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2 Capítulo II: O desenvolvimento histórico da Farmácia, estruturação do ensino

2.3 Breve recorte sobre o conceito de profissão e seu processo de legitimação

2.3.1 Um olhar para além da concepção funcionalista

A partir dos anos posteriores a 1970, há uma mudança no enfoque do estudo social das profissões caracterizado por uma tentativa de superação da visão

funcionalista, tendo como referencial teórico de um lado o marxismo e de outro o pensamento de Max Weber.

Entre tantos desta época destacam-se os trabalhos de Magali Larson e Eliot Freidson. Para Larson (1977), o processo de profissionalização reside na estratégia ou projeto profissional, entendido como processo histórico através do qual um grupo profissional (ou corporação) conquista o monopólio sobre um segmento específico do mercado de trabalho, alcançando reconhecimento social e proteção do Estado. Este processo está relacionado ao controle exercido pela corporação de profissionais sobre um conjunto de conhecimentos passíveis de aplicação prática.

Para atingir a autonomia e credibilidade social, os membros da corporação são compelidos a se organizar e a ocupar os espaços no interior das estruturas sociais, no contexto das oportunidades disponíveis na sociedade; buscando o aperfeiçoamento das suas atividades, com base no controle do acesso ou ingresso de novos membros e na tentativa de regulamentação das atividades como forma de controle do mercado. Este, por sua vez, interfere no processo de estruturação e legitimação profissional, em função do contexto sócio-econômico e da matriz ideológica dominante. Entre os elementos que favorecem a aquisição e manutenção do monopólio de competência profissional, destacam-se (LARSON, 1977):

a) A natureza do serviço oferecido

Quanto mais necessário, abrangente e menos acessível a outras ocupações, melhores as condições de legitimação para a profissão;

b) As características do mercado de trabalho

Quanto menos competitivo, melhores serão as condições de exercício profissional. Larson dá uma atenção especial ao sentido de competição entre uma profissão com outras profissões e formas de ocupações (que também almejam legitimar suas práticas) e sua importância no processo de monopólio de competência; o que implica o isolamento, distanciamento e restrição das atividades de ocupações consideradas inferiores ou não-habilitadas, bem como o controle de ingresso na corporação (Social closure).

Na área da saúde, é possível observar este comportamento, por exemplo, na forma como os médicos renegaram e buscaram se distanciar historicamente dos

homeopatas, cirurgiões-barbeiros, parteiras e farmacêuticos. Em relação à Farmácia, os médicos também intentaram, sempre que possível, demarcar suas diferenças com os boticários no século XIX e com os balconistas, proprietários e oficiais de Farmácia (práticos). Geralmente este fenômeno acaba mascarado exclusivamente pela ideologia do caráter científico ou da maior competência técnica de um grupo em relação a outro.

c) Perfil dos usuários ou beneficiários dos serviços

Outro fator que pode favorecer uma profissão, diz respeito ao perfil da clientela, esta deve ser a mais ampla possível no espectro social, como também não muito organizada.

d) Base cognitiva e controle da formação

A base cognitiva representa um elemento relevante pois quanto mais “específica”, “padronizada”,“científica” e inacessível ao senso comum o corpo de conhecimentos (corpo esotérico), mais privilegiado e melhor o status profissional junto à sociedade. Da mesma forma, quanto maior for o nível de controle exercido pelos profissionais sobre as condições de treinamento, oferta e ingresso à profissão, maiores serão as chances da profissão defender sua posição no mercado de trabalho, aperfeiçoando e estabelecendo padrões de desempenho das atividades, o que de certa forma controla a competição interna e reforça a imagem da profissão. e) As relações de poder no plano político e ideológico

As relações de poder se manifestam na afinidade ideológica de um grupo profissional com os valores das estruturas dominantes na sociedade, que se reflete no nível político na capacidade de persuasão do Estado em exercer sua proteção sobre determinada profissão.

Estes elementos aparecem na análise que Pereira-Neto (1995) faz ao estudar o processo de legitimação da profissão médica sob enfoque histórico e sociológico. No seu estudo de caso sobre o Congresso Nacional dos Práticos de 1922, pode-se observar a presença do debate acerca da autonomia profissional e as apreensões relativas ao papel regulador do Estado sobre o ato médico. Outro tema polêmico referia-se especialmente ao processo de disputa na demarcação dos limites de atuação, afirmação da autoridade e restrição, ou distanciamento, existente

entre os médicos e outras profissões que aquela categoria considerava hierarquicamente inferior ou subordinada.

