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2.3 OS TRATADOS INTERNACIONAIS

2.3.2 Tratados Bilaterais

Os tratados bilaterais são documentos jurídicos internacionais que materializam o pacto feito entre dois países soberanos. Trata-se de modalidade tratativa de alcance menor se comparada ao acordo multilateral, mas de suma importância nas relações diplomáticas entre dois países.

Segundo Resek (2011, p.49. Grifo do autor), “Diz-se bilaterial o tratado se somente duas as partes”. Quando há acordo entre dois países, ou entre um país e uma organização internacional, ou ainda entre organizações internacionais, diz-se que o mesmo trata-se de um acordo bilateral, entre duas partes.

Acordos bilaterais são acordos nos quais os dois países partes têm poder de decisão, ou seja, ambos podem reivindicar e pactuar seus interesses, sendo uma ferramenta de negociação mais flexível, que geralmente atende de forma mais específica aos interesses dos pactuantes.

Os acordos bilaterais celebrados pelo Brasil com diversos outros países serão comentados a seguir. Tais acordos são sobre a extradição e quando a mesma é proibida, ou seja, nos casos de cometimento de crime político.

O Decreto nº 2.010 de 23 de setembro de 1996 selou o Tratado sobre Extradição feito com a Austrália, em Camberra, no dia 22 de agosto de 1994. Esse acordo, sobre crimes políticos traz, (BRASIL, 1996):

Artigo 3

Recusa Obrigatória da Extradição

A extradição não será concedida em qualquer das seguintes hipóteses:

[...]

g) quando o crime pelo qual a extradição seja solicitada for considerado crime político pela Parte requerida. Para os efeitos desta alínea, crime político não incluirá:

I) assassínio ou tentativa de assassínio de Chefe de Estado, Chefe de Governo ou membro de sua família; ou

II) crime pelo qual cada Parte Contratante esteja obrigada, segundo acordo multilateral internacional, a extraditar a pessoa reclamada ou a submeter o caso a suas autoridades competentes para fins de julgamento;

Em todos os outros casos, a determinação se um crime é de natureza política será de responsabilidade exclusiva das autoridades competentes da Parte requerida;

h) quando a Parte requerida tiver fundadas razões para acreditar que o pedido de extradição foi apresentado com a finalidade de julgar ou punir a pessoa reclamada em razão de sua raça, religião, nacionalidade ou opinião política, ou que a posição dessa pessoa possa ser prejudicada por qualquer daqueles motivos; ou

i) se o crime pelo qual a extradição é requerida for um crime que implique punição do tipo mencionado no artigo 7 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.

Este acordo veda a possibilidade de extradição para criminosos políticos ou por razões de opinião política do indivíduo. Não se fala especificamente sobre asilo político, mas abre-se a prerrogativa para que o mesmo aconteça, haja visto que é proibida a extradição de criminosos políticos, um grande passo para a ocorrência do asilo político.

De forma semelhante, o Brasil firmou com a Bélgica um Tratado sobre Extradição, no dia 6 de maio de 1953, no Rio de Janeiro. Em 29 de julho de 1957, após aprovação legislativa, tal acordo tornou-se o Decreto nº 41.909, que em seu texto elenca, e negativa obrigatória da extradição frente a ocorrência de crimes políticos (BRASIL, 1957b).

O Decreto nº 41.909 de 1957, descreve:

A extradição poderá ser recusada quando o Estado requerido fôr competente, segundo as suas leis, para julgar o crime ou delito.

Ela não será concedida: [...]

d - Quando a infração pela qual é pedida a extradição fôr de natureza puramente militar ou religiosa, ou constituir delito político ou fato conexo dêste delito; todavia, não será considerado delito político, nem fato conexo dêste delito, o atentado contra a pessoa de um chefe de Govêrno estrangeiro ou contra membros de sua família, se tal atentado consistir em homicídio simples, assassinato ou envenenamento.

