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TRAINDO UMA AMIZADE

No documento É Preciso Algo Mais (Elisa Masselli) - PDF (páginas 99-131)

“É PRECISO ALGO MAIS” _ ELISA MASSELLI

“Artur saiu da escola rapidamente. A vontade da maconha já era intensa. Olhou para o relógio e pensou:

"Quatro horas da tarde. Não adianta, sei que a vontade vai ficar pior. Se não fumar aquele cigarro, começarei a tremer, já

conheço todas as etapas. Se não fumar, às sete horas não conseguirei me sentar para o jantar. Vou falar com Rodrigo, ele vai me ajudar. Afinal, ele me colocou nessa."

Caminhou em direção à casa de Rodrigo. Chegou ao portão, apertou a campainha. Ele apareceu na janela:

— Olá, Artur. Sabia que viria. Espere, já estou descendo. Fechou a janela. Artur permaneceu no portão esperando. A porta se abriu e Rodrigo, sorrindo, saiu por ela. Ironicamente, perguntou:

— O que você quer aqui? Está precisando de alguma coisa? Artur, irritado, respondeu:

— Sabe por que estou aqui, preciso da sua ajuda. Meu bagulho terminou, preciso de mais.

— Estou feliz. — Feliz? Por quê?

— Você já está usando o nome certo. — O que isso tem a ver?

— È sinal de que já está se acostumando e que já não lhe causa mais medo. Veio ao lugar certo. Trouxe dinheiro?

— Não tenho dinheiro, e você sabe disso. É também por esse motivo que tenho medo dela, sim!

Rodrigo, com aquela fala mansa, disse:

— É... Você tem razão... Sem dinheiro não tem bagulho. Sabe que sem dinheiro Jiló não vai dar...

— O que vou fazer? Onde vou arranjar dinheiro? Dê-me um hoje e amanhã na escola lhe dou o dinheiro do meu lanche.

— Sabe que o dinheiro do lanche é pouco. Dei-lhe em troca porque você estava desesperado, mas estou tendo prejuízo. Não posso continuar porque quem vai ficar sem sou eu...

— Você precisa me ajudar...

— Não tem jeito, não, trate de arranjar dinheiro. — Não sei onde, nem como...

— Na sua casa deve ter alguma coisa que valha dinheiro. — Não tem nada...

— Claro que tem. Rádio, televisão, qualquer coisa.

— Como vou tirar algo assim da minha casa? Meus pais notariam a falta...

Rodrigo soltou uma gargalhada, dizendo:

— Não sei, tem que se virar, afinal, você não é quadrado. Se vira, meu! Sinto muito, mas não posso ajudar.

Artur percebeu que não adiantava insistir. Ele não o ajudaria. Com a cabeça baixa, saiu dali, voltou para casa. Já estava muito mal, sabia que não conseguiria se controlar. Entrou e foi direto para o seu quarto. Iracema percebeu quando ele chegou.

No quarto, ele se deitou sobre a cama. Ficou olhando para o teto. Precisava encontrar um modo de arranjar o dinheiro:

"Não sei como farei. Quem sabe, se eu falar com minha mãe ou com Iracema, elas possam me ajudar. Ou com o meu pai... Não, com ele não! Eu jamais teria coragem de falar com ele! Sei que sempre teve muita expectativa a meu respeito. Sempre esperou que eu fosse um bom profissional, não posso lhe dar esse desgosto. Mas, o que vou fazer?"

Levantou-se foi em direção ao banheiro. Estava com as mãos trêmulas e suando. Quando ia entrar no banheiro, olhou para a estante de livros que se encontrava encostada em uma parede do quarto. Ficou olhando para uma fotografia onde estavam ele, seus pais e Leandro. Estavam sorrindo. Lembrou-se que aquela foto fora tirada no casamento de sua tia, e que seus

pais foram os padrinhos. Estavam todos muito bem-vestidos. Olhou para o rosto de sua mãe, ela sorria. Seus olhos pararam em um colar que ela usava. Lembrou-se do dia em que seu pai lhe dera de presente. Enquanto o colocava em seu pescoço, dissera:

"— Hoje estamos fazendo dez anos de casados. Estou lhe dando este colar para agradecer por todos estes anos de felicidade e pelos dois filhos maravilhosos que me deu."

Artur, enquanto pensava, lembrava-se daquele dia e da felicidade que sua mãe sentira. Lembrou-se do que seu pai dissera:

"— Olhe, este colar é muito caro, mas não paga nem a metade de toda a felicidade que você me proporcionou. Por isso, quero que o use sempre."