Sob este ponto Pereira-Neto destaca

[...] o objetivo era persuadir o público de que apenas os médicos, por dominarem o conhecimento científico e academicamente organizado, tinham a autoridade para o exercício da prática de saúde. (PEREIRA-NETO, 1995 p. 607).

Cabe lembrar que um dos elementos estruturais e históricos presentes na configuração da profissão médica no Brasil está associado à concorrência que manteve, e ainda mantém, com as práticas de cura leigas de origem ameríndia a africana. O prestígio que a profissão médica poderia auferir originava-se exatamente do fato de conseguir convencer a clientela de que só o médico, academicamente formado, detinha as condições para o exercício pleno desta atividade. Para atingir este objetivo, alguns relatores tomavam a rota da persuasão. O médico se colocava em uma posição hierarquicamente superior, amparado no domínio exercido sobre o campo do conhecimento científico e acadêmico. Os outros agentes, que não haviam percorrido o mesmo ritual institucional, apesar de muitas vezes aliviarem a dor e a doença do próximo, eram considerados “charlatães. (PEREIRA-NETO, op. Cit., p. 608)

As relações de poder que permeiam o processo de profissionalização, onde uma profissão compete com outra e busca controlar a divisão social do trabalho através da hierarquização

O domínio do conhecimento esotérico da medicina também serviu para estabelecer uma diferenciação entre as diversas atividades na área da saúde. No momento em que o hospital se tornava um locus privilegiado de trabalho em equipe, alguns médicos, presentes no ‘Congresso Nacional dos Práticos’ (1922), procuravam definir a abrangência da área de conhecimento e de trabalho dos que atuavam junto a ele. Alguns oradores buscavam destacar a medicina das demais atividades da área da saúde, estabelecendo entre elas uma hierarquia (PEREIRA-NETO, 1995 p. 608). [...] Os médicos se achavam com autoridade, outorgada por seu estatuto científico e acadêmico, para definir o conteúdo dos cursos de formação e delimitar o espaço para o exercício das diferentes atividades na área da saúde. A intenção era fazer com que os outros saberes se tornassem menos complexos e misteriosos que o do médico, estabelecendo-se assim uma hierarquia com farmacêuticos, parteiras, enfermeiras (PEREIRA-NETO, 1995 p. 609).

Outro autor que faz a crítica do modelo funcionalista, Freidson (1988) desenvolve o conceito de profissionalismo buscando fundamentar sua teoria do surgimento, estruturação e manutenção das profissões tanto na sociologia do trabalho como na teoria do conhecimento26. Ele compreende a autonomia

26 Enfoque que interessa à perspectiva da Tese, pela possibilidade de interface com a epistemologia

profissional de forma relativa, legitimada e regulada em última instância pelo Estado (FREIDSON, 1998). Esta autonomia confere um tipo de monopólio ocupacional que assegura o estabelecimento de poder nas relações interprofissionais e em relação a outras ocupações. Seu poder e sua autoridade são legitimados fundamentalmente pela existência de um corpo esotérico de conhecimentos, reconhecido como tal pela corporação e pela sociedade e protegido pelo Estado (FREIDSON, 1998 e 1988).

Os elementos que aquele autor propõe para caracterizar o profissionalismo são:

a) um tipo de trabalho especializado da economia formal, com um corpo de base teórica de conhecimento e habilidades discricionários e que goza de prestígio especial na força de trabalho;

b) o poder da exclusividade na jurisdição de atribuições específicas estabelecidas pela negociação entre as diferentes profissões, no contexto da divisão social do trabalho;

c) o estabelecimento de mecanismos de proteção e reserva do mercado de trabalho baseado em atributos e padrões de qualificação criados pela própria corporação;

d) um programa de formação (reprodução e qualificação de quadros) desenvolvido fora do mercado de trabalho e de nível superior;

e) o componente ideológico da missão profissional, que prioriza (e cultiva) o compromisso com a os mais altos padrões na prestação de serviço em vez do ganho financeiro.

