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UDI: três possibilidades metodológicas de utilização de textos

Durante a elaboração das unidades didáticas interdisciplinares (UDI) vivenciamos três possibilidades metodológicas de utilização de textos de literatura infantil.

A primeira possibilidade é aquela em que as histórias infantis estão prontas, ou seja, são livros infantis que encontramos no mercado, em livrarias ou bibliotecas. Nesse caso a equipe interdisciplinar pode trabalhar previamente os conteúdos das diferentes áreas, relacionando-os ao livro.

Na segunda, a equipe interdisciplinar entra em contato com a escola, e observando os objetivos e solicitações da mesma, e elabora a história. A equipe concentra seus trabalhos sobre a história que ela cria. As implicações dessa possibilidade podem ser tanto positivas quanto negativas: positivas, porque podemos justamente direcionar a construção da história para o que desejamos, satisfazendo as necessidades e preferências da equipe e da escola; negativas porque corremos o risco de direcionarmos a história mais para a noção de um determinado conteúdo ou área, em detrimento de outras. Até o momento criamos três histórias: João, o Leão, em: Com medo de água?; A História do Copinho e Sou diferente, que surgiram após estudos feitos dos PCN, dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais e a partir de conversas com os professores e alunos das escolas.

Na terceira, os alunos criam as suas histórias, com o auxílio, de alguns recursos como, por exemplo, figuras que foram distribuídas. Nesse caso o esforço da equipe interdisciplinar foi redobrado, pois diversas atividades foram percebidas no momento da elaboração da história, o que não impede que elaboremos um cronograma incluindo as noções de possíveis conteúdos que poderão ou não aparecer. O trabalho pode também ser direcionado, facilitando- o, se no momento que selecionamos as figuras, que farão parte do roteiro, tivermos o cuidado de escolher aquelas que facilitem desenvolver as noções de determinados conteúdos. Por exemplo, se colocamos a figura de uma casa, podemos previamente supor que poderemos utilizar alguma parte do enredo da história para trabalhar noções de área. No entanto, é interessante destacar que desejamos desenvolver as noções a partir do texto, desta forma, as figuras servem de instrumento para a redação de histórias.

Concentramos as nossas atividades essencialmente nas duas primeiras possibilidades. A terceira possibilidade foi organizada a partir das duas primeiras, no momento em que os alunos reescreveram as suas histórias.

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FIGURA 2 – As três possibilidades de trabalho a partir de textos.

O TEXTO COMO EIXO ORGANIZADOR A PARTIR DE:

HISTÓRIAS JÁ PRONTAS CONTATO COM AS ESCOLAS HISTÓRIAS FEITAS APÓS O

HISTÓRIAS CRIADAS PELOS ALUNOS

Capítulo IV

AS IMPLEMENTAÇÕES E SUAS LEITURAS

Os dados que obtivemos durante as observações das atividades foram analisados e discutidos com intuito de demonstrar a possibilidade de realizarmos atividades diferenciadas e interdisciplinares, observando a forma com que os alunos interagiam com as mesmas.

Nossos encontros ocorreram em grande parte semanalmente, pois procuramos adequar os horários e a disponibilidade da escola em compartilhar o espaço conosco.

De acordo com os PCN, RCN e Zabala (1999) organizamos as implementações destacando os conteúdos conceituais, atitudinais, que comporiam as próprias noções objetivas da pesquisa de cada UDI, organizadas de acordo com a turma, e os procedimentais, que nesse caso dizem respeito a própria implementação.

Basicamente procuramos trabalhar com os alunos as seguintes noções conceituais: - na Matemática:

• de ordem;

• de grandezas e medidas;

• de geometria (principalmente quadrado, círculo e triângulo); • de frações;

• de correspondência; • de adição e subtração; • de lógica-matemática; - na Geografia:

• de campo (paisagem rural) e cidade (paisagem urbana); • de êxodo rural;

- em Ciências:

• da vida dos animais (tamanduás,formigas, leões, elefantes, hipopótamos, etc); • do uso de agrotóxicos;

• de reciclagem e reutilização dos materiais (lixo); - em Língua Portuguesa:

• construção de vocabulário;

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No que se refere aos conteúdos atitudinais , destacamos: • atenção e interesse pelo contar da história;

• o interesse e a concentração em realizar as atividades;

• respeito e interesse pelo trabalho de grupo e opinião dos colegas; • solidariedade e tolerância com os colegas;

• respeito pelas diferenças;

• respeito e valorização do papel que os animais desempenham na natureza;

As histórias utilizadas para desenvolvermos as UDI realizando as implementações foram as seguintes:

• As Aventuras da Família Tamanduá, de Jô Oliveira / 1988 / Editora José Olympio.

