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VAMOS LÊR! : uma revista de variedades

“Vamos Lêr!” circulou de 1936 a 1948, e seu fundador e proprietário foi o escritor Raymundo Magalhães Júnior. A revista pertencia ao grupo das empresas jornalísticas “A Noite”, que era composto do diário “A Noite” e, também, das revistas “Carioca” e “A Noite Ilustrada”. Este grupo, durante o Estado Novo, esteve sob a Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. Até o número 194, de 18 de abril de 1940, aparece no cabeçalho como diretor Raymundo Magalhães Júnior e, como gerente, Vasco Lima. A partir dessa data consta como superintendente do grupo “A Noite”, Luiz Carlos da Costa Netto, e como diretor da revista, António Vieira de Melo. Em 18 de abril de 1946 assume um novo diretor, Pereira Reis Júnior. No número 326, de 29 de outubro de 1942, consta que “A Noite” foi incorporada à União e que assume o seu Departamento de Imprensa Ivens Araújo.

Essa revista apresentou-se no formato de 20 cm de largura por 27,7 cm de comprimento e começou com 83 páginas ilustradas, mas com a escassez de papel durante a Segunda Guerra Mundial passou a 63 páginas. Sua periodicidade era semanal, saía às quintas-feiras, em papel-jornal e custo baixo, no valor de 32$000 a assinatura anual, o que garantia sua penetração em amplas camadas da população. Os colaboradores da revista eram pagos por seu trabalho intelectual e artístico.

Em suas páginas encontra-se um grande elenco de ilustradores, alguns consagrados como artistas plásticos e gráficos, como Alvarus1, Theo2, Mendez3, Nássara4, Augusto Rodrigues5, Rosasco6, Oswaldo Goeldi7, Guevara8, Santa Rosa9, Seth10, Belmonte11, Carlos Thiré12, Axel Leskoschek13, além de Jerônimo Ribeiro, Renato Silva, Orlando Mattos, Euclides Santos, Jorge Bastos, Armando Pacheco e Liselotte.

“Vamos Lêr!” possuía uma plêiade de colaboradores habituais, como Raymundo Magalhães Júnior14, Joe1 Silveira, Milton Pedrosa, Armando Pacheco, Amadeu Amaral Júnior, Guilherme de Figueiredo, Adolfo Morales de los Rios Filho, Jorge de Lima, Osvaldo Orico, Herman Lima, Mariza Lira, Murilo Mendes, Omer Mont’Alegre, Malba Tahan [pseudônimo de Júlio César de Mello e Sousa], Viriato Correia, Cecília Meirelles, Pedro Calmon, Júlio Dantas (pseudônimo de Prudente de Moraes, neto), entre muitos outros.

Essa revista ganhou um novo enfoque com as célebres entrevistas que Joel Silveira e Silveira Peixoto realizaram com notáveis intelectuais brasileiros no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente, como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Aníbal Machado, Joracy Camargo, Oduvaldo Viana, Lúcio Cardoso, Marques Rebelo, Amadeu Amaral Júnior, Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Herman Lima e Menotti del Picchia. Posteriormente, Milton Pedrosa passa a entrevistar os intelectuais mineiros, como Alphonsus de Guimaraens Filho, Afonso Silva Guimaraens e Henriqueta Lisboa.

Joel Silveira15, no seu livro de memórias “Na Fogueira”, narra com detalhes esta

passagem como repórter, cujo roteiro da entrevista foi proposto por Raymundo Magalhães Júnior, o qual acrescentou:

– Não quero que eles falem apenas de seus livros, mas que contem também um pouco de suas vidas. Onde nasceram, onde estudaram, fatos pitorescos, o que estão escrevendo no momento, de que jeito escrevem e a que hora, coisas assim. As entrevistas do Peixoto e as suas abrirão a revista, com fotos do entrevistado, de preferência na casa de cada um e mais uma ou duas caricaturas do Augusto Rodrigues, com quem já conversei16.

Além desta série, as reportagens de Joel Silveira tornaram-se sucesso de público, como “Cariocas falam do Rio...”, com o grande artista gráfico Antonio Nássara; passou de repórter a título da reportagem “Não tenho sido outra coisa senão repórter”, na qual foi entrevistado por Raymundo de Souza Dantas. Também, escreveu na página 13 um conto chamado “Dioléte” e uma crônica, “Nássara e os apitos”, a qual foi ilustrada com os bonecos de Nássara. Convém acrescentar que Joel Silveira iniciou sua colaboração em “Vamos Lêr!” publicando uma série de artigos sobre personagens da Revolução Francesa, como “Danton – História de duas índoles”, “André Chénier, o helênico da Revolução Francesa” e “Diderot”.

