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Capítulo 3 – Os periódicos Nature e Science 100 

3.3. Torre de marfim de impacto

Dados oficiais123 da Nature estimam que o número de assinantes ao redor do mundo seja de 52.836, sendo que o número de leitores é quase trinta vezes maior, ou 1.496.887, o que pode ser compreendido quando lembramos que os principais assinantes das edições impressas são instituições científicas e de ensino, enquanto seus membros podem acessar todo o conteúdo online. A América do Norte (51%) e a Europa (32%) são as regiões que mais consomem o periódico, em seguida a Ásia com 17% e o resto

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Por unidade jornalística entende-se notícias longas ou curtas, editoriais, artigos ou comentários que tenham surgido na mídia impressa ou televisiva.

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Tradução da autora. Trecho reproduzido no site da publicação no item referente à missão da revista. 123

Dados retirados do site de Nature, na seção Advertising@npg sobre demografia Nature. Media Kit 2010. Acesso em julho de 2010.

do mundo, incluindo a América Latina, ficam com apenas 1%, fato este que pode refletir tanto o pequeno acesso às publicações, provavelmente em função dos custos de assinatura, quanto a menor participação do Hemisfério Sul pobre no fazer científico das publicações. A grande maioria dos leitores, ou 42%, é formada por “cientistas sênior” (mais experientes), 29% por cientistas, 9% de executivos e 20% por outros.

No caso da Science, a circulação estimada gira em torno de 128.964, com número de leitores superior a 700 mil, semanalmente e apenas para a versão impressa. A grande maioria, 45,9% dos assinantes, está na Europa, 21,5% na Ásia, 21,1% nos Estados Unidos e 11,4% no restante do mundo124. Dentre os leitores, 82% possuem pós- graduação, 9% alguma especialização, 6% graduação e 3% outro nível acadêmico125. Ou seja, trata-se de um público altamente qualificado, no que diz respeito à formação. O periódico é acessado por mais de 11,75 milhões de page views126 por semana, que não pode ser comparado aos acessos online de usuários únicos citados acima para a Nature, mas permite estimar sua visibilidade.

A taxa de rejeição de artigos na Science é de 90% da média de 25 mil submissões anuais127, sendo que 75% ocorrem na primeira fase de análise – em um período de 2 a 10 dias –, feita pelo corpo editorial, antes de passar pela avaliação por pares. O equivalente ocorre na Nature, com taxa de rejeição em torno de 93,2% das cerca de 11.769 submissões anuais, segundo dados do site da publicação128. Enquanto Schultz (2010) aponta uma média de 37,6% de rejeição para 46 periódicos da área de ciências atmosféricas, taxa que varia de acordo com as áreas de especialidade e o número de periódicos disponíveis para atender à demanda de artigos submetidos.

As rejeições, segundo Schultz, ocorrem em vários níveis: depende do autor (qualidade da pesquisa e da redação do artigo, por exemplo), do revisor (já que alguns tendem a maior rejeição do que outros), do periódico (reputação, visibilidade, espaço disponível, etc) e do editor (estratégias). O autor não encontrou uma correlação entre a taxa de rejeição e o volume de submissões e qualidade (medida, nesse caso, pelo número de

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Dados oficiais disponíveis no site da Science referentes a 2010. “Product advertising media kit 2010”. 125

Dados oficiais disponíveis no site da Science referentes a 2008. “Consumer advertising and sponsorship media kit 2008”.

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Page views corresponde ao número de páginas de um site que são acessadas. Normalmente um usuário

realiza inúmeros acessos em um mesmo site. 127

Dados apresentados oralmente por Pamela Hines, editora da Science, durante o I Colóquio Brasileiro sobre Pesquisa e Publicações Científicas de Alto Impacto, que ocorreu em São Paulo, em abril de 2010. 128

citações recebidas). No caso da Nature, parece existir essa correlação. Dados indicam que a taxa de rejeição cresce diretamente em relação ao volume de artigos submetidos: no ano 2000, a taxa era de 89% quando o peiódico recebeu 8.643 artigos (e 951 foram publicados); em 2005 a porcentagem subiu levemente para pouco mais de 90% (quando foram submetidos 8.943 artigos e publicados 915); chegando em 2009 a 93,2% de rejeição (quando apenas 803 foram publicados de 11.769 submissões).

