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A transformação do objeto “casa” em “moradia” a partir das adequações para

CAPÍTULO 6 – O CONJUNTO HABITACIONAL BOA SORTE:

6.4. A transformação do objeto “casa” em “moradia” a partir das adequações para

Segundo especialistas, o fenômeno da transformação do objeto “casa” em “moradia” ocorre a partir do tempo vivido e do experienciamento do lar por parte do usuário, que no ato de inserir adequações também está subentendido a agregação de valores. Tais adequações realizadas pelos moradores são resultado do processo de apropriação por qualificação da unidade habitacional original. Estas podem estar dirigidas a atender diferentes ordens da habitabilidade, que Malard (199?) interpreta como: pragmática, simbólica e funcional.

Os subitens seguintes objetivam apresentar o resumo das adequações identificadas a partir das leituras espaciais, e que para análise, foram agrupados segundo categorias de habitabilidade.

6.4.1. Adequações para atender à dimensão pragmática

A dimensão pragmática está relacionada à capacidade da casa atender como abrigo, e está relacionada às variáveis de desempenho construtivo da moradia e a sua inserção urbana. As adequações identificadas nesta ordem revelam comportamentos humanos em busca de ambiência e privacidade.

As adequações para habitabilidade de ordem pragmática foram:

- Inserção de forro na cobertura (em madeira, PVC, saco plástico): para melhorar condições de conforto térmico e acústico; para facilitar a manutenção, estanqueidade e limpeza, devido à sujeira, goteiras e entrada de animais pela cobertura;

- Substituição ou adição (em cômodos acrescidos) de portas e janelas em vidro, para melhor desempenho lumínico;

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- Acréscimos/ampliação de varandas cobertas: para proteção do fechamento vertical contra a ação de intempéries; evitar insolação direta nos ambientes durante o uso;

- Alteração da localização do reservatório de água: devido à sensação constante de insegurança quanto à estrutura de apoio da caixa d’água; pelo desconforto acústico provocado pelo ruído de água durante o preenchimento do reservatório; para alteração da capacidade devido à falha no fornecimento do serviço de abastecimento de água;

- Acréscimo de revestimento cerâmico em pisos e paredes: para facilitar a manutenção, limpeza e evitar a proliferação de microorganismos em áreas molhadas; para melhorar aspectos ligados ao conforto e qualidade estética dos ambientes;

- Adição de proteção de borracha na parte inferior das portas externas, para evitar a entrada de água e de animais no interior da unidade habitacional;

- Pintura de elementos como paredes, portas e janelas: para limpeza e manutenção preventiva, como proteção contra umidade e corrosão por ação de intempéries;

- Acréscimo de chapisco nas partes inferiores das fachadas: para proteção do fechamento vertical devido à ação de respingos de água de chuva; para minimizar a ação da umidade proveniente do solo;

- Adição de piso nas áreas externas à edificação, para facilitar uso e manutenção. Além dessas adequações pragmáticas inseridas na moradia, há outras referentes à utilização do espaço não edificado, como:

- Implantação de transporte coletivo escolar, para facilitar deslocamentos das crianças e adolescentes em idade escolar;

- Uso de veículos alternativos, como bicicletas, decorrente do hábito dos moradores para atender sua necessidade de deslocamentos diários e longos, como para o trabalho na zona rural;

- Asfaltamento das vias, para proporcionar melhor conforto para deslocamentos de pessoas e veículos.

6.4.2. Adequações para atender à dimensão simbólica

A dimensão simbólica está relacionada à capacidade da casa de ser dotada de significado o que está diretamente ligado a questões culturais. As adequações identificadas nesta ordem revelam comportamentos humanos em busca de ambiência, privacidade, identidade e territorialidade.

