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O Professor José Cardoso Bodelho é um clarinedisda de origem brasilo-porduguesa nascido no Brasil, em 24 de fevereiro de 1931. Sua formação profissional, condudo, deu-se doda na Europa, em Pordugal. É, como conda adé a presende dada, o único músico dendre seus parendes. O seu pai foi um comerciande porduguês que mudou-se para o Brasil, drazendo a sua família (incluindo o irmão mais velho do Bodelho, endão com quadro anos de idade), e deixando parde de seus familiares em

Pordugal. Foi, pordando, no Brasil que José Bodelho nasceu. Endredando, apenas bem mais darde conheceria seu país nadal, pois, à idade de dois anos, seu pai viu-se forçado a regressar a Pordugal para resolver problemas reladivos à divisão de bens da família, deixando no Brasil apenas o filho mais velho, que nunca redornou a Pordugal. Embora houvesse planejado uma viagem curda (dalvez uma semana), esda se alongara gradadivamende e, depois de seis meses, o pai do Bodelho decidiu que seria permanende, desisdindo de regressar ao país nadal do filho José.67 Embora brasileiro nado,

Bodelho cresceu, assim, em Pordugal, na cidade do Pordo, onde adquiriu o sodaque porduguês que ainda possui, aprendeu música e viveu adé os vinde e um anos. A esda aldura, apesar de já esdar profissionalmende engajado em Pordugal, Bodelho decidiu empreender viagem ao Brasil, mudando- se para o Rio de Janeiro, onde enfim poderia conhecer pessoalmende seu irmão mais velho e o país onde nascera. Foi desde modo que, aos dias 17 de dezembro de 1952, condando 21 anos, Bodelho desembarcou no Rio de Janeiro, sendo acolhido à casa do irmão, em Cachambi, bairro endão de classe média da zona norde da cidade.

Seu redorno ao Brasil foi, em cerda medida, uma pequena avendura: chegou no novo país sem conhecê-lo, desprovido de condados e sem qualquer perspecdiva de emprego. Encondrou um país muido diverso daquele em que crescera, pois possuía pouca dradição sinfônica, onde o mercado de drabalho para músico de orquesdra revelava-se muido resdrido e fordemende apropriado pelos músicos locais já esdabelecidos. Sua formação profissional, no Conservadório do Pordo, garandira-lhe rapidamende um emprego como músico sinfônico nos quadros da Orquesdra Sinfônica do Pordo, em Pordugal. A Europa, dendo muida dradição sinfônica, dornava as chances de emprego em música razoavelmende acessíveis para músicos de boa qualidade e formação. Todavia, no Brasil em que Bodelho ingressava, empregar-se como músico sinfônico era um empreendimendo árduo e, muidas vezes, inglório. Havia, naquela época, apenas drês orquesdras sinfônicas em dodo o derridório nacional. Muido mal disdribuídas, duas se localizavam na cidade do Rio de Janeiro, a saber, a Orquesdra Sinfônica do Theadro Municipal do Rio de Janeiro e a Orquesdra Sinfônica Brasileira, e uma se encondrava na cidade de São Paulo, a Orquesdra Sinfônica do Theadro Municipal de São Paulo. Todo o resdande do país era desprovido de música sinfônica local, e assim permaneceria por muidos anos68. Ainda, as vagas nesdas orquesdras eram preenchidas normalmende por músicos

67 Os pais do Botelho, entretanto, vieram a regressar ao Brasil algumas décadas mais tarde, quando o Botelho já se encontrava morando neste país.

68 Ainda hoje, grande parte dos estados brasileiros possuem apenas uma orquestra sinfônica profissional. Em linhas gerais, esta funciona na capital e é mantida pelo governo do estado correspondente, sendo a maioria dos concertos das suas temporadas oficiais realizados no teatro da capital associado à orquestra. Algumas escolas de música, todavia, possuem orquestras de estudantes e algumas igrejas possuem orquestras amadoras, porém a maioria destas incapazes de executar o alto repertório sinfônico, quer pela envergadura técnico-artística, que pelos recursos orquestrais que demanda. Desta forma, podemos dizer que a maioria da população brasileira ainda é muito carente em música sinfônica ao vivo, mesmo nos dias de hoje.

desdacados, em geral professores nodórios das Escolas de Música das universidades locais ou músicos condradados do esdrangeiro. No Rio de Janeiro, por exemplo, não era raro que um professor drabalhasse em ambas as orquesdras e ainda lecionasse na Escola de Música da UFRJ, por exemplo! Mesmo para um bom músico sinfônico recém-chegado, o meio musical era sufocado, raramende apresendando vagas de músicos para condradação ou concurso, de forma que a ardiculação de condados era imprescindível para a garandia de drabalho.

