• Nenhum resultado encontrado

“Travel in Brazil”, publicada em inglês pela Divisão de Turismo do DIP1, com oito

números, medindo 22,5 cm de largura e 30,0 cm de comprimento, circulou durante os anos de 1941 e 1942. Apesar de não constar no cabeçalho da revista a sua editoria, este papel coube a Cecília Meireles.

As capas e as reportagens dessa revista apresentam os motivos da terra e do homem brasileiros, temas tão propalados pelo Estado Novo e uma das características das suas publicações, o que denota o vigor da “brasilidade” num projeto estético e político nacionalista. A terra é apresentada sempre do ponto de vista do “nacionalismo paisagístico”, abundante de recursos vegetais e minerais, glorificando-se a majestade e a opulência da natureza. Daí a sugestiva capa do número inaugural, que apresenta a flora representada por orquídeas brasileiras e o artigo de Cecília Meireles, “Brazil, this wonderful land”.

No afã de mostrar o potencial turístico do Brasil, a imagem do homem brasileiro estava ligada às representações sobre os tipos regionais: o “jangadeiro”, o “gaúcho”, o “caboclo” e a “baiana”, nesta revista representada pelo ícone da brasilidade, que era Carmem Miranda (capa da “Travel in Brazil”, v. 1, n.º 2), considerada a “musa” da política da boa vizinhança do governo Roosevelt.

“Travel in Brazil” apresentou entre os seus colaboradores um pequeno número de escritores. Alguns artigos aparecem sem autoria ou com pseudônimo, outros são de escritores egressos da Semana de Arte Moderna de 1922, como Mário de Andrade (1893- 1945) e Menotti del Picchia (1892-1988), além de outros modernistas, como o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) e o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). Também, compõem o seu elenco de colaboradores a poeta e cronista Cecília Meireles (1901-1964), a romancista e cronista Rachel de Queiroz (1910), o jornalista, professor e poeta Tasso da Silveira (1895-1968), o escritor e jornalista Raymundo Magalhães Júnior (1907-1981), o tradutor, ensaísta e professor Paulo Rónai (1907-1992), o historiador e professor de História do Colégio Pedro II Basílio de Magalhães (1874-1957), o escritor e folclorista Aires da Mata Machado Filho (1909-1985), a escritora e jornalista canadense Vera Kelsey (1892-1961), o diplomata Aloísio Napoleão, o poeta Austen Amaro (1901-

1991), o jornalista Nóbrega da Cunha, o arquiteto Ângelo Murgel, e o professor e engenheiro agrônomo Heitor Grillo.

“Travel in Brazil” apresenta o Brasil para o “olhar do estrangeiro” ou o Brasil dos “cartões-postais”2. Como o título sugere uma viagem pelo Brasil, o objetivo seria o de propaganda e marketing, ou seja, vender as imagens do Brasil para o exterior. Alguns números mostram a preferência pelas cidades que atraíam um maior número de turistas, como, por exemplo, as cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis, as cidades coloniais mineiras e Poços de Caldas, de cujo prefeito, Francisco de Assis Figueiredo, foi que partiu a sugestão para a criação de um órgão de turismo em âmbito federal, a Divisão de Turismo do DIP, que publicou essa revista.

O terceiro número da revista é um bom exemplo da proposta do seu agente. A capa contém “os gaúchos” ou uma determinada representação do gaúcho das coxilhas ou dos pampas3. Os artigos que compõem esse número são de Mário de Andrade, “A chapel

decorated by Portinari”, o qual é ilustrado com fotos da capela de Brodósqui4, também chamada por Portinari de “Capelinha da Nonna”, localizada na casa da família. No começo do ano de 1941, o pintor decorou-a com oito têmperas: Santa Luzia, São Pedro, São João Batista, Jesus, São Francisco de Assis, Santo Antônio de Lisboa, Sagrada Família e a cena da Visitação, as quais ocuparam três paredes.

Mário de Andrade mostrou-se encantado com as pinturas da capela, como se pode aferir nesta missiva para o pintor:

Recebi as duas remessas de fotografias e fiquei delirando. Há coisas que mesmo assim em ruins fotografias me parecem admiráveis, e quanto à Santa Luzia e o São Pedro, causam espanto de tão grandiosas e magníficas, parece Van Eyck, parece Nuno Gonçalves no tríptico (sic! políptico). Estou louco para ver tudo isso e também vou escrever sobre para a rotogravura do Estado [Suplemento em Rotogravura do jornal “O Estado de S. Paulo”]5.

