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Nesse quesito, merecem destaque na mesorregião Oeste Potiguar as áreas localizadas no Norte dos municípios de Baraúna e Mossoró e na margem esquerda do rio Açu, à jusante da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, em municípios como Açu e Carnaubais; na Central Potiguar tal fenômeno se concentrou nos municípios que possuem território no topo da Serra de Santana, como Tenente Laurentino Cruz, São Vicente, Lagoa Nova, Bodó e Cerro Corá, assim como na margem direita do rio Açu, em municípios como Ipanguaçu, Afonso Bezerra e Alto do Rodrigues, que por sinal também possui outro núcleo de agricultura localizado mais a Leste, o qual se espraia por Pedro Avelino, Lajes, Pedra Preta indo até Jardim de Angicos; na mesorregião Agreste as áreas desse mesmo núcleo de cultivo seguem pelo território de João Câmara e Poço Branco, mas também ocorrem em outros locais como São Bento do Norte, Jandaíra e Parazinho; na mesorregião Leste os principais núcleos se localizam mais ao Norte, nos municípios de Pedra Grande, São Miguel do Gostoso, Touros e Pureza, sendo também encontradas em menor concentração em municípios mais setentrionais, como Tibau do Sul e Vila Flor.

Como resultado desse fenômeno, a quantidade de áreas registradas na categoria agricultura deu um salto de grandes proporções. Se no quadriênio 1989-1992 desse elemento foi de 28,22%, que já demonstrava considerável avanço na agricultura do estado, a marca atingida no quadriênio superou essa em 8,2 vezes, com uma marca de 233% de crescimento. O crescimento foi maior em todas mesorregiões, porém, pesou para esse número principalmente os avanços observados na Central, que tinha 2.473,77 hectares em 1993 e registrava 34.986,15 hectares em 1996; e na Oeste, que de 7.576,52 hectares registrava 51.787,71 hectares nos mesmos anos de referência.

Os indicadores sobre o período em foco (Gráfico 3) endossam a impressão de ser este um momento de transformação dos usos do território para cultivo agrícola nas quatro mesorregiões potiguares, sendo o ano de 1994 o marco que marca esse fenômeno. A partir de então, é possível perceber como a pontuação referente ao subindicador de uso do solo para pastagem decai na maioria das mesorregiões (na Leste ocorreu um ano depois) com posterior aumento da pontuação em relação ao de agricultura ou ao de agricultura e pastagem, sendo este último caso observado na maioria das mesorregiões (igualmente aqui a Leste se comportou de modo distinto, neste caso se mantendo com pontuação 4).

Gráfico 3 – Indicadores das mesorregiões potiguares entre 1993 e 1996

Fonte: Elaboração própria a partir do MapBiomas.

No mais, quanto a vegetação natural a única que apresentou mudança de posição foi a Agreste que, assim como nos períodos passados, oscilou entre a pontuação máxima e a mínima, podendo esse fenômeno ter relação direta com o aumento de áreas destinadas às atividades antrópicas ou mesmo com a derrubada para extração de lenha.

Para o último quadriênio aqui tratado, demarcado pelos anos de 1997 e 2000 (Mapa 21), observa-se que com exceção da Formação Campestre, que teve crescimento em suas áreas, os demais tipos de vegetação natural potiguares apresentaram queda. Vista em relação ao todo do estado, a queda na cobertura da Floresta Natural foi de 3,64%, mas quando tratada em específico da mesorregião Leste nota-se que diminuição foi concentrada sobre as áreas da Floresta Estacional Semi-Decidual, cuja diferença de cobertura registrada no último ano em relação ao início do período foi de 20,35%, sendo esse número constituído principalmente das áreas que foram desmatadas na região canavieira localizada mais a Sul, nos municípios de Canguaretama (48,72%), Arês (27,34%) e Goianinha (27,34%); e mais ao Norte em Taipu (29,29%), no qual as áreas de Cultivo Anual Semi-Perene haviam se expandido nos anos anteriores (MAPBIOMAS, 2019).

Mapa 21 – Transformações da cobertura do solo potiguar entre 1994 e 1997

Em relação às áreas de uso agropecuário, nota-se que no período em foco ocorreu um considerável aumento das áreas de pastagem, sobretudo no Agreste, conforme pode ser observado no mapa. Tal fenômeno se deu principalmente nas áreas antes ocupadas por áreas categorizadas como Mosaico de Agricultura e Pastagem, o que se acredita estar relacionado a alterações no mercado que permitiram aumentar os rebanhos, com consequente uso das propriedades que possivelmente antes estavam sendo utilizadas para plantação ou sem uso para o uso como pastagem.

Os usos agrícolas mantiveram o acelerado ritmo de crescimento iniciado no período passado, sendo o principal responsável os avanços de áreas de Cultivo Anual e Perene. Alavancadas por esse fenômeno, ao final do período as áreas utilizadas para agricultura atingiram o mais alto patamar do século, com um total de 220.567, 95 hectares, quantidade bastante expressiva frente aquelas registradas entre 1985 e 1991, quando essa categoria variou entre a casa dos 25 e 29 mil hectares.