§ 1º - A apreciação do caráter político do fato incriminado caberá exclusivamente e as autoridades do Estado requerido (BRASIL, 1957b).

Novamente proíbe-se a extradição de indivíduo por razões de crime político ou de fato conexo a este. Atribui-se também, como de praxe, a conceituação de crime político ao Estado requerido, o mais razoável a se fazer. Salienta-se também que o atentado contra a vida de Chefe de Governo ou sua família não se caracteriza como crime político, sendo possível a extradição nestes casos.

O Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a República da Coréia, celebrado em Brasília, em 1º de setembro de 1995, tornou-se o

Decreto nº4152, tal tratado descreve:

Artigo 3

Recusa Obrigatória de Extradição

1. A extradição não será concedida em quaisquer das seguintes circunstâncias:

[...]

g) quando o crime constituir um crime político ou fato correlato. A referência a crime político não incluirá os seguinte delitos:

i) o atentado contra a vida de um Chefe de Estado ou Chefe de Governo ou membro de sua família;

ii) crime em relação ao qual as Partes Contratantes tenham a obrigação de estabelecer competência ou extraditar em função de um acordo internacional multilateral do qual ambas sejam Partes, e

iii) crime envolvendo genocídio, terrorismo, assassinato ou seqüestro, e

iv) quando a Parte Requerida tiver razões bem fundamentadas para supor que o pedido de extradição foi apresentado com a finalidade de perseguir ou punir a pessoa procurada em função de sua raça, religião, nacionalidade ou opinião política, ou que a posição da pessoa possa ser prejudicada por qualquer dessas razões.

[...]

3. A alegação da pessoa procurada de que o pedido de sua extradição tem propósito ou motivação política não impedirá a entrega da pessoa, se o crime que deu origem ao pedido de extradição representar, fundamentalmente, uma infração de Direito Penal comum. Neste caso, a entrega da pessoa a ser extraditada dependerá de um compromisso assumido pela Parte Requerente de que o propósito ou motivação política não contribuirá no sentido de tornar a pena mais grave (BRASIL, 2002).

Neste tratado, elenca-se uma novidade no campo da extradição. Se o indivíduo praticou um crime comum, e o mesmo alega motivos políticos, a extradição poderá ser feita da mesma maneira, apenas se o Estado que pede a extradição se compromissar de que o fator político não agravará a pena. No mais, mostra-se semelhante aos anteriores.

O Brasil celebrou um tratado no dia 2 de fevereiro de 1988 com a Espanha, este tratado tornou-se Decreto no dia 22 de junho de 1990, sob o nº 99.340, (BRASIL, 1990). Tal tratado continha as regras sobre extradição, e quando as mesmas devem ser negadas ou proibidas. Novamente proíbe-se a extradição para crimes políticos, como a seguir exposto:

ARTIGO IV

1. Não será concedida a extradição: [...]

f) quando a infração construir delito político ou fato conexo; [...]

2. A apreciação do caráter do crime caberá exclusivamente às autoridades do Estado requerido.

o fato constituir, principalmente, infração da lei comum. Neste caso, a concessão da extradição ficará condicionada ao compromisso formal por parte do Estado requerente, de que o fim ou motivo político não concederá para a agravação da pena.

[...]

5. Não serão consideradas como infrações de natureza política: a)o atentado contra a vida de um Chefe de Estado ou Governo estrangeiro, ou contra membro de sua família;

b) os atos de terrorismo;

c) os crimes de guerra e os que se cometam contra a paz e a segurança da humanidade (BRASIL, 1990).

Neste, semelhantemente com o acordo celebrado com a Coréia, os Estados se comprometem a extraditar criminoso comum, mesmo com perseguições políticas, desde que o Estado requerente se comprometa a não agravar a pena por esses motivos. Prevê-se que não se trata de infração política os crimes de guerra, contra a humanidade, contra a paz, atos de terrorismo ou atentados contra o Chefe de Governo. Sobre tais crimes poderá recair o instituto da extradição como meio punitivo para esses criminosos.