As altas taxas de rejeição na Science e Nature chamam atenção para a enorme influência dos editores sobre a pequena quantidade de artigos que são publicados e que constarão como padrão de qualidade de publicação, bem como de “grande feito científico”, é o chamado papel de gatekeeper129. Fica claro que com a enorme quantidade de artigos que são rejeitados, há inúmeros de alta qualidade que podem ser redirecionados para os periódicos da família Nature ou Science, e certamente re-submetidos para os inúmeros outros periódicos com taxas de rejeição inferiores e, por fim, publicados.

Segundo dados do JCR de 2009130, Nature e Science encontram-se entre os periódicos de maior FI, considerando um universo de 7.347 publicações (tabela 7). A Nature segue na 8a posição, e a Science em 15a. Mas esse índice deve ser entendido dentro das áreas específicas de cada periódico. Assim, quando consideramos os 48 periódicos de ciência multidisciplinares indexados pelo JCR, eles ficam entre os dois primeiros colocados, com fator de impacto muito acima da média de 0,633. Eles foram também considerados os periódicos mais importantes (ou quentes na tradução literal do termo usado hottest) de janeiro de 1999 a agosto de 2004131. A análise foi feita para 11 áreas do conhecimento, identificando os 10 periódicos mais importantes em termos de citações por artigos (única categoria analisada, excluindo cartas ao editor, notícias e resumos).

Nature e Science aparecem, revezando-se, sempre nos dois primeiros lugares. Vale

lembrar que mesmo quando comparadas a revistas de grande impacto em suas especialidades, como a Cell (biologia molecular e genética) – com 72 citações por artigo – Science e Nature se destacam, com 78 e 77 citações, respectivamente. Chegam a ser muito superiores a periódicos especializados, como no caso da cobertura da área de

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Gatekeeper – termo usado no jornalismo para definir o editor, como guardião dos portões das notícias,

ou aquele que controla o que será ou não publicado. 130

Em junho ou julho de 2010 deve ser divulgado o relatório referente às performances dos periódicos de 2009.

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imunologia, com Science em primeiro lugar do ranking (112 citações por artigo),

Nature em segundo (111) e Immunity em terceiro com 44 citações.

Tabela 7 – Evolução do fator de impacto de Science e Nature no período 2001-2008

Ano Ranking/FI Science Ranking/FI Nature 2009 15ª 29,747 8ª 34,480 2008 16ª 28,103 8ª 31,434 2007 14ª 26,372 10ª 28,751 2006 9ª 30,038 15ª 26,681 2005 6ª 30,927 11ª 29,273 2004 10ª 31,853 9ª 32,182 2003 11ª 29,781 8ª 30,979 2002 10ª 26,682 5ª 30,432 2001 14ª 23,329 8ª 27,955

Outro levantamento contribui para a importância de ambos os periódicos no panorama internacional. Entre os anos de 2005 e 2006, a ScienceWatch (2007) listou os artigos mais citados no período e obteve 40 artigos, dos quais 8 foram publicados na Nature e 2 na Science, representando juntas 25% dos artigos mais citados. É importante apontar que no citado ano o New England Journal of Medicine se distinguiu com a publicação de 10 desses artigos.

Ou seja, não há dúvidas em relação à visibilidade dos artigos publicados em Science e

Nature, até porque ela é coerente com a proposta de publicações semanais que

anunciam as principais novidades e avanços científicos. Isso não quer dizer que sejam artigos de qualidade. O que é possível afirmar é que, dado o curto espaço dedicado aos artigos ou letters – publicações principais –, fica mais difícil avaliar a qualidade da pesquisa publicada. Qualidade esta que na academia pode ser traduzida por informação que circula e contribua para novos avanços no conhecimento. Seguindo esse raciocínio, o número de citações recebidas por um trabalho é um indicador relevante de visibilidade (mesmo que as citações sejam fruto de críticas negativas, o trabalho estaria contribuindo para o debate e avanço da ciência). Quando se pensa nos casos de fraude ou plágio que são posteriormente revelados, ou mesmo de artigos que passam apenas a ser reconhecidos tardiamente – e, portanto, não tiveram visibilidade, ou citações, em fase inicial – eles não minimizam, a meu ver, a utilização do número de citações como um indicador de qualidade, afinal representam o processo pelo qual passam as contribuições científicas em que o tempo, a reprodutibilidade e checagem por pares (em primeiro

