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Um Modelo de Oficina: Planificação, Concretização e Avaliação

No documento Oficinas de Escrita VILAS -BOAS (páginas 35-49)

Escola Secundária de Valongo Língua Portuguesa – 7.oB

Docente: Dr.ª Natália Martins

Caracterização da turma:

24 alunos §12 meninos e 12 meninas

Apetência para a escrita: 

¢Alunos com grandes dificuldades e/ou grande resistência: 12.

¢Alunos com algumas dificuldades e/ou alguma resistência: 7.

¢Alunos bastante predispostos: 5.

Objectivos:

• Conhecer as etapas a ter em conta no processo da escrita. • Despertar o interesse pela escrita.

• Desenvolver o gosto pelo acto de escrever. • Desenvolver a imaginação.

• Promover a criatividade.

• Experimentar percursos pedagógicos que proporcionam o prazer da escri- ta.

• Individualizar a competência da expressão escrita. • Proporcionar situações de auto e heterocorrecção.

Conteúdos:

• O texto narrativo: o conto – categorias da narrativa.

Esta Oficina de Escrita surge no seguimento do estudo da unidade progra-

mática “O texto narrativo”, na qual foram analisados três contos: O Cavaleiro da 

Dinamarca de Sophia de Mello Breyner Andresen, “Vicente” de Miguel Torga e “Ar-

roz do Céu” de José Rodrigues Miguéis. Nesta oficina serão produzidos textos ten-

do em conta as categorias da narrativa estudadas. Estratégias/actividades:

1. Diálogo com os alunos

Aspectos a serem focados:

– Definição de oficina de escrita.

– Reflexão sobre as dificuldades em relação à escrita e sobre a capacidade em relação a esta competência.

– Reflexão sobre a necessidade de se realizarem actividades diferenci-

adas, dados os diferentes níveis de interesse e apetência relativamente à

expressão escrita.

2. Formação de grupos de trabalho

Serão constituídos três grupos, de dois, três ou cinco alunos, consoante as dificuldades evidenciadas e a disponibilidade demonstrada em relação à expres- são escrita. Realizarão actividades diferenciadas tendo em conta as suas caracte- rísticas. Depois de um diálogo sobre as técnicas a praticar numa oficina de escri-

ta, será distribuída uma ficha informativa intitulada“As etapas do processo da

3. Planificação, elaboração e leitura dos textos

As actividades a realizar serão as seguintes:

¢Grupo de alunos com grandes dificuldades e/ou grande resistência:

Realização de actividades lúdicas muito simples.

É de salientar que,

devido às inúmeras lacunas evidenciadas por estes alunos em

relação à escrita e ao facto de não gostarem de escrever, é pre-

ferível propor-lhes actividades deste tipo. Caso lhes fosse so-

licitado que realizassem as actividades que serão levadas a ca-

bo pelos outros grupos, correr-se-ia o risco de eles se mostrarem

completamente desmotivados e de não fazerem absolutamente

nada.

Realizarão estas propostas seis grupos constituídos, cada um deles, por dois alunos.

As actividades são três: Palavras obrigatórias,Os númeroseCriando uma personagem. Todos

as farão na totalidade e pela ordem apresentada (ver mais adiante em que

consistem).

¢Grupo de alunos com algumas dificuldades e/ou alguma resis-

tência:

Elaboração de uma narrativa a partir de imagens colocadas em

desordem dentro de um envelope. As figuras apresentam-se coladas cada

uma numa cartolina medindo aproximadamente 15 x 20 cm. Os alunos tentarão, nu- ma primeira fase, ordená-las de modo a que haja uma sequência lógica entre elas.

Numa segunda fase, elaborarão uma narrativa num texto coeso e coerente,depois

de devidamente planificado.

Caso surjam dificuldades na concretização da actividade a partir unicamen- te das imagens, o(a) docente fornecerá uma ficha de trabalho onde constarão as imagens do conto colocadas pela ordem cronológica dos acontecimentos, bem como frases do próprio conto para auxiliar os jovens na produção dos seus tex- tos.

¢ Alunos com poucas dificuldades e bastante predispostos para

a escrita:

Elaboração de um conto a partir de um guião.

Realizará esta actividade um grupo constituído por cinco alunos.

(Nota: Todos os alunos terão conhecimento prévio das tarefas a desenvolver pelos restantes colegas.)

