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2011 LOPES - A ABSTRACAO DO CONCEITO DOUTRINARIO DE ASILO POLITICO NO BRASIL E O DESRESPEITO AS NORMAS INTERNACIONAIS

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR CAMPUS DE CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DO CURSO DE DIREITO

BÁRBARA CRISTINA LOPES

A ABSTRAÇÃO DO CONCEITO DOUTRINÁRIO DE ASILO POLÍTICO

NO BRASIL E O (DES)RESPEITO ÀS NORMAS INTERNACIONAIS

Trabalho de Conclusão de Curso Monografia

Cacoal – RO 2011

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A ABSTRAÇÃO DO CONCEITO DOUTRINÁRIO DE ASILO POLÍTICO

NO BRASIL E O (DES)RESPEITO ÀS NORMAS INTERNACIONAIS

Por:

BÁRBARA CRISTINA LOPES

Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia – UNIR – Campus de Cacoal, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, elaborada sob a orientação do (a)

professora MSc. Thaís Bernardes

Maganhíni.

Cacoal – RO 2011

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BÁRBARA CRISTINA LOPES

A monografia intitulada “A ABSTRAÇÃO DO CONCEITO DOUTRINÁRIO DE

ASILO POLÍTICO NO BRASIL E O (DES)RESPEITO ÀS NORMAS

INTERNACIONAIS”, elaborada pela acadêmica Bárbara Cristina Lopes, foi avaliada e julgada aprovada pela banca examinadora formada por:

____________________________________________________ Profa. MSc. Thaís Bernardes Maganhíni – Orientador / UNIR

_________________________________________________ Prof. MSc. Bruno Milenkovich Caixeiro – Membro / UNIR

_________________________________________________ Prof. MSc. Telmo de Moura Passareli – Membro / UNIR

Cacoal – RO 2011

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A Deus. À minha família. Aos amigos e professores.

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"A democracia precisa da virtude, se não quiser ir contra tudo o que pretende defender e estimular."

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RESUMO

LOPES, Bárbara Cristina. A Abstração do conceito doutrinário de Asilo Político no Brasil e o (des)respeito às normas Internacionais. 66 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso: Universidade Federal de Rondônia – Campus de Cacoal – 2011.

O Asilo Político é reconhecido internacionalmente como direito fundamental e possui regras para sua admissão. Porém, há uma imprecisão no que concerne aos requisitos para que o indivíduo se candidate à concessão do Asilo Político, e uma amplitude demasiada no que tange aos parâmetros utilizados no processo de julgamento e aceitação desta pessoa em território asilante. Por isso ocorre o desrespeito às regras e tratados internacionais que disciplinam o instituto, dando asilo político a quem não preenche os requisitos. Com o desrespeito às regras internacionais entre países soberanos, cria-se margem para tensões internacionais, prejudiciais às relações diplomáticas, que podem dar ensejo, desde vedações de acordos de mútua ajuda econômica a conflitos de qualquer natureza, prejudicando o povo brasileiro. Metodologicamente, o presente trabalho norteou-se em pesquisas bibliográficas exploratórias de cunho qualitativo, utilizando-se doutrinas, leis, tratados internacionais, bem como artigos científicos concernentes ao assunto, baseando-se no método dedutivo.

Palavras-Chave: Direito Internacional. Brasil. Asilo Político. Tratados Internacionais.

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ABSTRACT

LOPES, Bárbara Cristina. The abstraction of the doctrinal concept of political asylum in Brazil and the (dis) respect for international standards. 66 pages. Final Paper: Federal University of Rondônia – Cacoal Campus – 2011.

The Political Asylum is internationally recognized as fundamental law and has rules for admission. But, there is a imprecision regarding to the requirements for the individual apply to the grant of Political Asylum, and a excessive amplitude concerning to parameters used in judgment process and admission of this person in asylum territory. Therefore, occurs the disrespect to rules and international treated that discipline the institute, giving political asylum who don’t fill in the requirements. By disrespecting the international rules among sovereign countries, forms margin to international tensions, prejudicial to the diplomatic relations, that can give cause, since fencing of mutual agreements of economic help to any kind of conflicts, damaging the brazilian nation. Methodologically, the present paper guided in exploratory bibliographic searches with qualitative stamp, using doctrines, legislations, international treated, as well as scientific articles concerning the subject, based on deductive method.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...08

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA...10

1.1 OS CIENTISTAS POLÍTICOS NA EVOLUÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS..13

1.2 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS...15

1.3 A HISTÓRIA DO ASILO POLÍTICO NO BRASIL...18

1.4 A EVOLUÇÃO DA CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS...20

1.5 ASILO POLÍTICO...21

1.6 ASILO TERRITORIAL...25

1.7 ASILO DIPLOMÁTICO...27

1.8 ASILO POLÍTICO E REFÚGIO...29

2 DA PREVISÃO LEGAL SOBRE ASILO POLÍTICO ...31

2.1 PREVISÃO CONSTITUCIONAL ...31

2.2 DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL – O ESTATUTO DO ESTRANGEIRO ...32

2.3 OS TRATADOS INTERNACIONAIS ...34

2.3.1 Tratados Multilaterais ...34

2.3.2 Tratados Bilaterais ...39

3 DO PROCESSO DE ADMISSÃO DO ASILADO...46

3.1 PROCEDIMENTO DE ENTRADA E PERMANÊNCIA...46

3.2 REQUISITOS PARA O ASILO POLÍTICO...49

3.3 DAS CONDIÇÕES IMPOSTAS AOS ASILADOS POLÍTICOS...50

3.4 DA IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO ...53

3.4.1 Da Concessão de asilo fora das determinações legais ...56

CONSIDERAÇÕES FINAIS...60

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INTRODUÇÃO

O Asilo Político é reconhecido formalmente na Constituição, em Leis e em Tratados Internacionais. Embora o instituto do Asilo Político seja reconhecido na comunidade internacional e nacionalmente como um princípio que rege as relações internacionais, tendo regras para sua admissão, muito ainda se discute.

Há uma imprecisão no que concerne a estabelecer de forma reta e segura os requisitos para que o indivíduo se candidate à concessão do Asilo Político, e uma amplitude demasiada no que tange a liberdade de parâmetros utilizados no processo de julgamento e aceitação desta pessoa em território asilante, pois cabe ao Estado acolhedor examinar caso a caso e verificar se há a ocorrência ou não de vários requisitos necessários para concessão de Asilo Político. Por exemplo, cabe ao Estado asilante decidir que fatos seriam encarados como crime político, se há perseguição política, se há urgência no requerimento do indivíduo que pede asilo, entre outros.

Como se não bastasse tal imprecisão, há ainda o desrespeito às regras e tratados internacionais que disciplinam o instituto, dando asilo político a quem não preenche adequadamente os requisitos. Com o desrespeito às regras internacionais entre países soberanos, cria-se margem para tensões internacionais, prejudiciais às relações diplomáticas, que podem dar ensejo, ao cancelamento do tratado, não estabelecimento de tratados futuros, cessação da relação diplomática, vedações de acordos de mútua ajuda econômica e conflitos de qualquer natureza, prejudicando o povo brasileiro.

De fato, há discricionariedade para que o Governo decida a quem concederá o benefício do Asilo Político. Quando o indivíduo reúne todos os

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requisitos necessários, o país soberano decidirá livremente se irá aceitar o estrangeiro perseguido em seu país ou não. Tal decisão está amparada em legislação nacional e internacional, e seja a resposta positiva ou negativa, não deixa lacunas para qualquer manifestação descontente de outro Estado soberano, haja vista que o país agirá de acordo com os textos legais aceitos mundialmente.