lugar os referees132 do periódico, mas posteriormente pelas dezenas ou centenas de cientistas que tentarão replicar os métodos e resultados descritos, processo que se assemelha com os testes farmacêuticos que podem apontar para uma qualidade dentro de uma amostragem pequena, na qual aparecem apenas alguns efeitos colaterais, por exemplo, para então serem comercializadas e aí sim, passarem pela avaliação dos próprios consumidores).

Imagem 6 – As semelhanças entre Science e Nature sob o olhar cômico. Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Crédito ao site PhDComics, por Jorge Cham, 2009.

O alto fator de impacto e visibilidade dessas publicações pode ser atribuído a vários aspectos, entre eles: a) são publicações semanais que propõem divulgar um resumo do que há de mais importante na ciência mundial; b) cobrem várias áreas do conhecimento, sobretudo a física, as ciências biológicas e a medicina, o que gera interesse a um público mais amplo; c) divulgam artigos científicos e temas considerados, pela comunidade científica e publicações, de alta relevancia; d) reúnem autoria de cientistas eminentes; e) focam em descobertas e debates eminentes, inovadores, originais e de alto interesse para cientistas de outras áreas – como informa o escopo dos periódicos; f) divulgam avanços

e contribuições das nações que lideram a produção científica mundial; g) incluem estratégias de divulgação junto à grande mídia.

Haslam e colegas (2008) analisaram inúmeras características que podem prever o alto impacto de artigos, usando para isso 308 trabalhos de psicologia publicados em 1996. Eles concluíram que são seis os fatores que mais fortemente influenciam o impacto futuro, sendo que os três primeiros já foram anteriormente mencionados para o caso da

Nature e Science: prestígio do primeiro autor, apoiado por, ao menos, mais um co-autor

eminente; prestígio do periódico; extensão do artigo; número e atualidade das referências. Enquanto os três primeiros fatores existem independentes da qualidade do artigo (ou porque se deduz que cientistas eminentes e periódicos de prestígio publiquem apenas artigos de qualidade) Haslam e co-autores pontuam, no entanto, que as instituições a que pertencem os autores e suas nacionalidades não influenciam no impacto dos artigos, embora esses critérios possam pesar na hora da aprovação dos mesmos. O tema do artigo também não aparece como influência de impacto, e eles lembram que artigos de revisão e teóricos são mais influentes, na média, que outros tipos de artigos. É importante lembrar, no caso desse estudo, que é provável que haja mudanças nos fatores, mesmo que sutilmente, quando se considera outras áreas do conhecimento, além de que haja fatores subjetivos que também contribuem para o impacto de um artigo. No próximo capítulo analisaremos alguns fatores que podem contribuir com o maior impacto de artigos publicados por cientistas ligados a instituições brasileiras na Science e Nature.

3.4. Construção do conhecimento em ambos periódicos

Desde sua origem, Science e Nature se propuseram a ser um veículo que contribuísse para o progresso da ciência, ampliando a comunicação entre pares e catalisando assim, o processo de desenvolvimento científico. A Science, já em seu primeiro número se autodenominava “A weekly record of scientific progress” (um registro semanal do progresso científico”), tanto nacional como internacional.

Os altos impactos e prestígio conquistados por essas publicações ao longo dos anos, os autores experientes e de prestígio que reuniram, desde o início, para legitimarem seu conteúdo, o exigente processo de avaliação por pares aos quais os artigos são

submetidos, o escopo editorial e as normas de redação dos artigos configuram elementos que reforçam a apresentação dos argumentos científicos como fatos.

