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7 “UM CLIMA DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS”

nquanto esperava pacientemente na Normandia, Francesca Wilson ia se conscientizando cada vez mais do começo desajeitado da UNRRA na condução do enorme problema dos refugiados europeus. Muitos dos recrutados pela agência humanitária das Nações Unidas pareciam ou inexperientes ou cínicos. “Para muitos franceses”, observou ela, “a organização parecia uma brincadeira confusa, mas divertida”. Um dos designados para o almoxarifado, que havia participado da Legião Estrangeira, confessou que nada sabia sobre gestão de estoques. Outros, nomeados o iciais de refeitório, contaram-lhe, achando graça, que também não entendiam nada de cozinha — “a não ser comer como franceses”. Havia ainda os que trabalhavam com suprimentos. “Isso era bem comum”, observou ela, argutamente. “Tanto no Exército como na resistência, os soldados aprenderam a se ajudar [...] Eles estavam prontos para qualquer aventura, e os salários eram altos.”

Mas ela equilibrava seu ceticismo com realismo. A UNRRA era uma grande experiência — a primeira organização internacional que tentava fazer algo prático e construtivo em relação aos refugiados. Era bem verdade que muita coisa parecia trabalho de amador, mas, a inal, a agência iniciara seu trabalho de campo havia menos de um ano. Seu orçamento era de vários milhões de libras. Isso, Francesca observou com otimismo, já representava um enorme avanço em termos de atitude com respeito às necessidades humanas geradas pela guerra moderna, em comparação com o que vigorava na geração anterior.1

Enquanto isso, na Bavária, Robert Reid estava tendo di iculdades em acompanhar o passo dos tanques de Patton. “Este é verdadeiramente o maior avanço na história da guerra”, contou ele a seus ouvintes da BBC, “um progresso em que postos de comando divisionais fazem grandes avanços duas a três vezes ao dia”. E isso mesmo antes de chegarem a Buchenwald, durante a impressionante investida de Patton para o leste, do Reno até a Turíngia.

Enquanto Reid relatava os horrores de Buchenwald, a atenção de Patton dirigia-se rápida e de initivamente para o sul, na direção do Danúbio. Ali, lia-se no plano do general que o seu III Exército provavelmente se uniria aos avanços soviéticos vindos do oriente, antes de prosseguir para Salzburgo e para o Reduto Alpino mais além. A im de alimentar os homens e abastecer os veículos, a meta era acumular um milhão de toneladas de alimentos e um milhão de galões de gasolina. Com o propósito de se preparar para o contato com o Exército Vermelho, Patton fez circular informações de reconhecimento de veículos e equipamentos russos entre todos os comandantes de tropas. Ninguém queria incidentes de “fogo amigo” com as forças de Stalin.

Em seu avanço rápido pelo interior da Alemanha, Patton estava à vontade. Um sujeito extravagante, profano e agressivo, com botas sempre bem engraxadas e pistolas com cabo de mar im na cintura, não era à toa que o chamavam de “velho duro e sanguinário”. Ele idolatrava seus antepassados confederados da Virgínia e amava o Exército e seus soldados. “Nenhum general americano teve uma compreensão tão ampla do elemento humano em uma guerra”, escreveu um biógrafo, “ninguém compreendeu tão profundamente que o moral nunca é constante [e que] tropas, quando em contato com o inimigo, jamais deveriam permanecer inertes [...] pois somente a ação ofensiva traz satisfação”.2 Mesmo

Montgomery, que o detestava e o chamava de “atiçador”, admitiu que ele era o líder mais incisivo no campo aliado.

