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CAPÍTULO 3: O processamento dos tópicos – Módulo 1

3.3.3 Objetivos das aulas

3.3.4.3 Tipos de atividade

Na entrevista inicial, Andréia mostrou que não tem um bom conceito do trabalho em duplas, ela prefere o trabalho em grupos, pois acredita ser este mais enriquecedor. Já Tiago acredita na diversificação da forma de trabalhar, havendo momentos para trabalhos em grupo, em dupla ou individual. Como na turma que eles assumiram havia apenas 5 alunos, não foi possível fazer trabalhos em grupo. Entretanto, eles passaram a pedir aos alunos que trabalhassem duplas em vários momentos da aula. Tiveram, inclusive, o cuidado de verificar que pessoas poderiam se beneficiar mais com esse trabalho, quais duplas eles poderiam formar:

Excerto 66

Anelise: Vocês estão colocando eles (alunos) para trabalhar mais em dupla. Na dupla estão discutindo, estão conversando. (enunciado gerador de tensão)

[...]

Andréia: É, e ele (Hans) com a Patrícia nem é tão interessante, porque os dois são muito bons. Eles são os melhores que a gente tem lá, sabe? Os dois são muito bons. E eu gostei de por a Berta com o Cheng, porque ela tem cuidado com ele. Ela ajudou ele de um jeito. Eu tava conversando com o Tiago durante a aula. Eu e o Tiago, a gente tava conversando enquanto eles faziam o trabalho. – Olha como a Berta com o Cheng deu certo, como ela

tem uma paciência com ele e ela ensinou “como”, “que”, entendeu?

Explicava pra ele e quando ela não conseguia explicar, ela falava – Explica pra ele aqui. (reflexão + ação-transformadora)

(SC3 – 28/09/07)

O excerto 66 demonstra a percepção dos professores em relação ao trabalho colaborativo pelo qual eles próprios estavam passando. Eles acreditam que a colaboração

pode ajudar bastante no desenvolvimento dos alunos, desde que ela ocorra com pessoas com uma certa afinidade e por isso a preocupação na escolha das duplas.

A entrevista final confirma que Andréia começou a enxergar aspectos positivos no trabalho em duplas, devendo ter cuidado apenas com as pessoas envolvidas na atividade. Como ela própria se define uma pessoa sem paciência na hora de trabalhar em duplas (como aluna de inglês), ela toma cuidado na hora de definir as pessoas que trabalharão juntas:

Excerto 67

Anelise: Você pediu a eles (alunos)? Andréia: Pedi pra trabalharem em duplas.

Anelise: E como você viu isso? O fato deles trabalharem assim? (enunciado gerador de tensão)

Andréia: Depende quem trabalhar com quem. Eu já até conversei isso com você, né? As pessoas mais difíceis, com o temperamento mais parecido, tipo o Hans e o Cheng, toda vez que trabalham juntos, não deu certo. Aliás, eles não trabalhavam juntos, ficavam os dois calados. Eu falava: “Gente, vão fazer juntos.” E eles fingiam que nem escutavam, continuavam a fazer de um lado, o outro do outro, sabe. Agora a Berta, por exemplo, é uma pessoa muito fácil de lidar igual a Maria. São pessoas com... você vê que elas têm um... Elas são tranquilas, elas aceitam mais, têm mais paciência. Então, na hora que elas vão fazer um trabalho com o Cheng, elas tinham mais paciência. Que o Hans não tinha nenhuma, né? Nem conversava. (reflexão + ação-transformadora)

(Entrevista – 30/11/07)

Ao final do Módulo 1, Tiago manteve a sua posição de pensar que todos os tipos de atividades (em duplas, em grupo ou individual) são proveitosas. A mudança ocorrida ficou por conta do conhecimento ou do discernimento de saber quando usar um tipo ou outro:

Excerto 68

Anelise: A sala de vocês era pequena. Vocês chegaram a fazer os três tipos de atividade ou não?Individual, em dupla e em grupo?

Tiago: A gente sempre planejava assim, atividades pra que eles interagissem, mas dependendo do clima da aula, a gente mudava tudo. A gente via: Veio pouca gente. Vamos fazer, então, duas duplas. Vamos trabalhar a sala toda, ou vamos trabalhar individual. A gente sempre olhava o clima que tava na sala também, o interesse. Se eles estavam mais cansados, mais animados. A gente sempre olhava isso. (reflexão)

(Entrevista – 24/12/07)

Luana compartilha da primeira opinião de Andréia, isto é, as atividades em dupla são maçantes e não devem ser utilizadas. Logo, ela prefere trabalhar com atividades individuais

ou em grupo. Já Alice concorda com Tiago que diz que todos os tipos são importantes, dependendo da atividade. Entretanto, a turma de Básico 1 contou com quatro alunas somente na primeira semana, pois uma aluna abandonou o curso. Com apenas três alunas, não houve a possibilidade de se trabalhar em grupos ou em duplas. Não houve, assim, mudança na postura dos professores.