O Decreto nº 5.258 de 27 de outubro de 2004 promulgou o Tratado de Extradição entre o Governo do Brasil e o Governo da República Francesa, celebrado em Paris, em 28 de maio de 1996, sobre o acordo:

ARTIGO 4

Casos de Recusa Obrigatória da Extradição Não será concedida a extradição:

a) se a infração que originou o pedido for considerada pelo Estado requerido como uma infração política ou um fato conexo a uma tal infração;

b) se o Estado requerido tiver razões fundadas para crer que o pedido de extradição, motivado por uma infração de direito comum, foi apresentado para fins de perseguir ou punir uma pessoa por motivo de raça, religião, nacionalidade ou opiniões políticas ou que a situação desta pessoa corra o risco de ser agravada por uma ou outra dessas razões; (BRASIL, 2004b).

Neste acordo prevê-se a ocorrência da negativa de extradição por infrações políticas e fatos conexos a este, bem como por infrações do direito penal comum que podem ter sido solicitadas por motivações políticas ou que poderiam ser agradas por isso. Salienta-se que o reconhecimento de motivos e crimes políticos caberá ao Estado requerido, e que deverá haver uma investigação do mesmo para averiguar se há realmente motivação política submersa no pedido de extradição.

O Decreto nº 863 (BRASIL, 1993) foi resultado de um Tratado celebrado entre o Brasil e a Itália em 17 de outubro de 1989. Tal tratado, assim como os

tratados anteriormente descritos é sobre a Extradição. Neste tratado:

ARTIGO 3

Casos de Recusa de Extradição 1.A extradição não será concedida: [...]

e) se o fato pelo qual é pedida for considerado, pela Parte requerida, crime político;

f) se a Parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados; (BRASIL, 1993).

Não de forma diversa dos tratados anteriores, este elenca a tarefa de conceituação do que seria crime político à parte requerida, podendo o Estado requerido recusar o pedido de extradição em casos onde este se faz presente. Pode-se recusar a extradição também nos casos onde há um crime comum cuja pena pode ser agravada por motivos políticos ou quando o sujeito poderá ser vítima de perseguições e discriminações pelo mesmo motivo.

O Brasil celebrou com o Paraguai, em 24 de fevereiro de 1922, um Tratado sobre Extradição que tornou-se, em 27 de maio de 1925 o Decreto nº 16.925.

ARTIGO 10º

A extradição ou a detenção provisoria não terá lugar: [...]

5º) quanto a infracção fôr da natureza militar ou politica, contra a religião e a imprensa. Entretanto a allegação de fim ou motivo politico não impedirá, a extradição, se o facto constituir um crime commum; assim como o fim ou motivo politico não concorrerá para aggravar a penalidade (BRASIL, 1925).

Neste tratado não há grandes inovações, apenas o fato de se considerar a não extradição nos crimes de imprensa, comumente ligados a inclinações políticas.

O Decreto nº 15.506 (BRASIL, 1925) selou o tratado assinado em 13 de fevereiro de 1919 entre Brasil e Peru. Neste tratado:

ARTIGO IV

Não autorizam a extradição os delictos puramente politicos. Não será tambem concedida por infracções mixtas ou connexas a crimes ou delictos politicos, excepto si se tratar de crimes muito graves, em relação á moral ou ao direito commum, taes como assassinato, homicidio, envenenamento, mutilações, feridas graves, voluntarias e premeditadas, tentativas dos crimes desta natureza, attentado á propriedade publica ou privada, por incendio, explosão, inundação e roubos, especialmente os commettidos a mão armada ou com violencia.

qualquer dos partidos em luta e no interesse de sua causa, não podem dar logar á extradição, sinão no caso de constituirem actos de barbaridade e de vandalismo, prohibidos pelas leis de guerra, e sómente depois de terminada aquella.

