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2 EXCLUSÃO FINANCEIRA: DIRECIONAMENTO DE PESQUISA,

3.5 Uma análise geral sobre os dados arrecadados

Como já mencionado anteriormente, as limitações de orçamento e de equipe para a realização desta pesquisa exploratória restringiram de certa forma as possibilidades de se garantir um número maior de entrevistas, bem como dados robustos passíveis de gerar análises estatísticas complexas e com alto nível de confiabilidade. Admite-se que, por vezes, notaram-se algumas inconsistências das informações relatadas pelos entrevistados. Este é um problema que o trabalho de campo pode gerar, uma vez que os indivíduos podem responder as perguntas prezando pela veracidade dos fatos ou, por motivos de vergonha, desconhecimento, medo e insegurança, optam por ocultar a verdade ou, simplesmente, por se abster de uma resposta.

Tendo em vista que os locais visitados se caracterizam por uma fragilidade socioeconômica, ocorreram muitas situações em que as pessoas optaram por não responder alguma questão, seja pelo desconhecimento de uma resposta e/ou pela completa incompreensão do assunto, mesmo diante dos esclarecimentos dados pelo entrevistador, como também pela necessidade própria de se preservar algumas informações (o nível educacional dos entrevistados, geralmente, era muito baixo). Infelizmente, a dificuldade de se realizar cada questionário – a necessidade de várias estratégias de convencimento e improviso; a dependência da boa vontade das pessoas em disponibilizar parte de seu tempo para responder às questões e em compartilhar informações que revelam parte de sua vida financeira; uma equipe reduzida para aplicar os questionários – não permitiu que houvesse um acompanhamento minucioso da situação dos indivíduos e/ou o descarte de alguns questionários respondidos de forma incompleta (esclarece-se que não há, no entanto, a consideração de respostas duvidosas/contraditórias e que a não resposta foi considerada dessa maneira, admitindo-se, então, a ausência de determinada informação).

Ressalta-se diante disso, que a “não resposta”, apesar de trazer alguma defasagem em termos de dados gerais da pesquisa, explica muito sobre o que ocorre com as famílias e com os indivíduos em suas decisões e em sua luta diária

pela sobrevivência. A ausência de algumas respostas foi extremamente significante para o acúmulo de informações e para a geração de conhecimento. Vale enfatizar que, por serem áreas que apresentam grande vulnerabilidade social e econômica, havia um risco em termos de segurança (violência local), o que impedia a realização das entrevistas durante certos horários (principalmente à noite), fato que resultou em um maior número de respondentes do gênero feminino e na ausência de controle rigoroso sobre a quantidade de entrevistados para cada faixa etária. Algumas situações de perigo foram presenciadas e, por isso, certas áreas de cada “campo”, tiveram que ser evitadas durante a pesquisa, o que dificultou a aplicação de questionários, a depender do número de entrevistadores possível para atuar em cada local (quando somente um, a pesquisadora autora, a possibilidade de se adentrar as localidades era menor, restringindo as entrevistas a lugares de maior movimento – áreas comerciais; ruas principais de acesso; eventos comunitários; no caso principalmente de Riverside, a igreja local).

Devido às particularidades de cada área estudada e às adversidades locais presenciadas no dia-a-dia de pesquisa e, obviamente, à quantidade de entrevistadores disponível em cada momento, os números das amostras possíveis de se obter entre os campos foram desiguais. Além disso, pela maioria de mulheres respondentes em todos os campos e por elas, em grande parte das amostras, não serem o “chefe da unidade familiar”, fato também influenciado pelas características sociais e culturais das localidades, ocorreu certa dificuldade de entendimento das perguntas e, também, a ocorrência de respostas incompletas ou “não respostas” (caso elas ignorassem totalmente a vida financeira da família, por não participar ativamente da constituição da renda familiar ou por não se relacionar diretamente com os serviços ou instituições financeiros).

O conteúdo da entrevista, especialmente em Riverside, tornou a pesquisa desafiadora, uma vez que há a concordância geral preestabelecida de que não se revela aspectos pessoais a estranhos, o que representa uma questão de “segurança individual” e uma necessidade de se autopreservar no sentido de “ter

vergonha das dificuldades financeiras enfrentadas” e do “costume de não se revelar fatos relacionados à renda própria ou à atividade financeira particular”. Ainda com relação ao campo nos Estados Unidos, a amostra concentra uma maioria de hispano-americanos, revelando uma realidade específica do local abordado, a ser esclarecida mais adiante. Por isso, além da resistência natural em se responder questões que envolvem conteúdo financeiro (um costume americano aprendido), percebeu-se que as pessoas tinham medo de revelar que viviam na informalidade, além de possuírem baixa escolaridade e, portanto, grandes dificuldades de compreensão das perguntas. Tais fatos também limitaram os dados arrecadados por esta pesquisa.

Apesar do que foi relatado acima, e recuperando parte do que foi dito na seção 3.3, enfatiza-se a importância deste trabalho desenvolvido. A partir do que foi relatado pelas pessoas e observado em campo, ele revela uma variedade de informações contextuais rica em detalhes e fiéis à realidade, o que pode ser obtido somente pelo contato direto de uma pesquisa etnográfica. Antes de se objetivar dados robustos, um estudo etnográfico valoriza a possibilidade de uma descrição honesta das situações e condições vividas pelos indivíduos e carrega o “peso” significativo de ser mais que uma análise quantitativa, uma descrição com verdade de um “universo”, muitas vezes, encoberto por números.