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Uma retrospectiva necessária ao entendimento do objeto de estudo

CAPÍTULO II: ANÁLISE DOCUMENTAL

2.1 Uma retrospectiva necessária ao entendimento do objeto de estudo

Para entendermos o presente, precisamos entender o que houve no passado e como se deram os fatos que permitiram que a situação atual se configurasse dessa maneira. Para tanto, se faz necessário analisar os documentos oficiais que representam os fatores geradores desse objeto de estudo. A análise documental tem como objetivo a representação condensada da informação.

Segundo Maia (2007, p.118), a análise documental é “uma dimensão de pesquisa científica cujo objetivo é dar forma conveniente e representar de outro modo a informação, por intermédio de procedimentos de transformação, com o objetivo de armazenar e facilitar o acesso ao observador”. Já Bardin (apud MAIA, 2007, p.118), cita que a “Análise Documental é uma maneira de se obter o máximo de informação (aspecto quantitativo), com o máximo de pertinência (aspecto qualitativo).”

fatos que originaram os acontecimentos atuais, que o homem é produto sócio- histórico e que registrar o que lhe acontece, parece-lhe cada vez mais natural, esta análise documental justifica-se pelo caráter qualitativo quando pressupõe uma análise interpretativa e crítica de todo material analisado.

2.1.1 - Guias Curriculares propostos para as matérias do núcleo comum do Ensino do 1º Grau - 1971

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 5.692/71) trouxe para a área da Educação, uma nova proposta de trabalho nas escolas estaduais. Editada num momento conturbado da vida nacional, a nova legislação do ensino tenta contemplar a tendência mundial de renovação dos programas de ensino básico, busca a ampliação da escolarização das classes populares e coloca a discussão sobre uma característica marcante de dualidade entre ensino propedêutico e ensino profissionalizante sempre presente no sistema educacional brasileiro, mas que marcou de forma definitiva esta época.

No início da década de 70, foi apresentada à comunidade escolar, uma versão preliminar do que viria a configurar os Guias Curriculares Propostos para as Matérias do 1º Grau (1975), destinados a servir de elemento renovador do ensino de 1º grau. Representavam um primeiro esforço de estruturação de uma escola fundamental de oito anos de escolarização, dotada de atributos de unidade e continuidade. Estes Guias não apenas traduziam os conteúdos dos instrumentos legais definidores da reforma, como refletiam a filosofia que fundamentava o pensamento da Secretaria de Educação da década.

Estes pontos de referências tentaram servir de apoio pedagógico para os professores nos preparos de suas atividades e apostavam que a classe docente compreenderia que “As atividades sugeridas são múltiplas, de forma a permitir que o professor as selecione em função dos recursos materiais disponíveis, do efetivo das classes, do tempo disponível e de sua própria experiência” (GUIAS CURRICULARES PROPOSTOS PARA AS MATÉRIAS DO NÚCLEO COMUM DO ENSINO DO 1º GRAU – 1975, p.10).

Na tentativa de se ter uma política educacional abrangente, ao menos no plano do discurso, posto que se viviam os “anos de chumbo”, a SE - Secretaria da Educação, já inspirada no princípio democrático de uma maior oportunidade para

todos, tinha como palavras de ordem: expandir o ensino secundário e a melhoria de qualidade desse ensino.

Nos Guias Curriculares (1975), havia sugestões de caráter metodológico, definições de objetivos, além das apresentações dos conteúdos. Quanto às orientações sobre o ensino de Matemática, duas questões traduziam as preocupações presentes:

a) Qual o método a ser utilizado: axiomático ou intuitivo? b) Qual a orientação a ser dada: clássica ou moderna?

Decidindo que não era aconselhável abusar do método axiomático no ensino do 1º grau, a equipe técnica que elaborou os Guias Curriculares de 1975, estabeleceu também que o rigor não poderia ser abandonado, entretanto, concordavam que os conceitos matemáticos deveriam ser obtidos “com base nas atividades dos alunos, na manipulação de instrumentos, materiais didáticos adequados e em situações mais próximas do concreto e da experiência do aluno quanto seja possível” (GUIAS CURRICULARES, 1975, p. 171), mostrando que nessa Proposta já havia prenúncios de uma preocupação de caráter construtivista.

