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Como trabalhadores da indústria da tradução, somos parte da cadeia produtiva dos textos e

às vezes, somos chamados para trabalhar somente com atualizações ou adaptações. Assim, espera-se que nossas traduções se afastem do ideal de equivalência entre textos fixos, sendo mais um conjunto de revisões de muitos textos. Nos campos das tecnologias eletrônicas, os tradutores não têm trabalhado para traduzir textos inteiros, como ocorre com livros. A tradução, como a produção geral de textos, se assemelha mais ao trabalho com bancos de dados, glossários e um conjunto de ferramentas eletrônicas, em vez de um trabalho com textos-fonte definitivos e completos. (GIL e PYM, 2006, p. 06).58

Comparando a fala de Gil e Pym com nossa experiência pessoal, observamos uma tendência crescente de transformar textos em um conjunto de revisões de outros textos, um produto, uma combinação de conhecimentos e habilidades de diversos profissionais reunida em bancos de dados que nos servem de estoque de material, um espaço ao qual recorremos

58 We are sometimes called on to render no more than the updates or adaptations. Our translations might thus be expected to move away from the ideal of equivalence between fixed texts, becoming more like one set of revisions among many. In the fields of electronic technologies, translators are less commonly employed to translate whole texts, as one did for the books with concordances. Translation, like general text production, becomes more like work with databases, glossaries, and a set of electronic tools, rather than on complete definitive source texts.

em busca de matéria-prima para a produção de novos textos. De posse dos insumos necessários, pegamos as peças, juntamos tudo e criamos algo novo.

Marx, ao escrever O Capital, usa os operários como exemplos de como uma indústria anula as singularidades e torna a todos responsáveis pela produção de um produto, sem que ninguém trabalhe exclusivamente nele: “O operário teceu, e o produto é um tecido” (MARX, 2012, p. 85). Fazendo uma analogia entre esse pensamento de Marx e a imagem do tradutor buscando nas memórias a matéria-prima para a produção de seus textos, diríamos que o tradutor tece seus textos a partir de uma trama de segmentos aproveitados. O “tecido” produzido se tornará também matéria-prima, chegando a ser, assim como Marx fala sobre o produto do trabalho dos operários de uma tecelagem, “meio de produção de outro” (MARX, 2012, p. 85).

Sendo assim, podemos comparar o tradutor a um operário, que é submetido a um esquema de trabalho em formato de linha de produção. Nestas fábricas de traduções, a quantidade de trabalho produzida é o que mais importa àqueles que contratam nossos serviços, nos levando à afirmação de Marx que “à medida que o trabalho desenvolve as suas faculdades produtivas, aumentando a eficácia e a quantidade dos meios de produção, rebaixando o seu preço” (MARX, 2012, p. 190). Consequentemente, o trabalho intelectual do indivíduo passa a significar menos, sendo essa pessoa considerada somente mais uma peça da cadeia produtiva das traduções, podendo facilmente ser substituída por outro trabalhador, caso haja necessidade, desde que este use dos mesmos recursos de memória que o trabalhador anterior.

No entanto, embora a postura de linha de produção industrial adotada em alguns ramos da tradução possa ser questionável, ela já não surpreende àqueles que atuam nesse mercado. Se considerarmos que estamos vivendo a chamada Quarta Revolução Industrial59 (ou Revolução Digital), a postura de mercado dos contratantes dos nossos serviços de tradução parece estar coerente com a nova ordem das coisas. O pesquisador alemão Klaus Schwab afirma que “os desafios criados [...] parecem estar principalmente no lado da oferta, no mundo do trabalho e da produção” (SCHWAB, 2016, p. 12), sendo assim, nossa sociedade passa por uma era de novas transformações, e não será diferente quando pensamos em nossas formas de trabalho. Se muitos dos meios de produção estão sendo alterados devido à digitalização dos processos produtivos e da mudança na oferta de serviços, não esperamos que os tradutores

fiquem na contramão. Somos trabalhadores e, como qualquer outro trabalhador, estamos sujeitos a modificações na nossa forma de produção e de prestação de serviços. Além disso, não somos contrários àquilo que traz vantagens à categoria e melhora as condições de trabalho. No entanto, insistimos que essa classe de profissionais deve conhecer – e, sobretudo, poder – atuar nesse novo modelo de sociedade como parte ativa das transformações que lhe afetam, e não somente se manter subserviente a elas.