Quer estivesse circulando de jipe, quer de pé em posição de sentido, ou ainda concentrado em alguma instrução, ele sempre dominava a cena. “Sua aparência re inada reluzia”, escreveu outro biógrafo. “Ele sempre mantinha a pose, e sua energia era como a de um gato [...] ele inspirava emoção e reverência, como também lealdade e con iança.” Entretanto, por trás desta aparência agressiva havia um homem que se preocupava de todo coração com o bem-estar de seus soldados. “Nenhum comandante”, escreveu um terceiro biógrafo, “dedicou mais tempo que ele a treinar suas tropas em nível tão alto, para salvar, e não desperdiçar, suas vidas”.3

Em termos de personalidade, Patton e o tranquilo Robert Reid não poderiam ser mais diferentes. Talvez por isso, o correspondente britânico não deixava transparecer suas impressões sobre o controverso general americano. Mas pelo menos uma coisa eles tinham em comum: ambos acreditavam instintivamente na importância decisiva do moral e tinham uma empatia profunda por seus soldados.

americanos encontraram pouca ou nenhuma oposição. Eles se depararam também com muitas pontes demolidas e bloqueios nas estradas, mas com pouca defesa humana. A maioria dos tanques da Wehrmacht havia sido destruída na batalha de Ruhr, e sua administração, em geral e iciente, encontrava-se em total desordem. As reposições não estavam chegando aos fronts e tropas improvisadas, que incluíam até idosos e adolescentes de ambos os sexos, participavam de uma defesa cada vez mais desordenada. Ao encontrar os tanques de Patton, os alemães rendiam-se em massa. Nas primeiras três semanas de abril, o exército de Patton capturou quase meio milhão de prisioneiros de guerra.

O tempo também estava cooperando. Com exceção de um ou dois dias de chuva, vento e granizo, céus claros proporcionaram condições excelentes para centenas de missões aéreas com o objetivo de auxiliar os homens em terra. As tropas aliadas deixavam para trás milhares de locomotivas e aeronaves destruídas, estradas de ferro crivadas de balas, caminhões incendiados e pontes destroçadas. Àquela altura, a Luftwaffe já tinha praticamente deixado de existir e aviões aliados operavam quase que à vontade.

Basicamente, os únicos obstáculos ao avanço de Patton eram os suprimentos de gasolina para seus tanques e o congestionamento nas estradas à medida que os comboios de suporte tentavam acompanhar o passo. Entretanto, a comida também estava se tornando um problema. Capturar e armazenar os suprimentos alemães de alimentos tornaram-se uma prioridade, sobretudo porque milhares de prisioneiros de guerra e desabrigados encontravam-se naquela zona de operações, e todos precisavam comer.

Até mesmo Reid estava sentindo o aperto. Geralmente, os correspondentes de guerra podiam contar com uma boa alimentação, compartilhando da porção reservada aos o iciais no quartel-general. Mas, naquele momento, a situação era totalmente diferente das primeiras semanas que ele passara com o exército de Patton, antes da travessia do Reno. No início, Reid usufruíra do conforto de um quarto de hotel sempre com água quente, refeições excelentes, cozinheiros pro issionais e garçons civis, e bastante tempo livre à noite, quando podia ler ou escrever cartas. Recentemente, porém, “só tem havido trabalho pesado, e penso que todos estão bem cansados de novo”, escreveu em uma das cartas a Vera, que se tornavam cada vez mais raras e datilografadas apressadamente. “Nossa comida já não é tão boa como antes, por causa da questão do suprimento [...] quando um exército está se deslocando, é preciso retornar aos

biscoitos de água e sal e enlatados.” Portanto, foi um grande alívio quando um de seus colegas correspondentes fez, certo dia, uma incursão pela roça e retornou com uma boa quantidade de ovos frescos. Foi ainda melhor quando um terceiro conseguiu achar um rifle e saiu para caçar lebres.4

As unidades do III Exército faziam avanços regulares de 50 a 60 quilômetros por dia. Na terça-feira, 24 de abril, inalmente alcançaram o Danúbio, próximo a Ratisbona, na alta Bavária. Ali, apenas três semanas antes, Fey von Hassell fora colocada em uma cela pequena e imunda. Ratisbona, uma das mais antigas cidades alemãs, já fora sitiada 17 vezes e sobrevivera a uma longa e sangrenta história de violência. Já havia sido uma fortaleza romana, um bispado desde o século VIII, um ponto de refúgio para os cruzados a caminho da Terra Santa e uma cidade portuária medieval bem próspera, além de ter sediado a Assembleia Legislativa do Sacro Império Romano-Germânico até sua extinção por Napoleão. Ratisbona foi palco de uma das vitórias napoleônicas no avanço francês em direção a Viena em 1809. Ali, também, Napoleão foi levemente ferido durante a batalha para romper as muralhas da cidade. O astrônomo medieval Johann Kepler e, bem mais tarde, o industrial Oskar Schindler, que salvou centenas de judeus do Holocausto, foram dois ilhos proeminentes da cidade.