Bruno Latour em sua obra Ciência em ação (2000) aponta os artigos científicos como sendo o “mais importante dos veículos retóricos” e destrincha a estrutura do texto científico de modo a entender como os fatos (caixa preta133) são construídos. Muito embora os artigos científicos se apóiem em fatos já estabelecidos, muitas vezes sem autoria, uma vez que já se tornaram verdades, eles objetivam, afirma Latour, contribuir para a ciência em construção. Essa construção dependerá, diz, do artigo ser lido, citado e incorporado no conhecimento tácito ou ter sua caixa preta aberta para se transformar em outra caixa preta. Retomo Latour porque no caso de Nature e Science, periódicos de prestígio no mundo acadêmico, há tantos elementos que reforçam a estruturação de seus argumentos, que torna o questionamento uma ação difícil. Soma-se a isso o fato de serem semanais e com espaço limitado para a apresentação de detalhes referentes à metodologia usada e dos resultados apresentados e que, portanto, contribuem para manter as caixas pretas fechadas, além da crescente demanda por produção científica que, possivelmente, restringe o tempo dos cientistas para a leitura de artigos – que dirá artigos e reflexões – que lhe serão úteis, e limitando ainda mais o tempo e disposição para leituras críticas e cuidadosas de trabalhos marginais a sua área de interesse. Assim,

Science e Nature se tornam as próprias caixas pretas e, por isso mesmo, pouco passíveis

de críticas pelos não especialistas, sejam estes cientistas de áreas distintas ou jornalistas que divulgarão as pesquisas por elas publicadas.

A concepção de ciência intrinsecamente presente nessas publicações já estabelece que, o que é relativo à ciência (Science) e à natureza (Nature) diz respeito às áreas duras da academia. Ou seja, ficam de fora as ciências humanas e sociais. Isso não quer dizer que cientistas dessas áreas não publiquem em suas páginas, mas que os temas abordados dizem respeito a essa concepção de ciência. Não foi sempre assim. A Nature já contou com subdivisões de artigos (Letters to the Editors) de psicologia, estatística, metalurgia, veterinária, antropologia e história da ciência, como é possível constatar em edições, por exemplo, dos anos 1960.

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Latour define caixa preta como sendo um mecanismo, estrutura ou conceito que, de tão complexo, só é possível entender o que entra e o que sai dela, mas não seu modo de funcionamento. Por exemplo, aceitar que o DNA é material genético, mas sem entender sua estrutura e como as informações genéticas são transmitidas entre as gerações.

Science e Nature são publicações compostas por inúmeras seções que pretendem

estabelecer um diálogo entre cientistas da mesma especialidade ou entre especialidades, como um retrato da dinâmica da construção do conhecimento científico. Ou seja, os resultados, conclusões e descobertas que já passaram por um crivo de avaliadores para serem aceitos para publicação, passam, a partir do momento de sua divulgação oficial, a serem testados, criticados e também avaliados pela comunidade científica. Parte dessas avaliações é publicada simultaneamente ao artigo em questão ou posteriormente. Dentre as seções que compõem ambos periódicos estão: notícias sobre ciência (News & Views;

News), cartas de leitores (Correspondence); opiniões (Perspective; Editorial; Technical comments; Matters arising; Scientific correspondence); artigos longos (Articles; Research articles; Reviews; Review articles); artigos curtos (Brevia; Reports; Letters),

anúncios de resultados novos promissores (Letters to the Editor); informações sobre o mundo acadêmico (obituários, eventos, empregos, lançamentos de publicações, entre outros); resenhas de livros (Book reviews).

A história da ciência revela que, a longo prazo, alguns poucos artigos acabam se revelando plágios ou fraudes – embora esses poucos casos sejam considerados muito graves – outra minoria ganha um espaço de destaque na história e entra para os livros textos e outros, provavelmente a grande maioria não deixa sua marca na história, uma vez que são pouco, ou nunca, citados por outros artigos e, portanto, não ganham visibilidade e tampouco influenciam novos estudos. Nos periódicos de grande visibilidade tanto no campo acadêmico quanto no da grande mídia, Nature e Science estão sob os olhos de um público numeroso e crítico – mesmo que em menor proporção.

O fator de impacto, apontado anteriormente, é um indicador, como diz o nome, de influências na ciência e, portanto, poderia ser traduzido como uma importante força no fazer científico mundial e, no caso destes dois periódicos, na opinião pública, dada sua frequente presença na grande mídia mundial. Os tópicos neles discutidos podem, diante deste quadro, ser uma importante força motriz para a determinação de áreas prioritárias para pesquisa, investimentos em C&T e pautas de discussão na sociedade.