4. Conversas entre a professora e os alunos

A professora circulará por entre as carteiras de modo a poder observar o tra- balho realizado e a acompanhar a escrita. Ao mesmo tempo que indica oralmente

aspectos a corrigir, dará indicações específicas de aperfeiçoamento por escri-

to.

5. Correcção de forma individualizada

Esta actividade realizar-se-á em simultâneo com a planificação e elabora- ção de textos. Haverá reformulações contínuas dos escritos de forma a aperfei- çoá-los.

6. Leitura e comentário dos textos produzidos

Os textos dos alunos serão lidos sempre que estejam terminados. A leitura

será acompanhada daanálise de todo o material intermédio, os rascu-

nhos; o processo de escrita, de correcção e de reescrita será explicado, de prefe-

rência, pelos próprios alunos. Eles serão encorajados a analisar o modo como constroem os seus conheci- mentos.

Materiais

Fichas de trabalho: – Palavras obrigatórias; – Os números;

– Criando uma personagem;

– Imagens e passagens do conto “O pescador e a tartaruga”;

– Envelopes contendo pequenas cartolinas nas quais estão coladas imagens do referido conto;

– Folha com estas imagens apresentadas pela ordem em que os aconteci- mentos se deram, com legendas em cada imagem;

– Um guião de elaboração de um texto narrativo; – Papel para escrever (folhas A4 brancas);

– Capas plásticas para colocar todo o material produzido (este material nunca abandona a escola);

– Esferográfica;

– Dicionários: de Língua Portuguesa e de verbos; – Máquina de filmar;

– Televisão; – Vídeo.

 Avaliação

Observação directa:

– do empenho dos alunos na realização das actividades propostas, da perti- nência e qualidade das intervenções;

– da capacidade de aplicar conhecimentos adquiridos; – da capacidade de autocorrecção;

– do poder de cooperação e entreajuda; – da criatividade;

Observação indirecta:

Através da visualização de partes de aulas filmadas, a realizar nas aulas de noventa minutos. Os filmes terão como função proporcionar a alunos, forman- do(a) e formador(a) a possibilidade de se discutir o desenvolvimento da oficina, as- pectos a melhorar na sua organização, comportamento dos alunos, etc.

Tempo

– Durante 10 tempos lectivos – de 9 a 23 de Abril.

(Na realidade, esta oficina prolongou-se a pedido dos alunos, alguns dos quais eram, no início, dos mais renitentes em escrever...).

Materiais Distribuídos aos Alunos

I

Ficha Informativa

 As etapas do Processo da Escrita

Nas dez aulas que se seguem vamos criar umaoficina de escritaonde pode-

rás praticar as técnicas apropriadas para construir/produzir textos.

1.ª etapa§ Pré-escrita/Planificação

Nesta fase registarás, sem grandes preocupações, as tuas primeiras ideias, im- pressões, intenções...

É neste momento que deves fazer um plano para a produção do teu texto, ou seja, deves reflectir sobre o que irás escrever e sobre a maneira como irás es- truturar a tua redacção.

2.ª etapa§ Escrita

Nesta fase darás forma às ideias que surgiram na etapa anterior. Organizá- las-ás num todo coeso e coerente.

3.ª etapa§ Partilha

Revisão/Correcção

O processo de revisão/correcção terá duas operações distintas: • 1.ª – Procura de defeitos, erros ou imperfeições.

• 2.ª – Revisão ou reformulação.

Neste momento deverás tentar detectar, com a ajuda da professora

e/ou colegas, as imperfeições ou os erros e os defeitos do texto que elaboraste

ou estarás a elaborar e reformulá-los de modo a aperfeiçoar a tua produção es- crita.

Esta etapa será o momento de entreajuda, de cooperação, de reescrita. Tem como finalidade tornar o texto mais coerente e correcto. Será, então, uma tarefa de auto e heterocorrecção.

Poderás, também, ler os teus textos para os teus colegas depois de comple- tamente revistos.

4.ªetapa §

 Avaliação

Será a resposta qualitativa do professor ao trabalho realizado por ti e pelos teus colegas.