Porém, há casos em que o indivíduo não reúne todos os requisitos necessários e positivados em legislação nacional e internacional, ou deixa dúvidas e ambiguidades quanto a estes requisitos. Neste caso, o país deveria agir prudentemente e não conceder asilo a tais pessoas, visando o bom convívio na comunidade internacional e com o país natal do indivíduo, evitando assim qualquer tipo de represália por parte do mesmo, que poderia afetar o povo brasileiro. Mas, nem sempre o país age desta maneira, e por vezes concede asilo político a essas pessoas, contrariando tratados e maculando a relação internacional diplomática com outros países.

Primeiramente será feito um aparato histórico sobre o instituto do asilo político, e sua evolução no sistema jurídico brasileiro. Após, abordar-se-á a conceituação e diferenciação das espécies de asilo político. Em seguida, apresenta-se um estudo sobre a previsão legal do asilo político na legislação pátria e em tratados internacionais, para que se possa então tratar sobre o processo de admissão e permanência de estrangeiro no Brasil, na condição de asilado político.

Visando conhecer o instituto do Asilo Político por meio de doutrinas, legislação, Constituição e Tratados internacionais para que haja o entendimento das possibilidades de concessão, e quando esta concessão extravasa os limites estabelecidos em textos legais, deixando margem para o descontentamento internacional é que se justifica o presente estudo.

O presente estudo apoiou-se no método dedutivo, com análise do material pesquisado e reflexões críticas a respeito dos resultados obtidos. O método dedutivo é modalidade de raciocínio lógico, que partindo de determinadas premissas, fazendo uso da dedução, obtêm-se uma conclusão, acolhendo ou refutando as premissas como verdadeiras (LAKATOS; MARCONI, 1992).

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1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O instituto do Asilo Político se justifica pela proteção à vida humana do asilado, porém, em épocas longínquas tal prática poderia ter cunho político ou religioso.

Na Grécia e Roma antiga, o Asilo Político era usado principalmente para a expansão política. Em Roma, segundo Fontenele (1994, p. 3-4):

Roma criou o asilo estatal, ampliando a idéia de acrópole helênica, com o objetivo de dar aos perseguidos pelo Estado, ou por pessoas, o tempo necessário para que se assegurasse ação racional, com equidade e justiça.

[...]

A concessão de asilo sob pressupostos políticos impunha limitações aos devedores do fisco e aos devedores contumazes. Estabelecia-se neste caso apenas uma trégua para a solução dos problemas envolvidos. Impedia-se o asilo a homicidas, raptores de virgens e até a acusados de simples injúrias. Concedia-se proteção a fugitivos de outros estados, desde que fossem livres e estivessem dispostos a assumir a cidadania romana.

Encontra-se também, citações sobre Asilo Político, de forma primitiva, no Velho Testamento, em Números 35, 9-15:

Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando passardes o Jordão para a terra de Canaã, escolhei para vós outros cidades que vos sirvam de refúgio, para que, nelas, se acolha o homicida que matar alguém involuntariamente. Estas cidades vos serão para refúgio do vingador do sangue, para que o homicida não morra antes de ser apresentado perante a congregação para julgamento. As cidades que derdes serão seis cidades de refúgio para vós outros. Três destas cidades dareis deste lado do Jordão e três dareis na terra de Canaã; cidades de refúgio serão. Serão de refúgio estas seis cidades para os filhos de Israel, e para o estrangeiro, e para o que se hospedar no meio deles, para que, nelas, se acolha aquele que matar alguém involuntariamente. (BIBLIA, 2006ª, p.186-187)

Novamente sendo citado no livro de Josué 20, 1-6:

Disse mais o SENHOR a Josué: Fala aos filhos de Israel: Apartai para vós outros as cidades de refúgio de que vos falei por intermédio de Moisés; para que fuja para ali o homicida que, por engano, matar alguma pessoa sem o querer; para que vos sirvam de refúgio contra o vingador do sangue. E, fugindo para alguma dessas cidades, pôr-se-á à porta dela e exporá o seu caso perante os ouvidos dos anciãos da tal cidade; então, o tomarão consigo na cidade e lhe darão lugar, para que habite com eles. Se o vingador do sangue o perseguir, não lhe entregarão nas mãos o homicida, porquanto feriu a seu próximo sem querer e não o aborrecia dantes. Habitará, pois, na mesma cidade até que compareça em juízo

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perante a congregação, até que morra o sumo sacerdote que for naqueles dias; então, tornará o homicida e voltará à sua cidade e à sua casa, à cidade de onde fugiu. (BIBLIA, 2006b, p.252)

De igual forma, encontram-se semelhanças com as leis da Civilização Mulçumana, que não faziam distinção entre política e religião, e protegia, dentro de seu limite territorial, pessoa perseguida, desde que fosse ou se convertesse para a religião Mulçumana.

As leis do Islão reconheciam o asilo religioso ou político ao estrangeiro. O Imam, o defensor das leis religiosas, autorizava a permanência nos territórios islâmicos daqueles que buscavam proteção. Essas leis proibiam expressamente a devolução dos que estivessem assim protegidos, mesmo que se pretendesse sua troca por prisioneiro islâmico. destes de não empregarem castigos violentos contra os fugitivos (FONTENELE, 1994, p. 6).

Desde esta época evidencia-se a prática de Asilo Político, porém sempre com ressalvas, a depender do Estado ou Entidade Asilante e de seus interesses particulares, por vezes restringindo o benefício aos que praticaram certos crimes, ou até as crenças religiosas dos mesmos.

No período da Antiguidade e Idade Média, o Asilo Político se praticava em templos religiosos, em sua maioria, e não em outros Estados asilantes, como se procede atualmente. Nas palavras de Mello (2000, p. 1018):

O instituto do asilo já é encontrado na Antiguidade. No Egito havia o asilo religioso. Entre os judeus, algumas cidades davam asilo ao homicida involuntário. Na Grécia, diversos templos religiosos podiam dar asilo e dele se beneficiava qualquer tipo de criminoso. Se o crime era grave, proibia-se que a comida chegasse ao asilado para forçá-lo a abandonar o local de asilo. Em Roma, o aliso foi também praticado em templos e até mesmo na estátua de Romulus.

Também verifica-se a ocorrência de Asilo Político no feudalismo, onde o Senhor Feudal concedia Asilo a criminosos, independentemente de qual fosse seu delito, de acordo com sua vontade, pois o mesmo era soberano dentro de seu território, e poderia tomar tais decisões livremente (MELLO, 2000 p.1018).

Na era Cristã, com a Igreja Católica, acolhiam-se os asilados em construções de cunho religioso, como catedrais, igrejas e cemitérios, em nome da caridade e misericórdia que deveria ser demonstrada pelos religiosos que de acordo com os ensinamentos pregados por Cristo, em proteção ao ser humano. Porém, tal

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proteção era vedada a certos criminosos, e a alguns grupos religiosos. Segundo Fontenele (1994, p. 7):

No início da história do asilo cristão, não poderiam valer-se do privilégio do asilo os devedores do Estado, os judeus que agissem falsamente contra a fé cristã, os assassinos, os adúlteros, os raptores de virgens. Os escravos armados eram presos, desarmados e devolvidos a seus donos sob promessa.

A violação destes locais sagrados ensejava em punição religiosa severa, como evidencia Mello (2000, p. 1018):

O Cristianismo fez com que o asilo passasse a ser concedido nas Igrejas, cuja violação era um sacrilégio e o autor da violação podia ser excomungado. O asilo já estava no “espírito dos fiéis” desde os primeiros séculos da era cristã e foi codificado em 511 no Concílio de Orleãs.

A partir do século XII, o benefício do Asilo perdeu suas forças e garantias. Os Papas Inocêncio III, no século XIII, e Gregório IX seu sucessor, decretaram não ser passível de asilo os judeus, os hereges, e apóstatas, além de assassinos e outros (MELLO, 2000, p.1018).

Porém com a evolução político-jurídico e a gradual separação da Igreja e o Estado, além da multiplicação das corporações religiosas, tal respeito e temor as divindades, assim como o poder político da igreja, foram deixadas de lado para que os supostos infratores fossem capturados e punidos.

