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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 TIPO DE PESQUISA

É uma metodologia de pesquisa intervencionista, portanto, voltada para o âmbito empírico, realizável a partir da associação com uma atividade, ou melhor, da resolução de um problema coletivo, envolvendo tanto o pesquisador quanto os participantes, numa ação conjunta que ocorre de modo cooperativo e participativo.

Conforme Gil (2017), o termo pesquisa–ação foi cunhado em 1946 por Kurt Lewin, através de um trabalho que buscava integrar as minorias étnicas à sociedade norte-americana, definindo-a, portanto, como uma ação social. Dessa maneira, a

pesquisa-ação diagnostica um problema específico numa situação específica e realiza intervenção, com o intuito de alcançar um resultado prático.

Segundo Gil (2017), as fases desse tipo de pesquisa não são bem ordenadas cronologicamente, devido, principalmente, ao fato de que as relações entre o pesquisador e os participantes são bem dinâmicas. Além dessa característica, pode- se dizer que a pesquisa-ação é situacional, visto que, se preocupa com o diagnóstico do problema em um determinado contexto, com o objetivo de resolvê-lo ou minimizá-lo; como também, é participativa, pois os participantes da pesquisa, direta ou indiretamente, influenciam a implementação da pesquisa; é autoavaliativa, tendo em vista que as ações práticas da pesquisa são continuamente avaliadas e modificadas, quando necessário.

As práticas da pesquisa-ação podem se voltar tanto para uma mudança organizacional de uma indústria, bem como para experimentar uma nova maneira de ensinar em uma sala de aula. Referindo-se ao núcleo educacional, além de ser importante para as práticas docentes, esse tipo de pesquisa também é relevante para a elaboração de teorias voltadas para a educação e para o ensino. Assim, a pesquisa-ação pode alcançar tanto objetivos sociais quanto educacionais, de acordo com Gil (2017).

Levando-se em consideração os objetivos educacionais, no tocante à sala de aula, a abordagem de pesquisa-ação pode proporcionar inovações para o processo de ensino-aprendizagem, como também melhorar a comunicação entre o professor- pesquisador e os participantes que, na maioria das vezes, são os alunos, com o propósito de atenuar possíveis problemas que dificultam o desenvolvimento dos estudantes em sala de aula.

Dessa maneira, a pesquisa-ação torna-se apropriada, conforme propõem Moreira e Caleffe (2006), para melhorar os métodos de ensino, para aprimorar as formas avaliativas, para modificar o sistema de valores dos alunos em relação a alguns aspectos da vida, para desenvolver as habilidades de ensino dos docentes, para aumentar a eficiência dos professores em relação aos aspectos administrativos da vida escolar.

A pesquisa-ação, para ser realizada, perpassa por determinadas fases que vão desde a seleção de um campo de trabalho, o levantamento de informações sobre o ambiente a ser estudado, bem como as características de sua população, até a devolução dos resultados.

Dessa maneira, esse tipo de pesquisa, segundo Vasconcelos (2006), ocorre de forma cíclica, visto que se inicia com a fase denominada de diagnóstico, seguida de uma ação conjunta entre o pesquisador e os participantes da pesquisa em prol de uma avaliação e uma nova ação construída a partir de uma reflexão realizada sobre as fases anteriores. Sendo assim, de acordo com Thiollen, a pesquisa ação:

É um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (THIOLLEN, 1988, p. 14 apud

VASCONCELOS, 2006, p. 227)

Esta definição demonstra a ênfase da pesquisa-intervenção, como também pode ser chamada, na resolução de problemas, na tomada de consciência, bem como na produção de conhecimento, com o intuito de ampliar o conhecimento dos pesquisadores e, por conseguinte, das pessoas envolvidas na pesquisa, através da prática, da reflexão e da melhoria de uma situação concreta da realidade social. Em vista disso, cabe pontuar que esse tipo de pesquisa busca adquirir um conhecimento sobre determinado aspecto da realidade com o objetivo não somente de investigá-lo para conhecê-lo, mas, principalmente, de investigá-lo para atuar transformadoramente sobre ele, como afirma Vasconcelos:

[...] A pesquisa–ação pretende, simultaneamente, investigar e atuar como uma espécie de dialética do conhecimento e da ação e que tende ao mesmo tempo a criar uma mudança na situação concreta e a estudar as condições em que os resultados foram produzidos. (VASCONCELOS, 2006, p.232.)

Dessa forma, esse trabalho materializa uma pesquisa-ação, com a intenção de investigar, como também, de transformar a visão que os estudantes de uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental têm sobre a língua portuguesa, mais precisamente, sobre as variações que fazem parte da sua língua materna. Essa abordagem tem como principal objetivo contribuir para superar o olhar preconceituoso que esses alunos possuem no tocante às várias formas que os falantes utilizam para estabelecer as interações pessoais, através dos atos comunicativos variados.