Novamente nos valendo dos exemplos formulados por Marx para discutir a questão dos trabalhadores em uma fábrica, nos lembramos de que, para ele, “o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho que ela contém, pelo tempo socialmente necessário para a sua produção” (MARX, 2012, p. 87). A partir daí, trazemos a discussão para o âmbito da tradução e vemos que a tecnologia das memórias vai ao encontro dos anseios capitalistas quando visa diminuir o tempo dedicado a cada texto, aumentando os lucros, produzindo uma quantidade maior de textos com menos tradutores envolvidos e com menos tempo de produção. O tradutor, por sua vez, participando desse processo produtivo, assim como os trabalhadores citados por Marx, vende sua força de trabalho também “para ser explorada [...] onde tem origem a mais-valia” (MARX, 2012, p. 90). A partir de então, o profissional passa a receber pelo seu trabalho um valor inferior ao lucro que esse trabalho gerará ao seu contratante, mas gerando uma mais-valia ainda maior se considerarmos que seu trabalho será aproveitado para além de um único projeto de tradução para o qual fora contratado e pago. Marx, pensando nos operários de uma fábrica, afirmou que “a taxa de mais-valia é [...] a expressão exata do grau de exploração da força de trabalho pelo capital” (MARX, 2012, p. 96). Nós, quando pensamos na forma de trabalho adotada com CATs, observamos que quanto mais o contratante consegue reaproveitar a força de trabalho já empregada em uma tradução, mais lucro terá com trabalhos futuros.

Ao reaproveitar memórias, os contratantes de serviços de tradução conseguem também superar os limites da jornada de trabalho dos profissionais, gerando agilidade e maior rentabilidade ao processo. Marx afirma que “a jornada de trabalho varia entre os limites impostos em parte pela sociedade e em parte pela natureza” (MARX, 2012, p. 101). Como trabalhadores dessa “fábrica”, concordamos que há um limite para a produtividade do tradutor, um limite inclusive físico que nos impede de trabalhar noite e dia. No entanto, a urgência na produção de volumes de textos é inegavelmente superior à capacidade humana de trabalho, sendo assim, ou empregamos um número maior de tradutores ou automatizamos o

processo, ou ainda podemos encontrar um terceiro caminho fazendo o possível para não prejudicar nem tradutores, nem texto, nem contratantes.

Entendemos que há espaço para a contratação de um número superior de trabalhadores para a produção de traduções e entendemos que também há espaço para o uso das memórias, por exemplo; e por isso defendemos que haja uma integração entre ambos os recursos. Quando falamos em integração acreditamos na possibilidade de utilizarmos a tecnologia como nossa aliada, facilitando, por exemplo, a digitação de repetições realmente mecânicas, mas sendo nós, os tradutores, os responsáveis por conferir e validar tudo o que a máquina sugere. Assim, entendemos que chegaremos a um ponto de equilíbrio entre agilidade e maior precisão no processo tradutório, sendo a memória utilizada conforme sua principal definição60, ou seja, como um instrumento usado para executar trabalhos mecânicos. Nesse modelo de trabalho, o ser humano seria o agente responsável pelo processo intelectual envolvido na produção, aquele que tem liberdade criativa para tornar cada texto único.