Do século XV ao XVIII, reconheceu-se o asilo territorial ao indivíduo que cometera crimes comuns, porém, os criminosos políticos não gozavam de tal benefício, haja vista que no regime político monárquico, quem era contra o rei, era contra Deus, conforme nos ensina Mello (2000, p.1018):

Nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII reconhecia-se o asilo territorial para o criminoso comum. Parece que o asilo se desenvolveu devido ao grande número de guerras religiosas. O criminoso político não gozava deste direito, uma vez que o poder dos príncipes tinha origem divina e, em conseqüência, qualquer atentado a este poder deveria ser punido.

Apenas a partir da Revolução Francesa reconheceu-se o instituto do asilo político semelhantemente com o atual, com previsão do instituto para beneficiar os criminosos políticos, e para os demais infratores é assegurado a extradição. Tal lição é elencada por Mello (2000. p. 1018): “Foi a partir da Revolução Francesa que se

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começou a admitir como regra o asilo do criminoso político e a extradição do criminoso comum”.

A partir do momento em que começou a desenvolver-se os Estados de forma sólida, o asilo religioso perdeu forças, e teve início a admissão de criminosos políticos na condição de asilados, conforme nos ensina Munoz-Campos (1974, p. 36):

O aparecimento das nacionalidades pôs fim progressivamente ao asilo religioso (o Código de Direito Canônico de 1917 ordena sua manutenção no Canon 1179). Na mesma época, nação era concedido aos delinqüentes políticos e nem muito menos aos heréticos mas aos delinqüentes do direito comum. As grandes lutas ideológicas do século XIX determinaram, sem qualquer dúvida, a prática do asilo que adquiria carta de naturalização na maioria dos países e que aplicava unicamente as pessoas por razões políticas.

Assim se deu o desenvolvimento do Asilo Político, que atualmente se funda no Direito Internacional, tratados internacionais e textos legais de cunho nacional.

1.1 OS CIENTISTAS POLÍTICOS NA EVOLUÇÃO DOS DIREITOS INDIVIDUAIS

No período histórico que compreende as Revoluções Francesa e Inglesa, houve grandes cientistas políticos, que com suas ideias e teorias trouxeram grande evolução e revolução no pensamento político e jurídico da sociedade. Mudanças estas que foram essenciais para a evolução do Direito e do sistema político e estatal, resultando no sistema atualmente utilizado. Por isso a importância do Estudo a cerca destes grandes pensadores a seguir expostos.

Os direitos conquistados pelos Ingleses através da Bill of Rights (Carta de Direitos), depois de 500 anos de lutas internas, difundiu-se pela Europa, 100 anos depois. A Europa nesta época era dominada pelo absolutismo, porém, em meados do século XVIII, ocorreu a influência de notáveis Cientistas Políticos, com suas ideias de revolução (FONTENELE, 1994, p.157).

Dentre estes Cientistas Políticos, na Inglaterra, destaca-se John Locke, que, todavia se refugiava na Holanda em 1683, devido a perseguições de Charles II. Locke, durante o exílio, dedicou-se a escrever livros sobre política. Em seu discurso repudia o direito divino dos reis, e enfatiza os direitos políticos do indivíduo, sobre a separação de poderes para dinamizar e minimizar a tirania de um sobre o outro, e o

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consentimento dos cidadãos como forma de legitimação de seu governante (REALE; ANTISERI, 1990, Vol. 2, p.504-527).

Mostesquieu, nascido em 1689, publicou o livro “Do Espírito das Leis”, que influenciou a vida política e jurídica, onde ressalta os tipos de governo, o fundamento da lei em cada espécie de governo, a lei para assegurar a defesa do Estado, liberdade, segurança e a separação de poderes, de acordo com os ensinamentos de Reale e Antiseri (1990, Vol.2. p.746-755).

Rousseau, ao escrever “Do Contrato Social”, trouxe imensa sabedoria acerca da organização natural do ser humano, desde o seu instinto primitivo de viver em sociedade, até a organização de sociedades mais complexas, como a sociedade democrática de Direito (ROUSSEAU, 2002).

A obra de Rousseau parte dos seguintes princípios:

A concepção rousseauniana parte dos seguintes princípios fundamentais: a) a liberdade é um dom imanente no homem e todos os homens são iguais entre si; b) para proteger-se, e a seus bens, os homens se associam, efetuando um pacto social, resultado da vontade coletiva; c) firma-se a soberania do povo através do sufrágio; d)institui-se o governo, ou o soberano, que age sob o primado da Lei. (FONTENELE, 1994, p. 169)

A evolução no pensamento científico destes e de outros pensadores, resultou nas revoluções liberais e após isso, a positivação dos direitos do homem. Conforme ensina Burongeno (2009, p.26):

Os ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), apoiando-se no conceito do contrato social, exploram as relações do indivíduo com o poder, ao enfatizarem a necessidade de limitação deste para a proteção daquele. Jean-Jacques Rousseau (1712-1718), finalmente, vai aperfeiçoar essas ideias e identificar a própria liberdade com a obediência das leis. Esse pensamento contratualista será amalgamado por outros filósofos iluministas, como Mostesquieu – que insistirá no universalismo-, Immanuel Kant – que faz a separação ética entre pessoas e coisas – e Voltaire- que conclama a passagem da teoria para a ação em defesa da liberdade, abrindo caminho para as revoluções liberais e a positivação dos direitos humanos, primeira etapa no gradual processo de sua afirmação.

Tais cientistas influenciaram no desenvolver político e jurídico, primando pela razão, pela separação de poderes e pelo jusnaturalismo. Estes ideais culminaram em diversas revoltas populares, como a Revolução Francesa, que foram essenciais para o desenvolvimento e positivação dos Direitos Humanos, começando pelos de primeira geração, os direitos individuais.

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1.2 EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A evolução dos Direitos Humanos teve seu início no jusnaturalismo moderno, a partir do filósofo Thomas Hobbes. O jusnaturalismo prega que o homem tem direitos pelo simples fato de ser um ser humano.

A corrente filosófico-política moderna a que se deve a mais substancial, sistemática e coerente teoria das relações internacionais, entre os séculos XVIII e XVIII, consiste no chamado jusnaturalismo moderno. Refiro-me ao jusnaturalismo moderno – em oposição seja ao jusnaturalismo antigo (aristotélico-ciceroniano) seja ao jusnaturalismo mediecal (tomista) – como aquela corrente que desenvolveu o tema do direito natural baseada principalmente em elementos racionais, despida completamente do convencionalismo aristotélico-tomista (que ainda impregna o pensamento de autores como Gentili no século XVI e Grócio no século XVII) isto é, aquela corrente que se inicia com Hobber e termina com Kant (ALMEIDA, 2009, p. 119).

Tal movimento filosófico-jurídico, teve uma grande importância para o iluminismo, e consequentemente para a eclosão das grandes revoluções do século XVII e XVIII(REALE; ANTISERI, 1990, Vol. 2, p.497-501).

As declarações de direito são pontos determinantes das aspirações dos homens, da suas crenças, de seus ideiais políticos. Nos séculos XVII e XVIII, os direitos humanos, que eram anteriores ao Estado, no seu sentido de direito natural (de base teológica), passam a ser enfocados pela razão. Sua essência não é negada: os direitos humanos transformaram-se em direitos frente ao Poder. São unilaterais, direcionados à pessoa individual emancipada da coletividade, passando, portanto, a ser considerados como direitos individuais (ARAGÃO, 2001, p.35).

Os direitos que os revolucionários perseguiam eram justamente os direitos de liberdade, que englobam o direito do indivíduo de ser livre, ter propriedades e segurança, tudo sem maiores interferências Estatais. Tais direitos tinham como de razão de ser a existência de Deus e a misericórdia para com terceiros, e após os movimentos revolucionários passam a se motivar pela razão humana, assegurado pelo Direito. Esse conjunto de direitos visava à proteção do indivíduo frente ao poder governamental, trata-se de um direito unilateral que tem como escopo proteger a fragilidade do indivíduo frente ao poder esmagador do Estado.