Não são reputados delictos politicos, para a applicação das regras que precedem, os actos criminosos ou de anarchismo, dirigidos contra as bases de toda organização social. A apreciação de caracter da infracção é da competencia da Republica requerida (BRASIL, 1922).

Este tratado é curioso pelo fato de levar em conta a gravidade dos crimes conexos aos crimes políticos. Se os crimes forem extremamente graves, assim como os exemplificados no texto, os mesmos serão passíveis de extradição, mesmo com caráter político. Os crimes graves cometidos durante a guerra civil poderão ser objeto de extradição. Preveem também o não caráter político de crimes de caráter anarquista ou contra a base organizacional do Estado.

O Decreto nº 1.325 (BRASIL, 1994), resultado do acordo celebrado entre Brasil e Portugal assinado em 07 de maio de 1991, como de praxe, proíbe a extradição para criminosos políticos ou para criminosos comuns que podem sofrer agravação de pena, perseguições ou discriminações devido a convicções políticas. O tratado incumbe ao Estado requerido a conceituação de crimes políticos, e a investigação de a convicção política do indivíduo poderá afetar seu cumprimento de pena. (BRASIL, 1994)

O Brasil celebrou em Londres, no dia 18 de julho de 1995, um tratado sobre Extradição com o Governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte (BRASIL, 1997). Tal tratado tornou-se Decreto em 10 de outubro de 1997, sob o nº 2.347, neste tratado prevê-se:

Artigo 3

Razões para Recusar Pedidos de Extradição

1. Não será concedida a extradição de uma pessoa se a autoridade competente do Estado Requerido entender:

a) que o crime que deu origem ao pedido de extradição é de natureza política; (BRASIL, 1997)

Neste caso, cabe novamente ao Estado requerente conceituar e classificar os crimes e motivos políticos. Podendo o mesmo Estado, se considerar o fato crime político, recusar o pedido de extradição.

O último tratado do qual se tem acesso ao conteúdo foi o tratado celebrado entre Brasil e Venezuela, que tornou-se o Decreto nº 5.362 (BRASIL, 1940). Neste texto:

Não será concedida a extradição [...]

e) quando a pessoa for reclamada por fato que tenha carater exclusivamente político, ou militar, ou seja contrário às leis sobre a imprensa, ou constitua infracção de natureza puramente religiosa.

§ 1º A alegação do fim ou motivo político não impedirá a extradição, se o fato constituir principalmente infracção da lei penal comum.

Neste caso, concedida a extradição, a entrega do extraditando ficará dependente do compromisso, por parte do Estado requerente, de que o fim ou motivo político não concorrerá para agravar a penalidade (BRASIL, 1940).

Este tratado não prevê a negativa de extradição para crimes comuns conexos aos políticos. Quando o fato se constituir principalmente crime comum, mesmo com um fundo político, é autorizada a extradição. Há também o compromisso Estatal de não agravar a pena devido ao cunho político.

O Brasil possui outros tratados celebrados com diversos países sobre Extradição, porém seu conteúdo não está aberto ao público pela rede mundial de computadores.

Tais acordos são formas de estabelecer meios de lidar com certas situações perante outros Estados. Quando há um acordo presume-se a reciprocidade entre os acordantes, porém a reciprocidade não é obrigatória.

Há outros países com os quais o Brasil não possui tratados desta natureza, mesmo assim poderá ocorrer uma extradição, obedecendo às regras gerais do Direito Internacional, porém nestes casos não há presunção de reciprocidade.

3 DO PROCESSO DE ADMISSÃO DO ASILADO

O Brasil possui legislação interna que, em consonância com as regras administrativas dos órgãos competentes, define o processo de entrada e permanência do estrangeiro em solo pátrio, bem como punições caso o estrangeiro haja em discordância com o comportamento desejado e elencado em lei.

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