A presente pesquisa também se pautou em dois posicionamentos metodológicos: o método quantitativo e o método qualitativo. A metodologia

quantitativa, por sua vez, é uma orientação que estuda o comportamento humano, a partir de fatores e estruturas internas ou externas que geram resultados em prol de levantamentos amostrais para, consequentemente, gerar resultados, focando nas variáveis dependentes e independentes do comportamento humano, operacionalizando e quantificando essas variáveis, objetivando a oportunidade para procedimentos estatísticos.

Já a metodologia qualitativa, nessa pesquisa também utilizada, conforme Oliveira (2008), defende o estudo do homem, como sendo o intérprete do mundo em que vive, visto que a vida humana é tida como uma atividade interativa e interpretativa, com o intuito de construir sentidos, através das interações sociais. Diante disso, existe a pesquisa etnográfica que sendo adaptada para a área educacional, segundo Lüdke e André (1986), deve-se ter o cuidado em refletir sobre o processo de ensino-aprendizagem não somente no âmbito escolar, mas também no contexto social, isto é, no que acontece fora do ambiente escolar.

Nesse contexto, essa pesquisa apresenta um viés etnográfico, visto que é constituída pelos seguintes critérios: a) o problema referente ao preconceito linguístico foi descoberto em sala de aula, isto é, no próprio campo da pesquisa; b) a pesquisadora realizou o estudo em campo, pessoalmente; c) o trabalho de campo durou, praticamente, um ano letivo; d) a abordagem adotou várias técnicas de coleta, tais como: aplicação de instrumentais elaborados, a partir de um conjunto de atividades que envolviam questões voltadas para o conceito de língua, para o reconhecimento breve da história da língua portuguesa, para o uso da escrita em consonância com a fala, para o preconceito linguístico; apresentação de músicas e vídeos, orientação sobre variação linguística e preconceito linguístico e elaboração de cartazes voltados para a temática do preconceito linguístico.

Essas ações possuem um viés etnográfico à medida que o problema do preconceito linguístico não ocorre apenas dentro da escola, é um problema social. Portanto, esta pesquisa, além de atenuar este fenômeno linguístico em sala de aula, propicia conhecimentos aos alunos envolvidos para que este tipo de preconceito também seja atenuado fora da escola.

Dentre as técnicas adotadas, além da aplicação de instrumentais, há a da observação. Esta ocorre quando os pesquisadores buscam entender os sujeitos

observados, no tocante ao comportamento real deles, bem como as próprias situações e como eles constroem a realidade em que atuam, sem deixar de lado as experiências de vida, ou seja, a bagagem cultural dos pesquisados.

Eu, como professora de Língua Portuguesa do ensino fundamental público do Estado do Ceará, formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em Letras: Português e Literatura. sou a pesquisadora desse trabalho. Logo, sou uma participante da pesquisa, atuante como observadora, visto que, antes de iniciar a pesquisa, conversou com os alunos, ou seja, com os participantes, sobre o trabalho que seria feito em sala de aula, propiciando aos estudantes o conhecimento referente ao caráter científico do referido trabalho, possibilitando a existência de obrigações e acordos discutidos antes do início da pesquisa.

Em suma, essa pesquisa engloba características de uma pesquisa qualitativa, pois há a intenção de se interpretar a situação em estudo, a partir do olhar dos participantes. Ademais, há o foco voltado para a subjetividade, através da perspectiva dos informantes, em relação às atividades realizadas durante o trabalho. Estas atividades, por sua vez, são flexíveis, de acordo com a dinâmica do estudo em si, com o intuito de valorizar mais as situações ocorridas em todo o processo da pesquisa, demonstrando que a pesquisa não se interessa apenas pelos resultados. Além disso, a pesquisa qualitativa tem como fonte direta dos dados o próprio ambiente pesquisado que, nesse caso, é a sala de aula, buscando descrever e analisar os dados indutivamente.

A pesquisa foi realizada em uma escola pública estadual localizada na periferia da capital cearense, mais precisamente no bairro João XXIII. A unidade escolar tem o nome de: Escola de Ensino Fundamental e Médio Heráclito de Castro e Silva.

O estudo, por sua vez, contou com a participação de 49 alunos de uma turma de 9º ano, pertencentes, em sua maioria, a uma classe social menos favorecida socialmente. Além destes discentes, a referida pesquisa também obteve a participação dessa pesquisadora como professora de língua portuguesa da turma.