Os direitos de liberdade ou direitos civis (como preferem os ingleses) são aqueles que, de acordo com o contexto revolucionário e/ou inssurrecional das revoluções modernas, traziam à tona a valorização do indivíduo enquanto sujeito político-social.

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[...]

Os direitos de liberdade podem ser entendidos como parte do pensamento liberal, pois colocam o indivíduo, de acordo ao contexto histórico, frente a frente com o Estado. (FERREIRA, 2009, p.34-35)

Porém, apenas os direitos de liberdade almejados pelos revolucionários iluministas, que perduraram até a metade do século XIX, não foram suficientes para abrandar os problemas da sociedade decorrentes do capitalismo e da Revolução Industrial. A partir desta desigualdade social gerada pelo capitalismo, surge o socialismo, fruto do pensamento igualitário da Revolução Francesa, que buscava não apenas a liberdade, mas a igualdade entre os homens. O movimento socialista ganha força com a doutrina publicada em 1948 por Marx e Engels, e buscava não somente a igualdade perante a Lei, como faziam os iluministas, mas também a igualdade econômica e social (REALE; ANTISERI, 1990, Vol.3, p.184-209).

Com a luta operária e popular dos séculos XIX e XX, impulsionadas depois pelas duas Guerras Mundiais, foram conquistados outros direitos sociais a serem assegurados pelo Estado, como direito à educação, saúde e dignidade, e, como maior trunfo, tais direitos foram constitucionalmente assegurados em vários países (HOBSBAWM apud TOSI, [200?] p.3).

Após os terríveis acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, os países aliados, vencedores da guerra, liderados pelos Estados Unidos da América, criaram, em 26 de junho de 1945, a Organização das Nações Unidas – (ONU) - para que esta organização internacional assegurasse o futuro da humanidade, evitando uma outra guerra e assegurando a paz para o mundo. Para Resek (2011, p. 252):

Até a fundação das Nações Unidas, em 1945, não era seguro afirmar que houvesse, em direito internacional público, preocupação consciente e organizada sobre o tema dos direitos humanos. De longa data, alguns tratados avulsos cuidaram, incidentalmente, de proteger certas minorias dentro do contexto da sucessão de Estados.

Por entender que a paz mundial só seria alcançada se a todos os homens fossem assegurados direitos naturais, a Organização das Nações Unidas, promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, em Paris, constituiu a página mais brilhante do pensamento jurídico da humanidade e, em tese, o diploma de sua maior

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conquista. Para se atingir a sua culminância, uma imensidade de degraus foi palmilhada e uma imensidade de textos legais e de reivindicações caíram pelos escalões das iniciativas, atestando a honestidade dos esforços por uma paz perene e por um plano de existência igual e condigna. Se nos limites de um Estado, os nacionais dificilmente se subjugam e se harmonizam às letras dos códigos, quanto mais uma universalidade de nações se sujeitar a um estatuto, conquanto de idéias gerais, mas sempre como o imperativo de que “A vontade do povo será a base da autoridade de qualquer governo” (ALTAVILA, 1989, p. 243).

Com esta Declaração, foram assegurados direitos de liberdade, ou direitos civis e políticos, direitos de igualdade, ou direitos econômicos e sociais, proibição da escravatura, proclamação dos direitos femininos, defesa dos direitos dos estrangeiros, direitos de solidariedade e direitos culturais, a proibição da tortura, a igualdade perante a lei, a proibição da prisão arbitrária, o direito a um julgamento justo, o direito de habeas corpus, o direito à privacidade do lar e ao respeito de própria imagem pública, o direito de religião e de livre expressão do pensamento, a liberdade de ir e vir dentro do país e entre os países,entre outros (TOSI, [200?], p.5).

A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, fora um verdadeiro divisor de águas na história da luta dos Direitos Humanos, que passaram a ser reconhecidos e assegurados internacionalmente.

Para Bobbio (2004, p. 29-30):

Com a Declaração de 1948 [...] a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva: universal no sentido de que os destinatários dos princípios nela contidos não são mais apenas os cidadãos deste ou daquele Estado, mas todos os homens; positiva no sentido de que põe em movimento um processo em cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou apenas idealmente reconhecidos, porém efetivamente protegidos até mesmo contra o próprio Estado que os tenha violado.

Segundo Resek (2011), a partir da Declaração dos Direitos Humanos, a evolução dos mesmos foram doutrinariamente separados em gerações. Do Art. 4º a 21, da referida Declaração, trata sobre direitos civis e políticos, e marcam o que se denomina Direitos Humanos de primeira geração. Nesta parte diz-se que todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança, a não ser escravo, não sofrer tortura e penas cruéis ou degradantes, reconhecimento da personalidade jurídica, e direito a um processo judicial idôneo.

Na parte final da Declaração dos Direitos Humanos, cuidam-se os Direitos Humanos de segunda geração, elencam direitos da pessoa humana em relação à

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sociedade em que vive, como direito ao emprego, previdência social, igualdade salarial, descanso, lazer, saúde, educação, participação da vida cultural e artística da sociedade, e gozo dos benefícios da ciência (RESEK, 2011, p. 255).

Os Direitos Humanos de terceira geração tratam sobre a coletividade. Elenca a preocupação com o meio ambiente e paz mundial. O problema surge, justamente, na hora de cobrar tais direitos, haja vista que todos são obrigados e beneficiários destes direitos ao mesmo tempo, segundo ensinamentos de Resek (2011, p. 256).

Esses novos direitos pretendem pensar as relações dos Estados, e dos sujeitos de modo geral, a partir da lógica e princípio da cooperação. A lógica/princípio da cooperação, e por que não dizer da solidariedade, parte de duas premissas morais básicas e distintas (mas passíveis de se sobrepor): a) da moral pura. Que parte do princípio de que devemos ser solidários/cooperantes porque queremos o bem alheio; e b) da moral utilitária. Que parte do princípio de que devemos ser solidários/cooperantes porque todos sairemos ganhando (FERREIRA, 2009, p.98).

Os Direitos Humanos vieram para evitar as barbáries das guerras ou dos conflitos armados entre Estado e seus cidadãos, mas acima de tudo, para assegurar a qualquer ser humano, de qualquer lugar, a sua segurança e seus direitos básicos, estando em qualquer parte do mundo. Além disso, assegura-se também o meio ambiente equilibrado, como direito e condição básica para sustentar a vida humana digna, tanto para a geração presente, quanto para as seguintes.

Por certo, tais direitos trouxeram uma evolução gigantesca para a humanidade, nas mais diversas ciências, como a ciência jurídica, social, filosófica e política, além da mudança no pensamento e no tratamento que dispensamos aos nossos semelhantes, assegurando assim o mínimo de dignidade para o homem moderno perante seus semelhantes e perante seu Estado. Além disso, assegurou que os Estados não utilizem de sua soberania para que subjugue e utilize de força para com seus nacionais, evitando assim atos bárbaros contra estes.

1.3 A HISTÓRIA DO ASILO POLÍTICO NO BRASIL

No século XX, os asilos de brasileiros no estrangeiro ou de estrangeiros no Brasil, deram-se, basicamente, devido a revoltas. Na Revolução Federalista de 1894, houve um pedido de asilo diplomático por parte de brasileiros, a navios

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portugueses ancorados no Rio de Janeiro, conforme elenca Fonseca (1959, p.19):

O Almirante Sladanha da Gama, chefe da revolta, que em 1894 teve lugar no Brasil, viu-se obrigado a pedir asilo – para si e para 432 companheiros - a bordo dos navios de guerra portugeses Mindelo e Anfonso de Albuquerque, que por essa altura estavam ancorados no porto do Rio de Janeiro.

O governo brasileiro, porém, não se conformando com este facto, exigiu a entrega imediata dos refugiados por intermédio do Conde de Parati, embaixador português no Rio. Este defendeu a atitude dos comandantes dos navios portugueses, invocando o direito de asilo naval, enquanto que o Governo brasileiro persistiu no seu ponto de vista.