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As adequações para habitabilidade de ordem simbólica foram:

- Aumento do número de cômodos: para atender a confortavelmente a um maior número de habitantes por residência; para separar quartos de filhos de diferentes sexos e idades; para atender a outras funções como quarto de visitas, sala de televisão, suíte, cozinha, copa, depósitos, área de serviço; para transmitir status social;

- Construção de uma nova moradia no quintal da unidade habitacional original, para abrigar filhos casados que não possuíam residência própria;

- Alteração da cor original de elementos como paredes: nos quartos, para diferenciar ambientes de filhos de diferentes sexos; nas fachadas, para diferenciar moradias fisicamente iguais, mas de diferentes famílias; para composição estética dos ambientes de forma a combinar com demais objetos e mobiliário; para camuflar problemas de infiltração de água do solo, e suprir a inexistência de revestimento cerâmico em áreas molhadas com a utilização de tinta a óleo;

- Alteração de características físicas na fachada original: para descaracterizar a tipologia padrão e imprimir marcas pessoais e familiares; adição de muros, grades e portões frontais para conferir segurança e promover a privacidade familiar;

- Adição de cercas e muros nos fundos e laterais dos quintais, para limitar terrenos vizinhos e demarcar territórios;

- Criação de animais, cultivo de jardim/horta/pomar e adição de fogão à lenha, para atender aos hábitos e necessidades decorrentes da origem familiar;

- Exposição de fotografias, de objetos decorativos e simbólicos e de culto a imagens, para expressar aspectos culturais e valores familiares;

- Uso de cortinas: para composição do ambiente e como mecanismo para bloquear a visão do interior da residência e proporcionar privacidade.

6.4.3. Adequações para atender à dimensão funcional

A dimensão funcional está relacionada à capacidade da casa de proporcionar boas condições ao uso dos espaços e o que está ligada as variáveis de dimensionamento da moradia, relação funcional entre os cômodos e manutenção. As adequações identificadas nesta ordem revelam comportamentos humanos em busca de ambiência, privacidade e identidade.

As adequações para habitabilidade de ordem funcional foram:

- Aumento do número de ambientes: para facilitar a realização de atividades inerentes à moradia, comportar os usuários e mobiliário;

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- Ampliação da dimensão dos ambientes: para melhorar a circulação, facilitar o uso e a disposição do mobiliário;

- Alteração da localização de paredes: para diminuir a circulação central da unidade habitacional de forma a aumentar a área útil e melhorar a circulação no interior dos quartos;

- Remoção de paredes: para ampliar a área útil de cômodos existentes;

- Aumento do número de pontos hidráulicos: para comportar alterações como tanque de dois bojos, acréscimo de ponto de água para limpeza da área externa e para aumento do número de banheiros;

- Aumento do número de pontos de luz: para iluminação da área externa;

- Aumento do número de pontos de energia elétrica e uso de extensões de energia/benjamins: para atender a critérios de funcionalidade quanto ao uso e operação de vários eletrodomésticos utilizados simultaneamente no mesmo ambiente;

- Inserção de box nos banheiros: para melhorar aspectos quanto ao uso e funcionalidade;

- Alteração da localização do botijão de gás para o exterior da cozinha: para segurança durante o uso e operação; para liberar área útil no interior da cozinha e melhorar a circulação;

- Alterar a localização do reservatório de água: para possibilitar acesso e facilitar o uso, operação e manutenção;

- Utilização do corredor entre os quartos para disposição de móveis como cômodas, armários e geladeiras, por insuficiência de espaço para acomodação desse mobiliário;

- Disposição de mobiliário em ambientes diferentes dos quais foram previstos, dada a insuficiência de espaço em cômodo, como no caso das cozinhas;

- Inserção de forro na cobertura e revestimento cerâmico em áreas molhadas, para facilitar manutenção e limpeza.

Enfim, todas as adequações identificadas, tanto físicas quanto de uso, revelam que apesar dos moradores declararem estar satisfeitos com a casa, tal contentamento está relacionado diretamente com a propriedade do imóvel e não ao fato deste atender às suas necessidades habitacionais pragmáticas, simbólicas e funcionais. Para tanto, tal levantamento conduz a diretrizes que devem ser adotadas de forma a melhorar aspectos de habitabilidade para a idealização de novas habitações de interesse social.

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