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É preciso informar que essa descrição aqui apresentada foi baseada em uma pesquisa qualitativa cujo contexto de realização foi o Centro de Orientação Médico-Psico pedagó- gica – COMPP, órgão pertencente à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). O objetivo do COMPP é prestar atendimentos de natureza multi e interdisci- plinar em saúde mental (neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, fono- audiólogos, pedagogos, psicopedagogos, assistentes sociais, enfermeiros e professores de educação física) à criança, ao adolescente e seus respectivos familiares do Distrito Federal e do entorno, em diferentes níveis de prevenção (primária, secundária e terciá- ria). A Unidade acolhe tanto pacientes que apresentam sofrimento psíquico leve, como grave (neurose, psicose, transtornos invasivos do desenvolvimento, entre outros). A mé- dia anual de atendimentos é de 34 mil. A adoção de métodos grupais visa maximizar atendimentos e otimizar tanto filas de espera como encaminhamentos provenientes do sistema de Justiça.

Seleção das famílias - Para a seleção das famílias participantes utilizou-se como instru-

mento de apoio uma entrevista semiestruturada com a finalidade de obter informações sobre a estrutura familiar, as condições socioeconômicas, as regras familiares, caracte- rísticas da violência cometida pelo adolescente, entre outras informações. Essa entrevis-

ta é realizada antes do início do GM. Os critérios de inclusão no GM são: adolescentes do sexo masculino, com idade entre 12 e 18 anos incompletos, encaminhados pela rede de proteção do Distrito Federal e do entorno (Conselho Tutelar – CT, Centro de Referên- cia de Assistência Social – CRAS, Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – MPDFT – e Vara da Infância e da Juventude – V. I. J.), que abusaram sexualmente de alguma criança da família ou de alguma criança de convivência próxima. Os critérios de exclusão são adolescentes com deficiência mental que cometeram abuso sexual, adoles- centes sem vínculos familiares e adolescentes com 18 anos completos.

Procedimentos - Após a seleção das famílias, o GM se iniciou com um planejamento de

sete encontros. Cada encontro teve a duração média de três horas. Em relação à equipe de atendimento, esta foi composta por cinco psicólogos (um do sexo masculino e qua- tro do sexo feminino), uma assistente social, dois estagiários de psicologia (um do sexo masculino e uma do sexo feminino) e uma estagiária de pedagogia. A infraestrutura foi composta por uma sala grande o suficiente para reunir todos os membros de todas as famílias, mais três salas médias para realizar atividades com grupos específicos. Os subgrupos eram de pais e mães (alocados na sala grande e tiveram como profissio- nais responsáveis uma psicóloga, uma assistente social e o apoio de um estagiário de psicologia, que foi responsável pelo registro dos encontros), de adolescentes que come- teram abuso sexual (alocados em uma das salas médias e tiveram como profissionais responsáveis um psicólogo, uma psicóloga e o apoio de uma estagiária de psicologia, quem foi responsável pelo registro dos encontros), de adolescentes do sexo feminino (alocados em sala média e tiveram como profissional responsável uma psicóloga e o apoio de uma estagiária de pedagogia, quem foi responsável pelo registro dos encon- tros) e de crianças (alocados na outra sala média com uma psicóloga infantil). Antes de prosseguir, é importante fazer a seguinte nota. O subgrupo de adolescentes do sexo feminino foi estabelecido na medida da necessidade, em função desse grupo conter muitas adolescentes meninas.

Os temas dos encontros foram adaptados da proposta de Costa et al. (2011), que contem- pla a discussão dos temas da proteção e do cuidado tanto de crianças, como de adoles- centes que cometeram ofensas sexuais; a sexualidade de todos os membros familiares; a responsabilização dos adolescentes que cometeram abuso sexual pelo ato cometido, assim como a responsabilidade dos pais e das mães; a transgeracionalidade da violência

e um projeto de futuro das relações familiares. Dessa forma, os encontros foram assim estabelecidos: primeiro encontro: “Proteção: eu preciso proteger outras crianças, mas ainda preciso de proteção”; segundo encontro: “Sexualidade: o que é e como expresso?”; terceiro encontro: “Fantasias: quebrando o tabu e compartilhando segredos”; quarto encontro: “Violência é um crime: nenhum tipo de violência tem justificativa”; quin- to encontro: “Genograma: precisamos conhecer as histórias de nossos antepassados”; sexto encontro: “Apresentação dos Genogramas: Vamos compartilhar o que temos em comum e o que temos de diferente”; sétimo encontro: “Projeto de futuro da Relações Familiares: organizar o presente para um futuro consciente”. Essa proposta possibilitou oferecer aos participantes um espaço de escuta para o sofrimento particular de cada família e de cada membro familiar, assim como suas dúvidas, sentimentos e pensamen- tos, de modo a promover mudanças na relação intrafamiliar.

Dinâmica do GM - Cada encontro do GM se desenvolveu em três etapas definidas. A

primeira etapa foi o aquecimento, na qual todas as famílias foram reunidas com o obje- tivo de promover a integração do grupo, bem como preparar todos os participantes para a conversação do tema específico do encontro. A etapa seguinte – desenvolvimento – aprofunda os objetivos do tema do dia. Nessa etapa, subdivide-se o grupo por critério de idade: adultos, adolescentes e crianças. Essa subdivisão permite a adequação da conver- sação referente a cada grupo etário: jogos dramáticos, debates, role playing, desenhos, colagens. Ao final desta etapa, cada subgrupo elabora um informe do que foi produzido em grupo. E por fim, o último momento – fechamento – consiste na reunião de todos os presentes com o objetivo de compartilhar o informe elaborado na etapa anterior.