Quando entrou em Ratisbona, Patton encontrou-a parcialmente intacta, embora os bombardeiros aliados tivessem arrasado suas estações de trem, armazéns de carga e a fábrica de aviões Messerschmitt. A Steinerne Brücke, uma ponte do século XII, tinha sido praticamente destruída pelos soldados da SS enquanto tentavam impedir o avanço americano. Isso mostra mais uma vez o tremendo descaso nazista pela herança cultural do país. Escondida nos cofres do Reichsbank, os americanos encontraram uma grande coleção de arte roubada de várias partes da Europa: quadros, pedras preciosas, braceletes e relógios retirados de vítimas de campos de extermínio, barras de prata feitas de joias derretidas e artigos de ouro removidos de igrejas na Tchecoslováquia, entre os quais um tabernáculo de ouro maciço de uma igreja ortodoxa russa em Praga. Os itens mais valiosos, no entanto, eram apólices austríacas avaliadas em 3 bilhões de dólares, assim como a maior parte dos títulos de crédito da Bavária.5

Enquanto isso, algumas unidades do exército de Patton margeavam a fronteira tcheca, e outras cruzavam o rio Isar — que corta Munique para se juntar ao Danúbio — e seguiam em direção à Áustria.

Não era surpresa que Reid estivesse sem fôlego diante da velocidade com que as coisas aconteciam. Todas as manhãs, ele e seu técnico de rádio,

Bill Costello, montavam na garupa de um jipe e eram levados por um motorista do Exército, dirigindo por horas à procura de uma história. Em abril ainda fazia muito frio, e Reid vestia por cima de seu casaco de couro um sobretudo pesado, e enrolava um casaco forrado de lã em volta dos tornozelos, pilhado dos alemães.

O trabalho de Reid era um pouco diferente do de muitos outros correspondentes que seguiam os avanços de Patton. Aqueles homens e mulheres trabalhavam para a imprensa escrita. Por aí já se via o contraste, uma vez que Patton, trabalhando na Rádio BBC, precisava levar a seus ouvintes na Grã-Bretanha os sons da batalha e do front. Ele tinha profunda consciência de estar na vanguarda das comunicações, que tornava a reportagem da presente guerra inteiramente distinta do jornalismo praticado durante a Primeira Guerra Mundial, e orgulhava-se disso.

“Os milagres modernos da comunicação sem io”, escreveu, “traziam os sons dos campos de batalha para a lareira doméstica”. Isso marcava uma revolução e, como em todas as revoluções, trazia descon iança e resistência. Durante a Batalha da Grã-Bretanha, em 1940, a BBC transmitira o relato de uma testemunha ocular de um combate violento sobre o espaço aéreo de Dover entre os pilotos da RAF e da Luftwaffe, o que havia sido criticado. Uma coisa era narrar um jogo de críquete ou uma corrida de cavalos; mas relatar um acontecimento no qual homens estavam perdendo suas vidas foi considerado de mau gosto.6 Àquela altura, porém,

as opiniões já haviam mudado completamente.

A maior parte dos relatos de Reid era transmitida no War Report, programa que ia ao ar todas as noites após o noticiário das 21 horas. Isso signi icava que ele estava sempre trabalhando freneticamente contra o relógio. Quando achava alguma coisa interessante, pegava seu microfone portátil e sem perder tempo descrevia a cena que se passava à sua frente, ou improvisava uma entrevista, enquanto Costello garantia que tudo estava sendo gravado corretamente no pequeno trailer, rebocado atrás do jipe.