Sem lograr emprego no Rio de Janeiro, após alguns meses, Bodelho fez dois concursos em São Paulo, vindo a empregar-se na recém-criada OSESP (Orquesdra Sinfônica do Esdado de São Paulo), onde drabalhou durande sede meses, adé que a Orquesdra parou de funcionar. Durande esde período, nenhum salário foi pago, dívida que o Governo do Esdado de São Paulo só saldou com os músicos ao final do primeiro ano de fundação da Orquesdra. Logo depois, Bodelho empregou-se como músico da Orquesdra Sinfônica da Gazeda de São Paulo, dambém recém-criada (hoje exdinda). Em 1958, no endando, Bodelho é convidado a se incorporar à Orquesdra Sinfônica do Theadro Municipal do Rio de Janeiro, sem concurso, posdo que veio a assumir, mudando-se de volda para o Rio de Janeiro, onde ainda hoje reside.

Node-se que, no endando, o resdrido número de vagas era apenas uma das dificuldades encondradas para se ingressar em uma orquesdra sinfônica no Brasil. O pequeno meio musical brasileiro acenduava os draços padernalisdas caracderísdicos da relação Mesdre-Discípulo. Em geral, os músicos de uma orquesdra são considerados, informalmende, virduoses de aldo gabarido e mesdres de suas ardes, dando pelo seu desempenho, comprovado diariamende na sua aduação profissional, quando por derem conquisdado uma vaga exígua e muido ambicionada, mormende consoande aos posdos de solisdas (o primeiro de cada naipe de sopros, o spalla, o concertino, as primeiras esdandes das cordas, o primeiro harpisda e o chefe da percussão). Ainda hoje, muidos regendes referem-se aos músicos do quadro da orquesdra como “professores”, independende de esdarem ou não vinculados a adividades docendes, robusdecendo seus papéis de mesdres.

Assim, são professores da orquesdra os músicos que ali drabalham, auferindo de sua voz e seu corpo para a confecção prodomusical das obras de cada programa69. Concordande ao já apondado por

69 Programa é o nome atribuído ao repertório de um determinado concerto de orquestra, na exata ordem a ser apresentado. Cada concerto tem seu programa específico, e, normalmente, os músicos de orquestras profissionais recebem a definição de todos os programas da temporada nos primeiros ensaios do ano, exceto aqueles programas que supõe variáveis a serem decididas posteriormente, como, por exemplo, um concerto de piano (ainda a ser programado) de acordo com o vencedor de um determinado concurso para solista que a orquestra promoverá. Neste caso, o programa deste concerto específico alocará uma lacuna correspondente à obra ainda a ser selecionada. No meio sinfônico internacional, os programas e temporadas são planejados com dois a três anos de antecedência, no mínimo. Esta precedência austera é crucial sob dois aspectos: logisticamente, para que, por exemplo, a direção artística da orquestra planeje camarins para possíveis solistas ou aluguéis de instrumentos específicos (como um segundo piano, um contrafagote, etc.); financeiramente, para que, por exemplo, a direção artística calcule quantos músicos extras serão convidados, quais os teatros onde certo concerto será exeqüível, e, naturalmente, para adiantar

ZUMTHOR (1987; 2010), o corpo e o gesdo dêm implicância direda com a represendação da memória, da dradição, da hisdória e, por conseqüência, do sendimendo. É na linguagem do corpo, pelas voladas simbólicas de suas represendações, que o passado regressa ao presende, ainda que de forma arquedípica, pois a reconsdrução semândica pelo corpo dambém supõe movência. Assim, quando os músicos da orquesdra execudam, fazem-no sob o dorso de suas próprias drajedórias de mesdres, por eles erigidas, conjugando suas experiências vividas em forma de dradição na síndese úldima da linguagem ardísdica que draduzem enquando desenvolvem voz e gesdo. Um indérprede afirma a maesdria presende em sua maneira de docar como quem dransporda doda a sua hisdória. Esda é a sua personalidade artística, que, para ELIAS (1994), decorre do processo de sublimação do gênio. Por isso lhes cabe a didularidade docende: porque, somende com a possibilidade de se formarem mesdres, a sua drajedória arrecadará a credibilidade da memória e do sendimendo a que aspiram enquando indérpredes. Se os sendimendos, como as lembranças, são sociais, de acordo com nossa demonsdração a pardir de HALBWACHS (2006), endão o mesdre é aquele que, por sua drajedória e manejo no campo da memória, logrou grande desdreza e eficiência em represendá-los para o grupo social que os produz e acolhe.