[...]

Entretanto, os navios portugueses abandonaram o porto do Rio, levando a bordo os refugiados que – como o Conde de Parati afirmou ao Governo brasileiro – seriam internados em Portugal.

Na revolução de 1924, durante a Revolução Paulista, uma revolta tenentista, o jurista José Carlos de Macedo Soares, acusado de conspirar com os revoltosos, publicou, em 19 de março de 1959, no Diário Carioca, um artigo narrando o seu caso:

Tocou-nos a vez de pedir protecção e segurança, primeiro ao embaixador E. Morgan, dos Estados Unidos, e, diante de sua recusa, ao embaixador Mora y Araújo, da República Argentina. Enquanto este último nos acolheu imediatamente, se bem nos termos rigorosos do protocolo, Morgan nos confessou que a tradição da diplomacia de seu país restringia o seu apoio aos Governos e governantes de facto, ainda que fossem bandidos da pior espécie, usurpadores e tiranos sanguinários.

Assim, marchamos para o exílio, sem nada dever à humanidade e senso legalista de Washington, deixando, porém, bem claro que não basta um texto legal para transformar numa intenção criminosa, sujeita à justiça comum, um procedimento que se inspire únicamente no senso ou na paixão política dos cidadãos que nela se alimentem.

Nessa ocasião, sendo Ministro das Relações Exteriores o Sr. José Félix Pacheco, foi-lhe solicitado, pelo embaixador Mora y Araújo, um passaporte que me permitisse viajar com segurança. Félix Pacheco limitou-se a fornecer um salvo-conduto até Lisboa, o qual teria a virtude de me bloquear nas margens do Tejo, sem documentos que me libertassem para prosseguir viagem (SOARES apud FONSECA, 1959, p. 20).

Neste caso, se verifica a negação do governo brasileiro de emitir um passaporte para o seu natural, apenas expedindo um salvo-conduto, documento pelo qual, o asilado possa deixar em segurança o Estado em que se encontra para dirigir-se ao Estado que o acolha (RESEK, 2011, p. 252).

Na Revolução de 1930 e 1933, o Brasil chegou a expedir uma declaração, no dia 15 de novembro de 1930, onde definia:

Deve permitir-se aos refugiados políticos em Embaixadas e Legações estrangeiras, de acordo com o direito internacional, que

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abandonem o país, desde que se não dirijam para os Estados limítrofes do Brasil (FONSECA, 1959, p. 20).

Após os casos apresentados, verifica-se, de acordo com Fonseca (1959, p. 22):

1º - Só foram pedidos e concedidos asilos em momentos de perturbação política e quanto a pessoas que por isso estavam em evidente risco de vida; assim o simples e vulgar receio de ser preso nunca legitimou o asilo; e a entrega dos asilados à autoridade competente, mesmo sob prisão, foi até por vezes considerada como devida – desde que o Governo desse a garantia de que não seriam exercidas represálias, mas podendo seguir-se seu normal julgamento, com absolvição ou condenação;

2º - Não pode dizer-se que seja costume – tanto no Brasil como em Portugal – conceder generosas facilidades aos respectivos cidadãos que tenham pedido e obtido asilo.

De acordo com os relatos históricos citados, o governo brasileiro apenas concedeu asilo político frente a grandes perturbações políticas, que colocavam em risco a vida do indivíduo de forma grave e salutar, não apenas para evitar que tal pessoa fosse presa. Ademais o Brasil não é um país que concedeu facilmente o benefício do asilo político aos perseguidos, pois concedeu tal ajuda apenas aos que corriam grave risco de serem mortos por parte de seus países natais.

1.4 A EVOLUÇÃO DA CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

O Brasil sempre se mostrou brando e aberto à entrada de estrangeiros em seu território. Durante algumas épocas fora mais fechado, mas não impedia o ingresso do estrangeiro. Segundo Malheiro (2011, p.69):

Historicamente, o Brasil sempre foi receptivo à admissão de estrangeiros em seu território. Em alguns momentos, a restrição foi menos, em outros maior, mas jamais houve uma proibição absoluta do ingresso do adventício.

As condições e requisito, bem como a possibilidade de entrada de estrangeiro no Brasil foram elencadas nas Constituições, que sofreram mudanças de acordo com a época e situação política vivida no país.

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promulgada dois anos após a independência nacional, ainda com amplos poderes ao imperador, estabeleceu a liberdade de trânsito do estrangeiro no território brasileiro, sem qualquer restrição. Na constituição de 1891, esta liberdade foi ampliada, permitindo o ingresso, trânsito e saída de estrangeiros do país sem qualquer exigência legal, inclusive, sem passaporte. Tal direito foi retirado pela Emenda Constitucional de 1926.

Nas constituições de 1934 e 1937, fora estabelecido o sistema de cotas, que eram limites porcentuais para a entrada de estrangeiros no país (MALHEIRO, 2011, p.69).

Não houve grande inovação nas Constituições de 1946 e 1967, que assegurava o livre ingresso de estrangeiro no Brasil. Esta decisão foi mantida pela Emenda Constitucional nº1 de 1969, de acordo com Malheiro (2011, p.69).

A atual Constituição, promulgada em 1988, determinou algumas restrições ao ingresso de estrangeiro no país, e assegurou a possibilidade da União legislar sobre o assunto. Salienta-se que atualmente a condição do estrangeiro está, infraconstitucionalmente elencada, no Estatuto do Estrangeiro, (Lei nº6.815), (MALHEIRO, 2011, p.70).

Segundo as informações acima, o Brasil oscilou, a depender do momento político, o tratamento dispensado ao estrangeiro, mas, nunca fechou as portas do país para os mesmos. O que se demonstra é, justamente, uma gama de requisitos e condições elencadas na Lei nº 6.815, o Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), para entrada, permanência e até para a saída de estrangeiros do país. Esta Lei também prevê certas punições ao Estrangeiro que transgride tais condições, como a extradição, deportação e expulsão.

1.5 ASILO POLÍTICO

O Asilo político é um instituto que apresenta vários elementos característicos em sua conceituação. De fato, cada doutrinador o conceitua de forma singular, e apresenta elementos diferentes, possibilidades diferentes. Portanto, faz-se necessário o amplo estudo hermenêutico do instituto para que faz-seja possível a ampla compreensão do mesmo. A seguir a conceituação do Asilo Político, dado por vários autores.

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O asilo político, por Malheiros (2011, p. 71):

O asilo político é caracterizado pela recepção de estrangeiro em território nacional, a seu requerimento, sem a exigência das condições regulares para a sua entrada, para impedir a aplicação de sanção ou perseguição no seu Estado de origem em face da sua prática de crime de caráter político ou de natureza ideológica.

Analisa-se também o conceito de Asilo Político dado nos ensinamentos de Rezek (2011, p. 250):

Asilo político é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial - por causa de dissidência política, de delito de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal comum.

Segundo Accioly e Silva (2000, p. 345-346), o Asilo Político pode ser considerado da seguinte forma:

O asilo territorial, que não deve ser confundido com o diplomático, pode ser definido como a proteção dada por um Estado, em seu território, a uma pessoa cuja vida ou liberdade se acha ameaçada pelas autoridades de seu país por estar sendo acusada de haver violado a sua lei penal, ou, o que é mais freqüente, tê-lo deixado para se livrar de perseguição política.

De acordo com o doutrinador acima citado, há a possibilidade de concessão de Asilo Político a quem transgride a lei penal do Estado. Neste ponto, o mesmo se diferencia dos demais autores, haja vista que nenhum outro doutrinador pesquisado admite a possibilidade de concessão de Asilo Político a quem comete crime diverso dos políticos.