Algumas vezes, quando não podiam chegar a um lugar de jipe, carregavam uma caixa com o equipamento de gravação portátil até o local. Ela fazia parte do equipamento padrão e fora desenvolvida pelos engenheiros da BBC, sendo usada pela primeira vez de forma bem- sucedida no desembarque em Anzio, na Itália, no ano anterior. Pesando cerca de 18 quilos, a caixa incluía 12 discos de dupla face que gravavam uma hora de reportagem, um microfone com um clipe pequeno que podia ser acoplado a praticamente qualquer coisa e uma unidade de pilha seca. O equipamento era tão fácil de operar que Reid podia trabalhar sozinho,

embora no trailer fosse necessário o auxílio do técnico, porque a unidade de gravação era muito mais sofisticada.

Ao retornar à área de imprensa todas as noites, Reid era obrigado a submeter as gravações aos censores do Exército, que procuravam eliminar tudo que pudesse ser militarmente delicado ou útil para os alemães.

Isso signi icava que ele precisava fazer uma autocensura cuidadosa durante suas gravações. Era muito fácil eliminar uma palavra ou frase ofensiva numa matéria impressa, mas fazer o mesmo com um disco era quase impossível. Ao aceitar o convite da BBC para fazer reportagens de guerra, ele fora submetido a cursos de treinamento muito rigorosos, nos quais aprendeu sobre as armadilhas embutidas na censura.

Isso não era tudo o que havia enfrentado. Nas montanhas do norte do País de Gales, em meio a muita dor, ele montara em uma mula para observar um exercício de artilharia, e nos charcos de Yorkshire teve de se deitar no chão enlameado ingindo escrever uma matéria enquanto balas de verdade zuniam sobre sua cabeça e minas explodiam ao redor, espalhando torrões de terra. Ele também aprendeu a dirigir caminhões pesados, uma experiência penosa para quem nunca havia dirigido sequer um automóvel. Tudo icou ainda pior quando teve de cumprir seu o ício nas estradas rurais ao redor de Portsmouth, apinhadas de tanques de guerra, canhões autopropulsionados, tratores e ambulâncias dirigindo-se às praias do Dia D. Certa vez, ao encontrar um comboio dos famosos Ratos do Deserto com a mensagem “de Alamein para Berlim” escrita a giz nas torres de seus tanques, ele, sensatamente, passou a direção para seu instrutor.

Mas o treino mais importante que recebeu, excluindo-se os aspectos técnicos relacionados à transmissão diretamente do campo, foi com respeito à censura. Para ressaltar os problemas relativos aos discos, os correspondentes eram levados a um falso QG alemão onde um o icial de inteligência “nazista” rodava gravações especialmente preparadas e supostamente feitas por correspondentes ingleses descuidados, nas quais comentários aparentemente inocentes eram usados para extrair informações militarmente signi icativas. Os jornalistas ingleses, então,

izeram um curso para aprender a evitar tais erros. Tudo isso ajudou Reid a pensar rápido enquanto gravava suas histórias.7

Depois que os discos recebiam o aval dos censores, eram cuidadosamente embrulhados, endereçados à BBC e colocados em um avião. Algumas vezes, quando Reid dava sorte, encontrava um telefone a partir do qual podia falar diretamente com a BBC. Neste caso, um aparelho

especial em Londres chamado “teledifone” gravava suas palavras em um cilindro de cera. A gravação era ouvida por um datilógrafo; ele produzia um texto que pudesse ser lido por um censor, o que agilizava a transmissão e economizava tempo.8

Naquele momento, até mesmo a velocidade dos acontecimentos da guerra proporcionava reportagens boas e dramáticas. “Ontem, dirigi por várias horas sob chuva torrencial e uma tempestade de granizo, por estradas que levam ao sudeste e estavam abarrotadas de trens de suprimentos, por campos nos quais mais uma vez os engenheiros izeram milagres, construindo pontes sobre rios e estradas de ferro”, ele contava ofegante a seus ouvintes, três dias após os relatos sobre Buchenwald. De repente, Reid passou por um vilarejo cuja população ainda estava chocada com o avanço no estilo “rolo compressor” de Patton. À sua frente, civis alemães andavam despreocupadamente de bicicleta ao longo dos trilhos da ferrovia, onde um trem carregado com vinte ou trinta caminhões ainda queimava, após um ataque aéreo aliado.