Ela o abraçara e, beijando-o, dissera:

"— Muito obrigada, ele é lindo mesmo, mas se lhe proporcionei tanta felicidade, só posso dizer que você também só me fez feliz. Você é um ótimo pai e um marido melhor ainda. Eu o amo muito."

"— Está bem. Então, a partir de agora, vai usá-lo todos os dias."

Ela começara a rir:

"— Está louco! Este colar é valioso, precisa ser usado com roupa adequada. Vou guardá-lo muito bem e só o usarei em ocasiões especiais."

"— Não o comprei para que fique guardado, quero que o use!"

"— Você não tem mesmo noção do que seja moda. Acredita que eu possa usar uma jóia como esta pra dar aula na periferia?"

"— Você tem razão. Mas adorei esse colar. Assim que o vi no joalheiro, achei que tinha a sua cara. Você não gostou?"

"— Claro que gostei! Ele é lindo! Só não posso usá-lo todos os dias. Fique tranqüilo, vou guardá-lo muito bem e o usarei em todas as oportunidades."

Artur sorriu ao se lembrar daquele dia e de como seu pai ficara triste. Lembrou-se que sua mãe guardara o colar em um pequeno porta-jóias que ela tinha em uma gaveta. Uma idéia passou por sua cabeça:

"O colar deve ainda estar lá. Mamãe só o usou algumas vezes. Posso pegá-lo e levá-lo para Jiló. Deixarei com ele até conseguir dinheiro para pegá-lo de volta. Mamãe não vai desconfiar. Assim que conseguir dinheiro o trarei de volta. Será que vou conseguir dinheiro para recuperá-lo? Claro que vou! Ou melhor, vou largar a maconha. Esta vai ser a ultima vez."

Foi em direção ao quarto de sua mãe, abriu a gaveta e sorriu ao ver o porta-jóias e, dentro dele, o colar.

"Está aqui, vou levá-lo agora mesmo a Rodrigo e juntos iremos ate Jiló."

Foi o que fez. Pegou a caixinha, abriu-a, tirou o colar e colocou-o no bolso. Saiu.

Iracema estava na lavanderia, não percebeu quando ele saiu. Pensava que ele estava no quarto.

Artur chegou novamente em frente à casa de Rodrigo e tocou a campainha. Novamente Rodrigo apareceu na janela do andar superior:

— Olá, Artur. Voltou? Conseguiu o dinheiro? Artur, ansioso e nervoso, respondeu:

— Consegui! Venha logo! Precisamos ir depressa, tenho que voltar antes da hora do jantar!

Rodrigo sorriu e fechou a janela. Logo depois estava abrindo a porta e saindo por ela. Os dois se dirigiram à favela onde Jiló morava. Durante o caminho, Rodrigo perguntou:

— Onde conseguiu o dinheiro?

— Não tenho dinheiro, mas peguei uma jóia da minha mãe que vale muito. Só que não vou vendê-la. Vou deixá-la com Jiló, mas assim que conseguir o dinheiro vou buscá-la de volta. Preciso devolvê-la ao seu lugar antes que minha mãe sinta falta dela.

Rodrigo não disse nada, apenas sorriu.

Chegaram à favela e ao barraco onde Jiló morava. Ele estava do lado de fora e, ao vê-los, sorriu:

— Novamente vocês dois por aqui? Vieram buscar mais um pouco de bagulho?

Foi Rodrigo quem respondeu:

— Isso mesmo. Artur está precisando e eu também. Ele trouxe uma jóia para que você lhe dê um pouco de bagulho.

Artur, tremendo, tirou o colar do bolso e deu-o para Jiló, que arregalou os olhos:

— Puxa! Isto aqui é jóia mesmo?

— Claro que é! Vale muito! Meu pai o comprou em um joalheiro. Só que não quero que você se desfaça dele por um tempo. Vou conseguir dinheiro e o quero de volta. Preciso colocá- lo novamente no lugar de onde tirei.

— Espere aí! Não faço esse tipo de acordo. Como acha que consigo a maconha? Preciso de dinheiro! Não posso ficar com o colar guardado!

— Esse colar não pode sumir pra sempre! Você tem que me dar um prazo para arrumar o dinheiro.

— Está bem, vou guardá-lo por uma semana. Se não conseguir o dinheiro, vou passá-lo pra frente.

Artur estava completamente descontrolado, sentia que precisava fumar o cigarro naquele momento. Já não raciocinava direito. Disse:

— Está bem, em uma semana vou trazer o dinheiro. Quanto vai me dar por ele?

