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Inicialmente, a ciência da nutrição concentrava-se nas doenças nu-tricionais, relacionadas principalmente com a fome e suas consequências para o desenvolvimento do indivíduo, seja do ponto de vista físico, como também do social.

Nas últimas décadas do século XX, observou-se, entretanto, uma transição nutricional caracterizada pela redução de doenças carenciais, como a desnutrição, a par do aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), tais como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e diversos tipos de câncer (byers; sedjo, 2011).

A industrialização, a urbanização e a globalização geraram mudanças no padrão alimentar do ocidente, caracterizado pelo desmame precoce, au-mento da ingestão de calorias, de gorduras saturadas, de gordura trans, de açúcares e de alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos e biscoitos.

As DCNTs podem resultar em incapacidade, em sofrimento e em di-minuição da qualidade de vida, assim como em despesas, para os pacientes e outros indivíduos envolvidos. Essas patologias refletem-se, ainda, sobre custos para a sociedade e para o governo, implicando gastos no sistema de saúde, redução da produtividade no trabalho e diminuição da renda familiar.

Ressalte-se que o padrão alimentar exerce influência no estado nu-tricional e, concomitantemente, no crescimento e no desenvolvimento das crianças, assim como no risco de morbidade da população em geral (malta

etal., 2017).

A relação direta entre nutrição e saúde motivou a criação de agências especializadas neste tema, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), especificamente a United Nations Children’s Fund (UNICEF), a Food and Agriculture Organization (FAO), a World Health Organization (WHO) e a Pan American Health Organization (PAHO), em decorrência das alterações políticas e econômicas ocorridas após a Segunda Guerra Mundial (vasconcelos, 2001).

O art. 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DHAA) prevê o direito à alimentação adequada, que garanta a toda pessoa os requisitos essenciais que assegurem sua saúde e bem-estar, estando neles implícito o direito à nutrição, e não apenas à disponibilidade do alimento, para que o indivíduo viva bem nutrido e saudável (valente, 2002).

qualidadedevidaemfoco

Organizações governamentais e não governamentais têm pesquisado e traçado estratégias voltadas para a questão de uma alimentação saudável e de uma vida menos sedentária. O Plano de Ação, aprovado na Assembleia Mundial de Saúde, em maio de 2008, intitulado Action Plan for the Global Stra‑

tegy for the Prevention and Control of Noncommunicable Diseases, tomou por

base a importância do controle da dieta e da prática de atividade física (AF), a favor da promoção da saúde (worldhealthorganization, 2008). Uma das metas do referido programa inclui reduzir a exposição dos indivíduos ao tabaco e ao uso nocivo do álcool, estimular as populações a escolhas dietéticas mais saudáveis e incentivar a prática regular de AF.

Para o período de 2006-2015, a PAHOmanteve um programa intitulado Estratégia regional e plano de ação para um enfoque integrado na prevenção e controle de doenças crônicas. Sua finalidade foi assegurar e promover o desenvolvimento e a implantação de políticas públicas eficazes, inclusive quanto à alimentação saudável e à prática de AF, políticas estas destinadas ao controle dos fatores de risco para o desenvolvimento de DCNTs (panamerican

healthorganization, 2007).

Uma discussão internacional foi apresentada na Declaração de Adelaide sobre a saúde em todas as políticas (austrália-2010), a fim de engajar líderes e formadores de política, de todos os âmbitos (local, regional, nacional e internacional), no sentido de incorporarem ao desenvolvimento de políticas sociais a promoção da saúde e do bem-estar. Segundo o documento, boas condições de saúde – como a disponibilidade de alimentos saudáveis – são facilitadores, enquanto más condições de saúde são obstáculos a qualquer política de governo (graça; gregório, 2012).

Algumas das diretrizes da American Cancer Society (ACS) (2012) sobre nutrição e a AF estão voltadas para a importância de certos hábitos, como:

A manter o peso;

B evitar o consumo de alimentos altamente calóricos e o consumo de

carnes processadas e vermelhas;

C consumir pelo menos 2,5 xícaras de hortaliças e frutas diariamente; D substituir cereais refinados por integrais;

alimentaçãoenutriçãonapromoçãodasaúde

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F evitar o sedentarismo e praticar pelo menos 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de atividade vigorosa, por semana.