Essa revista notabilizou-se por publicar séries, como, por exemplo, de Belmonte sobre “São Paulo Seiscentista” e “São Paulo Setecentista”, com textos e desenhos deste notável ilustrador, ou “Personagens célebres da literatura de Belmonte”, como de Jacinto e Zé Fernandes, do romance de Eça de Queiroz, “As cidades e as serras”; de Mariza Lira17, a série “Relíquias Cariocas”, e artigos sobre folclore nacional.

Outra série interessante consistiu na apresentação da “história em fascículos”, como “O Brasil pela imagem”, de Álvaro Marins, “o Seth”. Ao longo de 92 números, “Vamos Lêr!” expôs ao seu público-leitor alguns episódios da História do Brasil que compreendiam os seguintes capítulos I. A Terra: aspectos naturais; II. Brasil Indígena: vida e costumes do aborígene; III. Brasil-Colônia – século XVI; IV. Brasil-Colônia – século XVII; V. Brasil- Colônia – século XVIII; VI. Brasil-Reino – século XIX; VII. Brasil-Império – século XIX; VIII. Brasil-Império – século XIX; IX. Brasil-República – séculos XIX e XX.

O conteúdo desta série limitava-se aos dos conhecidos manuais e dos compêndios de História do Brasil, com uma história factual (histoire événementielle) e com uma narrativa épica. A inovação residia no uso de uma linguagem visual, graças à habilidade do seu autor – o Seth –, conhecido ilustrador de revistas. Tal série foi uma apresentação parcelada do livro “O Brasil pela imagem: quadros expressivos da formação e do progresso da pátria brasileira desenhados a bico-de-pena”, por Seth, impresso no Rio de Janeiro pela Editora Indústria do Livro, em 1943, com 188 páginas ilustradas, prefaciado por Max Fleiuss, secretário perpétuo do IHGB, e publicado com o auxílio do DIP18.

Também, ganha destaque a série sobre a “Guerra da Independência” do historiador Lucas Alexandre Boiteux (1880-1966), baseada no seu livro “As façanhas de João das Botas” (Rio de Janeiro, Imprensa Naval, 1935. 230 p.il.), com adaptação de Da Cunha Couto, e “Itaparica, Ilha bonita e heróica – sua colaboração na independência do Brasil”, de autoria deste historiador catarinense com desenho de Renato Silva. A saga da imigração italiana no Brasil ganhou espaço nesta revista com a série “Apontamentos para a história da imigração italiana no Brasil”, cuja autoria é de Frido da Mezzana (não foi identificado este autor no meio intelectual brasileiro).

Outro assíduo freqüentador das séries de “Vamos Lêr!” foi Adolfo Morales de los Rios Filho19, com “Música do Brasil” (com 5 artigos, de novembro de 1936 a janeiro de

1937), “A dança no Brasil” (com 4 artigos, de julho a agosto de 1938), “Reminiscências do Rio” (com 17 artigos, de janeiro a dezembro de 1939), além de artigos que compõem um panorama da cidade do Rio de Janeiro dos oitocentos e das primeiras décadas dos novecentos, com a sua arquitetura egressa do neoclássico, com suas tradições, usos e costumes. Muitos dos artigos que integraram as séries de “Vamos Ler!” ajudaram a compor o livro “O Rio de Janeiro Imperial”, cuja primeira edição é de 194620.

Entre as séries, encontramos “Impressões Americanas”, de Jorge Amado, que como um “turista aprendiz” descreve várias regiões do continente, como o “Roteiro dos Andes”, cujos caminhos levam aos monumentos do passado pré-colombiano de Cuzco e Machu-

Picchu, que compôs o n.º 235, de 30 de janeiro de 1941. Também, o escritor português José Maria Ferreira de Castro, autor do livro “A Selva” (1955), comparece com uma série sobre o Japão, e o poeta Catulo da Paixão Cearense escreve a série “Minha vida de poeta e de boêmio”.