De forma igualmente diferenciada, Jo (2004, p. 404), tráz na conceituação a previsão de concessão de Asilo Político não só por crimes, mas também por motivos políticos, conforme a seguir exposto:

O direito de asilo (asylum; droit d’asile), refere-se ao direito do Estado asilante de fornecer a pessoas perseguidas por motivos ou delitos políticos (o asilado), em caso de urgência, um lugar de asilo, como o território estrangeiro, delegações, navios de guerra, acampamentos ou aeronaves militares.

Em suma, o Asilo político ocorre quando alguém, perseguido por motivos políticos recebe proteção contra perigo grave, ou morte, ao cruzar as fronteiras de

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outro Estado soberano.

Portanto, nota-se que há alguns elementos essenciais do instituto, quais sejam: o ser humano, ocorrência de crime ou perseguição por motivos políticos, real perigo à vida e segurança e a entrada em território estrangeiro.

Só é beneficiário do direito de Asilo Político a pessoa humana que está sendo perseguida. Tal direito, considerado por muitos como um Direito inerente ao Ser Humano, reconhecido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, previsto em seu Art. XIV: “Todo Homem, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países”(UNIDAS, 1948). Portanto, evidencia-se na palavra “homem”, o requisito humanitário para a ocorrência do instituto do Asilo Político, não admitido para pessoas jurídicas, organizações internacionais ou patrimônios de qualquer natureza.

Outro elemento essencial do instituto do Asilo Político é a ocorrência de crime político, e para alguns autores, a mera perseguição por motivos políticos. Dentro destes crimes políticos, não se admitem crimes de lei penal comum, de certo, há uma força internacional para a punição das violações ao direito penal comum, entendido como o conjunto de regras penais que elencam certos crimes cometidos contra bens jurídicos universalmente reconhecidos.

Desta forma, de modo geral, não se admite o Asilo Políticos para crimes comuns, trazendo à tona o instituto da extradição para tais situações, como a seguir exposto:

Sabemos que no domínio da criminalidade comum – isto é, no quadro dos atos humanos que parecem reprováveis em toda parte, independentemente da diversidade de regimes políticos - Os Estados se ajudam mutuamente e a extradição é um dos instrumentos desse esforço cooperativo perseguida (RESEK, 2011, p.250).

Essa proibição transcende a mera proibição consuetudinária comum do Direito das Gentes, está positivada na Declaração Universal do Direitos dos Homem, conforme evidencia Mello (2000, p.1020):

O asilo é concedido ao criminoso político, incluindo-se os que lutam contra o colonialismo. Não se dá asilo aos que cometeram crime de guerra, crime contra a paz e crime contra a humanidade.

[...]

A Declaração Universal dos Direitos do Homem (art. 14) proíbe a concessão do asilo aos criminosos de direito comum e aos responsáveis por “atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas”.

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Portanto, é proibido a qualquer nação, segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem, conceder asilo político à pessoa que cometeu crime comum, qualquer ato contra a paz mundial ou crimes contra a humanidade.

Há uma amplitude no que tange a conceituação legal de crime político, sendo esta uma lei penal em branco, pois há menção de crime político na lei, mas não há outro texto legal que nos traga a definição do instituto.

Cabe ao jurista examinar uma das fontes auxiliares do Direito, a doutrina, para sanar tal dúvida. Sobre a conceituação de Crime Político de acordo com os ensinamentos de Resek (2011, p. 250): “O objeto da afronta não é um bem jurídico universalmente reconhecido, mas uma forma de autoridade assentada sobre a ideologia ou metodologia capaz de suscitar confronto além dos limites da oposição regular num Estado democrático”.

Portanto, o asilo político pode ser concedido a quem cometeu apenas e tão somente crimes políticos. Tais crimes devem ser compreendidos como aqueles crimes que transcendem a mera oposição comum ao governo, e atentam contra a soberania e segurança nacional.

Além da prática de crimes desta natureza, deve haver, consequentemente, uma perseguição do governo do Estado de origem do Asilando, ou do Estado onde reside, e cometeu tal infração, trazendo perigo real ao indivíduo.

Esta perseguição estatal ao indivíduo deverá trazer ao mesmo um real perigo de morte. O mero receio de ser preso não justifica o pedido de Asilo Político, deve haver um sério risco de vida, além disso, aplica-se a concessão de asilo político apenas quando o processo judicial e sentença condenatória não foram feitas normalmente. Neste ponto, Fonseca (1959, p.16):

Só é lícito dá-lo a presos por crimes políticos desde que a pena não tivesse sido aplicada em normais condições do funcionamento da Justiça – ou, tendo sido devidamente aplicada, haja justo receio de que, da prisão a cumprir, resulte, ou possa resultar, risco de vida.

[...]

O asilo só é legítimo em urgente defesa da própria vida de quem o pede – ou quando da prisão, ou julgamento ou cumprimento da condenação, possa haver justo receio de ser provada a morte, ou de serem aplicadas torturas (físicas ou morais) desumanas.

Em vista disso, quando a justiça caminha em seus trilhos normais, havendo um devido processo legal, uma sentença condenatória legítima, e uma execução penal digna, sem perigo de morte ou lesão física e psicológica, não há o que se falar

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em perseguição política com perigo de morte ou lesão, não sendo assim legítimo o pedido de Asilo Político.

Outro elemento essencial é a entrada em território estrangeiro. Neste ponto há uma diferenciação quanto à espécie de Asilo Político dada ao indivíduo perseguido. Pode ser dado Asilo Político em solo territorial Estrangeiro, ou em Embaixadas e outras instalações estrangeiras que estejam no território do País perseguidor, mas que por costume possuem a característica de inviolabilidade pela polícia local, sendo assim segura ao perseguido.

O Asilo Político territorial é aquele no qual o indivíduo perseguido adentra em solo de Estado estrangeiro. O Asilo Político diplomático é aquele em que se considera a extraterritorialidade e a não interferência em prédios de Embaixadas, navios de guerra e outros, e o indivíduo procura abrigo nestes locais para sua proteção, sendo costumeiramente acolhido no país de tal Embaixada ou em outro país que o receba, posteriormente (RESEK, 2011).

Após estudo sobre o conceito e elementos essenciais ao instituto percebe-se que há vários requisitos intrínpercebe-secos à própria conceituação e natureza do Asilo Político. Evidencia-se de igual forma, a falta de conceituação legal sobre um dos requisitos do instituto, o crime político. Portanto, não há exatidão sobre quem faz jus ou não a receber o benefício protecionista, abrindo lacunas para que cada Estado decida conforme seu entendimento, podendo tal decisão resultar em desentendimentos diplomáticos.

1.6 ASILO TERRITORIAL

O instituto do Asilo Político se divide em territorial e diplomático. A diferenciação entre as duas espécies reside no local onde é concedido o Asilo Político e na sua aceitação internacional. O asilo político segundo Mello (2000, p. 1017):

O direito de asilo (...) pode apresentar-se de duas maneiras: a) o asilo territorial ou externo, ou internacional; e b) o asilo diplomático, ou interno, ou político, ou internacional, ou extraterritorial.

O asilo territorial é admitido em toda a sociedade internacional e está consagrado no art. XIV da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

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O asilo territorial é aquele que o Estado concede aos indivíduos perseguidos dentro do seu território.

Resek (2011), e Jo (2004) são doutrinadores que afirmam ser o asilo diplomático uma forma precária de asilo político, e o asilo territorial seria a forma acabada e definitiva de tal benefício.

O conceito de Asilo Político territorial segundo Resek (2011, p. 250):

O asilo político, na sua forma perfeita e acabada, é territorial: concede-o o Estado àquele estrangeiro que, havendo cruzado a fronteira, colocou-se no âmbito espacial de sua soberania, e Aí requereu o benefício. Em toda a parte se reconhece a legitimidade do asilo político territorial, e a Declaração Universal dos Direitos do Homem – ONU, 1948 – Faz-lhe referência.