Antes de se comentar sobre a segunda preocupação, é pertinente dizer que antes da implantação desses Guias, havia muitas discussões a respeito da orientação da Matemática Moderna que insistia em algebrizar a organização da Matemática, com o argumento da economia do pensamento, o que restringia muito o ensino da Geometria Euclidiana.

Sendo assim, o documento em questão trouxe a Matemática dividida em quatro temas, mas com a influência do MMM – Movimento da Matemática Moderna que era um movimento muito forte sobre o Ensino da Matemática, sob o novo foco, o da Álgebra, que chegava atrasado ao Brasil e que já era realidade nos EUA e na Europa e que deixa claro a preocupação com este movimento na elaboração dos GUIAS (1975)

Antes de abordar a segunda questão, achamos convenientes dizer algumas palavras quanto à assim chamada Matemática Moderna (...) a Matemática não é moderna, nem clássica: é simplesmente a Matemática. Ocorre que, como muitas outras ciências, ela experimentou nos últimos tempos uma evolução extraordinária, provocando uma enorme defasagem entre a pesquisa e o ensino da matéria. O que deve ser feito, e isso é muito importante, é uma reformulação radical dos programas, para adaptá-los ás novas concepções surgidas, reformulação essa que deve atingir as técnicas e estratégias utilizadas para a obtenção dos objetivos propostos (GUIAS CURRICULARES, 1975, p. 171).

Embora as orientações para o ensino da Matemática no Guia Curricular não tenha se assumido nem clássica e nem moderna, a história mostrou que o MMM - Movimento da Matemática Moderna trouxe orientações irreversíveis para o ensino da Matemática e apesar do grupo que elaborou as orientações se mostrar preocupado em evidenciar certos aspectos como citam nesse trecho...

Gostaríamos de evidenciar dois aspectos, que consideramos de importância fundamental: o papel central desempenhado pelas estruturas matemáticas, estruturas essas que podem ser evidenciadas no estudo dos campos numéricos bem como na Geometria, e o importantíssimo conceito de relação e, mais especificamente, o conceito de função, que pode ser abordado não só no estudo das funções numéricas, como também no estudo das transformações Geométricas. (GUIAS CURRICULARES, 1975, p.171)

A Álgebra passou progressivamente, a substituir os conteúdos geométricos tanto nas séries do Colegial, como nas do Ginasial – atuais Ensino Fundamental - Ciclo II e Ensino Médio.

Assim, os Guias Curriculares (1971-1975), abordam os conteúdos de Matemática, sob forte influência do simbolismo lógico-formal e dividida basicamente em quatro temas:

1- Relações e Funções; 2- Campos Numéricos; 3- Equações e Inequações; 4- Geometria.

A Proposta deste documento foi organizada, de maneira a permitir uma visão total do processo de escolarização ao longo dos oito anos, que configurava um ensino propedêutico, de cultura geral, instrumental e de modelo, isto é, endereçada à formação Integral da criança e do adolescente, mas, infelizmente, uma escola para poucos. Em pouco tempo percebeu-se que os Guias não trariam os dividendos esperados com a reforma. Como objetivos gerais da disciplina de Matemática, encontramos:

1- Desenvolver a capacidade de analisar, relacionar, relacionar, comparar, classificar, ordenar, sintetizar, avaliar, abstrair, generalizar, e criar; 2- Desenvolver hábitos de estudos, de rigor e precisão, de ordem e clareza,

do uso correto da linguagem, de concisão, de perseverança na obtenção de soluções para os problemas abordados e de crítica e discussão dos resultados obtidos;

calcular, construir e consultar tabelas, traçar e interpretar gráficos, utilizar e interpretar corretamente a simbologia e a terminologia matemática; 4- Adquirir informações e conhecimentos sobre os diversos tipos de

conceitos e métodos utilizados na matemática;

5- Desenvolver a capacidade de obter, a partir de condições dadas, resultados válidos em situações novas, utilizando o método dedutivo; 6- Reconhecer a inter-relação entre os vários campos da matemática.

(GUIAS CURRICULARES, 1975, p. 205).