Jiló pensou por algum tempo. Disse: — Vai poder levar uns oitenta bagulhos. — Só isso?

— Estou dando muito! Não gosto de fazer esse tipo de negócio! Prefiro receber em dinheiro! Estou fazendo isso porque você é meu amigo e está precisando.

Artur não pensou muito:

— Está bem, aceito. Mas virei pegá-lo antes de uma semana.

Jiló entrou no barraco e saiu trazendo uma porção de cigarros já prontos. Contou alguns e deu para Artur. Ali mesmo ele acendeu e fumou.

Quando terminou, olhou para os dois, que acompanharam o desespero com que ele fumara. Disse:

— Agora tenho que ir embora. Você me prometeu que não vai se desfazer do colar.

— Prometi e vou cumprir. Mas, se não trouxer o dinheiro, vou ser obrigado.

— Está bem, eu voltarei.

Estavam saindo quando Rodrigo disse:

— Espere aí, Artur, quanto vou levar nessa? — Como levar?

— Trouxe você até aqui. Também estou precisando e não tenho dinheiro.

— Que quer que eu faça? Tem que arrumar o seu próprio dinheiro! Não vou lhe dar você nunca me deu!

Rodrigo olhou para Jiló, que disse:

— Ei! Espere aí, Rodrigo é meu funcionário. Se você não der dez por cento a ele não vai ter nunca mais.

Artur, irritado, disse:

— Seu funcionário? Então é isso, ele encontra clientes pra você?

— Isso mesmo, e você pode fazer o mesmo!

— Quer que eu consiga outro alguém para ficar da maneira como estou?

— Qual é o problema? Seria um modo de ter sempre bagulho!

— Nunca! Nunca vou fazer isso! Só eu sei o inferno que estou passando, não vou me tornar um traficante!

— Você é quem sabe. Quando quiser, é só falar comigo. — Isso nunca vai acontecer! Não quero que outro passe por tudo o que estou passando! Eu também vou conseguir sair dessa!

— Vai sair? Ah, ah, ah! Não vai sair! Sabe por quê? Porque você gosta! Sabe que esses bagulhos lhe fazem bem!

— Isso não é verdade! Estou desesperado! Não sei como sair!

— Está dizendo que não lhe faz bem?

Artur ficou pensando por alguns segundos, depois disse: — Não posso negar que quando estou sob o efeito do bagulho me sinto muito bem, mas em seguida sinto que estou ficando cada vez mais viciado. Isso me dá medo...

— De não ter dinheiro para sustentar meu vício! Jiló começou a rir com mais força. Disse:

— Dinheiro? Ora, isso você sempre arrumará? — Não sei, não...

— Pode ter certeza que de uma maneira ou outra arrumará o dinheiro!

— Não sei... Não sei...

— Agora está bem, tem muito bagulho e por um bom tempo estará tranqüilo.

— Sei disso. Agora vou embora, preciso andar um pouco e pensar em uma maneira de recuperar o colar da minha mãe...

— Faça isso, faça isso. Rodrigo disse:

— Vou com você. Também estou com vontade de andar. Vamos?

Os dois saíram andando. Caminharam pelos corredores estreitos da favela. Artur estava feliz, ria muito. Já na rua, os dois começaram a correr. Sentiam vontade de fazer coisas que sem o cigarro não teriam coragem. Rodrigo mexia com as pessoas. Artur, aos poucos, começou a imitá-lo.

Ele se esqueceu do colar e da mãe. De repente, parou e começou a chorar.

Rodrigo, que estava correndo mais à frente, parou. Voltou-se dizendo:

— O que aconteceu? Por que parou de repente?

— Estou pensando no que fiz. Se minha mãe sentir falta do colar, que vou fazer?

— Você disse que ela quase não usa. Como vai sentir falta? — Ela só usa em ocasiões especiais. Não sei quando vai ser a próxima. E se for agora?

— Ora, deixe isso pra lá, não vai ser agora. E se acontecer, você dará um jeito e o pegará de volta. Por enquanto, vamos viver a vida!

Artur começou a rir novamente. Os dois continuaram andando, correndo e mexendo com as pessoas.

Ficaram assim por muito tempo. Escureceu não se deram conta. Depois de andarem muito, fazerem coisas nunca antes pensadas, Artur percebeu que estava escuro:

— Nossa já está escuro! Que horas serão? Rodrigo, rindo muito, respondeu:

— Não sei! Não tenho relógio, o meu dei pro Jiló.

— Preciso ir pra casa. Vou agora mesmo, mas onde estamos?

Não sei que lugar é este...