Para Jo (2000, p. 404):

O asilo territorial (territorial asylum. Droit d’asile territorial) é um instituto de caráter universal devido à sua ligação com a proteção do direito humano. Sobre o asilo territorial das pessoas perseguidas por motivos políticos, foram=se estabelecendo costumes internacionais ao longo do tempo.

O Asilo Político Territorial possui maior aceitação internacional e se encontra devidamente previsto em legislação, qual seja a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Além da aceitação internacional, há outro elemento que diferencia o Asilo Político territorial e diplomático, o local de acolhimento. No asilo político territorial o local de acolhimento do asilado é o território de Estado estrangeiro, e no asilo político diplomático tal benefício acontece em prédios de Embaixadas, navios de guerra e outros.

O instituto do Asilo Político territorial se encontra consagrado no texto legal da Declaração Universal dos Direitos do Homem, promulgado em dezembro de 1948, versando em seu Artigo XIV:

1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas (UNIDAS, 1948) [Grifo nosso].

De acordo com o Artigo acima, a previsão do asilo territorial se evidencia quando se fala em “asilo em outros países”, o que leva a crer que a declaração admite o asilo territorial que ocorre em país diverso do país de origem, e não o asilo diplomático que acontece justamente no território do país perseguidor.

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No Brasil, há a previsão constitucional no Art. 4º, inciso X acerca do instituto do Asilo Político, mas tal previsão abarca as duas espécies de Asilo Político, o territorial e o diplomático, pois menciona a concessão de Asilo Político, sem fazer distinções entre as duas espécies, conforme exposto:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

(...)

X - concessão de asilo político (BRASIL, 1988).

De fato o Asilo Político territorial por ser positivado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, ser reconhecido na comunidade internacional, e ser um instituto mais antigo, no qual se traçou inúmeros costumes internacionais a sua concessão gera menos polêmicas e atritos internacionais, sendo mais seguro ao Estado Asilante optar por tal benefício, quando lhe convier, desde que respeitados os requisitos e regras inerentes ao instituto.

1.7 ASILO DIPLOMÁTICO

O Asilo Político da espécie diplomática constitui o benefício dado à pessoa que perseguida por motivos políticos, adentra em Missões Diplomáticas de outro Estado, a fim de manter-se vivo.

Conceitua-se asilo diplomático de acordo com Artigo I, da convenção assinada em Caracas, no ano de 1954:

Artigo I

O asilo outorgado em legações, navios de guerra e acampamentos ou aeronaves militares, a pessoas perseguidas por motivos ou delitos políticos, será respeitado pelo Estado territorial, de acordo com as disposições desta Convenção.

Para os fins desta Convenção, legação é a sede de toda missão diplomática ordinária, a residência dos chefes de missão, e os locais por eles destinados para esse efeito, quando o número de asilados exceder a capacidade normal dos edifícios.

Os navios de guerra ou aeronaves militares que se encontrarem provisoriamente em estaleiros, arsenais ou oficinas para serem reparados, não podem constituir recinto de asilo. (ORGANIZAÇÃO, 1954)

Segundo Resek (2011, p.251): “O chamado asilo diplomático é uma forma provisória do asilo político, só praticada regularmente na América latina, onde se viu tratar em alguns textos convencionais a partir de 1928”.

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Evidencia-se assim que o Asilo Político diplomático é uma forma de asilo precária, aceita na América Latina. Tal benefício apresenta uma exceção à regra da soberania Estatal sobre seu território, baseando-se em uma teoria de extraterritorialidade concedida à Embaixadas e outras instalações onde é possível a concessão de Asilo Político Diplomático. Sobre isso, Fonseca (1959, p.7) afirma:

O asilo político interno (vulgarmente designado asilo diplomático), quer se considere como um direito quer como uma pratica ou costume, constitui sempre um atentado ao princípio geral da soberania do Estado onde a embaixada (ou navio, ou aeronave, ou acampamento militares) se encontra, atentado esse de tal forma grave que a maior parte dos modernos jurisconsultos são contrários ao asilo, quer de direito quer de facto; e mesmo aqueles que o admitem são unânimes em afirmar que só pode ser concedido quando haja manifesto e claro risco de vida, determinado por ambientes de anormal excitação política ou social – e que, depois, são ainda de observar determinadas condições.

As condições para o Asilo Político diplomático são semelhantes ao do territorial, conforme ensina Resek (2011, p. 252):

Os pressupostos do asilo diplomático são, em ultima análise, os mesmos do asilo territorial: a natureza política dos delitos atribuídos ao fugitivo, e a atualidade da persecução – chamada, nos textos convencionais, de estado de urgência. Os locais onde esse asilo pode dar-se são as missões diplomáticas – não as repartições consulares – e, por extensão, os imóveis residenciais cobertos pela inviolabilidade nos termos da Convenção de Viena de 1961; e ainda, segundo o costume, os navios de guerra porventura acostados ao litoral. [Grifo do autor]

Resek (2011), afirma que o Asilo Diplomático jamais é definitivo como o territorial. Em verdade, não seria razoável que o asilado ficasse perpetuamente nas instalações de Missões Diplomáticas, ou navios e aeronaves em serviço militar ou governamental, ou quaisquer outros lugares onde se considere e permita a ocorrência do instituto do asilo político diplomático. Por isso, geralmente, o embaixador, ou a pessoa no poder imediato no caso de outras instalações, irá examinar a ocorrência do delito de natureza política e o estado de urgência, e se entender que estes se fazem presentes, irá reclamar da autoridade Estatal onde se situa a Embaixada em questão a elaboração de um salvo conduto, um documento que garante a saída segura do Asilado para o Estado que irá o acolher, podendo ser o da Embaixada, ou um terceiro Estado que o aceite.

Após o asilado deixar o prédio da Missão Diplomática irá para o Estado que o acolherá na qualidade de Asilado Político territorial definitivo, onde terá que seguir as regras e condições de concessão e permanência previstas em legislação sobre

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Asilo Político territorial, de acordo com os ensinamentos de Mello (2000).

1.8 ASILO POLÍTICO E REFÚGIO

Há divergências quanto à diferenciação entre refúgio e asilo político, alguns consideram que se trata do mesmo instituto, com as mesmas condições, e outros afirmam que não são iguais. Antes de qualquer discussão se faz necessário o estudo da conceituação de refugiado segundo Malheiros (2011, p.70): Refugiado é aquela pessoa que, em face de fundados temores motivados por perseguição racial, religiosa, política ou criminal no território de seu Estado de origem, procura asilo ou refúgio em outro com a finalidade de nunca ser molestado.

De pronto, nota-se a maior abrangência de requisitos para o refúgio. É previsto o asilo ou refúgio em outro Estado por motivos políticos, semelhantemente como o Asilo Político territorial, mas há também a previsão do refúgio por motivos raciais, religiosos e outros, sendo então um instituto de maior abrangência, se comparado com o Asilo Político.

Partilhando do entendimento de que refúgio é instituto de maior amplitude do que o Asilo Político e que ambos não são iguais, segue a opinião de Malheiros (2011, p.71): “Ao refugiado é possível a concessão de asilo político. (...) Porém, ressalta-se que nem todo refugiado é asilado político”

A opinião de Mello (2000, p.1019) é diversa: “São denominadas de refugiados as pessoas que gozam de asilo territorial”. O mesmo autor ressalta a discussão e opinião de outros autores acerca de tal embate:

Pode-se acrescentar que no continente americano o conceito de refugiado é mais amplo do que de asilado territorial. Assim sendo, todo asilado territorial é refugiado, mas nem todo refugiado é asilado territorial. O asilo territorial, quando é concedido, é comunicado pelo Estado a aquele de onde saiu o indivíduo. Esta obrigação não existe para os demais refugiados. Há atualmente a tendência de se distinguir o asilado territorial do refugiado. Gros Espiell salienta que asilo e refúgio são dois institutos distintos, com regulamentações diferentes. Salienta que os conceitos de asilo territorial e refugiado, nos termos da convenção da ONU de 1951, ás vezes estão unidos, mas que eles são distintos. Reconhece o internacionalista uruguaio que no DI Americano ambos os institutos se confundem. Um princípio do direito dos refugiados é a “reunificação das famílias”. A qualificação como refugiado não transforma automaticamente a pessoa em asilado territorial. Quem cuida do refugiado é o ACNUR e quem cuida do asilado é o Estado. Já Denis Alland sustenta que o asilo e o estatuto do refugiado não são tão distintos, porque o asilo é anterior ao

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estatuto do refugiado e ao mesmo tempo uma conseqüência deste. (2000, p. 1020)

O texto legal brasileiro que trata sobre refugiados e asilados políticos é distinto. Ao refugiado existe a Lei nº 9.474 de 1977, e para o asilado há o Estatuto do Estrangeiro, qual seja a Lei nº 6.815 de agosto de 1980, além da previsão constitucional contida no Art. 4º, inciso X (BRASIL, 1977; 1980).