Ainda falando em termos mais liberdade criativa e recorrendo novamente aos pensamentos de Flusser, propomos buscar que “os nós que perfazem a sociedade se transformem efetivamente em lugares de produção do imprevisível, em lugares de liberdade. [...] que todos os participantes da sociedade sejam ‘artistas livres’. Nesse caso, a sociedade se transformaria efetivamente em supercérebro e supermente humanos. [...] A existência humana teria mudado: de homo faber passaríamos a homo ludens” (FLUSSER, 2008, p. 95). Fazendo um paralelo com a tradução, deixaríamos de agir simplesmente como operários em uma fábrica de traduções para agirmos como artistas criando, efetivamente, textos e evitando que linguagem se torne também mecânica.

Para ilustrar situações em que a linguagem tem se mostrado bastante padronizada, possivelmente devido ao pouco espaço dedicado à liberdade criativa do tradutor, vejamos três exemplos de traduções de textos com instruções de uso de produtos distintos, produzidos por empresas diferentes, porém com funções e público-alvo bastante semelhantes. Nas Figuras 35, 36 e 37 abaixo vemos exemplos de tutoriais traduzidos do SQL Server 2017 (produzido pela empresa Microsoft), do Banco de dados Oracle (produzido pela empresa Oracle) e do IBM DB2 (produzido pela empresa IBM), respectivamente.

Olhando o layout dos três tutoriais, percebemos que há padrões em seu formato, como o uso de capturas de tela e a organização sequencial dos passos a serem seguidos pelo usuário.

No entanto, há também alguns sinais de que a linguagem aqui parece estar excessivamente padronizada e colada aos textos em inglês.

Fig. 35: Capturas de tela – Tutorial do Microsoft SQL Server61

61 https://docs.microsoft.com/pt-br/sql/ssms/tutorials/connect-query-sql-server?view=sql-server-2017. Acesso

Fig. 36: Captura de tela – Tutorial do Oracle62

Fig. 37: Captura de tela – Tutorial do IBM DB263

62 https://www.oracle.com/technetwork/pt/articles/cloudcomp/banco-de-dados-on-premises-3716958-ptb.html.

Na Figura 35 da Microsoft, vemos que as expressões “o seguinte” e “em seguida” aparecem diversas vezes tornando o texto repetitivo, embora haja a possibilidade de construir essa tradução de forma diferente. Logo, se o tradutor puder se descolar um pouco do padrão da memória, poderá construir algo como “Cole o snippet de código T-SQL abaixo na janela de consulta, selecione-o e escolha Executar (ou F5 no teclado)”, ou seja, passando a mesma informação, porém de forma mais fluida, menos trucada para o leitor brasileiro.

Já o texto da Figura 36, da Oracle, poderia ser construído de forma diferente considerando as referências anteriores e posteriores a cada segmento da tradução, o que evitaria repetições excessivas em sentenças tão curtas. Além disso, vemos nessa figura mais um exemplo de traduções muito próximas ao original em inglês e que fatalmente se perpetuam nos aproveitamentos de memória. Nesse caso, tendo o tradutor maior liberdade criativa para construir suas frases, e ainda assim obedecendo às preferências terminológicas do cliente, ele poderia optar por algo como “Certifique-se de ajustar o parâmetro LOG_ARCHIVE_DEST_2 no banco de dados on-premise e especificar qual BD está sendo executado na nuvem”64, novamente passando a mesma informação, porém evitando repetições excessivas do mesmo termo.

No terceiro exemplo, temos a Figura 37 ilustrando instruções encontradas no site da empresa desenvolvedora do DB2, a IBM. Novamente, nos deparamos com uma tradução que segue um formato padronizado para todos os segmentos, deixando pouco ou quase nenhum espaço para a atuação criativa do tradutor. Nesse caso, vemos que um dos padrões é manter a impessoalidade nos segmentos e esse formato é perpetuado facilmente pelo uso de memórias. Mesmo assim, se o tradutor puder ter uma maior liberdade para construir seu texto, ele poderá manter esse padrão e, ao mesmo tempo, tornar as frases mais fluidas em português. Logo, suponhamos que o segmento “Se desejar concatenar os valores de data e hora com outro texto, será necessário converter o valor em uma sequência de caractere primeiro. Para fazer isso, é possível simplesmente usar a função CHAR()” seja uma correspondência de memória 100% e, mesmo assim, o tradutor tenha liberdade para atuar e alterá-lo. Sem perder as características do texto da empresa nem as informações essenciais contidas no enunciado, esse segmento poderia ser traduzido como, por exemplo, “Caso deseje concatenar os valores de

63 https://www.ibm.com/developerworks/br/data/library/techarticle/0211yip/0211yip3.html. Acesso em 06 de

março de 2019.