Freidson ainda argumenta que o conceito sociológico convencional de profissão “liga corpos de conhecimento, discurso, disciplinas e campos aos meios sociais, econômicos e políticos por meio dos quais seus expoentes humanos podem ganhar poder e exercê-lo”; o que poderia auxiliar na análise do papel desempenhado pelo conhecimento e pelas idéias na “vida social” (FREIDSON, 1996 p. 145).

Para este autor "a criação, a exposição e a aplicação de corpos de conhecimento são vistas como empreendimento de ocupações que lutam por controlar seu trabalho" (FREIDSON, 1996, p. 141). Sua abordagem interessa na medida em que pretende “sugerir as circunstâncias institucionais em que corpos de

conhecimento, disciplinas, campos discursivos e coisas do gênero podem nascer, crescer e ser empregados para interpretar e ordenar os assuntos humanos”. Neste sentido considero oportuno aproximar sua teoria do profissionalismo das categorias Estilo de Pensamento e Coletivo de Pensamento, posto que as duas perspectivas podem contribuir para a compreensão do surgimento e desenvolvimento da Atenção Farmacêutica.

Quando aborda o ensino profissional, como elemento diferenciador entre profissões e ofícios, tanto no processo de reconhecimento social, como de controle e divisão do trabalho, Freidson se aproxima de alguns elementos que também constituem a dinâmica de instauração e extensão do estilo de pensamento.

A diferença no modo pelo qual o treinamento é institucionalizado nas profissões, em comparação com os ofícios, tem seu resultado mais importante na criação e extensão do discurso, das disciplinas e dos campos - o corpo de conhecimentos e qualificações da profissão. (FREIDSON, 1996)

Ao descrever como parte integrante do profissionalismo a constituição de um corpo docente especializado e dedicado integralmente ao ensino e à pesquisa em instituições universitárias destinadas à formação profissional, os quais constituem uma classe cognitiva no seio da profissão; sua influência na constituição de um padrão de prática, fundamentado em um corpo de conhecimentos ditos científicos que lhes atribui um tipo de autoridade cognitiva sobre a corporação; na perspectiva Fleckiana, percebe-se este movimento como um processo de circulação intracoletiva de idéias entre círculos esotéricos e exotéricos de determinado coletivo de pensamento, bem como sua relação com outros coletivos.

O fato de que o corpo docente nas escolas de profissões possa se devotar tanto ao ensino conto à pesquisa e ao estudo melhora grandemente a capacidade de uma profissão para justificar, adaptar e expandir sua jurisdição diante da competição de outras ocupações, bem como da crescente sofisticação da população leiga e dos avanços tecnológicos e administrativos na racionalização. (FREIDSON, 1996 p. 146).

Finalmente, quando aborda a variação no corpo de conhecimentos e qualificações reivindicados por uma profissão, como fator relacionado ao estabelecimento da autonomia e legitimação profissional; aquele autor condiciona este processo a variáveis como a condição e instituições onde se exerce uma

profissão, sua autoridade técnica, moral ou cultural e na base epistemológica que constitui seu núcleo cognitivo.

Em uma perspectiva interna, o papel atribuído ao corpo de conhecimentos e habilidades especializadas, o significado subjetivo de procedimentos, linguagens e normas, que no conjunto formam um modelo ou padrão de profissionalismo constituem a identidade e a unidade da corporação profissional; o que de certo modo ajuda a entender o surgimento, desenvolvimento e extinção de um determinado modelo de prática profissional. E é neste ponto, considerado sob o amalgama ideológico do respaldo científico que aquele tipo de conhecimento evoca, que surgem aproximações com a dinâmica dos coletivos de pensamento propostos por Fleck (1986a).

Não se trata neste ponto de estabelecer uma correlação direta entre uma corporação profissional e um coletivo de pensamento, mas de compreender que no interior do processo de organização e legitimação profissional concorrem algumas vezes diferentes estilos de pensamento, por vezes matizes de um mesmo estilo, os quais constituem a base epistemológica do(s) modelo(s) de prática de uma profissão.

