• Nenhum resultado encontrado

Podemos dizer que a leitura tem várias finalidades dentro da sociedade: lê-se para conhecer, para ficar informado; para fantasiar e imaginar; lê-se para achar soluções de problemas e ainda se lê para criticar, e dessa forma, melhorar seu posicionamento diante dos acontecimentos e das ideias que circulam através do texto.

Precisamos de leitores que conheçam, na literatura, seu valor social e que, acima de tudo, aprendam a falar com o texto e, através dele, estabeleçam reflexões para a vida; que também encontrem em suas leituras oportunidades de prazer e de lazer. Há algum tempo o leitor era instruído apenas para decodificar sinais gráficos, através de questionários, resumos ou preenchimentos de fichas de leitura. Hoje, busca-se o leitor criador, crítico e contestador. Não se quer mais o texto decodificado e sim recriado e ampliado. Para isso poder acontecer, precisamos de um novo encaminhamento na leitura.

Para haver aprendizado na escrita e na leitura, o indivíduo necessita viver em um meio que lhe proporcione convívio social e cultural, o que despertará o processo de desenvolvimento interno, que permitirá a aquisição o gosto da leitura e da escrita. Podemos ainda dizer que, para haver aprendizado, é preciso interação social.

Ler não é só ponte para uma tomada de consciência, mas também um modo pelo qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo. O leitor se conscientiza de que o exercício de sua consciência sobre o texto não visa o simples reter ou memorizar, mas o compreender e o criticar.

A leitura crítica sempre leva à produção ou construção de um outro texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre gera expressão: o desvelamento do ser do leitor. Assim, este tipo de leitura é muito mais do que um simples processo de apropriação de significado; a leitura crítica deve ser caracterizada como um projeto, pois concretiza-se numa proposta pensada pelo ser-no-mundo, dirigido ao outro. (SILVA, 1996, p. 81).

Não é fácil a construção do leitor crítico. Precisamos investir na leitura não apenas com o objetivo de ascendermos socialmente, mas para não sermos cidadãos acomodados e nem vivermos na ignorância do saber. Cabe aqui a atuação do adulto em mostrar à criança que queremos

uma sociedade que seja mais do que leitora: precisamos ensiná-lo a ler criticamente, a ser cidadão crítico.

Para falarmos da necessidade e da importância da leitura crítica, é preciso centrar o nosso olhar e nossa atenção sobre a realidade brasileira. É muito difícil falarmos de vivências ou deficiências da leitura de um indivíduo sem localizá-lo dentro das contradições da sociedade em que ele vive.

[...] a caracterização da leitura como sendo uma atividade de questionamento, conscientização e libertação gera uma série de implicações, principalmente quando a vinculamos com organizações sociais, onde a leitura aparece e se localiza, dificulta ou facilita o surgimento de homens leitores críticos e transformadores. É preciso saber enfim se o objeto da leitura (livro ou similar) circula democraticamente numa sociedade de modo a permitir sua fruição por parte dos homens que constituem essa sociedade. (SILVA, 1998, p. 22).

Estamos vivendo em um contexto social eivado de crises e ideias antagônicas. A presença de leitores críticos é uma necessidade imediata para que os processos de leitura e os processos de ensino da leitura possam ter ligação com um projeto de transformação social. Precisamos de espaços privilegiados que levem a criança ao encontro da leitura crítica e significativa, um encontro do texto, do autor, do narrador, do leitor.

Frente ao texto, o leitor não pode ser passivo; mesmo que sejamos levados a pensar que, por estar sentado olhando o texto, passa a ser passivo, isto não corresponde à realidade, visto que os sentidos vinculados ao conhecimento que ele tem do mundo são confrontados, ao longo da leitura, e ele cria ou rebate hipóteses que vão lhe ocorrendo acerca do que ali está sendo exposto. É preciso, entretanto, incentivar as possibilidades que se abrem no encontro do leitor com o autor, através dos textos que este oferece. É através da leitura que se estabelece "um evento interativo entre autor e leitor, que é mediado pelo texto e completa-se em outros eventos: a leitura é uma prática de atribuição de significados que ultrapassa o momento em que é realizada". (MATENCIO, 1994, p. 44).

Frank Smith (1999) diz que precisamos ter claro que ler não é apenas decodificar, nem apenas extrair informações do texto, embora, é

claro, obter informações seja algo que está envolvido em todas as diferentes situações de leitura. Para ele, quando lemos, estamos obtendo respostas para as nossas perguntas. Da mesma forma, Foucambert salienta: “Ler é atribuir (e não extrair de) um (e não o) significado a um texto” (1997, p. 95). Ou seja, trata-se de um trabalho de interpretação, e não de mera descoberta de algo que se esconde nas palavras ou nas entrelinhas. Podemos dizer que esse significado não está exposto no texto de forma que precise apenas ser extraído, é necessário buscar algo que se encontra na relação entre o autor e o leitor.

Ilustração 12 - A presentando material literário às crianças

Fonte: Acervo da autora

Nesta imagem podemos observar o quanto as crianças estão interessadas no material literário. Elas dão opiniões, elas interagem com o enredo da história. O adulto/pesquisador além de interagir com o grupo, vai mediando as falas, os interesses, os questionamentos, vai dando mais subsídios para que a criança possa construir seu conhecimeto. Experimentei mudar o espaço colocando um tapete com várias cores no chão, proporcionando um espaço de viagem e fantasia, considerando a possibilidade de que as crianças pudessem vivenciar múltiplas linguagens.

Podemos ainda dizer que tudo começa com a atuação do adulto contando histórias para as crianças que ainda não sabem ler,

incentivando-as à leitura. Todas as crianças gostam de histórias, não importando qual a sua etnia. Isso parece estar relacionado ao fato de as histórias falarem de coisas muito próximas de sua vivência cotidiana.

E é refletindo sobre este capítulo que podemos dizer que, as crianças quando leêm, ou escutam histórias, entram em contato com um universo rico e vasto, onde estão presentes a vida e a cultura de famílias e comunidades, sentimentos e relações entre pessoas e coisas do mundo. E é na educação infantil que vamos proporcionar às crianças o espaço de leitura, na qual o livro deve ficar ao alcance delas. É preciso de práticas pedagógicas que incentivem o prazer ao ato de ler, fazendo com que as crianças, convivam com as letras e números por meio das histórias e poemas.

Com a leitura de histórias e a oportunidade de estarem com o material literário nas mão, já estamos dando as condições para a criança de se inserir no mundo das letras.

CAPÍTULO IV

ESPAÇO E TEMPO DE EXPERIÊNCIA

Das inúmeras possibilidades que se abrem a quem está interessado no discurso poético para crianças, a mais animadora é a de que existe um manancial inesgotável de textos em circulação nas camadas sociais mais diversas, referendado pela passagem do tempo e portador de uma sabedoria ingênua, reveladora das preocupações básicas do homem.

(Maria da Glória Bordini)59

A fim de colaborar com a compreensão do desenvolvimento da pesquisa, neste último capítulo apresento o percurso teórico-prático das duas linguagens - a cênica e a poética - no universo da educação infantil. Assim, procuro mostrar o trabalho desenvolvido nas duas unidades educativas privadas conveniadas, a Creche Vó Inácia e a Creche Monte Serrat, no período de 2008 e 2009 que abriram suas portas para esta pesquisa.

59

4.1 AS INSTITUIÇÕES: ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO