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Os trabalhadores-estudantes, escolhas, inserção profissional Enuncia Soares (2002) que, quando falamos em escolha

Outra forma que baliza a vida cotidiana é a “probabilidade” Em nosso cotidiano estabelecemos uma relação

ATIVIDADE PROFISSIONAL

6 TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS E EDUCACIONAIS: ENTRE INCERTEZAS E EXPECTATIVAS NA VIDA DUPLA

6.1.5 Os trabalhadores-estudantes, escolhas, inserção profissional Enuncia Soares (2002) que, quando falamos em escolha

profissional, várias são as considerações/determinantes que interferem nesse resultado, tais como os fatores: políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos. E nas narrativas dos jovens, apresentadas a seguir, podemos perceber o quanto esses fatores são combinados:

Eu não sabia o que eu queria da faculdade e comecei a trabalhar, fiz cursinho um ano, dois anos... e a pressão de casa que é a pior (se refere a mãe)... eu me inscrevi pro vestibular pra Fono, eu escolhi Fono pelo baixo índice de procura e por ser na área da saúde, que eu gosto muito.

(Cléo).

[...] eu tentei prestar vestibular algumas vezes, umas cinco... aí teve um ano que eu me cansei... vou fazer pra qualquer coisa... aí eu tentei pra Biblioteconomia... só por que era o curso mais baixo, nem sabia o que fazia direito... cursei um ano e prestei de

novo de novo o vestibular...aí saiu Ciências Biológicas noturno. Nunca me passou na cabeça, não quero fazer, porque é assim, minhas duas irmãs fizeram, e talvez se eu não fizesse, eu iria me senti mal por não fazer... me sinto na obrigação de entrar numa universidade. (L. M.).

Então o meu tio é engenheiro e... dentre os familiares acho que é o que mais ganha, assim financeiramente...então eu pensei em seguir a mesma linha, até porque eu já teria um lugar pra trabalhar, né?... daí não passei no vestibular e no outro ano eu resolvi mudar pra Psicologia. (Gerson).

A influência familiar também se mostra presente para os três jovens trabalhadores-estudantes, e fazer um curso superior faz parte do imaginário familiar, seguindo uma ideologia social, na qual, pela via da educação superior, eles poderão atingir uma melhor ascensão profissional, situação que os leva ainda jovens à necessidade de efetivarem uma escolha, qualquer que seja ela (Soares, 2002; Romanelli, 1995; Ibase, 2010). Essa escolha possível segue, no caso do Gerson, relações econômicas, uma vez que optar pelo curso de Engenharia engendrava uma condição financeira, como também seguir uma influência familiar, pois como o tio de Gerson era empresário do ramo da Engenharia, sua escolha se deve à possibilidade de ele já ter um trabalho “garantido”. “As identificações com o grupo familiar e o valor que as profissões assumem nesse grupo influenciam o jovem” (Soares, 2002, p. 75).

Pode-se ainda inferir que, na estrutura da vida cotidiana desses sujeitos, essas escolhas foram efetivadas tomando por conta o princípio do economicismo. De acordo com Heller (2008), o sujeito toma por princípio a “lei do menor esforço”, uma forma rápida de acesso, seja para minimizar tempo, esforço físico ou intelectual. Assim sendo, para Cléo e L. M., o fato de já fazerem um curso de graduação era uma “necessidade” ou uma retribuição familiar, e a opção por cursos menos procurados e mais “fáceis” foi a decisão tomada. Já para Gerson, o economicismo também se fazia presente quando idealiza fazer uma graduação em Engenharia e assim garantir sua futura empregabilidade.

No que tange à inserção profissional, foram diversas as trajetórias percorridas pelos participantes, contudo, optei por centrar meus comentários nas atividades exercidas na época desse estudo e/ou as anteriores mais próximas. Cléo exercia duas atividades laborais: emprego com auxiliar administrativo na secretaria de uma empresa

prestadora de serviços advocatícios de segunda a sexta, em horário comercial. Nos finais de semana atuava na empresa de eventos da sua mãe, habitualmente, na organização de festas para casamentos. O emprego foi conseguido por intermédio de um amigo da família:

[...] aí, logo em seguida nós temos um amigo que é Advogado, aí depois de duas semanas que eu passei pro vestibular ele ligou pra casa, perguntando se eu queria trabalhar, aí a mãe respondeu: - Ela tá indo. (Cléo).

Gerson trabalhava no serviço público estadual, no horário noturno, em escalas de doze ou vinte quatro horas de trabalho e seus respectivos descansos. Ele buscou, anteriormente ao trabalho público, alternativas em empresas privadas e, não obtendo sucesso, diz ter resolvido “partir” para os concursos públicos, conforme comenta a seguir. A Figura 9 apresenta a foto da entrada do seu local de trabalho, destacando-a como significativa por ilustrar sua inserção laboral.

Figura 9 - Inserção profissional - Gerson

Fonte: elaborado por Gerson.

Daí procurei um amigo meu que trabalhava numa empresa... e também não me aceitaram porque não tinha experiência profissional, não tinha uma qualificação... comecei a estudar e fui caindo nos concursos. (Gerson).

[...] foi minha primeira experiência, minha entrada no mercado de trabalho. (Gerson).

L. M. exercia uma função de supervisão como freelancer em casas noturnas de eventos/shows artísticos, coordenando o grupo de recepcionistas. Anteriormente também já havia passado por outras experiências profissionais diversas como estagiária, quando cursava o ensino médio, depois teve um emprego por dois anos, em uma empresa de arquivos. Aos dezoito anos começou a trabalhar nas casas noturnas, ficando um período conciliando o emprego e as atividades freelancer. Na narrativa transcrita a seguir, ela esclarece como foi foram suas inserções:

[...] os estágios, alguns eu fui atrás... e no meu trabalho de freelancer eu cheguei, porque as minhas duas irmãs trabalharam lá, foi por isso, assim... foi passado de uma pra outra. (L. M.).

No caso dos três jovens, as formas de inserção laboral coadunam com algumas também encontradas por Silva (2010), quando investigou a trajetória de inserção profissional de jovens egressos do ensino superior, constatando que os modos mais usuais eram: intermédios de amigos, concursos públicos e intermédios da família. Desse modo, tornam-se manifestos outros modos de inserção profissional para além somente da vinculação educacional e dos discursos da empregabilidade, as chamadas “redes”, que seriam alternativas diante do mercado altamente competitivo.

Além disso, como pode ser constatado no estudo de Siqueira (2011), que tem relação de temática com este, os três jovens trabalhadores-estudantes viviam, durante a graduação, a contradição de compor horas de trabalho, que lhes permitia ganhar seus salários, autonomia financeira e experiências práticas, contudo tinham que conviver com as “perdas” de horas para dedicação aos estudos.

Diante do atual regime de acumulação capitalista e das dificuldades de inserção profissional juvenil, em um mercado cada vez mais competitivo, os jovens, diante das adversidades, buscam alternativas possíveis de inovações, considerando um cotidiano que traz dilemas incertos perante seus futuros (Pais, 2007).

6.1.6 Trabalhadores-estudantes: projetos, sentidos e as condições