No Brasil, há refugiados e Asilados Políticos, de acordo com a exposição a seguir:

O Brasil tem, hodiernamente, um total de 3.918 estrangeiros com status de refugiado. No ano de 1998 foi criado o Conare (Conselho Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça.

[...]

Os asilados políticos no Brasil são apenas oito (MALHEIROS, 2001 p. 70-71).

Por meio destas informações, constata-se que no Brasil o instituto do asilo político e do refúgio não se confundem. De fato há semelhanças entre os mesmos, mas não ao ponto de considerá-los um só instituto. Refúgio é gênero de qual Asilo Político é espécie.

O refúgio possui outras possibilidades de concessão, sendo um benefício mais amplo se comparado ao asilo político. Além disso, ambos possuem legislação diversa, e são tratados por entidades diferentes, o refúgio pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), e ao Asilo Político a responsabilidade recairá sobre o Estado acolhedor frente ao Estado de origem.

Portanto, não há o que se confundir entre tais institutos, sendo tratados no continente Americano como figuras jurídicas distintas.

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2 DA PREVISÃO LEGAL SOBRE ASILO POLÍTICO

O Brasil possui legislação internacional e nacional que tratam sobre asilo político, sendo a Lei nº6.815 de 1980, chamado de Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980), o texto legal que trata sobre a condição do estrangeiro no Brasil. Além da previsão infraconstitucional, há a previsão constitucional, constante no Artigo 4º da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).

2.1 DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL

A concessão de Asilo Político é um dos princípios que regem as relações internacionais brasileiras. A previsão legal deste princípio está contida na Constituição Federal, em seu Artigo 4º, inciso X:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

[...]

X - concessão de asilo político (BRASIL, 1988).

Para Cunha Júnior (2011, p.546):

X-Concessão de asilo político, que consiste na proteção oferecida pelo Estado a estrangeiro perseguido por crime político no país em que se encontra. A Lei nº 6.815/80 disciplina a condição do asilado. Prevê que o estrangeiro admitido no território nacional na condição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional, a cumprir as disposições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar (art. 28). Também que o asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do Governo brasileiro (art.29), sob pena de importar em renúncia ao asilo e impedir o reingresso nessa condição.

Apesar de ser um princípio, a concessão de asilo político bem como outros princípios contidos no Título I da Constituição se tornam, realmente, normas jurídicas, tanto para interpretação como na positivação de legislação infraconstitucional.

Portanto, por estar contido no Título I da Constituição a concessão de asilo político é um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil. Sobre tais princípios:

Na tipologia desenvolvida por Canotilho, os princípios fundamentais são princípios constitucionais politicamente conformadores

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do Estado, que explicitam as valorações políticas fundamentais do legislador constituinte, revelando as concepções políticas triunfantes numa Assembléia Constituinte, constituindo-se, assim, no cerne político de uma Constituição política. (CANOTILHO apud CUNHA JUNIOR, 2011, p. 519)

Apesar de constitucionalmente previsto, a possibilidade da concessão de asilo político é uma decisão discricionária a ser tomada pelo governo. O governo deverá verificar as condições para admissão do asilado, e depois tomar a decisão com base no bem estar nacional. A previsão constitucional acerca do asilo político é um princípio, e não um direito do indivíduo perseguido. Princípios positivados são normas auxiliadoras na interpretação e criação de legislação infraconstitucional, leis estas que deverão se adequar aos princípios previamente estabelecidos (MELLO, 2000).

Salienta-se que apesar do instituto ter previsão constitucional e lei específica, não é um dever do Estado brasileiro conceder o benefício, mesmo a quem reúna todos os requisitos necessários. Trata-se do poder de soberania, que permite ao estado decidir sobre o que é melhor para sua população e governo.

Os princípios contidos no Art. 4º da Constituição aliados à Lei nº 6.815 de 1980, fornecem as guias necessárias para o tratamento de Estrangeiros em solo pátrio, inclusive no que tange às regras sobre asilo político, sendo este instituto um benefício de cunho humanitário de caráter totalmente discricionário por parte do Estado acolhedor (BRASIL, 1980).

2.2 DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL – O ESTATUTO DO

ESTRANGEIRO

O Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815) regula a condição jurídica do Estrangeiro bem como a criação do Conselho Nacional de Imigração (BRASIL, 1980). Esta lei, mesmo anterior à Constituição Federal de 1988, opera em conformidade com os preceitos constitucionais pertinentes a seu conteúdo. Ressalta-se que apesar de ser uma lei para os Estrangeiros, ela assegura, antes de tudo, o bem estar nacional. Evidencia-se isso a partir dos seguintes artigos:

Art. 1° Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poder á, satisfeitas as condições desta Lei, entrar e permanecer no Brasil e dele sair, resguardados os interesses nacionais.

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Art. 2º Na aplicação desta Lei atender-se-á precipuamente à segurança nacional, à organização institucional, aos interesses políticos, sócio-econômicos e culturais do Brasil, bem assim à defesa do trabalhador nacional (BRASIL, 1980).

Assim sendo, constitucionalmente e infraconstitucionalmente verifica-se a preocupação quanto ao bem-estar nacional, quanto ao povo e governo brasileiro, deixando o estrangeiro em segundo plano, só o admitindo se houver conformidade entre o bem-estar nacional e sua permanência, caso contrário, pela legislação, o bom funcionamento do Estado Brasileiro é preferencial em relação a admissão de Estrangeiro.

A condição de asilado político se faz presente no rol de previsão da legislação infraconstitucional, qual seja o Estatuto do Estrangeiro.

TÍTULO III

Da Condição de Asilado

Art. 28. O estrangeiro admitido no território nacional na condição de asilado político ficará sujeito, além dos deveres que lhe forem impostos pelo Direito Internacional, a cumprir as disposições da legislação vigente e as que o Governo brasileiro lhe fixar.

Art. 29. O asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do Governo brasileiro.

Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo importará na renúncia ao asilo e impedirá o reingresso nessa condição. (BRASIL, 1980)

Desta forma, o asilado deverá seguir várias regras legalmente impostas, além de possíveis condições impostas pelo governo acolhedor para sua permanência no território brasileiro.

Uma destas regras está contida no Art. 30 do Estatuto do Estrangeiro, que elenca a necessidade de identificação do asilado perante o órgão governamental responsável. Conforme o Estatuto do Estrangeiro prevê:

Art. 30. O estrangeiro admitido na condição de permanente, de temporário (incisos I e de IV a VI do art. 13) ou de asilado é obrigado a registrar-se no Ministério da Justiça, dentro dos trinta dias seguintes à entrada ou à concessão do asilo, e a identificar-se pelo sistema datiloscópico, observadas as disposições regulamentares. (BRASIL, 1980)

O Estatuto do Estrangeiro estabelece em linhas gerais a condição do estrangeiro no Brasil, não sendo muito específico quanto ao estrangeiro asilado político no Brasil. Mas a pouca previsão no Estatuto do Estrangeiro sobre asilo político é suprida por decretos administrativos que atribuem a certas repartições

Referências

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