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Capítulo III – Implicações fiscais

2. O regime dos preços de transferência

2.7. Casos especiais

2.7.3. Tributação dos lucros e dividendos/SGPS

A Directiva 90/435/CEE do Conselho, de 23 de Julho de 1990, relativa ao regime fiscal comum aplicável às sociedades mães e sociedades afiliadas de Estados Membros diferentes, com a

redacção que lhe foi dada pela Directiva 2003/123/CE, é aplicada por cada Estado Membro, à distribuição de lucros:

― Obtidos por estabelecimentos estáveis, situados nesse Estado, de sociedades de outros Estados Membros e provenientes das suas afiliadas instaladas num Estado Membro que não seja o Estado Membro em que está situado o estabelecimento estável.

― Por sociedades desse Estado Membro a estabelecimentos estáveis, situados noutro Estado Membro, de sociedades do mesmo Estado Membro de que aquelas sejam afiliadas.

Para efeitos da aplicação da Directiva, a expressão «sociedade de um Estado Membro» designa qualquer sociedade que:

― Revista uma das formas enumeradas na nova lista anexa à Directiva 2003/123/CEE e que inclui novas entidades jurídicas como as cooperativas, as sociedades mútuas de seguros,

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Alterada por: Directiva 2004/66/CE do Conselho de 26 de Abril de 2004; Decisão 2004/587/CE do Conselho de 19 de Julho de 2004 e Directiva 2006/98/CE do Conselho de 20 de Novembro de 2006.

as sociedades sem capital social, os bancos de poupança ou ainda as associações que exercem actividades comerciais;

― Seja considerada, de acordo com a legislação fiscal de um Estado Membro, como tendo nele o seu domicílio fiscal e que, nos termos de uma convenção em matéria de dupla tributação celebrada com um Estado terceiro, não seja considerada como tendo domicílio fora da Comunidade;

― Esteja sujeita, sem possibilidade de opção e sem dele se encontrar isenta, a um imposto sobre as sociedades.

O termo «estabelecimento estável» (situado num Estado Membro) designa qualquer «instalação fixa»:

― Através da qual uma sociedade de outro Estado Membro exerce, no todo ou em parte, a sua actividade;

― Cujos lucros estejam sujeitos a imposto no Estado Membro em que estiver situada, ao abrigo de um tratado fiscal bilateral aplicável ou, na ausência do mesmo, ao abrigo do direito nacional.

A qualidade de «sociedade mãe» é reconhecida a qualquer «sociedade de um Estado Membro» que detenha no capital de uma sociedade de outro Estado Membro, que preencha as mesmas condições, uma participação mínima de 20 %.

Esta qualidade é também reconhecida, nas mesmas condições, a uma «sociedade de um Estado Membro» que detenha no capital de uma sociedade do mesmo Estado Membro uma participação mínima de 20 %, total ou parcialmente, por intermédio de um estabelecimento estável da primeira sociedade situado noutro Estado Membro.

A percentagem mínima de participação no capital, a partir de 1 de Janeiro de 2007, passou a ser de 15% e a partir de 1 de Janeiro de 2009, de 10%. E, entende-se por «sociedade afiliada», a sociedade em cujo capital é detida uma participação mínima de 20%.

Os Estados Membros podem ainda:

― Substituir o critério de participação no capital pela detenção de direitos de voto;

― Não aplicar a presente Directiva às suas sociedades que não conservem uma participação que dê direito à qualidade de sociedade mãe, nem às sociedades em que uma sociedade de outro Estado Membro não conserve essa participação.

Até à criação efectiva de um sistema comum de tributação das sociedades, os Estados Membros aplicam as regras que se seguem:

― Sempre que uma sociedade mãe ou o seu estabelecimento estável, em virtude da associação com a sociedade sua afiliada, obtenha lucros distribuídos de outra forma que não seja por ocasião da liquidação desta última, o Estado da sociedade mãe e o Estado do estabelecimento estável da sociedade mãe, ou se abstém de tributar esses lucros, ou

os tributa, autorizando a sociedade mãe e o estabelecimento estável a deduzir do montante do imposto devido, a fracção do imposto sobre as sociedades pago sobre tais lucros pela sociedade afiliada e por qualquer sociedade subavaliada (respeitando os requisitos acima referidos em termos de definição e percentagem mínima de participação no capital).

― Para além disso, a Directiva prevê a determinação do imposto dedutível pela sociedade mãe de forma completa (incluindo os impostos pagos pelas sociedades subavaliadas) a fim de eliminar totalmente a dupla tributação. Do mesmo modo, na ausência de um sistema comum de dupla tributação, a Directiva inclui, no imposto a deduzir dos lucros da sociedade mãe, o conjunto dos impostos pagos pelas sociedades afiliadas nos diferentes Estados Membros.

