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Dentre os 312 professores, 92 (32%) relataram que trabalham em outra rede de ensino. Destes que trabalham em outra rede, 79 expuseram o local, a maioria deles é na rede estadual (n=64; 20,5%), em seguida, são professores que trabalham na rede particular (n=8; 2,5%). Outras redes citadas foram Centro Universitário Franciscano, Faculdade Palotina, Sistema de Ensino Gaúcho (SEG), Associação Desportiva da UFSM e, em municípios vizinhos.

Os participantes da pesquisa demonstraram que 46% trabalham em uma escola, outros 46% em duas escolas, 7% em três e 1% em quatro escolas. Esse dado desafia os gestores municipais e as políticas educacionais municipais adequarem-se à implantação gradual do cumprimento da jornada de trabalho em um único estabelecimento escolar, conforme estabelece a estratégia 17.3, da Lei Federal nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE).

A situação apresentada poderia incentivar a realização de concursos para cargo de professor com dedicação exclusiva, carga horária de 40h e não mais 20h, como acontece, historicamente, na maioria dos municípios. Algumas estratégias, como por exemplo, a do Rio de Janeiro/RJ, em vista do exposto e da progressiva demanda por escolas em turno integral, está realizando processo de migração dos profissionais concursados, que assim desejarem para um regime de trabalho de 40h.

Dentre os docentes pesquisados, 68% não trabalham em outra rede de ensino, o que indica que mais da metade poderia estar com dedicação a uma instituição escolar em tempo integral, pois também não exercem outra atividade remunerada (91%).

A Resolução CNE/CEB nº 5, de 3 de agosto de 2010, que fixa as Diretrizes Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos Funcionários da Educação Básica pública, dispõe em seu Art. 4º, Parágrafo VIII – sobre a jornada de trabalho ser, “preferencialmente, em tempo integral de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais para os profissionais da Educação Básica”. Acrescenta, no Parágrafo IX, o “incentivo à dedicação exclusiva em um único local de trabalho”.

A mesma Resolução, através de seu Art. 5º, Incisos XXII, XXIII, XXIV e XXV, incentiva a remoção de professores entre as unidades escolares, assim como, os processos de lotação de profissionais provenientes de outras esferas administrativas. A recepção de profissionais de outras redes públicas, por meio de permuta ou cessão temporária, inclusive para fins de intercâmbio entre os diversos

sistemas, também estão presentes na Resolução, podendo representar outras formas de solucionar a itinerância dos professores, contribuindo para a qualificação do trabalho desses profissionais.

O tempo de serviço dos professores participantes da pesquisa apresenta média de 19,92 anos, com desvio padrão de 9,53, sendo o mínimo 0,4 meses e o máximo 47 anos, demonstrando assim, encontrar-se em um nível avançado na carreira do magistério municipal. Chama-se atenção ao fato dos docentes terem média de idade próxima aos 49 anos e média de quase 20 anos de tempo de serviço, denotando a proximidade da aposentadoria, com repercussão para novos ingressos na carreira, em que planos estratégicos precisam ser esboçados para que não haja prejuízos dos anos letivos subsequentes, em virtude da falta de educador.

A realidade municipal, no ano de 2014, já apresentava sérios problemas por ausência de significativo número de docentes na rede de ensino, fato que ocasionou, pela primeira vez na história de Santa Maria/RS, um Processo Seletivo Público Simplificado de admissão temporária para o cargo de professor, destinado a atender vagas de licenças temporárias, em caráter emergencial e, por prazo determinado.

Conforme prevê a Lei Municipal nº 4.696/03, de 22 de setembro de 2003, que estabelece o Plano de Carreira do Magistério, o município utiliza-se do Regime Suplementar de Trabalho para suprir demanda temporária de professor, nos seguintes casos:

Art 24 [...] I - Suprir licenças de saúde superiores a quinze (15) dias; II - Suprir afastamentos que não por saúde, superiores a trinta (30) dias; III - Suprir convênios com escolas particulares filantrópicas; IV - Suprir cedência ou afastamento de professores no exercício de função gratificada; V - Suprir o afastamento de professores no exercício de Direção e Vice-direção de Escola. Parágrafo único- No caso de vacância no cargo e inexistência de candidatos habilitados, a convocação prevista neste parágrafo será feita pelo prazo máximo de seis (06) meses, devendo a Secretaria de Município da Educação comunicar à Secretaria de Município dos Recursos Humanos a necessidade de realizar Concurso Público nesse período (SANTA MARIA, 2003).

No entanto, a totalidade de docentes interessados nessa suplementação encontrava-se convocada. Somava-se a isso, o aumento substancial de afastamentos por motivo de saúde dos docentes. Segundo informações divulgadas, no primeiro semestre de 2014, 228 docentes estavam afastados com atestados médicos de licenças saúde, licenças gestantes e licenças saúde familiar (SANTA MARIA/RS, 2014), situação essa que levou a gestão municipal, a abertura de

contrato temporário, fato contraditório, já que muitas carências foram provocadas por aposentadorias, o que descumpre as normativas estabelecidas em Lei.

A abertura de vagas em concurso público só ocorreu no início do ano de 2015, passado um ano de grande dificuldade para sanar a falta de professores. No entanto, apesar da abertura de concurso, dados indicam que o mesmo possui um déficit de, aproximadamente, 30% no número de vagas, se for considerado o quantitativo de aposentadorias desde o vencimento do último processo seletivo (SINPROSM, 2014).

