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4. BRASIL: UMA DIAGNOSE DO CENÁRIO ATUAL

4.2 FATORES DA INEFICIÊNCIA BRASILEIRA NA REALIZAÇÃO DE

4.2.1 Um panorama do marco regulatório

política de abertura comercial. Nesse período, a indústria eletroeletrônica assume e liderança na importação de tecnologia, a qual é mantida até os dias atuais. (AUREA; GALVÃO, 1998).

Regionalmente, a região Sudeste é a que concentra os índices de remessas que refletem a maior realização de importação de tecnologias estrangeiras. Rio de Janeiro e São Paulo, com Minas Gerais figurando em menor escala, são estados que lideram este ranking. A existência de investimentos em projetos específicos com relevante significado nacional, incluem o polo petroquímico de Camaçari – Bahia, e o complexo de Carajás, nesse cenário. (AUREA;

GALVÃO, 1998).

Contudo, pelo que trouxemos até o momento é possível ponderar que em que pese o Brasil ter buscado ao longo da sua história ser um país comprador de conhecimento, constata-se algo falhou. Notamos que a maioria do conhecimento estrangeiro que adentra o nosso território não se refere em específico ao fornecimento de tecnologia em sentido estrito (aquela capaz de gerar aprendizado e emparelhamento tecnológico) – ainda assim quando o fazem, relevante parcela são arranjos intercompany – matrizes estrangeiras e filiais nacionais, o que por vezes não propicia a difusão do conhecimento recebido e absorvido), mas, sim, a licenciamentos de direitos que não viabilizam a absorção de conhecimento.

P&D; e a adoção de um sistema de Propriedade Intelectual (PI) não estratégico até o presente momento.

A promoção e realização de políticas públicas voltadas à busca pelo crescimento e desenvolvimento econômico e tecnológico do país remonta ao período Imperial. Exemplifica tal assertiva a criação, em 1887, da Estação Agronômica de Campinas (atualmente denominado Instituto Agronômico de Campinas), instituto de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (MONTEIRO, 2014).

Durante a década de 1930 (período historicamente conhecido como República Nova ou Era Vargas – períodos sob o governo e administração executiva de Getúlio Vargas), destaca-se a criação das seguintes instituições: 1932 - Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) – instituto até hoje existente e atuante em pesquisas multisetoriais; 1934 – Universidade de São Paulo (USP); 1937 – Universidade do Brasil, posteriormente denominada Universidade do Brasil e atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). (MONTEIRO, 2014).

Subsequentemente, nas décadas de 40 e 50, destaca-se a criação do Serviço Nacional da Indústria (SENAI – 1942); do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA – 1950), e de relevantes órgãos governamentais de apoio, incentivo e financiamento à pesquisa, tais como o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ), da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (CAPES), ambos criados em 1951, e do Banco Nacional de Desenvolvimento, em 1952.

Nos anos 60, através da adoção de uma política voltada à criação de fundações de amparo e instrumentalização de fomento à realização de pesquisas, surgiram a FAPESP (1962) – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, esta última criada em 1967. Em 1973, tendo em vista a relevância da agricultura e pecuária para a economia nacional, e buscando consolidar a relevância do país no setor em termos mundiais – situação que perdura até os dias atuais, foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. (MONTEIRO, 2014).

Na década de 1980, período de relevante crise econômica enfrentada pelo país (período apelidado de década perdida) em que houve redução do PIB, aumento da dívida externa e do déficit público, já ciente da importância e relevância do desenvolvimento de uma política voltada e focada para as ações de estímulo à pesquisa, ciência e tecnologia, criou-se em 1985,

através da promulgação do Decreto n. 91.146/85, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Tal órgão executivo deteve, desde seu início, a incumbência de formular e implementar uma política de Ciência e Tecnologia (C&T), dotando-o da finalidade de ser dotando-o órgãdotando-o central da criaçãdotando-o e desenvdotando-olvimentdotando-o de um sistema federal de ciência e tecnologia. Atualmente o MCTIC é denominado Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.

O MCTI é presentemente composto por 05 secretarias – Executiva; de Articulação e Promoção da Ciência (SEAPC); de Estruturas Financeiras e de Projetos (SEFIP); de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF); e Secretaria de Empreendedorismo e Inovação (SEMPI). Tem como finalidade institucional a definição da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, a coordenação de políticas setoriais, a política nacional de pesquisa, desenvolvimento, produção e aplicação de novos materiais e serviços de alta tecnologia. Em recente Decreto expedido pelo chefe do Executivo Nacional (Decreto 10.463, de 14.081.2020) – ato normativo que aprovou a estrutura regimental do Ministério – reafirmou-se a competência desse órgão, membro da administração federal indireta, da qual destacamos o seguinte ponto:

Anexo I – Artigo 1º:

I - políticas nacionais de pesquisa científica e tecnológica e de incentivo à inovação;

II - planejamento, coordenação, supervisão e controle das atividades de ciência, tecnologia e inovação;

(...)

Buscando-se inserir o tema na pauta de assuntos relevantes do Presidente da República do Brasil, foi criado em 1996, através da Lei n. 9.257, o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, reativado em 15 de outubro de 2019, por meio da Publicação do Decreto n. 10.057.