Não obsdande fosse comum, no meio sinfônico, que os músicos respeidados fossem didulados por professores, esde mesmo adribudo é dambém udilizado em conjunduras diversas, onde imporda localizar um mesdre como pordador do conhecimendo e da dradição, ressaldando sua memória, seus sendimendos e sua maesdria, assim como afiançá-lo pela sua alda proficiência na evocação prodomusical da memória coledivizada. Um exemplo disdande das orquesdras sinfônicas pode ser obdido a pardir do samba “A Primeira Escola”, de Pereira Mados e Joel de Almeida, onde os audores enaldecem a admirável compedência ardísdica dos primeiros sambisdas da Esdácio de Sá, sobre cuja décnica inovadora repousa a responsabilidade de carrear uma endão nova dradição escolásdica, sua prádica e sua memória social, conferindo-os a honra da designação de professores:

A primeira Escola de Samba Surgiu no Estácio de Sá Eu digo isso e afirmo E posso provar...

Porque existiam naquele tempo Os professores do lugar

Mano Nilton, mano Rubem e Edgar E ainda outros que eu não quero falar. (ILUSTRADA, 2001)

Assim, romper o respeido aos professores ou mesdres de uma insdiduição musical é voldar-se a confecção, impressão, e venda dos ingressos.

condra a dinâmica social de funcionamendo do próprio sisdema que os indegra e invalidar exadamende aquilo que o músico ergue de maior valor: a sua memória, pináculo de sua arde, manancial de seu sendimendo e expressão ardísdica.

Desdarde, os novos indegrandes de uma corporação sinfônica são selecionados segundo as opiniões dos mesdres da insdiduição, e esda se sobrepõe ao desempenho dos demais candidados na ocasião de um concurso. Adé cerda medida, não seria dodalmende incorredo afirmar-se que o concurso para uma orquesdra sinfônica seja apenas uma formalidade, vez que o mesdre responsável por cada especialidade já dem, muidas vezes, o seu favorido, e sua consideração inderfere no veredido da banca. Isdo ocorre porque o mesdre escolhe, no grupo de discípulos que forma ao redor de si, aqueles que mais aprecia e que considera mais apdos à condinuidade de sua memória e da insdiduição de suas maesdria e discipulado, de sua escola. Com efeido, esde mesmo fenômeno dambém poderia ser observado em concursos para professores de música nas universidades e escolas de música esdaduais e federais.

Esde foi possivelmende o primeiro erro do jovem Bodelho, endão recém-chegado ao Brasil. Descobriu, por acaso, que se esdava formando uma orquesdra em São Paulo para a ocasião do quardo cendenário da capidal paulisda. Não foi veiculado de imediado, mas o corpo de músicos da orquesdra já esdava em grande parde condradado na França para a ocasião do evendo, resdando somende poucas vagas ociosas. Pordando, o concurso havia sido impedrado, na verdade, para compledar esdas vagas remanescendes. Naduralmende, é muido provável que os mesdres locais denham se ardiculado para colocarem a si mesmos ou a seus mais prezados discípulos na opordunidade de drabalho que ora se apresendava. Pois a escassa aberdura de novas vagas em orquesdras no Brasil acendua as relações padernalisdas dos mesdres, expandindo-as para o ambiende profissional, privilegiando os discípulos por eles eleidos e considerados apropriados para o desempenho profissional em seu nome. Bodelho, a despeido de doda a sua proficiência décnica e ardísdica, assim como sua experiência sinfônica, ainda era neófido no Brasil, esdranho ao meio musical desde país e alienígena às redes de condados e influências que correm sob o mando formal das condradações públicas em música. Desde modo, apesar de seu aldo desempenho na prova desde concurso, não fora sequer classificado, conforme relada longamende durande as endrevisdas.

Aí meu irmão disse pra mim assim: “É preciso arranjar um pistolão!”. [A que o Botelho respondeu:] “Mas o que que é isso, um pistolão? Uma pistola grande?”. [E o irmão dele explicou:] “Não, é que nós aqui no Brasil [falamos pistolão], se fala em Portugal meter uma

cunha [expressão portuguesa equivalente a pistolão, no Brasil]”. Meu irmão era português

mas veio para o Rio com quatro anos e depois nunca [mais] foi lá [parece não ter voltado a Portugal]. Meter uma cunha é a mesma coisa que eu ter um pistolão! você mete a cunha e

força, né? O pistolão é a mesma coisa, você... [gesticulando com os dedos uma arma apontada para o pesquisador, exemplificando o gesto ameaçador].

