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Transição para a vida adulta: conhecendo um percurso

No documento Betania Jacob Stange Lopes (páginas 59-62)

3 TRANSIÇÃO PARA A VIDA ADULTA: UM DESAFIO PARA JOVENS COM

3.1 Transição para a vida adulta: conhecendo um percurso

A transição da escola para a vida adulta é um período estimulante, porém difícil para todos os jovens. Entre os anos de adolescência e juventude, os jovens buscam independência financeira, residencial e emocional, e começam a assumir papéis adultos (JEKIELEK; BROWN, 2005). O aluno com DI apresenta mais dificuldades para atingir essa fase, o que justifica a necessidade de programas que o auxiliem a fim de que ele possa conquistar resultados positivos nessa etapa da vida. A literatura nacional é muito limitada sobre esse tema, e para melhor compreensão do percurso da transição para vida adulta serão utilizadas informações contidas na literatura internacional.

A década de 70 constituiu-se como importante período para crianças/jovens com deficiência pelo apoio social, político e educacional que desencadeou mudanças legislativas por todo o mundo, com mais destaque nos Estados Unidos da América e no Reino Unido. Esse período foi destinado a melhorar práticas e métodos de ensino introduzindo a reforma da escola que focava a educação profissional. Durante essa década, legisladores, em resposta a diferentes movimentos sociais, garantiram a igualdade de acesso à educação para pessoas com deficiência.

Historicamente, nessa década (1970) surgem as primeiras atividades de programas de transição para adaptação à vida fora de instituições para pessoas com DI (SCHMIDT, 2005). A igualdade de oportunidades para pessoas com DI, para integração em todas as áreas da comunidade, começou a se expandir e evoluir.

Os Estados Unidos, em 1975, defenderam a oportunidade de crianças e jovens com deficiência terem uma educação mais adequada em um ambiente menos restritivo possível por meio da Public Law (PL 94-142). A partir dessa Lei, os profissionais começaram a destacar serviços e currículos que poderiam ajudar os alunos com deficiência a viverem uma vida produtiva e independente. Assim, na década de 1980 o número de alunos atendidos sob a égide da Educação Especial tinha crescido exponencialmente, mas os resultados em termos de emprego ainda eram insignificantes. A partir desses resultados, foram incentivados programas focados em modelo educacional centrado na vida do aluno.

Desde meados da década de 80, existe na legislação dos EUA a referência do conceito de transição, mas o grande impulso se deu em 1990, quando o Congresso Americano alterou sua designação original para PL 101-476 e Individuals with Disabilities Education Act (IDEA). É no âmbito dessas reformulações que surgiu a nova definição de “serviços de transição” oportunizando o envolvimento e integração dos alunos em seus programas educativos individualizados e serviços de transição. Ainda em 1990, foi aprovada a Lei PL 101-336 – Decreto sobre Americans with

Disabilities (ADA), que regulamentou a não discriminação, a acessibilidade, a maior abertura nos

locais de trabalho, transportes públicos e telecomunicações e promoveu a qualidade de vida das pessoas com deficiência enquanto membros ativos da sociedade. A política dessa década concentrou-se nas capacidades de uma pessoa, em vez de em suas limitações.

Posteriormente, foi elaborada a PL 102-569, decretada em 1992 e implementada em todos os estados norte-americanos incentivando a criação de agências de reabilitação vocacional destinadas a indivíduos com deficiência e contribuindo para a transição pós-escolar, uma vez que eles poderiam procurar nesses espaços auxílio em nível de desenvolvimento socioprofissional.

Ainda na década de 90, destacou-se a Declaração de Salamanca, uma carta de princípios oriundos da “Conferência Mundial sobre Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade”, aprovada pelos representantes de 92 países e 25 organizações internacionais em junho de 1994. Nesse evento, estabeleceram-se normas sobre a igualdade de oportunidades para as pessoas com deficiência e o direito de todos à educação, anteriormente anunciado pela Declaração dos Direitos Humanos.

No que concerne especificamente à “Preparação para a Vida Adulta”, em sua 56.ª recomendação a Declaração de Salamanca referiu-se especificamente à necessidade de a escola concentrar ações com o objetivo de estabelecer parcerias com a comunidade, a fim de assegurar ao jovem com DI uma transição adequada para a vida pós-escolar objetivando o desenvolvimento de suas competências e visando à sua inserção social, familiar e profissional.

Nos Estados Unidos, a ideia de transição foi ampliada em 14 de agosto de 2008 com a Higher Education Opportunity Act (HEOA), PL 110-315, reorganizando a Higher Education

Act (HEA), de 1965. Esta lei contém uma série de novos e importantes dispositivos que melhoram o acesso à educação de nível superior para estudantes com DI, a fim de tornarem-se cidadãos competentes, capazes, independentes e produtivos.

Na Europa, também houve significativos movimentos em prol da Educação Especial em um ambiente mais inclusivo. A partir da segunda metade da década de 90, foram publicados, no

Reino Unido, documentos importantes, dentre os quais se destacaram: Code of Practice on the

Identification and Assessment of Special Education Needs (1994); Revised National Curriculum

(1999); e Guide to Transition Planning for Secondary and Special Schools (2001). Esses documentos contribuíram para: a promoção do processo inclusivo europeu com a reorganização das escolas de modo a poderem atender a todas as crianças e jovens e a gerirem a diversidade de forma eficaz; a reestruturação das escolas especiais, a fim de se constituírem centros de recursos para o sistema regular de ensino; o desenvolvimento de processos de transição para a vida ativa e inserção socioprofissional.

A Comunidade Europeia participou ativamente no processo de transição do espaço escolar para a vida adulta. Ela adotou uma série de medidas em prol da inclusão da pessoa com deficiência, e em dezembro de 1989 instituiu a “Carta Comunitária dos Direitos Sociais Fundamentais dos

Trabalhadores”, que garantia a integração profissional e sua participação na vida comunitária

independentemente da natureza de sua deficiência. Para isso, fez-se necessário o desenvolvimento de formas adequadas de políticas preventivas e ativas que promoveram inserção desse grupo no mercado de trabalho.

O ano de 2003 foi instituído como o “Ano Europeu das Pessoas com Deficiência” com a intenção de conscientizar a sociedade em geral para a problemática da deficiência e dos direitos da pessoa com deficiência, a fim de alcançar igualdade e participação totais em todas as áreas.

Em dezembro de 2006, foi realizada a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque e adotada a “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”. Os Estados que faziam parte da União Europeia comprometeram-se a assegurar a igualdade de acesso à educação das pessoas com deficiência e asseguraram a participação das pessoas com deficiência no Ensino Superior, na formação vocacional, na educação de adultos, na aprendizagem ao longo da vida e em condições de igualdade com as demais pessoas.

O século XXI despontou como o período das novas possibilidades para a inclusão em vários países, solidificando a condição de igualdade de estudantes com deficiência com os demais indivíduos. O Brasil encontra-se entre esses países, todavia ainda faltam propostas políticas para programas, principalmente para jovens com DI.

No documento Betania Jacob Stange Lopes (páginas 59-62)