Tanques americanos rompiam pelas ruas em direção a seu próximo objetivo, enquanto Reid parava para olhar pela janela do QG nazista do lugar. Na parede, um antigo boletim de notícias relatava a batalha do Reno. Enquanto ele olhava, duas jovens apareceram, mostrando-se aborrecidas ao descobrir que o escritório estava fechado. Uma delas viera devolver um pequeno livro e o colocou atrás de um cano junto à porta da frente. Reid, gentilmente, pegou o exemplar. “Era um texto impressionante”, ele contou a seus ouvintes, “falando da invencibilidade do Reich alemão e da segurança do muro ocidental, cheio de ilustrações”. O livreto fora bastante manuseado e obviamente lido por muitas pessoas. Rindo, as garotas deixaram Reid levá-lo. “É só propaganda”, disseram com desdém. “Nada além de propaganda.”9

Àquela altura, Reid, assim como muitos outros correspondentes de guerra — e com certeza as tropas na região —, já não tinha vontade de falar com os alemães, especialmente depois de testemunhar as atrocidades de Buchenwald e outros campos de concentração. Confessara a Vera que agora não fazia a menor distinção entre os alemães e os nazistas, e que todos precisavam arcar com a responsabilidade dos horrores que os Aliados estavam revelando. Ele detestava todos, sobretudo os mais servis. Para tornar mais claro seu ponto de vista, deu um exemplo. Tinha ouvido um novo prefeito discursar para um o icial americano. Ao terminar de falar, o alemão, por instinto, encerrou seu discurso com um “Heil Hitler”. “Não é possível passar por cima desse tipo de coisa”, Reid insistiu. “É o

princípio de correr com as lebres e caçar com os cães o tempo todo.”

Alguns de seus colegas na Grã-Bretanha pensavam igual e lhe escreveram dizendo isso. Um deles, da redação da BBC em Manchester, sublinhava a diferença entre as colocações de Reid e as dos correspondentes de alguns jornais, que destacavam a cordialidade dos alemães quando se encontravam com as forças aliadas. “Eu não consigo acreditar nisso”, escreveu a Reid. “É claro que eles são cordiais agora que foram conquistados, mas a natureza deles é outra [...] ico feliz em saber que os nossos correspondentes sejam mais equilibrados.”10 Vera sentia o

mesmo. Como seus vizinhos em Stockport, tinha visto as fotogra ias de Belsen nos jornais e ouvira o relato do marido sobre Buchenwald na BBC: “Eu esterilizaria todos com mais de 4 anos de idade”, desabafou com revolta.

Todo esse cenário fazia Vera se preocupar cada vez mais com o marido. Como ele estaria lidando com o veneno emocional da guerra? Será que estava se alimentando direito? “Já vi tantas fotos, li tanto sobre os horrores que você testemunhou que, sabendo como é o seu estômago, tive a certeza de que não fez sequer uma refeição decente na semana passada.” Ela também sabia que Reid tomara uma vacina havia pouco tempo, provavelmente contra o tifo. Sentia muitas saudades e, junto com as crianças, queria que ele voltasse logo para casa. Três meses e meio já haviam se passado desde o último encontro. Mas, apesar das ótimas notícias sobre os avanços de Patton, Vera continuava cética sobre o anunciado im da guerra. Simbolicamente, a guerra havia terminado na Grã-Bretanha naquela mesma semana, com o im dos blecautes. Ela contou a Reid que não precisava mais fechar as cortinas, embora na prática as continuasse fechando, pois não queria que as pessoas a vissem sozinha em casa à noite. As luzes de Londres mais uma vez estavam acesas. Mas ela não deixava o coração se encher de esperanças. Achava que a guerra ainda se arrastaria por muitas semanas.11

A tinta de sua carta ao marido mal havia secado e Reid já contemplava as ruínas de Nuremberg. A cidade fora bombardeada em janeiro daquele ano, e seus escombros ainda ardiam após a amarga batalha, apenas três dias antes, em que os americanos capturaram a capital espiritual do Reich. Os alemães haviam montado uma forte defesa no lar dos grandes comícios do Partido Nazista, contando plenamente com a forte bateria antiaérea que

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