A estruturação, organização e a atribuição de responsabilidades das práticas profissionais na área da saúde, representadas pela hegemonia histórica da profissão médica pode ser compreendida como um processo complexo legitimado em parte pelo discurso do status científico da racionalidade biomédica (base epistemológica do discurso e da prática médica) e condicionada pelo papel que a medicina desempenha, reforçando o que Illich (1975) denominou de medicalização social, que se estende do poder para exercer mais do que uma ação prescritiva e vai além do tratamento e cura dos problemas de saúde das pessoas. Quando comparamos por exemplo a profissão médica com outras profissões da área da saúde é possível perceber as interações entre as variações no corpo de conhecimentos e os agentes econômicos e políticos que constituirão a base ideológica, legal, institucional e cultural para o seu exercício profissional.

A medicina goza do prestígio e reconhecimento social na medida do seu compromisso com o Estado para atuar como instituição de controle social; sua autonomia tanto serve para garantir a reserva de mercado, como para organizar a divisão e o processo de trabalho em saúde, contribuindo deste modo para a

reprodução e manutenção do sistema produtivo, bem como da ideologia e dos valores sociais do capitalismo (FREIDSON, 1998).

No entanto, quanto mais intensa a fragmentação das atividades, ou especialidades, das profissões na divisão do trabalho, mais restrita será sua autoridade técnica, quanto mais afastada ela estiver da relação com o público beneficiário dos seus serviços e quanto mais identificada com a iniciativa privada voltada para a produção de bens e serviços lucrativos, menos autoridade moral em função do enfraquecimento do ideal e da imagem de altruísmo, o que leva a profissão a perder apoio da opinião pública. A profissão passa a ser vista como vinculada a interesses imediatos de mercado e muito dependente das políticas reguladoras do Estado o qual não legitima a autonomia profissional face ao esvaziamento do “mandato de conhecimento” e da visibilidade social da profissão (SOBRINHO et al., 2005; SCHRAIBER, 1993)

Uma leitura atenta da contextualização apresentada por Cipolle e colaboradores (2000), para introduzir as características de um exercício (ou prática) profissional e com isso argumentar que a Atenção Farmacêutica consiste em uma “nova prática profissional”; permite identificar alguns dos elementos e da dinâmica discutidos até aqui quanto às características de um exercício profissional.

Assim aqueles autores argumentam que, com passar do tempo, as profissões da saúde “evoluíram com uma conceitualização razoavelmente bem conhecida do que significa a prática das suas responsabilidades. Assim, por exemplo, quase todos os médicos conhecem tacitamente sua função e suas responsabilidades e as regras que definem a prática médica” (CIPOLLE et al., 2000 p. 14).

Por outro lado, os farmacêuticos não atingiram este conhecimento tácito. Isto pode ajudar a explicar por que o Estado e a sociedade têm dificuldade em reconhecer o farmacêutico como um profissional de saúde e por que este geralmente não faz parte de equipes de saúde que tem sua prática centrada no paciente (CIPOLLE et al. 2000)

A Farmácia como profissão acabou criando sua própria série de regras próprias. Os membros desta profissão se isolaram, consciente ou inconscientemente, do resto do sistema de saúde sob o argumento de serem

diferentes. Este isolamento permitiu aos farmacêuticos criar seu próprio vocabulário, estabelecer suas próprias normas de qualidade no exercício profissional e determinar sua própria série de regras. Lamentavelmente provocou resultados negativos. Em primeiro lugar, a conduta da Farmácia é tão específica e os farmacêuticos se comunicam com tão pouca freqüência com quem está fora da área, que os outros elementos do sistema de assistência sanitária têm tido dificuldades para compreender aquela profissão, como funciona exatamente, o que deseja e onde se encaixa. Em segundo lugar, ao manter-se tão isolada, a profissão fica impedida de compartilhar e aprender o conjunto de regras e práticas que se aplicam a todas as demais profissões de saúde. Conseqüentemente, com as transformações tão importantes por que passa o sistema de saúde, a Farmácia encontra-se sem um vocabulário compreendido por todos, sem uma prática disciplinada e respeitada e sem uma função claramente diferenciada e reconhecida socialmente.