64 Essa sugestão trazendo a tradução de “make sure” como “certifique-se de” foi apresentada devido à grande

recorrência de orientações sobre preferência por essa construção que aparecem em Guias de Estilo de clientes da área da informática. O mesmo ocorre com a não tradução do termo “on-premise” e o uso do hífen e do itálico.

data e hora com outro texto, será necessário converter o valor antes em uma sequência de caracteres. Para isso, basta usar a função CHAR()”. Essa demonstração de mudanças simples, porém que poderiam aprimorar a escrita de textos como esses, mostra ser possível evitar que os textos técnicos sejam escritos de maneira pouco fluente ou truncada para seus leitores e ainda assim manter vivo o perfil de texto escolhido pelo cliente.

Trouxemos três exemplos bastante simples para mostrar que o trabalho com textos pode ir além do automático, sem negar que esse recurso seja um facilitador, apenas unindo as habilidades da máquina e do homem.

Além disso, ainda usando a Figura 35 da Microsoft como exemplo, percebemos como o olhar humano, por meio de ações como proofreading, pode evitar imprecisões no material que chegará ao consumidor final. Nessa captura da tela, disponível publicamente para os consumidores do SQL Server, vemos que o texto em português indica a tradução das interfaces com o usuário (botão “Executar”), porém as capturas de tela usadas para fins ilustrativos estão com todas as interfaces em inglês. Esse tipo de situação nos remete a alguns problemas possíveis, porém evitáveis se houver a interferência humana no processo. São eles: 1) somente o texto do documento original fora enviado para a tradução, ignorando as capturas de tela usadas na publicação. 2) somente o texto fora enviado para a tradução e não houve uma etapa de proofreading antes da publicação. 3) o software pode não ter versão traduzida para o português, por isso não há capturas de tela com a interface em português, porém o tradutor, possivelmente seguindo memórias de tradução usadas em outros projetos, traduziu conforme tal e não teve acesso a materiais que especificassem que no caso desse produto, as interfaces com o usuário deveriam ser mantidas em inglês ou em formato bilíngue65 na tradução.

Exemplos como esse demonstram que o tradutor tem o seu lugar e a sua importância nas mais diversas etapas do processo de tradução. Por isso, a partir do momento que ele conquistar a liberdade para atuar usando as memórias e interferindo nas sugestões dela sempre que necessário, sendo reconhecido por isso, teremos uma nova fase de mudanças na profissão tradutor, deixando de termos operários para termos agentes ativos do processo.

Confluindo tais ideias nos atrevemos a comparar a atual imposição do uso das memórias de tradução como algo que tende a levar os profissionais a uma atuação amarrada,

65 Caso devessem ser mantidas em formato bilíngue, essas ocorrências apareceriam no texto como “Execute

como vimos nos exemplos nas Figuras 35, 36 e 37, se tornando, assim, o já citado homo faber de Flusser. Usando as práticas de aproveitamento da maneira atual, a área parece estar caminhando para um momento em que a máquina interfere nas escolhas e na produção textual do profissional, deixando de ser um instrumento auxiliar para ser um molde delimitador. Isso porque, como visto nos exemplos, os tradutores precisam moldar o seu texto para que sempre se adapte ao padrão que a máquina exibe e classifica, sem liberdade, sem inconsistências, algo que é uma característica natural humana, porém considerado um erro em diversos ramos da tradução.

Aldous Huxley (1927) já afirmava que “[a] mente humana tem uma capacidade quase infinita para ser inconsistente”, porém, tal qual as máquinas, os tradutores hoje são moldados para seguirem padrões e padrões devem manter consistência, caso contrário, terão seu trabalho taxado como errado.