Os periódicos já contam com registros em suas páginas que marcam a história dos grandes feitos científicos. Em uma linha do tempo desenhada por Nature134, estão a

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Linha do tempo disponível no site de Nature:

primeira observação do raio-x, a descoberta do primeiro hominídeo, a divisão do átomo, a dupla hélice do DNA de James Watson e Francis Crick, o registro da existência do buraco na camada de ozônio e o nascimento da ovelha clonada Dolly. Marcos científicos que, apesar de devidamente referenciados, são retratados como contribuições absolutamente autorais. O livro A century of Nature: twenty-one discoveries that

changed science and the world (Garwin & Lincoln, 2003) reforça o papel da Nature

como publicação que divulga artigos que mudaram a história da ciência, neste caso são 21 selecionados por serem considerados clássicos. “Como editores do periódico científico semanal Nature, estamos entre os primeiros a conhecerem descobertas que mudarão o mundo (não que seu impacto seja sempre imediatamente aparente)” (Garwin & Lincoln, 2003, p.xi). No entanto, o livro comemorativo procura deixar claro que a ciência é feita de conhecimento cumulativo e dependente de inúmeras contribuições. “(...) nenhuma descoberta, não importa o quão brilhantemente original ela seja, se sustenta sozinha: cada um dos artigos aqui incluídos deriva de um trabalho prévio e, por sua vez, fornece subsídios para o que virá em seguida”135 (Garwin & Lincoln, 2003, p.xiv). Um discurso que dá conta de possíveis críticas que venham a surgir sobre o avanço da ciência – sendo este construtivista – embora a Nature mesmo demonstre valorizar as contribuições pontuais e autorais responsáveis por grandes avanços no desenvolvimento científico, a exemplo dos marcos históricos apontados por sua equipe.

No caso da Science, não existe uma linha do tempo autodeclarada com marcos históricos, muito embora seja possível apontar artigos que tenham contribuído para a história da ciência, como o exemplo da edição especial de 23 de janeiro de 1970 com os resultados da coleta de material lunar da missão Apollo 11. Este fato talvez aponte para uma diferença de conduta de ambos periódicos, sendo a Nature uma publicação comercial, com claros propósitos de lucrar, sobretudo com a projeção de uma imagem de veículo que está recheado de marcos históricos, e a Science uma publicação sem fins lucrativos e comandada por uma sociedade científica, o que não quer dizer que esta não tenha o propósito de concorrer pela divulgação de descobertas e discussões à frente da

Nature.

Um exemplo clássico de pesquisa sobre a visão de “grandes feitos científicos” dessas publicações foi a divulgação do genoma humano de forma simultânea nos dois

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periódicos, num acordo de cavalheiros em 21 de fevereiro de 2001. A Nature publicou o sequenciamento feito com recursos públicos, enquanto que Science divulgou os resultados da empresa privada Celera, mesmo que ambos ainda não estivessem concluídos. E o sentido de “realização que entra para a história” foi mapeado por Leite (2006), que estudou o discurso científico e midiático ao redor da genética, mais especificamente em relação aos genomas e o determinismo genético. Os geneticistas, afirma o autor, que publicaram na edição especial da Nature escrevem ao mesmo tempo para dois públicos: um leigo e outro especializado. O uso de hipérboles era frequente, em ambas publicações, de modo a hipervalorizar um feito científico e “vender” seus benefícios e conquistas futuras. Futuro este que ainda hoje não se fez presente. Alguns exemplos mencionados são: o livro da vida, revolução, nova era, façanha épica, momento histórico, tabela periódica da vida136. Era como se os autores acreditassem que estavam escrevendo a história.

Essa busca por “grande feitos”, grandes temas, grandes debates é também um incrível chamariz para o público, que não pode deixar de acompanhar informações que alegam ser relevantes, e para a mídia, pelos mesmos motivos, como será analisado mais adiante. Os periódicos de alta visibilidade, como os aqui analisados, lidam de maneira mais