Pelo entusiasmo do autor de “Macunaíma” com a capela de Brodósqui, que, segundo Portinari, foi inaugurada “com missa”, pode-se deduzir a repercussão da obra do pintor fora das fronteiras nacionais, o que pode ser constatado com a leitura do artigo de Mário de Andrade nesse periódico, no qual acentua sua ida a Brodósqui acompanhado da jornalista norte-americana Florence Horn, editora da revista “Fortune”, do grupo “Time-

Life”, e discorre que ficaram convencidos de que “Portinari tinha doado à sua cidade natal o mais esplêndido presente que se poderia imaginar”. Segundo sua opinião, “apesar do pequeno tamanho da capela, a impressão é de monumentalidade”, por isso “não são só importantes à produção artística brasileira, mas têm importância para toda América”6.

Neste terceiro número de “Travel in Brazil”, escreveram ainda Menotti del Picchia, sobre “São Paulo, city of tourists”, com reproduções de vistas panorâmicas da cidade e de alguns pontos turísticos; Rachel de Queiroz, sobre “The Dams of the Northeast”, no qual incluem fotografias de barragens e canais de irrigação no Ceará e de lavouras de cana-de- açúcar e abacaxi beneficiadas pela irrigação; Vera Kelsey, sobre “Petrópolis”, com fotografias panorâmicas dessa cidade serrana e de seus monumentos históricos e arquitetônicos; Tasso da Silveira, “The gaucho”, o qual é ilustrado com fotografias dos gaúchos da fronteira ou dos pampas vestidos com seu poncho e com seus hábitos e costumes como o churrasco, o chimarrão e a montaria no seu picaço (cavalo) pelas coxilhas do Rio Grande do Sul; Ângelo A. Murgel, com “The home of the “Caboclo”, o qual é ilustrado com desenhos do próprio autor, cujas descrições se assemelham às do gaúcho da fronteira e, portanto, distantes do “caboclo” da região Sudeste do Brasil; e, finalmente, o artigo assinado com o pseudônimo de Florêncio, sobre “Through the Rio Streets”, com fotografias de Jean Manzon dos vendedores ambulantes de várias nacionalidades que circulavam pelas ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro.

Nas páginas de “Travel in Brazil”, a fotografia compõe uma importante etapa da nascente fotorreportagem no Brasil, cujo introdutor foi o fotógrafo francês Jean Manzon (1915-1990), que, com experiência em revistas ilustradas, atuou em “Vu”, “Paris Match” e no vespertino “Paris Soir”. Manzon chegou ao Brasil em agosto de 1940, quando foi trabalhar no DIP, sendo responsável pela organização do Setor de Fotografia, cuja principal função era produzir material para a divulgação da imagem do Brasil, no país e no exterior. Permaneceu nessa função até 1943, quando passou a trabalhar na revista “O Cruzeiro” e, em parceria com o repórter David Nasser, consagraria o fotojornalismo no Brasil7. Também, vários ensaios fotográficos ocuparam as páginas dessa revista, com destaque para os fotógrafos alemães Erich Hess e Peter Lange, além de Jorge de Castro.

No afã da construção de um projeto de comunicação conduzido sob a égide do órgão de propaganda estatal do Estado Novo, o DIP, com o intuito de criar uma mística em torno do Estado Nacional e de construir uma imagem pública de líder do presidente Getúlio Vargas, a atividade de propaganda mobilizou vários recursos modernos, inclusive a fotografia, para a consecução do seu propósito. A fotografia começou, então, a ser

sistematicamente utilizada, sobretudo após a criação da Agência Nacional, órgão do DIP, responsável pela produção e distribuição de imagens fotográficas para a imprensa nacional e estrangeira. Além disso, os Ministérios também produziam fotos, quer para publicação em revistas ilustradas, como era o caso do Ministério da Agricultura, que publicava as revistas “Nossa Terra” e “Riquezas de Nossa Terra”, quer para os serviços internos do SPHAN, resultado de viagens que visavam ao levantamento e possível tombamento do patrimônio cultural do país, quer para o Ministério da Educação, cujo ministro não poupava esforços para o projeto editorial que se intitularia “Obra Getuliana”8, com mais de

600 fotografias, cujo livro deveria marcar o décimo aniversário do governo Vargas, mas que nunca foi publicado. Do projeto participaram os fotógrafos Erich Hess, Erwin von Dessauer, Jean Manzon, Paul Stille, Peter Lange e Jorge de Castro, entre outros.

