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Capítulo 3. Metodologia da investigação

3.2. Tipo de estudo

Este estudo situa-se num paradigma interpretativo ou compreensivo. Enquanto nas metodologias hipotético-dedutivas as variáveis são colocadas no contexto da prova, privilegiando a verificação teórica, nas metodologias compreensivas ou indutivas, as variáveis são colocadas no contexto da descoberta, privilegiando a “formulação de conceitos, teorias ou modelos” (Guerra, 2010, p. 23).

Há uma orientação para:

(…) a identificação das práticas quotidianas e das emergências de novos fenómenos sociais, que elucidam ou transformam, no hic et nunc das dinâmicas sociais, as regras ou as instituições existentes”. Não estamos perante indivíduos isolados pelo individualismo metodológico, mas perante actores que agem tendo em conta a percepção dos outros e balizados por constrangimentos sociais que definem intencionalidades complexas e interactivas. (Guerra, 2010, p. 9)

Esta é uma orientação essencial quando se pretende compreender aspectos complexos como todo o processo de mudança, “já que os actores agem de forma diferenciada, têm acessos diferenciados aos recursos, possuem diferentes competências para interpretar e intervir no contexto em que se inserem” (Guerra, 2010, p. 10). De um ponto de vista metodológico, apresenta-se como um instrumento privilegiado na análise das experiências, acentuando o significado dos fenómenos e não a sua frequência.

Pode, assim, classificar-se esta investigação como qualitativa indutiva, uma vez que parte do levantamento de dados para construir uma teoria. A construção do conhecimento processa-se de modo indutivo, a partir do levantamento dos dados empíricos, num trabalho contínuo de construção do objecto teórico: a teoria surge a partir da recolha, análise e interpretação dos dados. No raciocínio indutivo “a lógica da investigação não é gerada a priori pelos quadros de análise do investigador” (Guerra,

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2010, p. 22) mas antes num trabalho contínuo de construção do objecto teórico. Partiu- se da análise de dados para o desenvolvimento de uma determinada teoria, a qual surge a partir da recolha, análise e interpretação dos dados – recolhidos e interrelacionados, numa perspectiva hermenêutica e interpretativa dos fenómenos.

Em resumo, este estudo segue um paradigma de investigação qualitativo, com o recurso a uma triangulação metodológica, e uma orientação baseada na grounded theory, cuja origem está patente no trabalho de Glaser e Strauss (1967), e que visa o desenvolvimento de teorias a partir da pesquisa baseada em dados, em vez da dedução de hipóteses analisáveis a partir de teorias existentes (Charmaz, 2009, p. 20).

3.2.1. Uma orientação: a teoria fundamentada

Na sua obra The Discovery of Grounded Theory: Strategies for qualitative research (1967) Glaser e Strauss questionam a concepção que argumentava que a investigação qualitativa pecava por falta de rigor e de credibilidade e que defendia, nesta perspectiva, o valor da abordagem quantitativa como metodologia sistemática e credível, já que garantia a isenção do conhecimento construído, em relação a qualquer interpretação por parte do investigador. Estes autores procuravam, por oposição, uma maior relação entre teoria, fenómeno estudado e investigador.

A grounded theory, ou teoria fundamentada, vem contribuir para a questão da pertinência e da especificidade das metodologias compreensivas, defendendo que uma análise indutiva deve produzir teorias e não apenas descrever os fenómenos. Esta metodologia visa, assim, gerar ou desenvolver uma teoria, um esquema analítico de determinada realidade ou situação particular, através de métodos de análise sistemática de dados. A concepção de Glaser e Strauss, da elaboração de teorias fundamentadas unicamente nos dados observados, desenvolve-se em torno de 3 ideias principais: a finalidade de qualquer investigação é produzir teoria; esta teoria é o resultado e não prévia à pesquisa, sendo a pesquisa uma “teorização (generating theory) fundamentada numa contínua análise comparativa dos dados em que se constroem progressivamente os conceitos e as categorias, que são novamente confrontados com a realidade” (Guerra, p. 24); e a teoria está fundamentada, enraizada (grounded) nos dados recolhidos através de diversos métodos: observação, estatísticas, entrevistas, entre outros.

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Inicialmente inserido num paradigma positivista, no qual “os resultados são obtidos através do método da descoberta e que esses resultados são independentes do investigador” (Fernandes & Maia, 2001, p. 53) assume uma postura mais construtivista, sendo a produção de teoria concebida como uma construção, em interacção com o meio. Segundo Charmaz (2008) começa-se com os dados, sendo a teoria construída através da interpretação do investigador e das perspectivas e interacções com os participantes no estudo.

A construção da teoria faz-se, assim, num processo evolutivo, visto que ela é o ponto de chegada do método e não o seu ponto de partida. As construções explicativas são elaboradas no decurso da pesquisa, pela interacção entre os quadros de referência conceptuais disponíveis e os dados de terreno. (Guerra, 2010, p. 25)

Da análise de dados para o desenvolvimento de uma determinada teoria, num processo constante de interrogação dos dados, a grounded theory estabelece uma relação entre teoria e empiria, valorizando o contexto do fenómeno.

Os resultados são obtidos através do método da descoberta, de forma indutiva e numa lógica exploratória. Aplica-se a estudos de carácter exploratório, utilizando uma metodologia indutiva analítica que, como referido, contrariam os métodos hipotético- dedutivos, que partem de uma teoria preexistente, de onde são extraídos conceitos posteriormente desenvolvidos e testados. Preocupa-se com a construção e não com a verificação da teoria. Considerado um método adequado para responder a questões do tipo “como”, na construção de uma interpretação, a contribuição da grounded theory como orientação metodológica prende-se, assim, com o objectivo desta investigação e com os métodos e as técnicas aplicadas. Acentua-se o objectivo, direccionado para a construção de um modelo, de uma teoria, partindo dos dados observados e do contexto, num paradigma construtivista (Fernandes & Maia, 2001).