Sua finalidade é assessorar o chefe do executivo nacional na formulação e implementação de uma nacional de desenvolvimento científico e tecnológico, na perspectiva de tornar a ciência, tecnologia e inovação um dos eixos estruturantes do desenvolvimento econômico e social do País.

Em 2016, foi lançado pelo então MCTIC documento que merece nosso destaque, uma vez que representa a busca pela planificação de uma estratégia nacional de desenvolvimento tecnológico, cujo conteúdo enfatiza a necessidade de perseguir-se uma excelência científica e tecnológica, consolidação de um parque industrial inovador, capaz de enfrentar com conhecimento os desafios impostos ao crescimento económico sustentável do país.

Referimo-nos à Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (ENCTI 2016 – 2022)39, que visa a nortear ações que contribuam para o desenvolvimento nacional por meio de iniciativas que valorizem o avanço do conhecimento e da inovação, instrumento que

propõe a instauração de um paradigma de inovação colaborativa no Brasil, estimulando o estreitamento das relações entre Universidade e Empresa e a interação entre os mais diferentes componentes do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – SNCTI” (ENCTI, p. 11)40

O organograma abaixo demonstra os elementos do SNCTI:

Figura 20: Os principais atores do SNCTI

Fonte: FINEP, 2018.41

Contudo, o que continuamos a observar na prática é a não efetividade dos marcos regulatórios recentemente lançados pelo poder Executivo nacional. A figura abaixo corrobora a afirmação de que, em que pese não termos alcançado resultados concretos e eficientes na busca pelo crescimento tecnológico através da inovação, ao longo da história político-econômica nacional, buscou-se um aperfeiçoamento legal/institucional para fomentar tal atividade. Somando-se ao exposto acima, nota-se que a busca pelo fomento à inovação no cenário nacional contou com ações concretas, através da adoção de marcos regulatórios que

39 Disponível em

http://www.finep.gov.br/images/a-finep/Politica/16_03_2018_Estrategia_Nacional_de_Ciencia_Tecnologia_e_Inovacao_2016_2022.pdf , Acesso em 10 de abr. de 2022

40 Disponível em

http://www.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/ciencia/SEPED/Arquivos/PlanosDeAcao/PACTI_Suma rio_executivo_Web.pdf , Acesso em 10 de abr. de 2022.

41Disponível em:

http://www.finep.gov.br/images/a-finep/Politica/16_03_2018_Estrategia_Nacional_de_Ciencia_Tecnologia_e_Inovacao_2016_2022.pdf. Acesso em 25 de abr. de 2022

criaram um conjunto de instrumentos que, em teoria, aparentavam ser capazes para promover e fomentar a inovação.

Figura 21: Evolução histórica do marco regulatório de estímulo à inovação no Brasil

Fonte: ResearchGate42

Em julho de 2021, através da Resolução CI n. 01/2021, do MCTI/Câmara de Inovação, foi aprovada a Estratégia Nacional de Inovação e os Planos de Ação para os Eixos de Fomento, Base Tecnológica, Cultura de Inovação, Mercado para Produtos e Serviços Inovadores e Sistemas Educacionais para o período de 2021-2024. Referido documento traçou metas de estratégia nacional de inovação a ser empregada pelo Governo Executivo Federal, dividindo-as da seguinte forma: (i) otimização de alocação de recursos públicos para a inovação, vinculando-os a temas e políticas públicas prioritárivinculando-os e estimulando a aplicação de recursvinculando-os privadvinculando-os, inclusive por meio de parcerias; (ii) estímulo da base de conhecimento tecnológico para a inovação; (iii) disseminação da cultura de inovação empreendedora; (iv) estímulo ao desenvolvimento de mercados para produtos e serviços inovadores brasileiros, de modo a aumentar a produtividade, a competitividade e o desenvolvimento econômico do país; (v) apoio às abordagens curriculares sistêmicas. Dentre as ações descritas em referido documento, ressaltamos a relacionada ao fortalecimento dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), a de incentivar a transferência de tecnologia de ICTs para startups e empresas, especialmente voltadas ao Ministério da Saúde, e o setor minerário.

Contudo, entendemos que em que pese a profundidade do documento, esse ainda não se mostra suficiente, à luz do que foi perseguido e executado pelos países que satisfatoriamente trilharam uma trajetória tecnológica eficiente, a resultar no almejado emparelhamento

42 In Propriedade Intelectual e Desenvolvimento no Brasil - Scientific Figure on ResearchGate. Disponível em:

https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Evolucao-do-marco-institucional-da-politica-de-estimulo-a-inovacao-no-Brasil_fig1_335402306. Acesso em 18 de fev. de 2020.

tecnológico. A nosso ver, ainda carece no ordenamento brasileiro de utilização do Direito para criar uma instituição específica voltada ao fim de estimular de maneira eficiente a aquisição de tecnologia estrangeira (através da dotação de funções, disponibilidade de linhas de créditos e/ou benefícios específicos), assumindo o Estado esse papel. O engajamento do setor privado e produtivo deve ser respaldado por uma política que de fato o atraia, claramente trazendo benefícios e vantagens para o incremento da participação dos particulares.