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Dinâmicas regionais, identidade e cultura

TERRIÓRIOS EM CONFLITOS: PROJETO NÍQUEL ARAGUAIA

O Estado como um grande formulador de política de desenvolvimento é pressionado por grupos políticos e por empresas estrangeiras a aderirem aos interesses do capital, desfavorecendo assim a população com menor poder aquisitivo (HALL, 1991). Nesse sentido, Hébette (2004) frisa que as empresas multinacionais na Amazônia procuram formas de serem onipresentes, escondendo-se atrás de subsidiárias, em muitos casos para não serem responsabilizadas por algum problema socioespacial ou ambiental, apresentando, ainda, características de flexibilidade e de fluidez, ou seja, desaparecem dirimindo o fracasso do empreendimento ao Estado.

O portal da empresa Horizonte Minerals afirma que o projeto níquel Araguaia extrairá o ferro-níquel e adotará medidas sustentáveis, proteção à biodiversidade, tratamento de toda a água utilizada, bem como filtrar os poluentes emitidos pela

mineração. Quanto à comunidade onde será o palco da extração afirma-se que serão maximizadas oportunidades de emprego, capacitação aos moradores da área de atuação da empresa, e que os atingidos serão reassentados.

Nesse viés, percebe-se que a empresa não apresenta claramente quais medidas serão adotadas quanto ao reassentamento dos camponeses, o que gera insegurança no camponês. Hébette (2004) ressalta que a terra tem múltiplos usos, e que o uso da terra para o camponês tem um significado, para os empreendimentos minerários possuem outros. Segundo Wanderley (2009) em um primeiro momento a empresa de mineração atende aos objetivos negociados com o Estado, num segundo momento ela cria mecanismo próprios para controle territorial e social, o que implica na vida do camponês.

Santos (2008) enfatiza que várias cidades paraenses vivem da economia gerada pela mineração, porém ao mesmo tempo em que utilizam da extração mineral para gerar renda é notório uma série de problemas socioespaciais, como inchaço populacional, altos índices de criminalidade, prostituição, problemas ambientais, deslocamento compulsório, conflitos pela terra, entre outros.

Nesse sentido Wanderley (2009, p. 477) afirma que a “racionalidade imposta pelas mineradoras define os limites das ações quanto ao uso e funções no/do espaço, de modo que o funcionamento assegure a reprodução do capital”, ou seja, os empreendimentos minerários voltam-se para atender ao sistema capitalista de produção, modificando e atendendo aos objetivos impostos pela empresa, pressionando o poder estatal para que favoreça a entrada do capital, reordenando, assim, o território.

Nesse viés algumas propriedades do lote 8 situado no assentamento Joncon Três irmãos já estão em via de negociações para tornar-se propriedade de algumas empresas estatais o que infringe a lei, pois os loteamentos não podem ser vendidos, sobretudo para empresas transnacionais, nesse conjunto visualiza-se o domínio que o poder exerce sobre os camponeses, sobretudo sobre aqueles que não tem conhecimento de seus direitos. Segundo Santos (2009) o capitalismo é perverso e busca de qualquer forma aumentar os índices de produção. Nesse víeis os empreendimentos minerários apresentam aos camponeses, chantagens locacionais e vantagens financeiras (as ditas compensações) bem como um marketing para ludibriar as pessoas. Percebe-se aqui

como o território é pautado pela ação do poder, ou seja, por agentes que planejam de todas as formas, dominar o território.

Na reunião para apresentação dos Estudos de Impactos Ambientais (EIA) e Relatório de Impacto ambiental (RIMA), por exemplo já realizado no município no mês de janeiro de 2015, muitos questionamentos não foram respondidos o que em um primeiro momento justifica as divergências entre as empresas de mineração em relação aos camponeses que serão atingidos pelo projeto de mineração.

O deslocamento compulsório é um processo de perda do espaço concreto de moradia e sobrevivência, consequentemente das referências culturais, econômicas, sociais e espaciais, esse processo é comum em áreas com grandes projetos, principalmente em áreas de mineração (HAESBAERT, 2004); WANDERLEY,2009)

A atividade mineradora diferente de outros ramos econômicos tendo prazo para início e término, ou seja, os recursos naturais disponíveis no subsolo têm prazo para se extinguir, assim como as empresas de mineração, que com o fim das jazidas, irão ocupar outros territórios, deixando assim marcas na memória dos impactados. Haesbaert (2004) e Wanderley (2009, 2010) enfatizam que a possibilidade de remoção dos camponeses do seu lugar de convívio e de trabalho gera medo e incerteza, pois apesar da compensação financeira, em muitos casos não possibilita a melhoria de vida dos atingidos, tornando se em muitos casos indigentes nas cidades, ou mesmo sendo posseiros ou tendo que lutar novamente por um lote de terra,ou seja por um novo lugar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Discutir sobre o projeto de mineração Araguaia Níquel requer um longo debate teórico e metodológico. Compreender as transformações socioespaciais é desvendar o território que é pautado pelo poder, bem como entender o território é compreender as territorialidades que os sujeitos tecem pelo lugar. Lugar esse de experiência, de contato que se expressa por múltiplos sentidos. Florescer o imaginário é um ponto crucial para análise e compressão das mais diversas formas de simbolismo e representações que os sujeitos criam e ressignificam. Perder o território não é somente perder o espaço físico, pois na terra estão imbricados os sentimentos de afetividade, de construções que foram adquiridas ao longo de décadas.

Pensar os discursos que os projetos de mineração expõem é prosseguir no debate do território, poder e lugar. Procurar entender o processo de luta pela terra na Amazônia, especificamente no sudeste do estado do Pará é compreender as disputas entre os sujeitos enfrentam na permanência pela terra. Pois com o apoio de grandes empresários, latifundiários e pelo próprio estado as multinacionais ganham força na região

É necessário entender que a “Amazônia, possui várias Amazônias” como afirma Porto Gonçalves (2005) no livro intitulado Amazônia, Amazônia, o que vem de encontro ao debate sobre território, poder e lugar, demostrando que nessa região há uma heterogeneidade presente, expressando assim a multidimensionalidade dos sujeitos que formam essa região, pois este território é pautado por conflitos culturais, e interesses políticos e econômicos.

Este trabalho ainda está em andamento.

REFERÊNCIAS

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HALL, A. L. Amazônia Desenvolvimento para quem? Desmatamento e conflito social no programa grande Carajás. Rio de Janeiro, 1991.

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