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CAPÍTULO I – O Desenvolvimento do Turismo de Mergulho e as Potencialidades

1.11. Política, planeamento e desenvolvimento do turismo de mergulho

1.11.3. Turismo e Desenvolvimento Sustentável

O desenvolvimento turístico não apenas engloba os destinos, as origens, os motivos e os impactos, mas também se refere às ligações e interligações complexas da toda a humanidade e das instituições, a oferta global e o sistema de procura (Pearce, 1989, em Dann, 1999, p. 13). O desenvolvimento turístico pode ser visto, por um lado, no panorama evolutivo da proposta teórica de Butler (1980) como «ciclo de vida dos produtos turísticos». Nesse cenário, um destino está inevitavelmente, num ou noutro estádio de tal ciclo. Pode estar no estádio de nascimento, exploração, de envolvimento, de desenvolvimento, de estagnação, de recessão, do morto, de recuperação ou de renascimento. Será provável olhar para o país timorense como estando no ciclo inicial ou noutros?

Para o sucesso de turismo, no entanto, tal desenvolvimento deve ser organizado e programado de forma lógica e sistemática. É essencial manter uma cooperação e coordenação entre os setores público e privado ao longo do processo de planeamento e implementação. Permitir o envolvimento da comunidade local e o seu apoio ao desenvolvimento, priorizando a formação dos recursos humanos para serviços turísticos

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mais qualificados (OMT, 2003). Todaro e Smith (2012, p. 16) definem o desenvolvimento como sendo um processo multidimensional que envolve mudanças nas estruturas sociais, atitudes populares e instituições nacionais, bem como a aceleração do crescimento económico, a redução da desigualdade e a erradicação da pobreza.

Adicionalmente, segundo Todaro e Smith (2012, pp. 22-23), para atingir uma vida melhor, há pelo menos seguintes três objetivos: 1) aumentar a disponibilidade dos bens e ampliar a distribuição de bens para as necessidades básicas; 2) elevar os níveis de vida, incluindo, além de rendimento mais alto, mais emprego, melhor educação e maior atenção aos valores culturais e humanos, melhorando o bem-estar material e a autoestima nacional; 3) ampliar o leque de opções económicas e sociais disponíveis para os indivíduos e as nações, libertando os que são dependentes.

Para outros, o desenvolvimento é como uma visão transformacional dos países, através do Estado, da economia, das relações sociais e da administração pública (Pritchett, Woolcock & Andrews, 2013, em Viterna & Robertson, 2015, p. 245).

Mas uma abordagem mais significativa é da dos diferentes princípios associados ao desenvolvimento. O primeiro refere-se a uma economia em grande parte não industrializada, dependente do comércio exterior, que consiste essencialmente na venda de produtos primários. O segundo diz respeito à qualidade de vida humana e a satisfação das suas necessidades básicas, incluindo o rendimento e emprego, as necessidades físicas referentes a um padrão básico de vida. O terceiro refere-se ao acesso a estruturas de governança e a dar voz aos cidadãos nos processos políticos e aos pobres em particular. Por fim, o desenvolvimento tem uma perspetiva sustentável em ligação com o ambiente e outros aspetos afins (Vázquez & Sumner, 2013, pp. 1730-1731).

Contemporaneamente, o mundo está a promover o processo de desenvolvimento sustentável como uma alternativa, de modo a antecipar e a resolver os problemas negativos. Esta posição surgiu na década de 1970 devido aos impactos negativos do crescimento económico e do desenvolvimento, com a extenuação e degradação do meio ambiente natural. A atenção para esta questão culminou com a posição da Comissão Mundial sobre o Ambiente e Desenvolvimento [CMAD] (1987), conhecida através da divulgação do Relatório Brundtland, significando a defesa de «um processo de mudança pelo qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, as alterações técnicas

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e instituições se harmonizam e reforçam o potencial atual e futuro de satisfação das necessidades dos homens». De forma direta, significa «o desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responderem às suas» (Brundtland, 1987). Outra definição mais realista, é dada pela World Conservation Union [WCU] (em Cunha, 2013, p. 400) que corresponde à ideia de processo que permite o crescimento, sem degradar ou destruir os recursos, que possibilite cedê-los às atuais e futuras gerações.

“O conceito de desenvolvimento sustentável é historicamente ligado ao conceito de meio ambiente mas, na atualidade, é um conceito mais global que abrange os aspetos socioculturais, económicos e ecológicos” (Cunha, 2013, p. 400). Refere-se à OMT, segundo a qual a sustentabilidade do turismo tem de ser entendida segundo três princípios fundamentais:

a) Sustentabilidade ecológica, que assegura que o desenvolvimento é compatível com a manutenção dos processos biológicos essenciais, a biodiversidade e os recursos biológicos. Este princípio é o princípio de precaução;

b) Sustentabilidade social e cultural, princípio que assegura que o desenvolvimento aumenta o controlo das pessoas sobre os seus próprios destinos, é compatível com a cultura e os valores das comunidades afetadas e mantém fortalece a identidade destas. É o princípio da participação;

c) Sustentabilidade económica, princípio que assegura que o desenvolvimento é economicamente eficiente e os recursos são geridos de tal forma que fica garantida a sua utilização pelas gerações futuras. Isto é, assegura o emprego e os níveis satisfatórios de rendimento associados a um controlo sobre os custos e benefícios dos recursos que garantem a continuidade para as gerações futuras. É o princípio da solidariedade.

A Carta de Turismo Sustentável adotada em 1995, pela Conferência Mundial do Turismo Sustentável, estabelece que o desenvolvimento turístico deve fundamentar-se sobre os critérios de sustentabilidade, isto é, tem de ser suportável ecologicamente a longo prazo, viável economicamente e equitativo na perspetiva ética e social para as comunidades locais, mas, ao mesmo tempo, terá de contribuir para o desenvolvimento sustentável, integrando-se no quadro natural, cultural e humano, devendo respeitar os frágeis equilíbrios que caracterizam muitos destinos (em Cunha, 2013, p. 401). Uma estratégia

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de sustentabilidade é, portanto, a gestão de uma tensão entre os polos económicos, social e ecológico que definem o triângulo da sustentabilidade (Harribey 1998, em Cunha, 2013, p. 401).

Esta estratégia mostra que do polo económico parte um eixo de pura racionalidade económica, em que a economia se orienta exclusivamente por critérios de maximização do lucro, a uma situação de razoabilidade que concilia os interesses ecológicos com os sociais; do polo social parte um eixo que tem origem na total garantia da equidade e se desloca no sentido da eficácia, com perda da equidade; por sua vez, do polo ecológico parte um eixo que vai de uma situação de equilíbrio a uma situação de desequilíbrio ou desaparecimento (em Cunha, 2013, p. 402).

Numa perspetiva regional, Berry e Ladkin (1997, p. 433) identificam que embora haja o desejo, por parte dos intervenientes, em atividades sustentáveis, os problemas de menos conhecimento, política obscura do governo, fraca administração e comunicação são obstáculos principais ao sucesso da implementação do turismo sustentável. Mais recentemente, Bramwell (2015, p. 204) define o turismo sustentável como regularmente associado à preservação dos ecossistemas, à promoção do bem-estar humano, à equidade entre gerações e à participação pública na tomada de decisões.