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Uma perspectiva filosófica como premissa metodológica

Capítulo IV Premissas metodológicas, universo e escolhas para

4.1. Uma perspectiva filosófica como premissa metodológica

A abordagem metodológica apresentada, ao longo deste capítulo, propõe-se investigar a gestão educacional com ênfase no ensino fundamental no atinente ao livro didático de Ciências no ensino fundamental, frente ao processo participativo, com vistas a perceber e analisar criticamente tal tendência em seus segmentos escolares.

Como pressuposto teórico-metodológico, assume-se uma perspectiva filosófica, concebendo-se a não submissão às ideias dominantes e questionando os poderes estabelecidos, visando, desse modo, a subsidiar para a investigação da compreensão do significado da gestão educacional em pauta e conhecer o sentido e a utilidade de mais uma criação coletiva e humana na esfera educacional voltada ao livro didático de Ciências. Busca-se perceber, com tais considerações, as articulações e os possíveis reflexos da gestão educacional em foco, espelhados nos objetivos educacionais. Para tanto, é pertinente pensar como premissa, de modo filosófico, uma vez que, conforme Chauí (1994, p.17):

A filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos valores.

Com essa atitude para fundamentar a abordagem metodológica, busca-se perguntar ao objeto de investigação o valor ou a ideia, assumindo as seguintes posições: questionar “o quê”, perguntando o significado da sua natureza; questionar “o como”, na tentativa

de perceber qual a estrutura e as relações que constituem a referida abordagem metodológica; questionar “o porquê”, buscando perguntar a origem ou a causa de tal ideia, dirigindo-se ao universo da pesquisa, que rodeia os atores que nele atuam e com ele se relacionam. São questionamentos que visam a buscar a essência, o significado ou a estrutura e a origem das coisas, na direção do contexto educacional. No que se refere à reflexão, assim como à atitude proposta para esta investigação, independentemente do conteúdo estudado, também se volta para as relações que se mantêm com a realidade. Todavia, para o que se diz e para as ações que são realizadas nessas relações, busca-se um modo delimitado de perceber a intenção ou a finalidade do pensar, dizer e fazer, no segmento da educação.

Assim, estabelece-se, inicialmente, a perspectiva de se pensar e agir, para se desenvolver esse trabalho, contando com a contribuição de uma reflexão filosófica como ponto de partida, na tentativa de se organizarem as perguntas voltadas à capacidade e à finalidade humana da questão. A partir daí, serão possíveis o conhecimento e a ação metodologicamente falando.

Na continuidade dessa abordagem crítica na busca de um conhecimento objetivo, são levados em conta os conhecimentos estabelecidos, sem, contudo, considerá-los como acabados, prontos ou mesmo verdadeiros. Na verdade, considera-se tudo como uma aproximação, que deve ser buscada constantemente. O conhecimento científico representa um esforço coletivo da humanidade na busca da compreensão e transformação da realidade. Portanto, como o conhecimento científico é uma aproximação, carece de uma permanente revisão. Trata-se, inclusive, de submeter o conhecimento deste estudo à crítica, a fim de que seja criticamente rejeitado ou criticamente aceito.

Para essa ação investigativa, deve-se ter a clareza de que a realidade não tem como fim o conhecimento de maneira imediata e fácil. Pode apresentar subterfúgios, manifestando suas aparências, em vez de expor a sua essência. Com essa compreensão, entende-se que o essencial não se observa à primeira vista. Daí a relevância de um tratamento crítico em relação aos dados levantados.

Vale, também, destacar que o conhecimento científico não é espontâneo, mas, sim, construído através de rupturas com o senso comum. Na verdade, consiste num processo de construção e reconstrução entre a ciência e o senso comum. Ou seja, uma ciência não é construída de modo contraditório em relação ao senso comum, pois, como bem observa Santos (2000), um senso comum esclarecido é uma ciência prudente.

Portanto, esse trabalho tem a intenção de investigar e ultrapassar as aparentes ações formais da gestão educacional do ensino fundamental brasileiro em relação ao livro didático de Ciências, no que concerne à questão participativa dos membros que constituem a comunidade escolar, e chegar à essência do problema em estudo. Entende- se que a pesquisa torna-se essencial para o conhecimento dessa realidade, uma vez que esta não é facilmente conhecida. Isso porque as aparências representam manifestações da própria realidade, podendo ocultar a verdade, seguindo as tendências esposadas por Kosik (1976). Por esse motivo, a primeira posição metodológica deste trabalho volta-se para a busca da elucidação do real, na perspectiva de uma análise crítica sobre as aparências da realidade que se apresentam no campo da educação focalizado.

Conforme o mesmo autor, como recurso metodológico na proposição deste estudo, também se toma a parte pelo todo, haja vista muitos elementos servirem para constituir o processo de uma análise, ao mesmo tempo em que não se toma o particular pelo universal, mas procura-se no particular o universal. Com essa visão, no particular se percebem manifestações características do universal, situado social e historicamente. Não se deve esquecer, todavia, que tanto o objeto do conhecimento em foco como os fenômenos sociais possuem uma gênese, uma história, sendo essa gênese essencial para se entender o objeto que se procura analisar criticamente.

No questionamento da gestão educacional brasileira com relação ao livro didático de Ciências, no aspecto MEC/PNLD e escolas públicas do ensino fundamental, para melhor compreensão da realidade, o processo de investigação visa à perspectiva crítica do senso comum. Posiciona-se, ainda, criticamente nas opiniões dos envolvidos no campo da gestão educacional e de como seus atores interpretam e agem sobre tal questão. A interpretação dos depoimentos, neste estudo, segue de modo que seja considerada, também, a sua fragmentação, na tentativa de colocá-la numa posição de

compreensão, coerência e consistência. Investiga-se se os discursos estão articulados com a objetividade dos fatos ou se expressam interpretações falsas da realidade do campo de investigação.