretação.

Dulce: – Eu percebi e achei importante os autores fazerem uma diferença entre interpretação e compreensão... Mas, na minha concepção, se você não interpreta não vai compreender e sem compreender você, também, não interpretou.

O exposto nos evidencia que Dulce mantém o seu entendimento (apresentado anteriormente) de que interpretar é compreender e discorda dos autores Chladenius e Gadamer (2004), quando diferenciam a interpretação da compreensão, mesmo julgando interessante eles estabelecerem essa diferença.

Nesse momento, a nossa reflexão foi prática, visto que o diálogo foi efetivado com pouco estabelecimento de relação com o referencial teórico adotado. Não oportunizamos à docente ampliar seu entendimento quanto à diferença que há entre compreender e interpretar; que existe uma inter-relação entre esses dois aspectos no âmbito do psiquismo e que, mesmo apresentando uma unidade dialética, cada um mantém suas especificidades.

Dando sequência ao diálogo, pedimos que a partícipe continuasse...

Dulce: – Quanto a uma parte que fala sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais de História eu acho, pelas leituras que eu tenho dele que há algo vago... Aqui, nesse texto, você fala que ele diz assim: que as interpretações dos alunos acerca das relações interpessoais, sociais, econômicas, políticas e culturais, presentes no mundo de hoje e em realidades históricas distintas, devem ser cada vez mais críticas. Mas, de que forma esse aluno deve fazer, construir essa crítica? O que deve observar? Como o professor deve proceder para que o aluno aprenda a criticar?

Da Paz: – Esse documento não discute como procedermos para realizar a interpretação. Ele nos sugere um trabalho com temas e que, para interpretá- los, o aluno precisará considerar as respectivas épocas, da construção do que sobre esses temas há documentado. E, já que você pensa a crítica, como fazermos um trabalho com ela na interpretação de textos de história? Sobre isso, vamos poder lhe oferecer uma sugestão: a metodologia, que pretendemos desenvolver, com você, para ensinar o aluno a interpretar textos de história, considera a crítica. Gostaria de acrescentar algo a mais? Tem alguma dúvida?

Dulce: – Tenho dúvida com relação ao mapa da atividade.

Na tentativa de contribuir para dissipar a dúvida da partícipe, com relação a esse mapa, passamos a discuti-lo, esclarecendo como ele foi construído e o seu sistema de ações (já explicitado, ao leitor, no texto síntese acima). Feito isso, e não havendo mais algo a ser esclarecido, encerramos esse momento de formação combinando com Dulce o estudo, sobre a teoria de P. Ya. Galperin, a ser desenvolvido no nosso próximo encontro.

Considerando a natureza social da atividade psíquica do homem, Galperin (1995c,d,f) constituiu uma etapa lógica no desenvolvimento da ciência na União Soviética tendo por base as contribuições de Vygotsky e Leontiev, dentre outros. Ele colaborou para o desenvolvimento teórico e experimental das teorias Histórico-Cultural e da Teoria da Atividade.

Galperin (1995c,d,f) nos presta uma contribuição metodológica científica para a atividade de ensino. Explicita que a apropriação do conhecimento ocorre em etapas, na passagem da experiência do mundo social à experiência do mundo interno. Pensada quanto ao processo de formação de conceitos, com uma implicação didática, para essa teoria são fundamentais as seguintes etapas de assimilação de ações mentais: motivacional, de estabelecimento do esquema da Base Orientadora da Ação (BOA), de formação da ação no plano material ou materializado, de formação da ação na linguagem externa e, por último, a mental as quais não devem ser consideradas de forma linear.