II

 Actividades de escrita propostas aos alunos com mais dificuldades e, por 

norma, renitentes em escrever 

2.1. Palavras Obrigatórias

23 ¢

Palavras obrigatórias– Esta actividade consistirá em escrever uma história com vin-

te palavras obrigatórias e produzir um texto, coeso e coerente, em que essas pa- lavras aparecerão por ordem alfabética. As palavras são escolhidas pelos alunos. (Se surgirem dificuldades na concretização desta actividade, poder--se-ão fa- zer as modificações que se considerem oportunas. Por exemplo, se algum aluno não for capaz de elaborar um texto com as palavras que escolheu, por ordem alfa- bética, ser-lhe-á dada a possibilidade de o escrever na ordem que ele considere ade- quada, pois assim continuará motivado para a escrita; no caso de algum aluno não conseguir escrever o texto com as vinte palavras, este número poderá ser reduzido).

Primeira Etapa

Escreve rapidamente vinte palavras que te vierem à cabeça:

_______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________

Quando tiveres concluído esta actividade passa para a segunda etapa.

(23) Adaptado a partir de Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, L’Atelier d’Expression et d’Écriture au Collège, Paris, Armand Colin, 1998, p. 20.

Segunda Etapa

Coloca as palavras referidas na primeira etapa por ordem alfabética:

____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ __________________________________________________________________

Quando tiveres terminado passa para a terceira etapa.

Terceira Etapa

Elabora um texto que contenha as palavras da segunda etapa na ordem em que surgem.

2.2. Os Números

24

¢Os números– Com esta actividade, pretende-se que o aluno escreva um texto livre

que contenha a maior quantidade de números possível.

1. Completa o texto que te é apresentado com os números seguintes:

sexto 60 dois Três quatro dois duas sexto três dois Uma 1974 trinta e cinco dois um dois quinze duas quatro dois quinto 25 quarta dois

Faltavam ________minutos para as ________e __________, nem há ________ segundos, talvez ________, que eu tinha entrado no meu T ________ com os meus ________ gatos, quando ouvi ________ barulhos provenientes do ________ andar. Eu moro no ________, portanto, por baixo. ________, não, ________ pes-

(24) Adaptado a partir de Balazard, Sophie e Gentet-Ravasco, Élisabeth, L’Atelier d’Expression et d’Écriture au Collège, Paris, Armand Colin, 1998, p. 29. No apêndice 14, pp. 101-103 e 109-110, podem ver-se os rascunhos, as indicações de rees- crita e o texto final relativo a esta actividade escrito por dois alunos.

soas, desciam em ________ as escadas, saltando ________ degraus de cada vez. ________ dias antes, o meu vizinho do ________, que vive sozinho, tinha-me avi- sado que ia de férias por ________ dias. Este barulho não era normal. Segui os ________ indivíduos depois de fechar em casa os meus ________ gatos. Moro no número ________ da rua _______ de Abril de ______. O prédio está em frente a ______ grande jardim por onde os _______ patifes fugiram.

2. Depois de teres completado o texto anterior, destapaa parte se-

guinte:

§

Encontrarás aqui a versão original do texto em cima apresen- tado; compara-a com a tua.

Faltavamdoisminutos para asduasetrinta e cinco, nem hádoissegun-

dos, talvezquatro, que eu tinha entrado no meu T trêscom os meus dois gatos,

quando ouvidoisbarulhos provenientes dosextoandar. Eu moro noquinto,por-

tanto, por baixo. Uma, não,duaspessoas, desciam emquartaas escadas, saltan-

doquatrodegraus de cada vez.Trêsdias antes, o meu vizinho dosexto, que vive

sozinho, tinha-me avisado que ia de férias porquinzedias. Este barulho não era nor-

mal. Segui osdoisindivíduos depois de fechar em casa os meusdoisgatos. Moro

no número60da rua25de Abril de1974. O prédio está em frente aumgrande jar-

dim por onde osdoispatifes fugiram.

3. Escreve tu também um texto em que incluas a maior quan- tidade de números possível.

Poderás utilizar, se quiseres, uma das seguintes sugestões: – Um diálogo entre uma empregada de caixa e um cliente. – Uma receita de cozinha.

– Um diálogo entre um pai e um filho/uma filha sobre as notas do segun- do período.

– Uma aula de matemática. – Um itinerário.

2.3. Criando uma Personagem

25

¢Criando uma personagem – Esta actividade consiste em escrever uma história algo in-

sólita.

1. Regista, numa folha à parte, uma resposta para cada uma das seguintes perguntas. (Deverás numerá-las de 1 a 14. Escreve apenas as  respostas. Tenta ser criativo(a)!).