— Também não sei, mas vamos encontrar o caminho.

Resolveram seguir por uma rua. Andaram muito até encontrarem uma rua conhecida e que era perto de suas casas. Seguiram por ela. Chegaram finalmente à rua em que Artur morava. Diante do portão, ele disse:

— Vou entrar, só não sei o que vou dizer.

— Diga que ficou estudando em minha casa, peça pra eles telefonarem, eu confirmo.

— Está bem.

Ainda rindo, entrou.

Assim que abriu a porta, sua mãe correu. Abraçou-o, dizendo:

— Artur! Que bom que chegou! Estava começando a me desesperar. Já são quase dez horas! O que aconteceu? Foi assaltado novamente?

Por trás do ombro da mãe, viu o pai que o olhava. Percebeu que ele não estava bravo, mas preocupado. Soltou-se dos braços da mãe e disse:

— Não, mamãe, não fui assaltado, só estava na casa de Rodrigo estudando.

— Até agora? — Sim.

— Por que não telefonou? Não sabia que ficaríamos preocupados?

— Desculpe, e que estávamos tão entretidos no estudo que nem percebemos o tempo passar.

Álvaro se aproximou, tinha o rosto crispado.

— Como pôde fazer isso? Não tem responsabilidade? Não imaginou que ficaríamos preocupados, ainda mais depois do assalto?

Artur baixou a cabeça:

— Desculpem, realmente não percebi o tempo passar. Mas não estava fazendo nada de errado! Só estava estudando!

Começou a chorar. Sua mãe voltou a abraçá-lo, dizendo: — Está bem, já passou, o importante é que está aqui e bem. Nunca mais faça isso. Da próxima vez, telefone. Venha jantar, deve estar com fome.

Iracema entrou na sala. Ficou olhando sem saber o que dizer. Artur, tremendo muito, disse:

— Não estou com fome, comi um lanche na casa de Rodrigo.

Quero ir para o meu quarto, posso?

Os três se entreolharam. Odete, com a cabeça, disse sim. Artur correu para a escada que levava ao seu quarto.

— Que estará acontecendo com esse menino?

Iracema pensou em contar o que estava suspeitando, mas não teve coragem. Percebeu que os patrões estavam muito preocupados. Não disse nada. Assim como ela, os pais se calaram, cada um preso em seu pensamento.

No quarto, Artur, sobre a cama, chorava.

“Mais uma vez eu menti”... Até quando isso vai durar? Seu corpo tremia, estava suando muito, a cabeça doía e sentia enjôo. Sua cabeça estava confusa, não conseguia pensar com clareza.

Naquela noite, pela primeira vez em sua vida, adormeceu sem tomar banho.

Durante a noite acordou, pegou outro bagulho e foi para fora fumar. Na manhã seguinte, quando sua mãe foi acordá-lo, já estava desperto. Ela se admirou, mas não disse nada. Ele se levantou, tomou banho e foi para a escola. Levou com ele um cigarro, sabia que na hora do intervalo sentiria vontade.

O tempo passou, ele estava bem, pois tinha cigarros. Estava tão bem que se esqueceu do colar.

Após quinze dias, estavam jantando quando Álvaro disse: — Odete, fomos convidados para padrinhos de casamento de Odair.

Ela sorriu:

— Verdade? Quando vai ser?

— No mês que vem. Ele e a noiva fazem questão que aceitemos o que acha?

— Vou adorar! Sabe que gosto muito de Odair e Lídia. Sinto que serão felizes!

— Também sinto isso. Vou confirmar com ele. — Preciso pensar no vestido que usarei!

— Não se esqueça de usar o colar.

— Claro que não! Por acaso acredita que vou deixar passar essa oportunidade?

Ao ouvir aquilo, Artur estremeceu. Lembrou-se do colar e do prazo que havia dado a Jiló. Lembrou-se também que o prazo havia passado. Entrou em pânico. Com muito custo, terminou o jantar. Em seguida foi para o seu quarto. Dessa vez os pais não estranharam, já estavam acostumados com ele sempre em seu quarto. Ele dizia que precisava estudar.

Em seu quarto, Artur estava desesperado:

"Que vou fazer? Minha mãe vai descobrir que o colar não está mais na caixinha! Vai querer saber o que foi feito dele. Que vou dizer? Preciso recuperá-lo, mas como? Será que Jiló já o passou pra frente? Amanhã vou até a favela falar com ele. Vou pedir que o devolva, vou contar o que está acontecendo, ele vai entender...”.