― Os Estados Membros conservam a faculdade de prever que os encargos respeitantes à participação e as menos valias resultantes da distribuição dos lucros da sociedade afiliada não sejam dedutíveis do lucro tributável da sociedade mãe.

― Os lucros distribuídos por uma sociedade afiliada à sua sociedade mãe são isentos de retenção na fonte. O Estado Membro de que depende a sociedade mãe não pode aplicar uma retenção na fonte sobre os lucros que esta sociedade recebe da sua afiliada.

Por forma a evitar impactos negativos nas economias nacionais e na livre circulação de capitais, têm-se vindo a implementar, nos últimos anos, mecanismos que evitem a dupla tributação, tanto a nível interno quanto a nível externo, procurando um regime fiscal mais favorável.

As convenções têm como principal objectivo evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria de impostos sobre o rendimento e sobre o património e harmonizar o sistema fiscal dos Estados contratantes, para permitir a aplicação dos benefícios consignados nos tratados e realizar a segurança jurídica através da adequada certeza do direito para os sujeitos passivos considerados como residentes de um e de outro Estado. As convenções resultam de um documento elaborado pelas autoridades competentes de ambos os países, segundo um padrão "internacionalmente" reconhecido (Modelo OCDE), prévio e juridicamente estabelecido e é válido e encontra-se no Direito Interno de ambos os Estados contratantes.

Para os dividendos/lucros, a Convenção Modelo prevê que os dividendos possam ser pagos no país de que é residente a sociedade que paga de acordo com a sua legislação, mas o imposto não pode exceder:

― 5% do montante bruto dos dividendos, se o beneficiário for uma sociedade que detenha, directamente, pelo menos 25% do capital da sociedade que paga;

― 15% do montante bruto dos dividendos, nos restantes casos. Novo regime de tributação dos Lucros Distribuídos:

Com a entrada em vigor da Lei que aprovou o Orçamento do Estado para 2011 (OE 2011), o regime de eliminação da dupla tributação de lucros distribuídos foi profundamente alterado

esperando-se que, das modificações introduzidas, resulte um agravamento da carga fiscal especialmente para os grupos de sociedades.

As principais alterações, em vigor desde 1 de Janeiro de 2011, são as seguintes:

― A isenção de IRC aplicável aos lucros distribuídos, por entidades residentes em Portugal a entidades residentes na UE48 passa a estar disponível apenas quando a entidade beneficiária detenha, directamente, uma participação social no capital social da participada não inferior a 10% e desde que esta tenha permanecido na respectiva titularidade, de modo ininterrupto, durante um ano (anteriormente a isenção estava igualmente disponível sempre que a beneficiária detivesse uma participação com um custo de aquisição não inferior a 20 milhões €).49

― A nível interno, passa a existir um regime fiscal transversal a todas as sociedades, independentemente de as beneficiárias serem sociedades comerciais ditas ―normais‖, ou sociedades gestoras de participações sociais (SGPS). Recorda-se que as SGPS beneficiavam de uma dispensa dos requisitos exigidos no Código do IRC para as sociedades em geral, quanto à percentagem ou ao valor de aquisição detido nas sociedades participadas para efeitos da eliminação da dupla tributação económica dos lucros que lhes eram distribuídos.

A isenção de 100% dos lucros recebidos passa a estar dependente dos seguintes requisitos50: ― A entidade beneficiária dos lucros passa a estar obrigada a deter uma participação, não

inferior a 10%, no capital social da participada (anteriormente a isenção estava igualmente disponível sempre que a beneficiária detivesse uma participação com um custo de aquisição não inferior a 20 milhões €); ainda que,

― Os lucros auferidos devam ter sido previamente sujeitos a tributação efectiva (anteriormente as SGPS estavam dispensadas da verificação deste requisito).

Para efeitos da aplicação do RETGS – Regime Especial de Tributação dos Grupos de Sociedades (antigo regime da consolidação fiscal), os lucros distribuídos entre as sociedades que integrem o perímetro da consolidação deixam de poder ser desconsiderados no apuramento do lucro tributável consolidado.

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Nos termos e condições estabelecidas no artigo 2.º da Directiva n.º 90/435/CEE, de 23 de Julho (entretanto alterada pela Directiva 2003/123/CE do Conselho, de 22 de Dezembro de 2003), também designada por Directiva Mãe Filhas.

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Esta medida penaliza, sobretudo, as empresas europeias que detenham participações em sociedades nacionais com uma elevada dispersão do respectivo capital social, como sucede com as sociedades cotadas.

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