1. Escreve um nome de pessoa, homem ou mulher.

2. Escreve o nome de um lugar distante.

3. Escreve uma idade qualquer.

4. Anota um espaço de tempo: segundos, horas, meses, anos, décadas, sécu-

los, etc.

5. Escreve um número qualquer.

6. Escreve uma medida em metros de 1 a 5.

7. Escreve um desejo qualquer.

8. Escreve a palavra sim ou a palavra não.

9. Escreve uma cor.

10. Escreve outra cor.

11. Escreve um hábito que classificas como defeito.

12. Escreve um certo valor em dinheiro.

13. Escreve o nome de uma música ou de um grupo musical.

14. Escreve o nome de um lugar muito perto.

(25) Adaptado a partir de Miranda, Simão de, Escrever é Divertido – Atividades Lúdicas de Criação Literária, S. Pau- lo, Papirus Editora, 1999, pp. 39 a 41.

2. Transcreve para cada uma das seguintes perguntas as respos-

tas que deste no exercício anterior.

1. Qual é o nome do(a) teu(tua) noivo(a)? ___________________________________

2.Onde se encontraram pela primeira vez? _______________________

3. Que idade é que ele(a) tem? ___________________________________

4. Quanto tempo namoraram? ___________________________________

5. Qual o número dos sapatos dele(a)? ___________________________________ 6. Qual é a altura dele(a)? ___________________________________

7. Qual é o maior desejo dele(a)? ___________________________________ 8. É bonito(a) e inteligente? ___________________________________ 9. Qual é a cor dos olhos dele(a)? ___________________________________ 10. Qual é a cor dos cabelos dele(a)? ___________________________________ 11. Qual é o pior defeito dele(a)? ___________________________________

12. Quanto dinheiro levarão para a lua-de-mel? ________________________

13. Qual é a canção que gostariam de ouvir no vosso casamento?

___________________________________________________________________________________________ ______

14. Onde vai ser a lua-de-mel? ___________________________________________________ 3. Baseando-te nas perguntas e nas respostas do exercício 2, escreve agora um pequeno texto procurando que seja original e di- vertido.

(26) Não se apresentam aqui as outras duas actividades. A primeira, para o grupo intermédio de alunos, está descri- ta atrás. A segunda, para os alunos mais desenvolvidos, com base num guião, deu origem a um conto com dezassete páginas manuscritas, quando passado a limpo.

FIM

26

Comentário

1.Aquando da planificação, a professora já conhecia os alunos há cerca de

quatro meses. Sabia que a diversificação de propostas era imprescindível para o sucesso da oficina.

2. Teve o cuidado de explicar muito bem, através do diálogo, a natureza e

os objectivos da oficina, e conseguiu que eles compreendessem e aceitassem a diferenciação de actividades.

3.Aspecto fulcral foi o da distribuição e análise da ficha informativa“As etapas

do processo da escrita”. Foi lida e comentada por toda a turma, que assim interiori- zou as regras a serem seguidas.

4.De realçar também o cuidado colocado na selecção de propostas de escri-

ta para os alunos mais desinteressados. Por exemplo, no caso das actividades “Os números”e “Criando uma Personagem”, depois do trabalho prévio de motivação que elas implicam, os alunos iniciaram o processo de escrita imediatamente. Já com a pri- meira proposta, “Palavras Obrigatórias”, houve necessidade de fazer alterações, ali- ás previstas.

5. A actividade da docente no decorrer da oficina consistiu principalmente em circular, observar, sentar-se junto dos alunos, ler, reflectir em conjunto com eles sobre as dificuldades na cons- trução dos textos, promover a correcção individual ou em grupo, escrever indicações de reescrita, incentivá-los a lerem os seus tex- tos, ajudá-los a explicitar para a turma as principais dificuldades com que se depararam no decurso da textualização...

6. A avaliação processou-se formativa e continuamente, como previsto. A

avaliação indirecta deveu muito à utilização da máquina de filmar27. As aulas foram

filmadas na quase totalidade. A visualização de partes seleccionadas ocorreu sempre durante as aulas de noventa minutos. Logo que terminava, a professora promovia a discussão sobre aspectos focados, desde o empenhamento dos alu- nos, às brincadeiras. Deste modo os filmes contribuíram para um melhor clima nas aulas. E serviram, num caso, para que a turma sancionasse o mau comporta- mento de um colega: envergonhado, pediu desculpa pelo que não podia negar...

No documento Oficinas de Escrita VILAS -BOAS (páginas 35-49)

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