“Vamos Lêr!”, como o próprio nome indica, foi um convite à leitura. O número inaugural, que é de 6 de agosto de 1936, apresenta-se como uma “revista de variedades para a pessoa moderna”. O editorial chama a atenção do leitor para o seu programa de divulgação:

A pressa e o nervosismo do mundo moderno, da era vertiginosa em que nos agitamos, tem modificado hábitos, alterado costumes, mudado muita coisa na maneira de viver dos indivíduos e dos povos. Mas, no meio de toda essa vertigem, de toda essa balbúrdia, dos mil ruídos e dos mil problemas do nosso tempo, subsiste, ainda, o prazer da leitura, filho espontâneo e legítimo da curiosidade intelectual, do espírito especulativo, do desejo insaciável de saber coisas novas, de recrear o espírito, de acumular conhecimentos, de desvendar panoramas desconhecidos e participar do jogo das idéias que agitam o mundo moderno. “Vamos Lêr”, a nova revista que hoje se apresenta ao público, não deseja ser senão isto: uma revista para a sua época, uma publicação para o homem da era dinâmica e trepidante dos zeppelins, dos “records” fantásticos de velocidade, dos “arranha-céus” e da televisão. O homem de hoje, pela natureza das suas múltiplas preocupações, do seu trabalho e das suas obrigações sociais, já não tem, como outrora, lazeres para folhear uma dezena de publicações diferentes, à procura de que lhe agrade. A economia de tempo é o segredo único da vitória do avião, e por ela é que muitos recalcam o medo íntimo e afrontam o perigo, mais imaginário que real, das viagens aéreas. Se houvesse um veículo mais veloz, ainda que mais perigoso, milhares e milhares de pessoas correriam o risco, na ânsia de cobrar tempo. “Vamos Lêr!” quer ser precisamente isto: a revista da época do avião, a revista que poupe tempo ao leitor, evitando a dispersão de interesse entre muitas revistas estrangeiras que não lhe dão satisfação completa e condensando nas suas páginas, no nosso próprio idioma, tudo quanto há de mais interessante, e valendo, por isso mesmo, como um resumo, uma súmula, uma visão panorâmica da imprensa mundial e das idéias e acontecimentos da atualidade. Nas suas páginas, os leitores

encontrarão o espelho da nossa época, – desde os grandes debates internacionais às últimas conquistas da ciência, desde fatos palpitantes do momento às discussões literárias e artísticas. Ao lado disso, o registro gráfico do momento, abundante leitura recreativa, constituída por novelas, contos, casos pitorescos, humorismo, problemas e passatempos. “Vamos Lêr!”, cuja finalidade não é só recrear, mas também educar, publicará, ainda narrativas de interesse histórico e geográfico, evocações das grandes personalidades do país e do exterior e terá seleto corpo de colaboradores nacionais e estrangeiros. É, pois, uma publicação que, pelo seu programa e pela sua confecção material, e, ainda, pelo seu baixo custo, em relação com a capacidade aquisitiva das camadas populares, se destina a alcançar o maior número de leitores entre todas as revistas semanais brasileiras. “Vamos Lêr!” será sempre uma janela aberta para o mundo e um permanente convite à leitura.

O editorial indica que esta publicação expressa as necessidades da vida moderna, com o surto de progresso e a acelerada urbanização, aí incluída a rapidez nas comunicações, a velocidade nos transportes e a emergência de novos veículos de comunicação, como o boom das revistas e hebdomadários, sejam literários ou de variedades, que eram dirigidos a diversos segmentos da população21, o que mostra a preferência do público pelo “texto curto, pela palestra ou pela crônica em detrimento do livro, dos textos de leitura mais exigente”. Por outro lado, as revistas conferiam ao periodismo os tradicionais papéis “como instância de representação e legitimação de indivíduos, grupos e idéias, espaço celebrativo de aspirações e projetos de gerações, suporte quase exclusivo do autor em letra impressa” e contribuiu para a “criação de comunidades leitoras”, principalmente o público feminino22.

“Vamos Lêr!” se apresenta como uma miscelânea de assuntos. Por exemplo, no número inaugural, escreveram o poeta mineiro Murilo Mendes23, sobre os “Tipos da vida

cotidiana”, e o jornalista, cronista e dramaturgo Henrique Pongetti24, sobre “O fracasso do silêncio na arte de Chaplin”. Encontram-se ainda “páginas de beleza”, humorismo, contos, novelas e variedades.