Durante a coleta de dados da pesquisa, o que se percebeu nas escolas foram diretores, vice-diretores, coordenadores pedagógicos ministrando aula para preencher a carga horária de disciplinas que não havia docente, o problema a ser considerado é a duração dessa prática, perpassando longo período de tempo, na maioria das vezes, sem falar na aprendizagem dos alunos. Em uma situação específica, a coordenadora pedagógica de uma escola, com formação em pedagogia, supria a ausência de um professor de língua inglesa, que havia se aposentado, por mais de um mês, revelando não possuir conhecimento algum do conteúdo que estava trabalhando.

A Professora G (p. 2-3) explicita esse contexto, em outra circunstância em que faltou professor de Matemática na escola que trabalha por mais de 50 dias:

Ficou mais de 50 dias sem professor de matemática. Porque não tinha, não tinha

professor de matemática. Aí eu fiquei “fresca” dando aula de Geografia. Fui

adiantando, fui adiantando... Fui adiantando as minhas aulas, mas as crianças não aguentavam mais, né? [...] Só que passou os 15 dias. Já passou 30 dias. Já tá em 50 dias e eles não têm professor de matemática. E essas crianças vão rodar? [...] E outra coisa... Eu digo: Substituir é uma coisa. Agora, eu até poderia ir lá passar um monte de continha... né? [...] Mas não, eu não to ensinando. Nenhum professor pode substituir mais de 15 dias. Aí... A lei agora é: os [primeiros] 15 dias é a Coordenação que tem que entrar [...] Não mandam um professor nos primeiros quinze (15) dias de atestado. É a Coordenação que tem que entrar. Mas eu disse: isso é errado! Por exemplo, quando um professor se afasta, que tá aposentado, já não precisa esperar esses quinze (15) dias! [...] Tem que vir [outro professor]. Tem uma vaga. Vale a vaga, né? Atestado de quinze (15) dias é a coordenação que tem que substituir. Só que eu digo assim: A coordenação fica fazendo de conta os quinze dias. Porque ela não domina [o conteúdo].

Esses dados corroboram com o necessário planejamento, diagnósticos e encaminhamentos por parte da gestão municipal para que se estruture um cronograma de suprimento de pessoal, em virtude de licenças, aposentadorias, entre outras, procurando, desta forma, minimizar o efeito da falta de professores na organização escolar, bem como, no processo de ensino-aprendizagem dos alunos.

Em relação ao salário dos professores municipais de Santa Maria, evidenciados na tabela salarial a seguir, possuem diferenciação por classe (promoção por tempo de serviço) e nível (habilitação dos professores), tendo como base os contratos de trabalho de 20h, de acordo com a Lei Municipal Nº 4.696/03, que estabelece o Plano de Carreira do magistério público. O município tem apresentado dificuldades em atualizar os valores de acordo com os reajustes incididos anualmente sobre o Piso salarial profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação básica, conforme estabelece o Art. 5º da Lei FederalNº 11.738/2008.

Salienta-se que a referida Lei estipula o vencimento inicial (valor mínimo) que o profissional do magistério, com formação em nível médio, na modalidade Normal, conforme institui o Art. 2º da Lei FederalNº 11.738/2008 e o Art. 62 da Lei Federalnº 9.394/1996, com jornada de 40 horas semanais, deve receber. Desta forma, vencimento inicial não pode ser confundido com remuneração, que corresponde à soma de tudo aquilo que o trabalhador recebe ao final do mês.

Existem muitas controvérsias ainda relacionadas aos valores do Piso salarial profissional no que diz respeito ao entendimento dos gestores municipais, por considerarem que a Prefeitura de Santa Maria/RS paga além do estipulado pela Lei para um contrato de 20h. No entanto, o reajuste, calculado com base na comparação da previsão do valor aluno-ano do FUNDEB dos dois últimos exercícios, deveria ocorrer na proporcionalidade estipulada anualmente, pois o objetivo é valorizar os profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, conforme estabelece a Meta 17 do PNE/2014, de forma a equiparar o rendimento médio do docente aos dos demais profissionais com escolaridade equivalente.

Figura 2 – Tabela salarial dos professores municipais de Santa Maria - valores de referência para o Ano de 2014

Segundo relatório do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, denominado As Desigualdades na Escolarização no Brasil (BRASIL, 2014, p. 26), “o salário de admissão dos novos professores de nível superior no ensino fundamental e na educação infantil cresceram entre 15% e 18% entre 2009 e 2012, ainda assim, perfilam junto às profissões de nível superior de menor remuneração”, ficando um pouco acima da metade da remuneração média dos demais profissionais.

4.4.3 Formação dos professores

Os resultados quanto à formação dos participantes da pesquisa são exibidos no Gráfico 6, demonstrando que 98% dos professores da rede de ensino municipal possui Ensino Superior em alguma licenciatura, ou em pedagogia, ou em ambas. Assim, percebe-se a consonância, quando da aprovação da LDB nº9394/96, que estabelecia prazo de dez anos para os municípios qualificarem seu quadro de professores que tinham apenas Curso Normal. Atualmente, o também chamado “magistério” é um quadro em extinção no Plano de Carreira Municipal.

Gráfico 6 – Representação da formação acadêmica dos participantes

0% 20% 40% 60% 80% 60% 34% 4% 1% 1%