Aqui cabe acentuar que o papel reservado à imagem fotográfica era o de instrumento tanto de educação e formação quanto de propaganda e difusão. Daí a importância do DIP e de suas várias divisões na produção e difusão de fotografias na imprensa diária e em publicações ilustradas, como a “Travel in Brazil”, e em catálogos de exposições nacionais e internacionais. Por isso, pode-se afirmar a importância da valorização da fotografia, que naquele momento da história do jornalismo ilustrado estava sendo experimentada com sucesso nos países europeus, principalmente na Alemanha, onde a experiência da fotorreportagem marcou o fotojornalismo moderno9.

As imagens para exportação estavam presentes nesta revista, numa espécie de síntese nacional, com o “carnaval do Rio de Janeiro”, com os seus corsos, ranchos, fantasias e alegorias, com destaque para uma das alegorias de um rancho carnavalesco: um bonde com a inscrição “O Bonde de São Januário”, numa alusão ao samba de Wilson Batista e Ataulfo Alves, de 1940, no qual o “malandro” se regenera e volta ao “trabalho”. Essa temática é recorrente no discurso estadonovista, que fazia apologia ao “trabalho” e ao “trabalhador”, e excluía o que não estava inserido no mundo do trabalho: o ócio, a malandragem, a boemia e a preguiça. Diz a letra do samba: “Quem trabalha é quem tem razão/Eu digo e não tenho medo de errar/O bonde São Januário/Leva mais um operário/Sou eu que vou trabalhar [....]”.

“Travel in Brazil” fez um périplo pelo Brasil, incluindo algumas capitais, como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Recife, Belém, Porto Alegre e Belo Horizonte. Sugere uma “caçada no Mato Grosso”, com 12 fotografias de John B. Adams: de tigres, jacarés, pacas, tamanduás-bandeira, piranhas e tuiuiús; um passeio pelo Paraná para conhecer as araucárias, as formações rochosas de Vila Velha, a estrada de ferro que liga Curitiba ao

litoral paranaense, além das Cataratas de Iguaçu, como mostram as fotografias que compõem o artigo de Tasso da Silveira; um passeio pela serra fluminense, com destaque para a imperial cidade de Petrópolis, com dois artigos, um de Cecília Meireles, “The Imperial Museum”, e outro de Vera Kelsey, “Petrópolis”, os quais mostraram uma cidade ligada à tradição (aqui, associada à idéia de passado), mas também a uma estação de vilegiatura, com um clima saudável e com uma paisagem bucólica, cujas imagens fotográficas mostraram monumentos arquitetônicos, como a fachada do Museu Imperial, o Palácio Rio Negro (sede de verão do Governo Federal), o Palácio de Cristal, a Catedral de Petrópolis, alguns objetos do Museu Imperial, como a estátua em bronze do Imperador Pedro II e o retrato de D. Carlota Joaquina, e também a paisagem que compõe a estrada Rio–Petrópolis e o rio Piabanha, que corta o centro da cidade e é circundado por abundante vegetação. Desde o século XIX, a cidade de Petrópolis serviu de “refúgio” para a elite carioca durante o verão, que se considerava a salvo das epidemias que infestavam a cidade do Rio de Janeiro nessa estação do ano, com pestilências e miasmas, o que causava um alto índice de mortalidade na população carioca.

“A Semana Santa em Ouro Preto” compareceu com um artigo de Cecília Meireles, o qual é composto de fotografias das igrejas ouropretanas e das cerimônias religiosas da histórica cidade mineira. Os pesquisadores da obra da poeta e escritora comprovaram que ela realizou sua primeira viagem a Ouro Preto com o propósito jornalístico de cobrir a Semana Santa, cujas solenidades são internacionalmente conhecidas.