Resumo da história:

A história conta que uma família de tamanduás, a família Jubata, vivia sossegadamente numa fazenda até o dia em que um fazendeiro comprou-a e resolvendo fazer mudanças na mesma expulsou-os de lá. Não tardou e as plantações de João, o fazendeiro, foram invadidas por uma colônia de formigas, que apesar da utilização de venenos, não foram controladas. Assim, sem alternativa e ouvindo a sugestão de sua esposa, o fazendeiro convenceu a família de tamanduás a voltar para a fazenda. Desta forma a praga foi controlada. A UDI desenvolvida a partir dessa história foi implementada numa turma de pré- escola, numa terceira e numa quarta série.

• Se essa rua fosse minha, de Eduardo Amos / 2002 / Editora Moderna. Resumo da história:

O livro foi escrito fazendo uma alusão a música de mesmo nome. A partir da música, questiona o leitor acerca dos cuidados que devemos ter com a nossa própria rua.

Esta preocupação está exemplificada nos questionamentos que o livro traz na contracapa: “E se a rua onde você mora fosse sua? O que você faria com ela? Deixaria que jogassem lixo no chão? Deixaria que pichassem os muros e as paredes? Ou plantaria árvores e flores, brincaria livre na calçada, enchendo o bairro de alegria?”

• A História do Copinho, de Adriano Edo Neuenfeldt Resumo da história:

A história conta o caminho percorrido por um copinho de iogurte, desde a prateleira do supermercado, o seu dia-a-dia na geladeira, até o dia em que ele reencontra seus irmãos na cesta de lixo e é reutilizado por um menino na construção de um brinquedo. Essa UDI foi implementada na pré-escola.

• João, o Leão, em: com medo de água?, de Adriano Edo Neuenfeldt Resumo da história:

A história trata do medo que João, o Leão, tinha de derreter com a água, escondendo- se toda vez que chovia, até que certo dia conheceu o elefante, e com ajuda do amigo, percorreu diversos lugares, conversando com diversos animais, procurando ver os benefícios da água. O medo foi sendo vencido aos poucos, até que, finalmente, com auxílio do amigo, que buscou água num riacho, o leão tomou um banho e percebeu que não corria risco de derreter.

A unidade didática foi implementada na pré-escola.

• Balas, bombons, caramelos, de Ana Maria Machado / 1989 / Edições Antares. Resumo da história:

A história trata de Pipo, o hipopótamo, que tinha muitos amigos, entre eles a girafa, o elefante, o rinoceronte, a tartaruga, a zebra, o crocodilo. Pipo era um sujeito calmo que não gostava de aventura, adorava o sossego, até o dia em que ele sentiu fortes dores na boca e o doutor Camelo, examinando-o, aconselhou-o a procurar o dentista Pica-pau, e assim, todos descobriram que o que Pipo passava mastigando durante o dia eram balas, bombons, chocolates, caramelos, doces, chicletes e por isso agora estava com os dentes esburacados, todos cariados. O Pica Pau tratou dos dentes de Pipo e aconselhou-o a cuidar de sua alimentação. E assim Pipo o fez, cuidando também da escovação de seus dentes e desta forma eles não doeram mais.

A UDI foi implementada numa primeira série.

• Sou diferente!, de Adriano Edo Neuenfeldt Resumo da história:

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A história fala de um lugar onde todas as formas eram circulares, até mesmo a língua era a língua do círculo. Porém, certo dia nasceu ali um sujeito de forma estranha, um quadrado. Apesar do amor dos pais ele não conseguia sentir-se bem, consultaram até mesmo um médico, mas ninguém sabia como explicar por que ele era diferente. O quadrado cresceu e continuava sentindo-se um estranho naquele lugar. Resolveu então, fugir. Na sua fuga encontrou um círculo deficiente visual que lhe pediu ajuda e com quem firmou amizade. O cego acabou convencendo-o que de certa forma somos todos diferentes, mas o que verdadeiramente importa são os nossos sentimentos. E assim os dois acabaram voltando cada um para a sua casa.

Esta UDI foi implementada na pré-escola.