Harding e Taylor (2001) fazem uma sumarização dos diferentes trabalhos que se ocuparam de investigar o status ocupacional da Farmácia. Entre as conclusões estes estudos consideram a Farmácia como uma profissão incompleta, que apresenta um processo de desprofissionalização como conseqüência das mudanças ocorridas nas suas atividades principais ou mesmo na redução da sua autonomia profissional. Eles também apresentam os fatores que constituem problemas para a profissionalização da Farmácia: a tendência da população em representar o medicamento como objeto de consumo, a mercantilização do setor como fator conflitante com o ideal de prestação de serviços profissionais; a burocratização, a diminuição dos espaços de exclusividade e a incorporação de novas tecnologias (como a automação). Associados à perda de controle sobre a cadeia do medicamento, contribuem para a redução a visibilidade e a autonomia profissional.

Um aspecto interessante para destacar, diz respeito ao equívoco do discurso que se construiu como uma ideologia da utilidade e da missão da prática profissional do farmacêutico como fornecedor de informações sobre o uso de medicamentos. O equívoco aqui repousa na fragilidade do discurso e sua inconsistência em assegurar uma função relevante para a profissão, na medida em

que o farmacêutico compartilha esta função com outras profissões, como a medicina, por exemplo. (HARDING E TAYLOR, 2001)

Larson (1980) acredita que o estágio de desenvolvimento do capitalismo origina tendências que atuam sobre o processo de trabalho das profissões de nível superior ou de alto grau de treinamento: um aprofundamento e consolidação da divisão do trabalho (que leva à transferência de tarefas rotinizadas para trabalhadores de nível inferior e provoca a proliferação de especializações); a redução da ociosidade e intensificação do trabalho e; a aumento na rotinização das tarefas (principalmente daquelas consideradas mais simples). O resultado desses processos impactam diretamente na manutenção da autonomia, caracterizada pela perda de controle sobre o processo de trabalho.

Mesmo considerando a profusão de informação sobre medicamentos, ressalvado o fato de que há grande variação na qualidade e idoneidade da mesma, a constatação é que ela está disponível nas bulas de medicamentos, em publicações populares sobre saúde, em sítios na internet, em fim, na sociedade que consome tecnologia (num nível próximo do desnecessário) e demanda cada vez mais por informação, tende-se a banalizar e superficializar seu conteúdo, o efeito colateral para a Farmácia é que estruturar um discurso de prática profissional com o foco somente na informação parece pouco relevante para a sociedade.

Neste sentido cabe a crítica que Hepler faz ao foco dos serviços clínicos com ênfase quase que exclusiva na informação, adotado pela Farmácia a partir dos anos 60

No contexto dos critérios de Larsen para a caracterização dos serviços profissionais, tal definição de serviços clínico-farmacêuticos não faz saber à sociedade o valor máximo desses serviços. As profissões existem para atender as necessidades da sociedade, não para realizar funções isoladas. Exercer somente funções informativas parece menos importante [ou valioso] à sociedade - parece ter menos impacto nas condições de saúde - do que a aceitação da responsabilidade pelo uso apropriado dos medicamentos, incluindo sua provisão aos pacientes. (HEPLER, 1985 p. 1300)

Por fim, convém recordar que há fatores macro-estruturais relacionados a este processo de desprofissionalização.

O desenvolvimento das forças produtivas do capitalismo colabora paradoxalmente para a baixa resolubilidade das intervenções em saúde, com uma tendência excessiva à superespecialização e fragmentação das ações necessárias à

manutenção de uma estrutura hierarquizada e altamente burocrática, assim como para a incorporação das tecnologias e da racionalidade das práticas médicas na dimensão de bens de consumo; ocasionando entre outros, o aumento no custo que o modelo impõe para a sociedade, acompanhado da tendência de desprofissionalização e assalariamento das profissões da saúde (ALMEIDA, 1997).

Este movimento leva à reorganização das atividades profissionais no nível ideológico, mas também no operacional, com o surgimento e delimitação de novos modelos de práticas, novos conhecimentos, implicando em renegociações para delimitação jurisdicional das fronteiras de responsabilidades profissionais entre as corporações e uma nova pactuação com a sociedade e o Estado. Aqui há um espaço a nosso ver promissor, não só de reconstrução do estatuto profissional da Farmácia, de avanço de modelos assistenciais em saúde mais eficazes, mas