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4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.3 A grafia do acento nos dados de escrita controlada: o ditado de imagens e as hipóteses infantis

4.3.1 Dados de escrita

4.3.1.4 Troca do tipo de acento

Nesta categoria foram incluídas as palavras em que as crianças trocaram o acento agudo pelo circunflexo ou vice-versa. O número de ocorrências também é baixo neste grupo, o qual contempla somente vogais médias e médias baixas, conforme exposto na tabela 27:

Tabela 27 – Exemplos de ocorrências de troca do tipo de acento

Exemplo Ocorrências

‘bonê’ para ‘boné’ 01

‘ténis’ para ‘tênis’ 02

‘vovó’ para ‘vovô’ 01

total 04

Fonte: Elaboração própria

Considerando-se a função do acento gráfico como um indicador de tonicidade silábica, os casos exemplificados na tabela 27 poderiam ser considerados acertos, já que foram grafados na sílaba tônica da palavra. Entretanto, do ponto de vista da ortografia e da qualidade vocálica expressa pelo tipo de acento grafado, as quatro ocorrências representam erros, pois alteram a informação sobre o timbre das vogais acentuadas.

As trocas efetuadas em ‘bonê’ e em uma das ocorrências de ‘ténis’ foram grafadas pela mesma criança, do quinto ano. Suas repostas evidenciam, de um lado, sua sensibilidade fonológica, de outro, as incertezas frente aos aspectos gráficos em questão:

O que tem de diferente aí?

- O...pontinho aqui...eu escrevi um circunflexo

Tu botou um circunflexo no boné e ela botou o...lembra do nome, te falei agora há pouco?

- Agudo

Agudo, é. Então qual dos dois jeitos tu acha que tá certo, o jeito que tu fez ou o jeito que a menina fez?

- Não sei

Não sabe? Tu tá acostumada a escrever essa palavra?

- Não muito

Não? E por que tu botou esse acentinho aqui no boné? Na hora que tu escreveu a palavra boné, o que tu estava pensando, na hora que tu botou o acento?

- Por causa que como eu...eu pensei...eu pensei vovó...vovô...então eu pensei que esse acento é maior e boné tem um acento maior, então eu pensei que era assim e coloquei esse [...]

Aí tu botou o acento do vovô no boné por quê?

- Por causa que eu me lembrei que vovô era uma palavra e vovó...aí eu pensei porque era uma palavra maior...mais forte aí eu pensei que boné ia ser com esse jeito aí [...]

Então qual é a diferença entre esses dois acentos, entre esse e esse aqui? Entre o circunflexo e o agudo?

- Hum...

Como é que tu sabe quando que tu tem que usar um e quando é que tu tem que usar outro?

- No som

No som? Como é o som? Qual é o som que esse aqui faz?

- bo-né...né

Tá, e qual o som que o outro faz?

- bonê...os dois são iguais

Os dois são iguais?

- Pausa...não sei

Muda alguma coisa? Por que aqui no tênis também né, aqui no tênis a menina botou com circunflexo e tu colocou com agudo. E aí tu leu pra mim e disse que não mudava né? Aí aqui no boné, aí tu fez ao contrário, tu botou circunflexo e a menina botou o agudo. O que muda? Lê pra mim, o boné com agudo:

- bo-né...

Tá igual ou tá diferente?

- Quando eu leio fica igual

Igual? Então o que tu acha que tem de diferente?

O acento...mas quando eu leio as duas ficam igual

O acento tá diferente, mas quando tu lê fica igual?

Aham

A motivação da segunda ocorrência de ‘ténis’ para ‘tênis’, também produzida no quinto ano, revela que a criança ainda tem dificuldades para refletir sobre sua escrita e justificar o porquê da grafia de um tipo de acento ou de outro:

E por que tu resolveu colocar esse acento na hora de escrever tênis?

- Porque eu acabei trocando os dois...

Trocando os dois? O que tu acha que esse acento aqui muda na palavra?

Não sabe? E esse aqui...esse aqui da palavra dela, o que tu acha que muda?

- Não sei

Especificamente, no caso de ‘vovó’ para ‘vovô’, cabe reiterar a existência, no léxico, das duas formas, cuja única distinção entre ambas é o timbre da vogal final. A justificativa para a troca, porém, indica uma estratégia de representação da média baixa em que ocorre a permuta pela baixa /a/ para dar conta da abertura do timbre.

O que tem de diferente?

O chapeuzinho

O chapeuzinho? E o que tu botou?

Acento

O acento...e esse aqui (circunflexo) não é acento?

Não, é chapeuzinho! [...]

Por que tu botou esse acento aqui?

Ah, porque eu li vovô, aí eu pensei que era com acento

Aham, tu acha que essa palavra tem acento?

Sim

E tu viu que a menina botou esse que é um chapeuzinho?

Vi

Qual dos dois tu achas que tá certo?

O dela

O dela, por quê?

Ah, porque sim [...]

O que muda entre esses dois? O que tem de diferente?

Esse é um chapeuzinho e esse é um acento assim

Tá, mas o que eles fazem na palavra?

Esse aqui ele fica vovô e esse aqui fica vovô

Fica diferente?

Não!

Pois é, tu acha que duas palavras que estão escritas diferentes dá pra gente ler igual? Porque tu leu igual né?

Aham

Tu acha que dá?

Acho que dá [...]

Então tanto faz botar com o acento ou chapeuzinho, com acento agudo ou circunflexo?

Aham

Não muda nada? Tá, agora eu vou te pedir então pra ti escrever aqui embaixo do teu nome: vovó

[Escreveu ‘vava’] Vovó?

Aham

Lê pra mim:

Vovó

Que letrinhas são? Que letrinhas tu usou pra escrever vovó?

v-a-v-a

Tu achas que com essas letras faz o som da palavrinha vovó?

Aaaaaahhh, esqueci

Esqueceu do que? Lê pra mim de novo: O ‘o’ era aqui...

Pode arrumar [...]. [alterou para ‘vova’] Tá, lê pra mim agora:

Vovó

Aham

E aqui? (aponto para sua grafia no ditado, ‘vovó’)

Vovô

Vovô. O que muda do vovô pra vovó?

Não sei, acho que não muda nada

Não muda nada, é igual? Fala pra mim, vovô e vovó:

Vovô, vovó

É igual, são palavras iguais?

Eu acho que é