Gráfico 4 – Crescimento das áreas utilizadas para Agricultura, com discriminação da parcela relativa aos dos tipos de cultivo no RN (1991-2000)

Fonte: Elaboração própria com dados do MapBiomas (2019).

O indicador do período em análise (Gráfico 5) representa desde o ano de 1997 a tendência de todas as mesorregiões no aumento das áreas para agricultura. Iniciado o quadriênio com a mesorregião Leste isolada com pontuação máxima, no decorrer dos anos as pontuações variam, mas acabam com a mesma em primeiro lugar nesse quesito, seguida pelas demais Oeste, Central e Agreste, com pontuações um nível abaixo da outra. A transformação de áreas de Mosaico de Agricultura e Pastagem para o subindicador relacionado a Pastagem na

29.418,76 208.876,41 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Cultivo Anual e Perene (%) Cultivo Semi-Perene (%) Agricultura (hectares)

mesorregião Agreste se evidencia a partir do ano de 1998. Este fenômeno que, apesar de não estar relacionado ao aumento das pastagens em outras mesorregiões, como na Leste, que aumenta a pontuação em 1999, e na Central e Oeste Potiguar, que um ano mais tarde também o fazem.

Gráfico 5 – Indicadores das mesorregiões potiguares entre 1997 e 2000

Fonte: Elaboração própria a partir do MapBiomas.

No que tange aos subindicadores de vegetação natural, tanto os referentes a Floresta Natural quanto aos da Formação Campestre não apresentaram na composição gráfica modificação em relação a nenhuma mesorregião apesar de, conforme visto, ambos sofreram modificações. No dois casos isso ocorreu devido a diminuição ter sido pequena a ponto de não implicar em mudança na pontuação do subindicador, com destaque para ao dado anteriormente discutido quanto a aguda diminuição das áreas da Floresta Estacional Semi-Decidual que, devido estar agregada aos dados da outra formação de floresta natural, acabou por ser diluída no universo de dados maior.

4.3 Fatores socioambientais das áreas de maior antropização/tecnificação

Se em fins do século XX o território potiguar possuía algumas áreas que se mantinham com suas características naturais relativamente preservadas, outras por outro lado se destacavam ao apresentarem maiores níveis de modificação. Nelas, após um longo processo de transformação antrópica dos últimos séculos, a vegetação natural deu lugar às atividades agropecuárias ou mesmo antigas atividades deram lugar a outras. Inclusive alguns desses algumas dessas apresentaram mudanças resultantes do fenômeno de reestruturação do território, observado em território potiguar numa consonância com as modificações ocorridas nas últimas décadas no campo brasileiro com cultivos de maior nível técnico no desenvolvimento de algumas culturas agrícolas (LOCATEL, 2018).

No geral, nas delimitações em foco as áreas verdes são mais dificilmente encontradas, mas, quando são, possuem menor extensão do que aquelas categorizadas de arquipélagos verdes na última subseção. Além de consistirem em usos de áreas que apresentam vantagens diferenciadas à prática da agricultura, também significa entender como pressão antrópica concentrada em alguns tipos de vegetação e ecossistemas ali encontrados, como por exemplo nas florestas de carnaúba e da mata atlântica.

Conforme visto até este ponto do trabalho, tais áreas antropizadas se localizam em maior extensão e concentração no Leste e na parte mais oriental do Agreste, que historicamente estiveram em posições de destaque como as áreas utilizadas para o desenvolvimento de atividades agropecuárias desde o período colonial. A coleção cartográfica deste trabalho simboliza bastante esse cenário. No entanto, conforme se caracteriza aqui logo a seguir com alguns casos de destaque, as ações de planejamento regional empreendidas nos anos 1980 e 1990 tiveram papel fundamental em promover os usos de algumas outras áreas situadas nas demais mesorregiões do estado.

Nesse sentido, a começar pela Região Agrícola do Vale do Apodi-Mossoró (Mapa 22) tem-se uma área do estado dentre aquelas que mais apresentaram modificações dos usos do território nas décadas de 1980-90. Ocorreu nessa região uma ampliação da fruticultura irrigada mediante a exploração de seus solos do tipo neossolos quatzarênicos e neossolos flúvicos em extensões planas e aliada da considerável disponibilidade de recursos hídricos. O padrão de ocupação dos lotes observado na imagem de satélite reflete bastante esse contexto, com as proximidades do rio divididos em lotes para usos agrícolas. Inclusive, a qualidade e quantidade dos recursos naturais ali existentes possibilita a mecanização dos solos, de modo que não só

pequenos agricultores se instalaram, mas também grandes corporações o fizeram (AMORIM; NONATO JÚNIOR; FARIAS, 2018).