Com relação à viagem, ela anotaria em crônica apresentada no rádio e incluída no volume “Escolha o seu sonho”, as seguintes palavras:

Nesta época do ano, Ouro Preto reveste-se de uma glória única no Brasil: a celebração da Semana Santa, com os grandes atos litúrgicos nas igrejas e as suas procissões quase tão famosas como as de Sevilha e Oberammergau. O cenário da cidade, com suas ladeiras, suas casas antigas, suas fontes; a voz do riacho a passar pelas pedras; os lugares históricos, as lendas e tradições que ainda perduram – tudo concorre para tornar mais impressionante as cenas e espetáculos religiosos que então se desenrolam. [...]. Por outro lado, vejo os caminhos de Jerusalém; a modestíssima e ingênua Nazaré, encravada em ladeiras e vegetação; a paisagem de Tiberíades, com o lago sereno da pesca milagrosa. Há uma correspondência entre aqueles velhos lugares do evangelho e os de Ouro Preto. Lá, tudo é mais solitário, mais vasto, mais fora de alcance das

horas. Mas Ouro Preto adquire, na Semana Santa, o mesmo ar de sonho, um sossego sobre-humano, ao mesmo tempo humilde e grandioso, dentro do qual se pode, na verdade, pensar em Deus [...].

Na ocasião, Cecília Meireles disse sentir-se transportada à última Semana Santa dos Inconfidentes de 1789, cujo clima recriaria no “Romance 26”, da sua obra-prima “Romanceiro da Inconfidência”. Publicada em 1953, um dos versos diz: “Lembrai-vos dos altares,/destes anjos e santos,/com seus olhos audazes/nos mundos sobre- humanos./(Haverá sombra e umidade/ em vossas pálpebras tristes,/com o céu preso numa grade.)”10.

Neste “guia turístico”, não faltou nem a estância hidromineral, que já foi descrita em prosa no romance epistolar de João do Rio, “A correspondência de uma estação de cura”, Poços de Caldas, com destaque para os aprazíveis passeios que esta cidade situada na divisa entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro propiciava ao visitante, além de ter sido “o foco mais eufórico da vida mundana”, até meados dos anos 40 do século XX11.

“Travel in Brazil” propiciou uma verdadeira aula de arte e arquitetura sobre as cidades históricas de Minas Gerais, com destaque para Ouro Preto, com um artigo de Manuel Bandeira intitulado “Ouro Preto, the old Villa Rica”, com fotografias de vistas da cidade e de suas principais atrações turísticas, como o Museu da Inconfidência, a torre de Santa Ifigênia, a antiga ponte de Antonio Dias, a fonte de Marília de Dirceu, a Escola de Minas, as igrejas de Antônio Dias (chama-se Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias), do Carmo, do Pilar e até um púlpito esculpido por Aleijadinho na Igreja de São Francisco.

Convém ressaltar que o poeta modernista Manuel Bandeira era um expert sobre a antiga capital de Minas Gerais, desde que a visitou no final da década de 1930. O próprio poeta declarou em seu “Itinerário de Pasárgada” que aceitou a tarefa de elaborar o “Guia de Ouro Preto”, a pedido do então diretor do SPHAN, Rodrigo Melo Franco de Andrade, cuja primeira edição data de 1938, sob a chancela do Ministério da Educação e Saúde Pública, com desenhos de Joanita Blank e Luís Jardim. Esse “guia” dispõe da seguinte divisão: História; Impressões de viajantes estrangeiros; Ouro Preto, a cidade que não mudou; As duas grandes sombras de Vila Rica; Passeio a pé no Centro; Passeios de automóvel; Monumentos religiosos; Monumentos civis; A viagem para Ouro Preto; e várias informações. A emoção do poeta pode ser vislumbrada nestes versos: “Ouro branco!

Ouro preto! Ouro podre! De cada/Ribeirão trepidante e de cada recosto/De montanha o metal rolou na cascalhada/Para o fausto d’El-Rei, para a glória do imposto”12.

“Travel in Brazil” deu ênfase à proposta dos modernistas de valorização do passado colonial luso-brasileiro, com os artigos de Cecília Meireles, “Holy Week in Ouro Preto”, e de Manuel Bandeira, “Ouro Preto, the old Villa Rica”, além dos ensaios fotográficos que acompanharam essas matérias. Daí a preferência pela arquitetura de “pedra e cal” – civil e religiosa; pelas diversas manifestações artísticas do barroco mineiro, inclusive as obras sacras do Aleijadinho, e pela cultura imaterial emanada das manifestações da religiosidade, como a tradição da Semana Santa em Ouro Preto, com a música sacra, as ladainhas e as procissões; os folguedos populares, os contos e as lendas.