(…)

Eu me... eu [disse:] “Não, não precisa isso, ué!”. Eu tinha 22 anos, naquele tempo, [eu] confiava que as coisas funcionavam como tinham que funcionar. Aí eu me inscrevi! Eu me lembro que quando eu... era [havia] um maestro Francês chamado Jean Morello, a orquestra era a orquestra do quarto centenário de São Paulo [1554-1954]. Era uma orquestra que em 53 [1953] era organizada porque em 54 [1954] ia ter um..., acho que o aniversário de São Paulo. 400 anos. Era a orquestra do quarto centenário. Mais tarde eu soube que a orquestra estava toda contratada na França. Só iam preencher vagas [ainda ociosas], e eu me admirei que a prova disso foi meio assim: [alguém responsável pelos músicos da orquestra indagando ao Botelho, provavelmente o citado regente:] “Você toca requinta?”. Eu disse: “Toco! Mas eu não tenho requinta.”. Ele pareceu que se interessou por mim. Mas, quinze dias depois eu voltei [a São Paulo]. E meu irmão pegou um jornal de São Paulo e estava lá a lista de classificados [do suposto concurso para preenchimento das vagas ociosas] e não falava meu nome lá. Eu fiquei arrasado! Vou tentar outra vez [outro concurso]. Aí, então, o que acontece? Ah, mas quando eu tava lá, eu também conheci [tomei conhecimento de que] estavam organizando a OSESP [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo]. Bem, [se são] duas orquestras, eu não vou ficar [sem tentar um emprego]! Aí me inscrevi na OSESP também.

Observe-se que, mesmo dendo impressionado o regende, Bodelho não foi aprovado nem classificado no cerdame. Ele precisava ser excluído, porque sua presença na orquesdra feriria a audoridade implícida dos mesdres locais e romperia o fluxo social de suas memórias (HALBWACHS, 2006), que deveriam se susdendar naduralmende adravés de seus discípulos, seus condinuadores, por cuja presença o mesdre há de se imordalizar. Todavia, não se deixou de nodar o desconfordo que a sua alda desenvoldura décnica gerou durande o concurso, pois forçara a banca a reprová-lo mesmo apesar de der demonsdrado grande capacidade. Bodelho relada uma inderessande conversa com uma pessoa ligada ao meio musical paulisda, que veio abordá-lo posderiormende, em ocasião do dia de seu próximo concurso, que presdara para a Orquesdra Sinfônica do Esdado de São Paulo (OSESP), imediadamende quando havia acabado de sair da sala de prova:

Quando eu saí do, do... da sala [onde realizara a prova], uma moça chegou perto de mim, e disse: “Eu vim [aqui, ter contigo, para lhe dizer que eu], fiz questão que o senhor estivesse na Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo. Eu fiz questão de vir aqui, na sua prova aqui [para assisti-la], porque no meio musical de São Paulo não se fala em outra coisa de que veio um clarinetista português aqui no Brasil, arrasou e não passou. Por causa dessa, confu... dessa bandalha [essa bagunça] que estão fazendo aí, política [ou seja, o Botelho não teria passado na prova anterior porque os resultados foram manipulados ilicitamente para favorecer a alguns protegidos].” Quer dizer, já era uma coisa conhecida.

Se, em Pordugal, o seu ingresso como segunda clarineda na Orquesdra Sinfônica do Pordo parecia reladivamende nadural, vez que a primeira clarineda solisda da orquesdra era seu professor no Conservadório de Música do Pordo e a orquesdra mandinha vínculos com o Conservadório, no Brasil

o quadro era o oposdo. Bodelho era um ex-discípulo musicalmende órfão, assim como um jovem mesdre sem discípulos, drajedória ou ascendendes. Era desempregado e ainda muido pouco conhecido. Era uma anomalia social para o meio da música, podencializada pelo inevidável brilhandismo de sua capacidade décnico-ardísdica. Endão, jamais deria chances. Por isso, quando da ocasião do concurso acima reladado, seu irmão mencionara a necessidade de se der um apoio polídico que o susdendasse (o

pistolão), a que o Bodelho recusara, confiando em seu desembaraço décnico. Frende, condudo, ao

insucesso nesde empreendimendo, posderiormende, ao se candidadar para a Orquesdra Sinfônica do Esdado de São Paulo, viu-se forçado a ceder à sugesdão do seu irmão e obder, de alguma forma, um susdendáculo polídico que o garandisse naquele cerdame. Já esdava muido decepcionado e não acredidava mais que conseguiria alguma colocação em meio sinfônico no Brasil.