Não conseguiu dormir direito. Acordava a toda hora. Olhava para a janela, esperando o dia clarear. Já havia planejado:

"Quando meu pai me deixar na frente da escola, não vou entrar, vou para a favela falar com Jiló. Pego o colar e volto antes da aula terminar. Meu pai não vai desconfiar de nada."

Foi exatamente o que fez. Após se despedir do pai, atravessou a rua. Seu pai foi embora, ele se voltou e foi em direção à favela.

Ali chegando, foi até o barraco de Jiló, que estava dormindo. Acordou com as batidas de Artur em sua porta.

Limpando os olhos, abriu a porta. Viu Artur: — O que está fazendo aqui? Há esta hora? Artur, muito nervoso, respondeu:

— Preciso pegar de volta o colar da minha mãe, ela vai usar em um casamento.

— Que está dizendo? Precisa pegar o quê? — O colar da minha mãe!

Jiló pensou um pouco. Depois de algum tempo, disse: — Ah, sim... O colar... Estou me lembrando dele... — Ainda está com você?

— Está, ou deve estar aí em qualquer lugar... — Ainda bem, preciso colocá-lo de volta.

— Tudo bem, vou ver se o encontro. Espere aí mesmo onde está.

Entrou em casa. Artur, muito nervoso, ficou do lado de fora. Após alguns minutos, Jiló regressou com o colar na mão. Sorrindo, disse:

— Está aqui.

— Ainda bem. Pode me entregar?

Com a voz mansa, bem devagar, Jiló disse: — Sim... Desde que me pague...

— Pagar! Como?

— Não sei... A única coisa que sei é que sem dinheiro não vai levar...

— Você não pode fazer isso! Preciso dele!

— Claro que posso você me deu em troca do bagulho... — Não tenho dinheiro!

— Então... Não tem o colar...

— Por favor! Depois da festa eu o trago de volta! Jiló começou a rir:

— Vai trazer de volta? Está dizendo que vai trazer volta? — Vou sim, mas, por favor, deixe-me colocá-lo no lugar de onde o tirei! Confie na minha palavra!

— Você pensa que estou louco? Acha que vou acreditar na palavra de um maconheiro?

— Não sou um maconheiro! Tenho palavra!

— Para mim, a palavra é dinheiro. Se trouxer o dinheiro, vai levar o colar, se não, não. Agora, por favor, vá embora, preciso voltar para a cama, estou com sono.

Entrou no barraco e fechou a porta.

Artur, desesperado, ficou ali parado por um longo tempo. Não sabia o que fazer. Tirou um bagulho do bolso, acendeu, fumou...

Logo a maconha começou a fazer efeito e ele a sentir-se bem. Já não estava tão preocupado. Pensou:

"Vou embora. Antes que minha mãe sinta falta do colar, eu encontrarei uma solução."

Voltou para a escola. Chegou alguns minutos antes do pai. Assim que o pai chegou, entrou no carro e os dois seguiram para casa.

Durante o caminho, Artur seguiu calado. Seu pai percebeu, mas pensou:

"Deve mesmo estar apaixonado, isso vai passar." Artur, por sua vez, pensava:

"A melhor coisa que tenho a fazer é contar tudo para minha mãe. Ela entenderá."

Em casa, almoçou normalmente. Após o almoço, dirigiu-se até sua mãe:

— Mamãe, preciso conversar com a senhora. — Está bem, o que é?

— É uma coisa muito complicada.

Ela, pensando que ele ia contar que estava apaixonado, sorriu enquanto dizia:

— Tenho que ir para a escola, deixe essa conversa para a noite. Quero que tenha todo o tempo que precisar para me contar tudo. Acredito que essa conversa não pode ser rápida.

Ele se assustou:

— A senhora sabe de alguma coisa?

— Não, mas estou desconfiada, porém não acredito que seja tão grave assim. Fique tranqüilo. Agora preciso me vestir e vestir Leandro. À noite conversaremos e me contará tudo, está bem?

Assustado e preocupado, disse:

— Está bem, sei que vai me ajudar...

— Pode ter certeza que sim. Não se esqueça de ir para a aula de computação.

— Não me esquecerei.

Ambos foram para seus quartos.

Artur entrou. Olhou mais uma vez para o espelho.

"Ela sabe de tudo ou está desconfiada. Talvez seja o melhor. Jiló disse que sou um viciado, acredito que seja mesmo, ou que esteja ficando."

Deitou-se na cama com os olhos presos no teto. Tremia, suava e sentia dor na cabeça, além do mal-estar no estômago.

No documento É Preciso Algo Mais (Elisa Masselli) - PDF (páginas 99-131)