Gil e Pym (2006), ao resgatarem uma fala de Claude Bédard, reforçam o questionamento sobre a falta de liberdade criativa do tradutor que usa memórias, afirmando que

[elas] mudam a maneira como os tradutores trabalham. Se você receber um banco de dados de memória, espera-se que você siga a terminologia e a fraseologia dos pares de segmentos incluídos nesse banco de dados, em vez de escrever o texto usando suas próprias decisões terminológicas e o seu estilo. Além disso, as memórias de tradução permitem que vários tradutores e revisores participem da produção da mesma tradução. Embora isso seja necessário para cumprir os prazos do setor, essa prática pode levar a uma tradução sem estilo coeso, composta por um conjunto de sentenças reunidas. O resultado pode ser lido como uma ‘salada de frases’. (BÉDARD, 2000, apud GIL e PYM, 2006, p. 09).66

Retomando as Figuras 35, 36 e 37, notamos que, de fato, falta estilo coeso, e que a sequência de itens que aparece nos três exemplos dá sinais de ter sido composta por um conjunto de sentenças reunidas, haja vista o excesso de repetições nas quais o contexto daria conta de esclarecer a que o autor se refere. Além disso, o fato de vermos, na Figura 35, uma

66 Translation memories change the way translators work. If you are provided with a memory database, you are usually expected to follow the terminology and phraseology of the segment pairs included in that database, rather than write the text using your own terminological decisions and style. Further, translation memories enable several translators and revisers to participate in the production of the same translation. While this is needed to meet industry deadlines, it may lead to a translation with no cohesive style, made up of a set of sentences put together. The result can read like a “sentence salad”.

inconsistência entre texto e imagens mostra que mesmo que automatizar possa ser necessário para cumprir os prazos do setor, podemos ter, além de uma “salada de frases”, uma “salada de referências”.

Embora haja problemas e ainda seja necessário aprimorar o uso desses bancos de dados, usar CATs também traz vantagens, pois associa uma ferramenta ao conhecimento humano, usando um instrumento para facilitar o arquivamento da produção intelectual, facilitando o trabalho dos trabalhadores envolvidos na produção da mesma tradução. No entanto, as já referidas ambivalências desse processo se mantêm, pois colocar o profissional na linha de produção, em que ele passa a ser um “trabalhador fracionário”, pode levar o tradutor a ter o mesmo destino dos operários citados por Marx, onde um “operário converte todo o seu corpo em órgão mecânico em uma só operação simples, executada por ele durante a sua vida” (MARX, 2012, p. 120).

Se tomarmos o pensamento de Marx como ponto de referência para estabelecermos um paralelo entre os operários de uma fábrica e os tradutores, nos veremos diante de profissionais que, ao executar a parte que lhes cabe no processo, buscam subsídios em um banco de dados, seguem a terminologia e a fraseologia de forma estrita, atentando-se aos prazos impostos para a produção. Feito isso, eles passam o texto adiante para que novos agentes atuantes nessa cadeia produtiva possam trabalhar com esse produto. A partir desse momento, o trabalho passa a ser realizado pelos revisores, diagramadores, dentre outros profissionais que lidam com o projeto de tradução até que chegue ao seu consumidor final. Toda essa sequência produtiva ocorre porque, assim como os produtos produzidos nas fábricas, a tradução que é fruto dessa linha de produção é “o produto parcial de cada trabalho fracionado é um só em grau particular do desenvolvimento da obra completa, o resultado do trabalho de um é o ponto de partida do trabalho do outro” (MARX, 2012, p. 123). Assim como faziam os operários que inspiraram as reflexões de Marx, seguimos nós, tradutores, lidando com a tradução somente como um produto de consumo, não como um trabalho intelectual por essência, colocando nela moldes que sirvam para a produção de peças idênticas.

Diante desse processo, nós, tradutores, nos vemos quase obrigados a aceitar a