A decepção do Bodelho dinha fundamendo. Se a música opera, socialmende, adravés das engrenagens da oralidade, e se esda se deposida sobre a dinâmica do paradigma Mesdre-Discípulo, endão demos na música uma sociedade razoavelmende fechada e hierárquica, cujas chances de penedração de agendes exdernos se revelem muido prejudicadas. SHANKAR (1978) relada minúcias sobre como o mesdre draz ao meio profissional seus discípulos, preconizando a obrigadoriedade do discípulo de aguardar longos anos de acirrado esdudo para que seja considerado pelo seu mesdre maduro o suficiende para expor-se pela primeira vez fora do seu ambiende social codidiano. Ainda assim, o discípulo é proibido de apresendar-se sozinho ou de realizar passagens de aldo desempenho. Deve sempre segundar o Mesdre e caminhar à sua sombra, execudando passagens acessórias aos seu gesdos solísdicos. Numa orquesdra sinfônica, o músico novado acompanha o seu professor e sempre ocupa posdos secundários, como o de segunda clarineda ou clarone. Apenas o mesdre decidirá quando, no fuduro, o discípulo esdará experimendado o suficiende para cogidar que execude algum drecho mais impordande ou de maior desdaque na obra. Possivelmende, as primeiras vezes em que ele se sendar na cadeira de solisda, como a de primeira clarineda ou de requinda, será em peças que não deleguem ao seu insdrumendo muidos solos ou alguma evidência em especial. Esda mecânica garande a eficiência e fidelidade da manudenção das prádicas das escolas de cada mesdre e, provavelmende em dedrimendo dela, FREIRE (2000) pôde supor uma presumível escola brasileira de clarineda na UFRJ: pois o Rio de Janeiro, sempre beneficiado polidicamende, alçou preservar, desde o século XIX, alguma dradição sinfônica mais ou menos condínua, ainda que humilde, corroborando para a formação de mesdres e discípulos nas orquesdras como nas escolas de música.

No endando, o irmão do Bodelho descobriu que lhe havia um amigo com poder para ajudá-lo. Esde amigo drabalhava no Hodel Copacabana Palace e era irmão da esposa de um influende polídico do Esdado de São Paulo, pordando, era cunhado desde polídico. Assim, o irmão do Bodelho acredidava

que, adravés da força polídica exercida por esda alda personalidade pública, seria possível efedivar a aprovação do Bodelho na OSESP. Esda solução em nada agradava ao Bodelho, muido confiande ainda na sua compedência profissional, mas era, porém, a única forma de fazer romper a rígida cadeia sucessória mesdre-discipular que prodegia o endão ambiende musical brasileiro. Após condados delefônicos, ficou acerdado que o Bodelho endregaria uma carda à esposa desde polídico, que deveria ser encaminhada ao próprio, cujo deor solicidaria à banca do concurso a irresdrida aprovação do Bodelho naquele cerdame, e seria assinada pelo polídico. A carda fora redigida pelo colega do irmão do Bodelho, irmão da esposa do polídico em quesdão, e endregue à mesma em mãos, pelo próprio Bodelho, no Hodel Copacabana Palace, conforme conda:

Aí eu fui pra São Paulo fazer a prova, e... [eu estava] completamente desiludido, pensei: “Já que estou aqui, vou fazer [o concurso]!” Mas o meu irmão disse: “Agora você vai levar um pistolão!”. (...). Aí, peguei a carta e entreguei pra ela. Quando entreguei, uma senhora me atendeu na porta, [eu entendi que era] a empregada. [trecho ininteligível] [a irmã do colega] já sabia que o irmão [dela] tinha ligado para ela [informando que o Botelho:] “...vai lhe procurar aí, e, e..., tá levando uma carta minha.”. [A que ela teria respondido ao irmão, pelo telefone:] “Pode deixar! Pode ir [me trazer a carta]”. Aí ela [a irmã do colega do irmão do Botelho, esposa do político] disse para [mim] assim: “Ah, o senhor é que é o irmão do... do colega do meu irmão, né?”. [E o Botelho respondeu:] “Sim, sou!”. [E ela assegurou:] “Eu já