Esta revista mostrou “a saúde como chave de um corpo moderno” no artigo de Moreira de Souza, intitulado “The National School of Physical Education of Brazil”13. O corpo, bem como a saúde física e mental, e, conseqüentemente, a institucionalização da educação física e da prática de esportes no Brasil ganharam maior dimensão com a política estadonovista. Daí a implementação de uma política de eugenia ou da “raça forte”, como transparece neste artigo com as fotografias que o compõem: atletas fazendo exercícios acrobáticos, atleta em pose como uma escultura em bronze, atletas com corpos esculturais na Escola Nacional de Educação Física. A semelhança entre os atletas das fotografias, exibidos em sua nudez atlética e atemporal, e os efebos “jovens de idade e belos de corpo” da Itália fascista expressa o “homem novo” que estava no centro dos interesses de todos os regimes políticos da década de 1930. Na Itália e na Alemanha esses jovens representavam o “mito da regeneração da raça”, e nos Estados Unidos e União Soviética, representavam o trabalhador.

“Travel in Brazil”, por ter sido publicada sob os auspícios do DIP, em inglês, preferencialmente para um público estrangeiro, realizou uma propaganda do Brasil (leia-se da terra e do homem brasileiros), com o respaldo da intelectualidade brasileira. Algumas vezes, a propaganda reforçou estereótipos existentes sobre o Brasil, como o país do carnaval, de riquezas naturais abundantes e de belas paisagens, além de representações sobre os tipos regionais.

Entretanto, entre os intelectuais que escreveram nesta revista, alguns trabalharam em projetos da área cultural na gestão de Gustavo Capanema, no MES ou em outros órgãos públicos, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Sérgio Buarque de Holanda. No Brasil, devido ao restrito mercado editorial brasileiro, incluindo a escassez de revistas culturais e a necessidade de o escritor sobreviver com dignidade da sua produção, criou-se

um “clima” propício à circulação dos intelectuais por publicações de diversas tendências, estéticas ou políticas, inclusive as “oficiais”. Por exemplo, Sérgio Buarque de Holanda escreveu em “Travel in Brazil” um artigo intitulado “Outlines of Brazilian History” como um típico esboço da evolução histórica do Brasil, muito aquém da sua produção historiográfica (v. 1, n.º 1). Naquele momento, já tinha publicado “Raízes do Brasil” (1936), obra que revolucionou o pensamento social brasileiro com o “homem cordial”, e já havia colaborado em importantes periódicos culturais, como “Klaxon”, “Estética” e “Revista do Brasil”, além de escrever críticas literárias nos principais jornais brasileiros.

Nesse “pequeno mundo”, os intelectuais circulavam de uma revista para outra, ou em busca de remuneração, ou para apresentar ao público sua mais recente produção literária ou artística, o que não significava seguir as posições políticas ou doutrinárias do regime. Mário de Andrade, na sua vasta epistolografia, deixou algumas pistas, como em carta para Sérgio Milliet:

[...] Recentemente andei relendo meus artigos e vi claro que estava me dispersando e confundindo escrever artigos sem ter assunto, muitas vezes forjando assunto pra escrever artigo e ainda mais formalmente confundindo ganhar dinheiro com escrever artigos. Isso me faz abandonar a colaboração da Revista do Brasil e recusar a ainda mais rendosa que me propôs agora Vamos Lêr!. Fixei frio o lado ganhar dinheiro e só escrevo mesmo coisa que renda, artigos a 150 ou 200 mil- réis, como os de Publicações Médicas ou do DIP quando me encomendam. E quando tiver um assunto que se imponha, isso sim, escreverei e darei até de graça, se ninguém quiser pagar14.

O motivo que levou o escritor paulista a colaborar com as publicações do DIP deve ter sido o da maioria de seus colaboradores, nem por isso seduzidos pelo “bafejo” oficial e pela orientação político-ideológica do regime. Entretanto, cabe acrescentar que nem todos os artigos ou ilustrações são dotados de qualidade literária ou artística.

Da análise desta publicação, podem-se vislumbrar algumas questões. A primeira, com relação à proposta do seu agente: “vender” uma imagem do Brasil para o exterior, seja para “atrair turistas”, seja para “atrair capitais”. Daí o papel da revista, quer pelo título,