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2.2. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

2.2.1. Uma breve revisão sobre TIC

Com a evolução tecnológica necessária ao desenvolvimento do capitalismo, conforme observa Sá Filho (2009), o que um dia foi manual se tornou mecânico e, rapidamente, cedeu lugar ao elétrico e ao eletrônico. Assim também foi na transformação dos processos produtivos nas organizações, cada dia mais dependentes da tecnologia e da informação para a execução de suas atividades.

Castells (2005) entende que, desde os anos 1980, a sociedade passa por um acelerado processo de transformação estrutural, associado à emergência de um novo paradigma tecnológico baseado nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), que começaram a tomar forma desde os anos 1960, difundindo-se de forma

desigual por todo o mundo. Para este autor, na atualidade, a saúde, o poder e a geração de conhecimento estão, em grande medida, dependentes da capacidade de organizar a sociedade para captar os benefícios do novo sistema tecnológico, enraizado na microeletrônica, nos computadores e na comunicação digital (CASTELLS, 2005).

Castells (2005) observa que, com frequência, a sociedade emergente deste panorama tem sido caracterizada como sociedade de informação ou sociedade do conhecimento, discordando destas terminologias ao destacar que informação e conhecimento se constituem em elementos de centralidade em toda e qualquer civilização historicamente conhecida. Na sua compreensão, o que é realmente inédito nesta nova sociedade é o fato de estes elementos serem de base microeletrônica, difundidos através de ferramentas tecnológicas, mas por meio de uma velha forma de organização social, hoje dotada de novas capacidades oferecidas pelas TIC, as redes. Conforme Beal (2009), nesta nova sociedade, as TIC assumem um papel fundamental: adicionar valor e qualidade aos processos, produtos e serviços. Se antes a tecnologia era empregada apenas para automatizar tarefas e eliminar o trabalho humano, gradualmente começou a enriquecer todo o processo organizacional, auxiliando na otimização das atividades, eliminando barreiras de comunicação e melhorando o processo decisório.

O termo TIC visa exprimir a ideia da convergência de tecnologias e sistemas trabalhados em conjunto para a comunicação e gestão da informação, englobando de forma genérica todas as tecnologias relacionadas à criação, ao manejo e à difusão de informações. Envolvem hardware (a parte física/ estrutural dos aparelhos), software (os programas e sistemas operacionais destes aparelhos) e telecomunicações (MURAMATSU, 2011).

Segundo Arruda (2007), é possível entender as TIC como um conjunto de conhecimentos transformado em equipamentos, programas e ferramentas, para a criação, armazenamento e difusão de conteúdos informacionais, que proporcionam maior flexibilidade à comunicação, uma vez que a comunicação por meios eletrônicos transpõe barreiras de espaço e de tempo, bem como permite o intercâmbio de um grande volume de informações de forma ágil e precisa.

Ao conceituar e identificar essas novas tecnologias, Machado (2002) tem o cuidado de frisar que estas resultam da intervenção dos adventos tecnológicos, não necessariamente para a produção das mensagens, mas, sobretudo, para sua distribuição e, particularmente, para sua transmutação entre códigos ou sistemas.

Expandindo essa percepção, Carvalho (2006) afirma que, dentre todos os sistemas tecnológicos, a internet foi o que realmente promoveu uma transformação social ao revolucionar hábitos, costumes e modos de agir nas relações humanas, estabelecendo novas regras de convívio socioeconômico e político. A autora acrescenta que a internet permite que as organizações estejam próximas de seus públicos, não apenas mediante sua homepage (onde podem comunicar o que produzem, para quem produzem, quanto custam seus produtos e de que formas eles podem ser adquiridos), mas também por meio dos diversos sistemas e sub-redes viabilizadas por sua tecnologia (CARVALHO, 2006).

Segundo Sousa (2003), as alterações introduzidas pelas TIC, na forma como a comunicação e a gestão de informações ocorrem entre as diversas esferas funcionais de uma organização, demandam estruturas diferenciadas, em termos de modelo, da natureza dos conteúdos funcionais e dos desempenhos, permitindo a rápida adaptação às mudanças que ocorrem na sociedade. Deste modo, o autor afirma que as organizações, inclusive as públicas, precisam “se preparar” para a incorporação das TIC aos seus processos, para maximizarem o aproveitamento dos benefícios dessas ferramentas (SOUSA, 2003). No entendimento do autor, tal preparação deve começar por processos de aprendizado e mudanças no interior das organizações, nos quais deverá empreender esforços para remover as barreiras às tecnologias e à interação, mediante o convencimento dos atores sobre a importância estratégica de tal transformação no seu modus operandi (SOUSA, 2003).

Contudo, percebe-se que este entusiasmo em relação às TIC não é unânime no universo organizacional. A literatura sobre TIC nas organizações enfatiza a existência de tensões nesse contexto, principalmente no que se refere à adoção de TIC, nas quais alguns grupos endossam fervorosamente a incorporação dessas tecnologias aos processos, enquanto outros reagem de forma mais cética e as observam com maior desconfiança.

Os estudos de Abraham (2009) indicam que, em uma perspectiva otimista, as TIC nas organizações trazem benefícios, dado que: a) possibilitam a retomada de um relacionamento mais humanizado entre a organização e seus públicos de interesse, à medida que permitem o contato direto e personalizado com todos os sujeitos; b) viabilizam novas formas de acompanhamento, avaliação e controle dos processos; e c) otimizam o desempenho da organização, já que as novas formas de comunicação possibilitadas pelas ferramentas tecnológicas atuam na integração dos sujeitos e departamentos por meio da informação.

Em uma perspectiva pessimista, fundamentalmente, a crítica em relação às TIC ocorre com o argumento de que estão fortemente relacionadas à perda da privacidade, sob diversos aspectos. Destaca-se que a possibilidade de registro de todas as movimentações do usuário no ambiente virtual é vista como uma das causas da resistência às tecnologias. No entendimento dos críticos, a possibilidade de monitoramento em tempo real das atividades por superiores inibiria a liberdade para certas tomadas de decisão (ABRAHAM, 2009). Ao mesmo tempo, a dificuldade de se lidar com os ambientes virtuais e suas interfaces também é considerada como dificultadora da incorporação das TIC, principalmente por indivíduos mais velhos, que não acompanharam o ritmo da evolução tecnológica, estando ainda atados aos antigos modos de produção (AGUIAR, 2012).

Diante do exposto, procede-se a uma revisão sobre os princípios norteadores da utilização de TIC pelas organizações públicas, no contexto da Administração Gerencial. Apresenta-se o contexto institucional buscando relacionar o uso da tecnologia para a efetividade da prestação dos serviços públicos, bem como suas relações com os princípios da regulação e da transparência pública.