Ao longo dos seus 12 anos de circulação ininterrupta, encontram-se seções de curiosidades, como vamos rir; não vamos rir; coisas do arco da velha; sorriso da História; cinema; astros e estrelas; agora conto eu...; notas recolhidas; páginas para reler; Página 13, onde escreviam sobre os mais variados assuntos, como “O amor de Nazira”, por Malba

Tahan, Carlos Drummond de Andrade com “Teatro daquele tempo”; nunca se sabe; estória-em-quadrinhos “Seu Munduca, Sinhá e Chiquita: A família Pagode”, assinada por M. Pereira Reis; a seção “Como eles são na intimidade”, que substituiu “O grande homem em chinelos”, em que personalidades públicas (artistas plásticos e gráficos, escritores, críticos literários e de artes, músicos, poetas, políticos, etc.) contavam o que mais gostavam de fazer fora do seu métier; “Lembra-se disso?”, por Terra de Senna; “Doentes célebres”: Vatel, Stendhal, George Sand, Leonardo da Vinci, Stephan Zweig, entre outros, por Gastão Pereira da Silva; “Da caixa ao ponto”, por Luiz Rocha, que abordava aspectos do meio teatral e do métier do ator; “Revista do livro”, que substituiu o “Panorama Literário”; Cecília Meireles, com a parte da literatura infantil da “Revista do Livro”; “Flagrantes Brasileiros”, em que Jacy Rego Barros descrevia episódios da história como a revolta do “Quebra-Quilos”, tradições, lendas e costumes nordestinos; “Carta de Nova York”, por Donatello Grieco; “Cartas de moças”, uma espécie de “consultório sentimental” em que moças escreviam contando problemas afetivos e sentimentais e eram respondidas por intelectuais como Emil Faraht e Manuel Bandeira; Rubem Braga, que estreou uma seção “Cartas para Rubem Braga”; Alziro Zarur, que escrevia sobre assuntos relacionados ao novo veículo de comunicação de massas: o rádio; Amarylio de Albuquerque, que colaborava na seção “De Música”, e a bailarina Eros Volúsia, que escrevia sobre dança. Entre as novidades apresentadas pela revista, encontram-se uma propaganda massiva do Cassino da Urca; visitas de personalidades como a do ator norte-americano Douglas Fairbanks Júnior ou de Walt Disney ao Brasil, vistos como “embaixadores da política da Boa Vizinhança” do governo Roosevelt; e a notícia do espetáculo musical “Joujoux e Balangandãs de 1941” na sua segunda versão, que foi apresentado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob o patrocínio de D. Darci Vargas, produzido pelo empresário Joaquim Rolla e dirigido por Luís Peixoto (expert em teatro de revista)25.

No afã de seduzir o leitor, “Vamos Lêr!” aproxima-se de um almanaque com este elenco de variedades, seguindo o exemplo dos seus congêneres mais populares, o que incluiria um grande número de matérias destinadas à pura distração, como charadas, piadas, concursos, enquetes, casos humorísticos, e anúncios de propaganda e informações úteis à grande maioria da população26.

Entretanto, o que a diferenciava de um almanaque é que ela se estruturou com uma forte vertente literária, a qual apresentava crônicas, contos, romances, poesias, novelas e excertos de livros de nomes da literatura nacional e internacional, que posteriormente foram consagrados pela crítica e pelo público. Das páginas de “Vamos Lêr!”, começou a

despontar uma nova safra de romancistas, poetas, contistas, cronistas e repórteres, que marcaram toda a segunda metade do século XX, como Clarice Lispector, que fez reportagens como “Uma hora com Tasso da Silveira” e “Uma visita à casa dos expostos”, além dos contos intitulados “Trecho” e “Eu e Jimmy”; Dinah Silveira de Queiroz, com um conto “Meu tio Valdomiro”; o cronista Rubem Braga, com “O morro não é dos malandros”; Érico Veríssimo, com “Aconteceu nos Estados Unidos”; Jorge de Lima, com “Tipos da vida cotidiana”; Luiz Martins, com “A cidade sem monumentos”; Josué Montello, que colaborou com os artigos sobre “Camillo Castelo Branco” e “Sylvio Júlio, o teimoso”; Fernando Sabino, com o conto “Alucinação”; e Murilo Rubião, com “Ladrões mineiros”.

Havia uma seção intitulada “Panorama Literário”, que apresentava determinado escritor e sua obra, como Menotti del Picchia, Affonso Celso, Dumas Filho, Silvio Romero, António Ferro, Carlos Drummond de Andrade; também divulgava os lançamentos de livros e novidades do mercado editorial e difundia a música, a dança, a dramaturgia e as artes plásticas e gráficas.

“Vamos Lêr!” não privilegiou nenhuma escola literária ou estética, como o que se convencionou chamar de modernismo, romantismo, simbolismo, parnasianismo, pré- modernismo, literatura regionalista, naturalismo, romance histórico, biografias, etc. Ao longo dos seus mais de quinhentos números, encontra-se uma única reportagem de capa versando sobre obra literária. Trata-se de “A Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo. Tal livro era herdeiro do romantismo, que aguçava a “sensibilidade romântica” e deu origem ao “mito sentimental”, tão ao gosto das moças sonhadoras, leitoras de revistas de variedades. As efemérides fizeram parte da estrutura da revista, como o número comemorativo ao centenário de nascimento do poeta Fagundes Varella (1841-1875), ou os festejos comemorativos ao 5º aniversário de “Vamos Lêr!”, com jantar de gala no Cassino da Urca e com a presença de personalidades da política e das artes.