Excerto 69

Luana: Então a parte „discuta em par‟ não aconteceu. E pra mim foi muito

melhor. Porque atividade em dupla pra mim é muito chato. Anelise: Por que você acha que é chato? De onde você tirou isso?

Luana: Ah, pelo fato... que eu sou aluna do Cenex de inglês, né? Então, assim, a hora que vem aquele „discuta em pares‟ me dá muita preguiça de discutir em pares. Eu não gosto de fazer aquele trabalho em dupla nem em grupo porque eu ou... é assim: ou a minha dupla ou meu par, meu grupo, né, me descarta ou eu tenho que fazer tudo sozinha. É sempre assim. (reflexão) (Entrevista – 28/11/07)

Excerto 70

Alice: Com elas não dava muito pra escolher (o tipo de atividade) porque não era uma turma grande, então não tinha como. Agora, acabava que as atividades eram o grupo e o grupo era sempre as três. Era a gente em conjunto. A gente não tinha atividades assim... No início, eu fiz algumas atividades em dupla, umas duas ou três eu fiz. Depois não mais. A gente começou a fazer atividades em grupo porque...

Anelise: É porque com três alunos, como é que você faz?

Alice: E outra, quando você tem uma turma, pelo menos é o que eu penso. Eu imagino que numa turma mais miscigenada, você coloca ali um e outro que não são falantes nativos de uma mesma língua. Você até falou, você tinha comentado isso, ajuda na hora deles fazerem uma produção em dupla. Porque aí eles se veem meio forçados a falar o português ou pelo menos tentar. Com elas poderia, não que isso aconteceria, porque, às vezes, elas se esforçam em falar português umas com as outras, mas isso poderia descambar para falar em alemão só pra poder concluir a atividade, terminar ali. (reflexão)

(Entrevista – 29/11/07)

Como a fala de Alice deixa claro, as atividades durante o semestre ficaram muito centradas no grupo, pois a turma era muito pequena e não oferecia oportunidades de trabalhos variados. Ela gostaria de ter tido a oportunidade de tentar um trabalho em duplas, mas infelizmente, isso não foi possível. Havia, por outro lado, a possibilidade de se trabalhar individualmente, mas, em um primeiro momento, a professora não permitia que isso acontecesse. Não havia nenhuma atividade em que as alunas pudessem agir sozinhas para depois confirmar suas respostas com o grupo.

Excerto 71

Anelise: Tem vários exercícios que vocês dão em sala, mas só oral. [...] (enunciado gerador de tensão)

Alice: Aquele exercício que elas (alunas)... que eu fiz com elas do diálogo. Elas tinham que escrever o verbo. Elas foram completando a lacuna.

Anelise: Mas na mesma hora. Se você for parar/

Alice: Você fala tipo, pedir pra elas fazerem antes e depois corrigir? (reflexão)

Anelise: É, tenta pedir, tentar fazer. Porque aí elas vão fazer todos.

Alice: Ou pelo menos vão tentar fazer. Vão começar a entender melhor o exercício antes de tentar fazer. (reflexão + ação-transformadora)

(SC8 – 10/11/07)

A passagem deixa claro que a professora está disposta a avaliar a sua ação e a procurar outras formas de agir para facilitar a aprendizagem dos seus alunos. Ela apresenta as três atitudes fundamentais apontadas por Dewey (1933) para desenvolver a prática reflexiva: ter a mente aberta, ter responsabilidade e ter dedicação. Ela concordou que, em certos momentos, seria interessante deixar alguns minutos para o aluno pensar e resolver uma atividade, para, só em seguida, fazer a correção. A partir dessa conversa, ela passou a alternar as atividades, permitindo que algumas delas fossem feitas silenciosamente pelas alunas antes da discussão em grupo.

O item planejamento da aula está sumarizado nos QUADROS 14 e 15. No primeiro, foram incluídos os itens sequência e gerenciamento de tempo e, no segundo, os tipos de atividades.

QUADRO 14 O planejamento da aula

Posição inicial Posição ao final do Módulo 1

Andréia e Tiago

 Sequência: aula compartimentada  Gerenciamento de tempo: não

alocação de tempo para cada atividade

 Aula com sequência lógica de atividades

 Gerenciamento de tempo: alocação de tempo para atividades; atividade extra Alice e

Luana

 Sequência: aula compartimentada  Gerenciamento de tempo: alocação

de tempo para as atividades.

 Aula com sequência lógica de atividades

 Gerenciamento de tempo: alocação de tempo para atividades; atividade extra

QUADRO 15 Tipos de atividade

Crença inicial Crença ao final do Módulo 1

Andréia  Não gosta de trabalho em duplas; prefere trabalhos em grupos

 Vê alguns aspectos positivos no trabalho em duplas

Tiago  Acredita na diversificação da forma de trabalhar (duplas, grupos ou individual)

 Manteve crença inicial

Alice  Acredita na diversificação das atividades (duplas, individual ou em grupos)

 Manteve crença inicial (não houve possibilidades de trabalhos diferenciados) Luana  Trabalhos em duplas são

maçantes; prefere atividades individuais ou em grupo

 Manteve crença inicial (não houve possibilidades de trabalhos diferenciados)