O relatório do United States Department of Health s Human Services (2000) reconhece a importância da nutrição e de outros fatores ambientais, no sentido de assegurar a saúde e aumentar o tempo de qualidade de vida dos americanos. O documento demonstra a relação entre a alimentação e a incidência de várias doenças metabólicas, como, por exemplo: câncer, doença cardiovascular, acidente vascular cerebral, doença pulmonar obstrutiva e diabetes.

O documento Health 2020, elaborado pela WHO-Europa, aponta as DCNTs como um dos principais desafios das políticas de saúde no continente europeu. Tem como alvo melhorar significativamente o estado de saúde e bem--estar das populações dos 56 países signatários, por meio do fortalecimento

da saúde pública para todos e com elevado nível de qualidade (jakab, 2011). No Brasil, o plano de ações estratégicas para o enfrentamento das DCNTs, vigente para o período 2011-2022, tem por meta a promoção da AF, visando à diminuição do sedentarismo, à redução do tabagismo e do consumo nocivo do álcool, somados à adoção de uma dieta mais saudável (brasil, 2011). Pesquisas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde têm demonstrado, em meio à população brasileira, alta incidência de obesidade e outras DCNTs, em decorrência de mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida. Entre estas pesquisas, destacam-se o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizado anualmente em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, e a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010). Os dois estudos demonstram elevada prevalência de indivíduos com excesso de peso e revelam outros fatores de risco relacionados com o estilo de vida. As mudanças nos hábitos alimentares, o baixo consumo de frutas e hortaliças e a ingestão frequente de alimentos gordurosos e açucarados representam fatores que têm sido associados com a adoção de vida menos ativa (brasil, 2017, 2019; maltaetal., 2015).

Levando-se em conta este panorama, faz-se pertinente considerar a importância de políticas públicas que propiciem a adoção, por parte da população, de uma alimentação mais saudável.

No contexto brasileiro, sob a dimensão do direito de estar livre da fome, e enquanto garantia da alimentação adequada, a DHAA está prevista em ins-trumentos legais do Estado brasileiro e assegurada pela Constituição Federal de 1998, como princípio de proteção social (burityetal., 2010; burlandy, 2009). As primeiras Políticas de Alimentação e Nutrição (PANs)no Brasil tinham por

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objetivo enfrentar as doenças carenciais. Foram importantes, na década de 1970, quando se criou o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN),

e com ele o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), tendo como finalidade amenizar os problemas nutricionais da população, por meio de suplementação alimentar para grupos vulneráveis (lactantes, crianças e gestantes), bem como aumentar a produção e a comercialização de alimentos básicos (arruda; arruda, 2007).

No final dos anos 90, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), “Considerando a necessidade do setor Saúde dispor de uma política decisiva quanto à alimentação e nutrição” (brasil, 1999b, p. 1).

No ano de 2003, o Brasil estabeleceu priorização quanto ao combate à fome, com o lançamento do Programa Fome Zero. Foi criado o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA) e restabe-lecido o CONSEA. Vários programas de enfrentamento da fome e da pobreza foram unificados no Programa Bolsa Família (PBF), sob responsabilidade do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criado em 2004

(santos; pasquim; santos, 2011).

A partir de 2010, a alimentação no Brasil passou à condição de direito social básico, com dever irretorquível, quanto à responsabilidade do Estado, de assegurar que todo cidadão brasileiro tenha acesso regular e permanente ao alimento, para atender às suas necessidades nutricionais, dentro de seu contexto histórico, social e cultural (burlandy, 2009; savioetal., 2005).

Na esfera do Serviço Único de Saúde (SUS), a PNAN baseia-se na oferta de atenção nutricional, com vistas à melhoria das condições da ali-mentação e da nutrição para a população brasileira, a partir da promoção de práticas alimentares saudáveis, vigilância alimentar e nutricional, prevenção e cuidado com desequilíbrios nutricionais, contribuindo assim para a saúde da população brasileira (jaime; santos, 2014).

De acordo com Jaime et al. (2011), são exemplos de ações efetivadas no Brasil, relacionadas com a alimentação e a nutrição da população brasileira, desenvolvidas pela Vigilância Alimentar e Nutricional:

A implementação do Guia alimentar para a população brasileira; B estratégia nacional para a alimentação complementar saudável;

C Programa Saúde na Escola e ações de controle e prevenção da

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D enfrentamento de doenças crônicas e deficiências de micronutrientes, com foco na anemia ferropriva e hipovitaminose A.