Essa revista apresentava um leque de opções para todos os gostos, desde obras de estreantes até de autores consagrados pelo público e pela crítica, como um livro de um escritor popular como Catulo da Paixão Cearense, “Um boêmio no céu” ou “Um caboclo brasileiro”; um romance de Emil Farhat, “Os homens sós”; “Infância” de Graciliano Ramos; um conto de Mário Souto Maior, “A moeda”; uma poesia de Mário Quintana, “Canção do Primeiro Ano”; um romance de apologia ao regime que se instaurou em 1937, do diretor do DIP, Amílcar Dutra de Menezes, “O futuro nos pertence”; excerto do livro de José Lins do Rego “Água-Mãe”, que está como “A casa mal assombrada”; crônica de

Dalcídio Jurandir, “Fora, o pintor e o violonista”; “Borboleta”, poesia de Casimiro de Abreu; “Estrangeira”, conto de Alcides Maya; “Urupês”, conto de Monteiro Lobato, que celebrizou seu personagem-símbolo, Jeca Tatu; excerto de “Clara dos Anjos” de Lima Barreto, que está como “O carteiro”; excerto de “Iracema” de José de Alencar; “Expiação”, poesia de Fagundes Varela; “Uma carta quedeve ser lida por todas as mães brasileiras”, de Júlia Lopes de Almeida; um romance naturalista “O Cortiço”, de Aluízio de Azevedo; um conto de João do Rio, “A aventura de Rozendo Moura”; um conto de Monteiro Lobato, “A colcha de retalhos”; “Os comendadores”, de Mário Sette; “A última aventura de Simão Sampaio”, de Osvaldo Orico; “A gargalhada”, de Orígenes Lessa; o conto “A mulher do coringa”, de Gustavo Barroso; Cyro dos Anjos, com “Recordações do antigo tempo”; e Murilo Miranda, com o conto “Manhã de Sol”.

Alguns autores brasileiros foram discutidos, como “Manuel Antônio de Almeida, pintor de costumes”, por Mário de Andrade, no n.º 245, de 10 de abril de 1941, em que o escritor paulista discorre sobre o autor de “Memórias de um Sargento de Milícias” (1855). Henrique Chamberlain discorreu sobre um ensaio de Erico Veríssimo feito para o público estrangeiro: “Brazilian Literature: an outline”, publicado nos Estados Unidos em 1945, que só foi publicado recentemente no Brasil, com o título “Breve História da Literatura Brasileira” (1995). O escritor Moysés Vellinho: comenta “Não há intenções políticas nos romances de Erico Veríssimo”; o escritor Augusto de Lima Júnior discorre sobre as liras de Tomás Antônio Gonzaga em “Marília de Dirceu” (1792), com “O amor infeliz de Marília de Dirceu”; o escritor Euclides da Cunha é analisado por Gilberto Freyre; várias biografias de membros da Academia Brasileira de Letras são apresentadas, como a de Olegário Mariano Carneiro da Cunha, Menotti del Picchia, Manuel Bandeira, Francisco José de Oliveira Vianna, Rui Ribeiro Couto, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida, entre outros; com o título “Confissões” de Luiz Martins, Aníbal Machado, Monteiro Lobato e Menotti del Picchia, estes intelectuais expunham questões sobre a criação literária e emitiam opiniões sobre o meio intelectual brasileiro.

Os escritores brasileiros e suas obras são revisitados, seja na escolha de um conto, seja na Página 13 ou no Panorama Literário. Por exemplo, o escritor mineiro Eduardo Frieiro fala do livro “O amanuense Belmiro” (1937), de Cyro dos Anjos; a crítica literária Lúcia Miguel Pereira revisita “O Indianismo de Gonçalves Dias”; os editores da revista falam das obras completas de Monteiro Lobato e de Menotti del Picchia, que saíram, respectivamente, pelas editoras “Brasiliense” e “A Noite”, em 1946; Manoelito de Ornellas comenta a literatura regional gaúcha; “A poesia de Jorge Medauar” é comentada por

Hildon Rocha. A literatura era transmitida pelas ondas da Sociedade Rádio Nacional, como